quinta-feira, 9 de abril de 2015

Câmara aprova terceirização. Bem feito!



A que ponto chega o nível de politização do brasileiro em geral, particularmente do trabalhador que vive de salário? A resposta está na aprovação da terceirização ontem na câmara por ampla maioria de votos, contra inclusive parecer de juízes do trabalho. Os prejuízos serão enormes do ponto de vista de direitos e precarização de salários.

Não vimos nenhuma movimentação significativa por parte daqueles que serão os maiores afetados, excetuando a iniciativa pífia da CUT, duramente reprimida pela polícia legislativa sob o comando de Eduardo Cunha. O trabalhador que ainda desfruta do emprego formal, ora ameaçado, fez que não era com ele e assim ignorou solenemente a aprovação das duras medidas que em pouco tempo estarão ameaçando seu emprego.

Isto decorre do alheamento que lhe é infundido dia após dia, face a campanha midiática da criminalização da política que, exercida sem o controle da sociedade, permite o parlamento ser tomado de assalto por interesses corporativos que não representam o trabalhador, mas existem e são atuantes em benefício de uma agenda empresarial que opera para maximizar o lucro em detrimento de direitos constitucionalmente previstos.

Quando e se esse projeto for ratificado pelo senado, depois de colocado em prática, seus nefastos efeitos logo se farão sentir, com demissões em massa, diminuição de salários, aumento da carga horária de trabalho, contratações que colocarão o trabalhador em regime de semiescravidão e o pior, mão de obra menos qualificada e de baixo custo, em substituição de trabalhadores que estão empregados e que terão de ceder seus postos de trabalho para aqueles que a nova lei contempla, acirrando ainda mais um mercado que atravessa uma grave crise e cada vez mais exigente.

Mas se isso seria um bom motivo para que as ruas fossem tomadas por enorme público em protesto à derrubada de direitos consagrados, é frustrante perceber que está enganado quem apostaria que sim. Não no Brasil. A preocupação por aqui é com a corrupção. Ninguém merenda, almoça ou janta corrupção. O tema, porém, consegue quase unanimidade e arregimenta milhões em marcha pelas ruas no mais infame e descarado falso moralismo.

A mídia, a serviço do grande capital, colocou esse bode nas salas de milhões de brasileiros para berrar, uma  eficiente estratégia de marketing político, cujos frutos são agora colhidos, numa trama urdida para desviar as atenções daquilo que mais interessa e diz respeito aos avanços das elites sobre o Estado para desmontarem uma série de direitos consagrados na constituição, estratégia que passa primeiro pela criminalização do PT. (Para o bem ou para o mal é o partido que tem como bandeira a defesa do trabalhador. Queira ou não, admita ou não, mas estes são os fatos.)

O resultado mais imediato dessa estratégia pôde ser percebido pelo enfraquecimento da legenda que nas eleições gerais do ano passado, deixou de eleger número suficiente de deputados, perdendo o protagonismo de estabelecer a agenda de discussão política da câmara que com o PT na presidência  jamais permitiria, sequer, que a terceirização entrasse em pauta de votação e se por pressões externas de lobbies que atuam  firmemente em defesa dos mais inconfessáveis interesses triunfasse, trazendo a discussão para ser votada no plenário da câmara, o trabalhador não teria sofrido tão esmagadora derrota.

Os deputados que estão no parlamento foram eleitos por escolha direta do trabalhador que lhe deu representação, acreditando que o PT não satisfaz mais suas aspirações.  O grave erro dessa escolha ficou claramente demonstrada ontem, quando direitos que deveriam ser invioláveis foram flexibilizados.

Aguardem porque vem muito mais por aí.

Por meio dessa sistemática campanha de desconstrução do PT e dos governos trabalhistas que o partido representa, cujo pano de fundo é o discurso da corrupção como bandeira política central, adotado por grupos de direita, impõem a agenda política que não interessa ao trabalhador. A corrupção vem do arco da velha, desde que mundo é mundo. Nos dias atuais está sendo duramente investigada e combatida, com viés ideológico e seletivamente, diga-se de passagem, mesmo assim duramente combatida e investigada, apesar de direcionada para o PT, aliados e governo.

Em apartada síntese, cristalizaram na opinião pública midiotizada que foi o PT que criou e deu vida a corrupção. Esse discurso na sai de pauta, permanecesse em discussão, enquanto interesses caros aos trabalhadores estão sendo demolidos para o prejuízo geral da classe operária.


De um lado a direita hidrófoba, de outro a esquerda desmiolada



 Por Eduardo Guimarães

A construção da frase que intitula este texto não abrange toda a direita nem toda a esquerda, já que adjetiva uma e outra, o que sugere que existe direita que não é hidrófoba e esquerda que não é desmiolada. Porém, são uma e outra que preponderam hoje no cenário político.

O título ainda poderia conter um terceiro elemento: entre essa direita e essa esquerda, jaz, inerte, um zumbi político.

Há quase dois anos que o Brasil começou a “endireitar” a passos largos. Ao fim de junho de 2013, toda sorte de psicopatas de extrema direita infestava as ruas.
Neonazistas e fascistoides prontos e acabados caçavam qualquer desavisado que vestisse peça de roupa vermelha. Cânticos contra homossexuais ou “comunistas se faziam ouvir nas vozes esganiçadas de milhares.

Pouco mais de um ano depois, o Congresso Nacional, que nunca foi um exemplo de progressismo, converteu-se no paraíso dos fundamentalistas cristãos e dos reacionários de todas as cepas.
Para combinar com o novo perfil, a Casa do Povo e a Casa revisora da representação popular guindaram aos seus respectivos comandos dois renomados picaretas afinados com as taras dessa maioria parlamentar.

Aí começam os desatinos.

Só para ficar nos exemplos mais recentes, o Congresso está para aprovar a precarização extrema do trabalho, com a cada vez mais provável terceirização; o superlotado sistema carcerário está ameaçado de receber adolescentes ainda sem formação biológica completa; os brasileiros estão ameaçados de ver as taxas de juros explodirem com a proposta tucana de Banco Central independente, sob ameaça de Renan Calheiros e da maioria que a ultradireita se construiu no Congresso.

Em meio a esse avanço assustador da direita que promete, ainda, muito, muito, mas muito mais em prejuízo de mulheres, homossexuais, sem-terra, negros e indigentes, entre outros, esperava-se a formação de uma frente de esquerda para barrar esse avanço fascista. Vã esperança.

Na semana passada, artigo da suposta líder da esquerda que se diz “autêntica” se espalha pela internet com a “boa nova”: está tudo bem, tudo “tranquilex”. Não apenas não há avanço da direita como a esquerda estaria “crescendo”.

A candidata do PSOL à Presidência no ano passado, Luciana Genro, escreve um artigo autista, absolutamente descolado da realidade, no qual comemora um punhado de votos a mais que seu partido obteve na disputa presidencial e o “descomunal” aumento da bancada psolista na Câmara dos Deputados, um aumento de 70% – ou seja, de 3 para 5 deputados.

A liderança psolista se gaba de ter previsto, na campanha eleitoral, que qualquer um que se elegesse presidente teria que fazer o ajuste fiscal, como se fosse necessária clarividência para prever que não haveria como deixar de ajustar as contas públicas.

Assisto a vídeo de uma “cientista política de esquerda” que nega todos os avanços obtidos pelo povo brasileiro ao longo dos últimos 12 anos. O PT nunca foi de esquerda, diz. E a ascensão social que pôs filhos de pobres e negros nas universidades, que deu casa própria a milhões, que elevou a massa salarial a níveis nunca vistos, que praticamente zerou o desemprego, foi tudo “esmola”.
Não é miopia política, é cegueira.

Não vão derrubar Dilma, diz a esquerda desmiolada. E ela (Dilma) é igual a eles, o PT é igual ao PP de Bolsonaro ou aos fundamentalistas tucanos que se apavoram vendo uma netinha de cinco anos desenhar uma estrela vermelha, com medo de ela estar sendo seduzida pela propaganda “comunista”.
Não vão derrubar Dilma, afirma Luciana. Mas, se derrubarem, paciência. Faz parte da vida derrubar governos legítimos, condenar sem provas, subverter a normalidade democrática, estraçalhar o Estado de Direito, moldar uma legislação penal fascista, jogar crianças em masmorras, entregar o Banco Central ao mercado financeiro internacional.

Nesse último quesito, diz a psolista, o BC já foi entregue aos banqueiros. É mesmo, Lu? Por que, então, eles votaram contra Dilma, ano passado?

Porque ela se recusou e se recusa a dar independência ao BC, entre outros motivos. Porque, no primeiro mandato, ela pôs os bancos públicos para liderarem queda nas taxas de juros; porque ela reduziu o preço da energia; porque ela usou dinheiro público para impedir o desemprego e o arrocho salarial, o que acabou desregulando as contas públicas devido à perenidade da crise internacional. Só por isso.
Mas Dilma e o PT não são de esquerda, não é, Lu?

No meio disso tudo, um governo e um partido em transe. Dilma Rousseff e o PT passaram quatro anos alheios aos avisos de que não podiam ficar inertes enquanto se construía o espetáculo reacionário ora em cartaz.

Agora sem Lula para dizer o que era preciso quase todo dia – como ele fazia quando governava –, o governo ficou sem voz e sem se contrapor aos ataques.

Isolados em seus gabinetes, presidente e seu partido deixaram os adversários dizerem o que queriam sem fazerem uma mísera contestação. E, assim, deixaram aliados e militantes favoráveis sem argumentos.

Cansados, militantes que poderiam dar combate ao avanço reacionário dizem hoje que se o governo e seu partido não se defendem, que se danem.

O que, aliás, é outro equívoco.

Pode ter certeza, leitor, de que se Dilma sair agora ou em 2019 ela será uma entre os que menos pagarão pelos desatinos legais que estão sendo perpetrados, com uma legislação fascista que promete, por exemplo, agravar o problema da violência e da criminalidade recrutando adolescentes para serem doutrinados pelo crime organizado dentro de nossas masmorras medievais ditas “prisões”.

O que posso recomendar a você que, atônito, vier a ler estas linhas é que, se pretende continuar no Brasil, se não tiver meios e/ou planos de escapulir daqui, que comece a se perguntar não o que o seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer por seu país.

Não me leve a mal, leitor. Sei que você é um dos que menos têm culpa. Mas ficar inerte não vai adiantar. Sabe por que lhe faço tal recomendação? Porque a bomba que estão armando não vai estourar na mão de Dilma ou do PT, vai estourar na sua.

http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/176197/De-um-lado-a-direita-hidr%C3%B3foba-de-outro-a-esquerda-desmiolada.htm

Quem pariu Mateus que o embale





por Luciano Martins Costa
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Os jornais tratam a crise política como uma novela da TV, com a diferença de que o espectador não assiste diretamente os capítulos, mas acompanha a trama pelos comentários da mídia.
Por exemplo, nesta quarta-feira (8/4) o principal episódio é a nomeação do vice-presidente, Michel Temer, como articulador encarregado de amenizar a crise entre o Executivo e o PMDB.
O leitor, evidentemente, não tem acesso direto ao acontecimento - aceita a versão que lhe é vendida, ou tenta fazer sua própria análise.

Então, vejamos uma pequena seleção das interpretações oferecidas pela mídia tradicional.
Um colunista do Globo avaliza a tese de que a presidente Dilma Rousseff não deveria ter conduzido pessoalmente a troca do ministro das Relações Institucionais pelo vice-presidente, assumindo que a negociação deveria ter sido tratada em sigilo.

(O problema: numa situação de conflito como a que vive a aliança governista, não existe a hipótese de sigilo - qualquer uma das facções em disputa pode vazar a informação e desandar o acordo. )

Outro colunista, no mesmo jornal, considera "engenhosa" a manobra que extinguiu o Ministério das Relações Institucionais e entregou a função a Temer, e observa que a medida foi uma iniciativa da presidente Dilma Rousseff.

Mas considera que a mudança fortalece o PMDB, que agora controla não apenas as presidências da Câmara e do Senado - as duas instâncias na linha de sucessão do Executivo - como também conduz as negociações entre o Executivo e a base aliada.

(O problema dessa análise: a mudança coloca a crise no colo do PMDB, deixando a presidente mais livre para governar - essa é a engenhosidade da iniciativa.)

O artigo do biógrafo de Ulysses Guimarães, também no jornal carioca, desenha uma fantasia sobre um PMDB que não existe mais.

Na sua visão, a rebeldia de Calheiros e Cunha significa que a agremiação "cansou de ser o partido das antessalas palacianas".

(Ora, o PMDB de hoje não tem nenhuma relação com o MDB de Ulysses: é um saco de gatos que consolidou o antigo "Centrão", uma espécie de "shopping China" da política, onde cada parlamentar tem um estandezinho para fazer seus negócios. )

Na Folha, o artigo mais destacado sobre o assunto observa que o risco da presidente está na possibilidade de Michel Temer se sentir tentado a alçar um voo mais alto, por exemplo, assumindo o poder sem intermediários.

(Se o autor considera "intermediário" o posto de presidente da República, está ignorando o fato de que todos os cargos em questão têm atribuições bem definidas, e o vice-presidente terá que agir como um algodão entre as diferentes tensões. A maior delas nasce no seu partido, principalmente pela ação do deputado Eduardo Cunha e do senador Renan Calheiros, que esperneiam quanto podem para adiar o momento em que terão de responder diante da Operação Lava-Jato.)

As colunas políticas de notas curtas são, quase sempre, um apanhado de recados, patranhas, fofocas, opiniões e plantações de protagonistas da cena pública, que o colunista seleciona conforme seus pendores ideológicos. No caso do Painel da Folha de S. Paulo, o leitor é induzido a entender que a decisão da presidente é uma jogada de alto risco, articulada em momento "dramático".

(O problema dessa versão é que os principais atores desse enredo foram surpreendidos pela iniciativa, e o vice-presidente, que tem assistido seu cargo se esvaziar pelo protagonismo exacerbado de Renan Calheiros e Eduardo Cunha, viu na nova função a chance de voltar ao centro do palco.)

O Estado de S. Paulo assume a opinião de uma colunista, ao publicar na primeira página a interpretação segundo a qual "o PMDB humilhou Dilma e ela tenta driblar o vexame pondo a articulação política na Vice-Presidência".

(Além da linguagem inapropriada, na qual a jornalista trata a presidente da República como se fosse sua comadre, o problema está na própria análise: a autora omite que a iniciativa coloca o PMDB numa encruzilhada, da qual só poderá sair se tomar explicitamente uma decisão sobre continuar no governo ou migrar para a oposição.)

A verdade por trás dessa miscelânea de opiniões é que a imprensa foi apanhada de surpresa pela manobra da presidente da República, que chamou o vice-presidente à responsabilidade e o encarregou de resolver a crise que seu partido deflagrou. Quem pariu Mateus que o embale.

Alguns articulistas não escondem a torcida para que a crise política se agrave, mas os jornais não podem alimentar indefinidamente o conflito, porque mesmo o mais crédulo dos midiotas acaba percebendo que essa disputa partidária já afeta a economia.

http://www.jornalggn.com.br/noticia/quem-pariu-mateus-que-o-embale-por-luciano-martins-costa