quarta-feira, 30 de março de 2011

Assassinos! Criminosos de guerra Cameron, Obama e Sarkozy lançam ataque terrorista






Timothy Bancroft-Hinchey





A tinta ainda estava fresca na Resolução 1973, e na mídia ocidental já estavam falando sobre os ataques aéreos e como ajudar os rebeldes. Dois erros aqui - em primeiro lugar, não é esse o âmbito do documento e, segundo, por que o Presidente Obama e o primeiro-ministro Cameron deliberadamente citam de forma errada as palavras de Muammar Al-Kadafi?



“OTAN” e “terrorismo” são a mesma coisa e as últimas ações desta ala militar do lobby do petróleo, que gravita em torno da Casa Branca, demonstram de forma evidente que essa força maligna segue endemicamente uma política de violência para perpetrar a sua ganância. Na Líbia, a OTAN, mais uma vez, errou monumentalmente.



A tinta ainda estava fresca na Resolução 1973, e na midia ocidental já estavam falando sobre os ataques aéreos e como ajudar os rebeldes. Dois erros aqui - em primeiro lugar, não é esse o âmbito do documento e, segundo, por que o Presidente Obama e o primeiro-ministro Cameron deliberadamente citam de forma errada as palavras de Muammar Al-Qathafi?



O Líder Fraternal do Grande Jamahiriya Socialista Popular Líbia Árabe não havia jurado não mostrar misericórdia para com o povo de Benghazi - ele tinha dado aos “rebeldes” (grupos armados de criminosos), uma janela para deporem as armas e tinha dito que ele não mostraria misericórdia para aqueles que não o fizeram. Ele não estava falando acerca do massacre de civis em Benghazi - onde, aliás, muitos dos seus apoiadores, indefesos, que já foram assassinados pelos “rebeldes”. A sangue frio.



É legal ou aceitável a França, Inglaterra ou nos Estados Unidos da América para pegar em armas, transformar edifícios em tochas, massacrar civis desarmados (os "rebeldes" fizeram isso em Benghazi) e cometer atos de terrorismo? Não? Nem é na Líbia.



O fato que o presidente Obama e o primeiro-ministro Cameron deliberadamente distorceram as palavras do estadista líbio, citando-o de forma errada e fora de contexto não faz nada para promover a noção de que eles sejam razoáveis, ou equilibrados, ou competentes para desempenharem seus papéis. O que eles fizeram é juntar-se ao Presidente Sarkozy para cometer um ato de terrorismo contra a Líbia. A Cruzada começou, e a Líbia é apenas a primeira etapa.



O adágio da OTAN no Iraque era “hoje, uma criança - amanhã, um terrorista” e a política de jogar bombas de fragmentação em áreas civis é prova disso. Depois, entraram as empresas petrolíferas. O adágio da OTAN na Líbia parece ser proteger o povo líbio aliando-se com Al-Qaeda, instigar a revolta na zona rica em petróleo endemicamente separatista da Cirenaica, Benghazi sendo a sua cidade capital, para depois instalar um regime amigável... E depois, as companhias de petróleo entrarão.



Para o povo da Líbia, se o Grande Plano der resultado, vai desaparecer o alojamento gratuito, idem o sistema de educação livre, idem o sistema de saúde excelente e gratuito, idem os enormes benefícios sociais distribuídos entre a população. Líbia vai-se tornar a prostituta do Ocidente, os seus recursos estuprados enquanto pessoas à margem da sociedade da Líbia são colocados em posições de poder. Marquem as minhas palavras.



Para os (agora) criminosos de guerra Cameron, Obama e Sarkozy, algumas perguntas. Vocês sabiam que em 1951, a Líbia foi a nação mais pobre do mundo? Vocês sabiam que hoje tem o maior índice de desenvolvimento humano em África? Algum de vocês três implementaram programas habitacionais gratuitos? Não, vocês destruíram as esperanças dos seus cidadãos através da criação de sistemas nos quais as pessoas não têm recursos para manter suas casas.



Algum de vocês já implementou sistemas de cuidados de saúde gratuitos? Não, vocês tornaram a saúde num negócio. Algum de vocês distribuiu terras gratuitamente? Doaram equipamentos agrícolas de graça? Não, vocês impõem tarifas sobre as importações provenientes dos países pobres e dão subsídios aos seus fazendeiros, fingindo seguir, de forma hipócrita, os preceitos da OMC.



Como vocês justificam os ataques a alvos civis da noite passada? Estes são crimes de guerra. Vocês sabiam que os três centros médicos foram atingidos? Que tipo de "ditador" distribui armas para um milhão de cidadãos? Onde está a zona de exclusão aérea sobre o Bahrein e Iêmen, onde civis desarmados estão sendo massacrados pelos seus amigos?



E agora, o Sr. Cameron. Você se preocupou em explicar ao seu povo, confrontado com o selvagem, bárbaro e desumano ataque contra a sociedade britânica pela implementação de seus ridículos e totalmente desnecessários cortes de gastos públicos, quanto custa participar neste ato descarado de terrorismo? Então eu lhe informarei que o custo por aeronave por dia está na região de 200.000 libras esterlinas. Isso é 35,000-50,000 GBP por hora de voo por aeronave - do dinheiro dos contribuintes. Como você justifica os gastos nesse bombardeio de hospitais e alvos civis, quando você corta os gastos para o Serviço Nacional de Saúde?



Cortes dos gastos públicos, qual o quê?



Agora a verdade: A “rebelião” na Líbia está baseada em torno de fundamentalistas islâmicos no ponto quente historicamente separatista de Benghazi. Os líbios chamam-lhes “os barbudos”. A “rebelião” foi lançada pelo Ocidente. Falhou, e quando as forças militares do coronel Al Kadafi ganharam a iniciativa, eles entraram em pânico. Eles recusaram a resolução patrocinada pelos russos de um cessar-fogo na ONU e tentaram fazer passar uma resolução que permitia uma invasão militar em larga escala.



Esta resolução foi anulada pela Rússia, China, Índia, Brasil e Alemanha, e o resultado foi uma zona de exclusão aérea e permissão para usar a força militar para proteger os civis. Mas as autoridades líbias não estão lutando contra “civis”. Eles, como no Ocidente, estão lutando contra terroristas islâmicos.



E os presidentes Obama e Sarkozy e o primeiro-ministro Cameron tem os assassinatos de 64 pessoas nas suas mãos. Estes homens são responsáveis pelo uso indiscriminado dos recursos militares contra alvos civis na Líbia, incluindo alegadamente três centros médicos, fora do âmbito de aplicação da Resolução das Nações Unidas. Senhoras e Senhores, Cameron, Obama e Sarkozy são responsáveis por crimes de guerra.



ONU: Traição e hipocrisia contra a Líbia




“Se você quer uma imagem de como será o futuro, imagine um coturno militar esmagando a cabeça de um homem – para sempre”. George Orwell.



29/3/2011, Felicity Arbuthnot, Palestine ChronicleLibya, Hipocrisy and Betrayal by the UNTraduzido pelo pessoal da Vila Vudu



A Líbia começará [começou] a ser atacada no dia, ou quase no dia, que marca o 8º aniversário do início da destruição do Iraque, 20 de março, pelo calendário europeu. E, como o Iraque, a Líbia também será destruída – escolas, sistema educacional, sistema de água, a infraestrutura, os hospitais, os prédios públicos. Haverá quantidade enorme de “trágicos erros”, “danos colaterais”, pais, mães, crianças, filhos, irmãos, bebês, avós, avôs perdidos, e serão inauguradas escolas para mutilados, para cegos, para surdos e o rol completo das ações humanitárias, que sempre vêm depois que os países são destruídos, arrasados. E, com o tempo, a história da Líbia, como aconteceu no Iraque e no Afeganistão, será apagada da memória humana.



A infraestrutura nacional destruída e com as sanções e embargo vigentes, nenhuma reconstrução será possível sem a participação dos “libertadores” ocidentais. EUA, Grã-Bretanha e França se reunirão e decidirão que o país tem de ser “estabilizado” antes de ser “reconstruído”: a destruição da Líbia, como a destruição do Iraque não tem história; é como se não tivesse acontecido. Em seguida, os mesmos EUA-França-Grã-Bretanha se (re)instalarão na Líbia, neossenhores dos campos de petróleo, das refinarias, da água. O povo líbio será apenas uma inconveniência, um incômodo; bem rapidamente, com a ajuda dos jornais e televisões, o povo líbio passará a ser chamado de “o inimigo”. Então haverá “insurgentes”, “terroristas”, e o povo líbio será morto a tiros, ou em antros de tortura – e EUA-França-Grã-Bretanha instalarão na Síria um governo-fantoche seu aliado.












Os invasores e ocupantes invadem e ocupam com exércitos, mas também com suas empresas, e algumas daquelas empresas serão premiadas com contratos “de reconstrução”. O dinheiro – como o dinheiro líbio que já foi confiscado e está congelado em bancos também invasores e ocupantes – como que desaparecerá sem deixar rastros. E a ação humanitária de EUA-França-Grã-Bretanha na Líbia deixará sobre a terra exclusivamente seu rastro de ruínas, roubos e mortes.



E as televisões e rádios em toda a Europa e nos EUA festejarão a “ação humanitária do ocidente” e da “coalizão internacional”, como aconteceu no Iraque. Europeus e norte-americanos voltarão para casa, certos de que não lhes choverão bombas sobre o telhado, que os bebês não terão surtos de tremores incontroláveis, que não acordarão no meio da noite, aos gritos, em pânico, ao mais remoto sinal de som de algum avião que cruze o céu.



Estamos assistindo à operação “Choque e pavor” versão Líbia. Vergonha. Só vergonha cobre hoje os EUA, a França, a Grã-Bretanha e a ONU. É mentira que tenham sequer tentado “salvar do horror da guerra sucessivas gerações”.



Cada viúva, cada criança morta ou mutilada para sempre, na Líbia, como no Iraque, terão esses nomes – EUA, França, Grã-Bretanha, ONU – gravados a fogo na própria carne, para sempre. Para toda uma geração de árabes, de fato, em todo o mundo, EUA, França, Grã-Bretanha e ONU já são sinônimos de morte.



E a imprensa divulgará os ataques que o ocidente move contra povos soberanos, ataques de guerra, gestos assassinos – como se fossem gestos de amizade, para levar democracia, para libertar a Líbia do “novo Hitler”, do “açougueiro de Bengazi”.



Os mesmos países que se associaram em gangue, dessa vez, para derrubar o governo soberano da Líbia, pode-se dizer, repetem os crimes que já foram julgados e condenados em Nuremberg: “Supremo crime internacional, que só difere de outros crimes de guerra porque carrega em si o mal acumulado de todos os crimes contra todos os povos”. De diferente que, dessa vez, embora os criminosos sejam os mesmos de sempre, a vítima é outra. O governo da Líbia é governo soberano. Nenhuma falsa “legalidade” que esconde o próprio crime por trás de uma ‘resolução’ arrancada à ONU por chantagem enganará todos, por muito tempo. O mundo já viu o que agora apenas se repete.



No que tenha a ver com os salvadores ocidentais de povos árabes e portadores de ‘democracia’ à ponta de sabres, muito cuidado com o que se pede a Deus. Em seis meses, a maioria dos líbios, e por pior que tenha sido a história dos últimos 40 anos, estarão maldizendo o dia em que entregaram seu país aos invasores, ocupantes, assaltantes de sempre.




O colapso da globalização

terça-feira, 29 de março de 2011







Chris Hedges





28/3/2011, *Chris Hedges, TruthdigThe Collapse of GlobalizationEnviado pelo pessoal da Vila Vudu



Os levantes do Oriente Médio, a agitação e a guerra que destroçam países, hoje, como a Costa do Marfim, o descontentamento que faz ferver a Grécia, a Irlanda, a Grã-Bretanha e todas as lutas dos trabalhadores em estados como Wisconsin e Ohio anunciam o colapso da globalização. São a voz de um mundo no qual recursos vitais, como comida e água, empregos e segurança, são cada dia mais escassos e mais difíceis de encontrar. Anunciam a certeza de miséria sempre crescente para centenas de milhões de pessoas que se veem presas em estados fracassados, sofrendo violência cada dia maior e vendo aumentar, só, a miséria e o medo.



Tudo o que milhões e milhões veem no futuro é controle draconiano cada dia maior, cada dia mais violência e força. – E quem duvide veja o que está sendo feito hoje contra o soldado Bradley Manning – controle, violência e força, que a elite das corporações usa para arquitetar a desgraça de milhões de seres humanos.



Temos de abraçar, e abraçar imediatamente, uma nova ética radical de simplicidade e rigorosa proteção de nosso ecossistema – com atenção especial ao clima – ou estaremos pendurados à vida por um fio, pela ponta dos dedos. Temos de reconstruir movimentos sociais radicais que exijam que os recursos do Estado e da nação sejam empregados para prover o bem-estar dos cidadãos e que a mão pesada do Estado seja usada para proibir a ação deletéria da elite do poder das corporações. Temos de ver os capitalistas das corporações, que assumiram controle integral sobre nosso dinheiro, nossa comida, nossa energia, nossa educação, nossa imaprensa, nosso sistema de saúde, nosso governo e nossa democracia, como nossos inimigos mortais a serem derrotados.



Nutrição adequada, água limpa e segurança básica já estão muito além do alcance de talvez mais da metade da população do mundo.



Segundo o Fundo Monetário Internacional, os preços dos alimentos subiram 61% globalmente desde dezembro de 2008. O preço do trigo explodiu, mais do que dobrou nos últimos oito meses. Quando metade da nossa renda é gasta em comida – como em países como Iêmen, Egito, Tunísia e Costa do Marfim, aumentos dessa magnitude trazem consigo, consequência inevitável, desnutrição e fome.





Manifestantes carregam um

boneco de Ronald McDonald.



Nos EUA o preço dos alimentos subiu 5% nos últimos três meses, em números anualizados. Há cerca de 40 milhões de pobres nos EUA, que gastam 35% da renda que lhes resta depois de pagos os impostos, para comer. Os preços dos combustíveis sobem, à medida que as mudanças climáticas atingem a produção agrícola e as populações são acossadas pelo desemprego, os norte-americanos também nos vemos envolvidos na mesma e sempre crescente agitação global. Já são inevitáveis, nos EUA, agitações sociais e “guerras do pão”. Mas nada disso significa nem jamais significará mais nem melhor democracia.



As instituições liberais – inclusive a imprensa, as universidades, os movimentos de trabalhadores e o Partido Democrata –, que se negam a encarar para desmascarar todos os delírios utópicos de que o mercado poderia educar seus líderes e os eleitores, liberaram as corporações, os bancos e as empresas de investimentos para que prossigam o assalto aos cidadãos. Hoje, especulam com commodities, fazem aumentar o preço dos alimentos e matam milhões de pessoas, de fome. Hoje, para manter altos os preços do carvão, do petróleo, do gás natural, dedicam-se a combater a divulgação e até a pesquisa de fontes alternativas de energia e matam milhões, obrigados a respirar gases de efeito estufa.



As instituições liberais – inclusive a imprensa, as universidades, os movimentos de trabalhadores e o Partido Democrata – liberaram o agrobusiness para destruir todos os sistemas de agricultura local, sustentável, e plantar soja e milho em todo o planeta, para produzir etanol.



As instituições liberais – inclusive a imprensa, as universidades, os movimentos de trabalhadores e o Partido Democrata – autorizam a indústria da guerra a drenar metade de tudo que o estado teria para gastar, e a gerar trilhões de déficits e a lucrar com as guerras no Oriente Médio, guerras que nem os EUA nem qualquer “coalizão” têm qualquer chance de vencer.



As instituições liberais – inclusive a imprensa, as universidades, os movimentos de trabalhadores e o Partido Democrata – autorizam as grandes corporações a escapar de todos os controles sociais, até dos mais básicos, a escapar de todas as regulações, para construir, em vez de instituições democráticas, uma espécie de neofeudalismo global.



Ninguém jamais elegeu diretamente acionistas de grandes corporações ou os especuladores de Wall Street, mas são eles que detêm o poder de produzir a nossa comida e de dirigir nossa vida social e política. E nada disso mudará, enquanto os EUA não derem as costas aos delírios do Partido Democrata, não aprenderem a denunciar as ortodoxias que se infiltraram nas universidades e na imprensa dos EUA, lá metidos pelos apologistas do mercado e das grandes corporações.



A única salvação que resta aos norte-americanos é construir outra oposição ao estado governado pelas corporações e por Wall Street, uma oposição a ser construída de baixo para cima. Não é fácil de fazer, nem se faz rapidamente. Antes, os norte-americanos têm de aceitar o status de párias econômicos e sociais e políticos – sobretudo hoje, quando a franja mais lunática do establishment político nos EUA parece ganhar mais poder, a cada dia, e parece governar sem oposição.



O estado Wall Street nada tem a oferecer nem à esquerda nem à direita, além do medo. E usa o medo – medo do humanismo secular e medo do cristianismo fascista e medo dos muçulmanos fascistas – para fazer, do eleitor, seu cúmplice passivo. Enquanto o medo paralisar os EUA, nada será jamais alterado.



Friedrich von Hayek e Milton Friedman , dois dos principais arquitetos do capitalismo sem regulações jamais poderiam ter sido levados a sério. Mas a propaganda das grandes corporações e o dinheiro das grandes corporações, na universidade e na imprensa, fazem milagres e converteram essas figuras marginais na história do pensamento, em reverenciados profetas nas universidades, nos think tanks, nas “consultorias”, na imprensa, nos corpos legislativos, nas cortes de justiça e nos conselhos de administração das próprias corporações.



Hoje, quando Wall Street já só sobrevive porque mamou nas tetas do Tesouro dos EUA até secá-las, ainda se ouve pelas televisões e se lê nos jornais a cantilena desacreditada daquelas teorias econômicas. Wall Street insiste na especulação que já fez sumir 40 trilhões de dólares da riqueza do mundo. O mercado já fracassou. E ainda somos ensinados, por todos os sistemas de informação, a repetir o mantra de que o mercado “sabe”.



É como se não importasse, como John Ralston Saul escreveu, que todas as promessas da globalização tenham sido desmascaradas e já se saiba que são mentiras. É como se não importasse que a desigualdade econômica tenha aumentado e que praticamente toda a riqueza do mundo esteja hoje concentrada em poucas mãos. É como se não importasse que as classes médias – o único coração vivo de qualquer democracia – esteja sumindo nos EUA e que os direitos e o salário dos trabalhadores estejam despencando, ao mesmo ritmo em que foram demolidas todas as organizações e todas as regulações de proteção ao trabalho e ao trabalhador.



É como se não importasse que, nos EUA, as corporações tenham usado a desregulação do trabalho como mecanismo para massiva evasão de impostos – tática que permite que conglomerados como a General Electric já praticamente nem paguem impostos. É como se não importasse que os conglomerados globais explorem até a morte os ecossistemas dos quais a espécie humana depende para viver.



A barreira de mentiras disseminadas pelos sistemas de propaganda das grandes corporações, propaganda que se faz pela imprensa e pelas universidades, sistemas nos quais as palavras são substituídas por imagens, infográficos e música, é absolutamente impermeável à verdade. O único deus cujo poder jamais é desafiado pela razão é o deus mercado. E os dissidentes dessa religião de loucos – seja Ralph Nader, seja Noam Chomsky – são banidos como hereges.



O objetivo do estado Wall Street não é alimentar, vestir, dar teto às massas, mas concentrar todo o poder econômico, social e político, e toda a riqueza, nas mãos do minúsculo estrato das próprias corporações globais. É inventar um mundo no qual os “altos executivos” ganham 900 mil dólares por hora, enquanto famílias de quatro membros têm de trabalhar, todos, para sobreviver. Essa desigualdade só pode ser mantida, se as corporações se dedicarem a enfraquecer o estado, as organizações sociais, as organizações políticas e a destruir todas as instituições democráticas. Universidades privadas, escolas privadas, exércitos de mercenários, sistema privatizado de saúde para enriquecer as corporações e matar os doentes – com privatização de todos os serviços públicos, do padre-pastor da paróquia aos agentes da inteligência, tudo para gerar lucros para a besta privada, à custa de vidas humanas públicas, sociais, a nossa vida.



A dizimação dos sindicatos, o enviezamento de toda a educação social, convertida a educação em training vocacional sem sentido, e o desmonte dos serviços sociais, converteu os EUA em estado escravo dos objetivos das grandes corporações globais. A intrusão das corporações na esfera pública destruiu o conceito de bem comum. Apagou a linha que separava o interesse público e o interesse privado. Criou um mundo que só sabe procurar a autossatisfação de autointeresses.



Os ideólogos da globalização – Thomas Friedman, Daniel Yergin, Ben Bernanke, Anthony Giddens – são produtos atrozes do poder autocentrado, autorreferente, materialista, das corporações no poder. Usam a ideologia utopista da globalização como justificativa moral para o que não é senão autorreferência, auto-obcecação da elite, em seus privilégios. Não questionam o projeto imperial dos EUA, a miséria crescente dentro dos EUA, a desigualdade dentro dos EUA, não veem as diferenças em segurança e em riqueza que há entre aquele pequeno grupo e o resto dos seres humanos que há no planeta. Abraçaram a globalização porque essa ideologia, como outras ideologias teológicas, justificam o privilégio e o poder de uns, e a desgraça e a miséria de outros. Como outros fundamentalistas religiosos, os crentes fiéis fundamentalistas que cultuam o mercado dizem que a globalização não é uma ideologia, mas a expressão de verdade incontroversa. Desmascarar a fraude, é pecado.



E, porque a verdade sempre foi ocultada, toda a ideologia econômica e política da globalização foi excluída das discussões públicas. A globalização foi vendida ao mundo como qualquer outro produto, sem defeitos, só com qualidades. A discussão que não se fez publicamente, socialmente, nos tempos triunfalistas da globalização, muito menos se fará agora, em tempos do colapso.



A defesa da globalização marca um ponto de ruptura perturbadora, na vida intelectual dos EUA. O colapso da economia global em 1929 desacreditou os ideólogos da desregulamentação dos mercados. Abriu espaço para visões alternativas, muitas das quais, fruto dos movimentos socialistas, comunistas e anarquistas que houve um dia nos EUA e, então puderam ser ouvidos. Os EUA reagiram à realidade política. A capacidade de criticar cânones políticos e econômicos resultaram no New Deal, que desmantelou monopólios, mas desmantelou também as regulações a que estavam submetidos bancos e grandes corporações.



Mas hoje, porque as corporações controlam todo o sistema de comunicação de massa, e porque milhares de economistas, professores de administração de empresa, analistas de finanças, jornalistas e gerentes de empresa apostaram seus currículos, sua credibilidade e suas carreiras profissionais na utopia global, os cidadãos, entre si, só discutem bobagens, trivialidades, ou falam sobre o que não entendem. Como se os EUA ainda seguissem o conselho de Alan Greenspan, que dizia que Ayn Rand, romancista de quinta categoria seria grande “guru econômico”, ou de Larry Summers, cujo programa de desregulação dos bancos, quando foi secretário do Tesouro do presidente Bill Clinton, ajudou a capar alguma coisa como 17 trilhões em salários, aposentadorias e poupanças pessoais.



Candidatos à presidência como Mitt Romney dizem aos cidadãos que cortes de impostos devidos pelas grandes empresas as forçariam a “repatriar”, de volta para os EUA, os lucros e empregos que “exportaram”. Essa foi ideia de um gerente de fundo de investimentos que fez fortuna a partir de um programa de demitir empregados e é bom exemplo de a que ponto de minúcia chegou a máscara racional que se encontrou para encobrir a irracionalidade do discurso político da globalização.



Civilizações em declínio muitas vezes preferem qualquer esperança, por absurda que seja, à verdade. A mentira torna a vida mais suportável. Por isso os apologistas da globalização ainda encontram defensores. E seu sistema de propaganda construiu uma vasta cidade-Potemkin chamada de “entretenimento”. As dezenas de milhões de norte-americanos empobrecidos, acossados pela miséria, são invisíveis. Não chegam às televisões. Como outros milhões de pobres, que vivem em favelas, em todo o mundo. Não os vemos sofrer e morrer. Discutimos outras coisas, sempre tolices. Discutimos incansavelmente teorias absurdas. Investimos nossa energia emocional em “reality shows” que celebram o excesso, o hedonismo, a boa forma física. A vida opulenta e ociosa de uma oligarquia, oferecida como se fosse uma espécie de espelho macabro: 1%, a oligarquia nos EUA, come mais vitaminas que os 90% restantes da população, somados. (...) O curto circuito de todos os valores e a perversão da consciência social pela “ideologia global”, ideologia das corporações, do estado Wall Street, desenharam uma paisagem na qual figuras “corporativas” como Donald Trump podem pensar em concorrer à presidência: dado que sabe acumular quantidades astronômicas de dinheiro privado... com certeza será presidente sábio. (...)



Os propagandistas da globalização, do globalismo, creem no crescimento natural dessa imagem, em mundo culturalmente analfabetizado. Fala-se sobre teoria política e economia, em frases clichês, ocas. Mobilizam-se os desejos mais irracionais, os medos. Selecionam-se alguns números, alguns dados isolados, para usá-los como demonstração... do que se queira demonstrar. Pregam e ensinam a ignorância, como se fosse saber: a globalização fez dos EUA, potência. Somos grandes. A mentira é verdade. Guerra é paz.



Enquanto os EUA não acordarem desse sono de autoilusão, continuaremos andando na direção errada. É hora de os EUA acordarem e começarem a agir. Temos de reencontrar nossa perdida potência, a prática norte-americana de atos de desobediência civil, contra o estado Wall Street, contra o estado dominado pelas corporações. Temos de nos separar de todas as instituições liberais que servem às corporações, da imprensa, das universidades e dos partidos do establishmen tcorporativo – é hora, sobretudo, de os norte-americanos nos separarmos do Partido Democrata que já nos está empurrando para uma guerra global – antes que nos empurre, de vez, para uma catástrofe global.





*Chris Hedges escreve todas as segundas –feiras no Thrudig , é associado ao The Nation Institute, vencedor do Prêmio Pulitzer de jornalismo; é autor da obra “Death of the Liberal Class”