sexta-feira, 5 de agosto de 2011

“US Marine SEAL”: guerra secreta em 120 países

 



5/8/2011, Nick Turse, Asia Times Online
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu


Nick Turse é historiador e jornalista, editor associado de TomDispatch.com e novo editor sênior de Alternet.org.

Nesse instante, em algum ponto do planeta, um comando dos EUA está em ação. Repita a frase 70 vezes, e você terá mapeado a atividade dos SEALs [orig.Sea, Air and Land Forces, “Forças de Mar, Ar e Terra”] da Marinha dos EUA, num único dia. Sem que o povo norte-americano saiba, há uma força militar secreta dos EUA em ação num número imenso de países em todo o mundo. Essa nova elite do poder do Pentágono combate guerra global hoje, de cujos objetivo e dimensões a opinião pública norte-americana não tem conhecimento.

Mas, depois que uma equipe da força SEAL da Marinha dos EUA meteu uma bala no peito e outra na testa de Osama bin Laden, ao invadir a casa onde Osama morava no Paquistão, um dos braços clandestinos mais secretos das forças militares dos EUA surgiram, embora rapidamente, à vista da opinião pública. Foi atípico.

Embora se saiba que há forças de Operações Especiais em zonas de guerra no Afeganistão e no Iraque, e que surjam novas evidências a cada dia de que essas unidades operam também em zonas de conflito ainda mais nebulosas, como no Iêmen e na Somália, absolutamente não se conhece a extensão das suas operações em praticamente todo o planeta.

Ano passado, Karen DeYoung e Greg Jaffe do Washington Post noticiaram que havia forças de Operações Especiais dos EUA em ação em 75 países; no governo de George W Bush, eram 60. Ao final de 2011, o coronel Tim Nye, porta-voz do Comando das Operações Especiais dos EUA disse-me em entrevista que esse número já estará próximo de 120. “Viajamos muito, para muitos lugares, além de Afeganistão e Iraque” – disse recentemente o coronel Nye.

Essa presença global – em cerca de 60% das nações do mundo e muito mais vasta do que se sabia – é espantosa nova evidência de que a elite do poder do Pentágono está em guerra clandestina, saibam os países-alvo ou não, em praticamente todos os cantos do mundo.

O aumento do segredo militar dos militares

Nascido depois de um ataque fracassado, em 1980, para resgatar reféns norte-americanos no Irã, no qual morreram oito agentes norte-americanos, o Comando das Operações Especiais dos EUA [orig. US Special Operations Command (SOCOM)] foi criado em 1987. As forças especiais sobreviveram aos anos pós-Vietnã, desprestigiadas pelas forças militares regulares e com orçamento mínino; até que, repentinamente, ganharam sede própria, orçamento estável e um comandante com quatro estrelas.

Desde então, o SOCOM só fez crescer, até converter-se em força mista de proporções gigantescas. O SOCOM reúne unidades especiais de todas as armas: os “Boinas Verdes” [orig. Green Berets] e os Rangers do Exército; os SEALs da Marinha; e outras equipes de Operações Especiais da Marinha e Comandos da Força Aérea, além de tripulações especializadas em helicópteros e barcos, pessoal civil, paraquedistas de resgate e até controladores de tráfego aéreo e meteorologistas para regiões de combate. O SOCOM coordena a maioria das operações secretas e missões especializadas de guerra de todas as forças militares nos EUA.

Essas missões e operações incluem assassinatos predeterminados, ataques a terroristas, reconhecimento de longo alcance, análise de inteligência, treinamento de tropas estrangeiras e operações contra proliferação de armas de destruição em massa.

Um dos principais braços do SOCOM é o Comando Conjunto das Forças Especiais [orig. Joint Special Operations Command (JSOC)], subcomando clandestino cuja principal missão é rastrear e matar pessoas acusadas de terrorismo e de associação com terroristas. O JSOC – que reporta diretamente ao presidente dos EUA e age sob sua autoridade – mantém uma lista global de alvos, entre os quais há cidadãos norte-americanos. Esse comando conduziu uma campanha extra-legal de “matar/capturar”, que John Nagl, antigo conselheiro de contrainsurgência do general de quatro estrelas e recentemente nomeado diretor da CIA David Petraeus, descreve como “máquina de matar terroristas em escala industrial”.

Esse programa de assassinatos predeterminados está sendo implementado por unidades como os SEALs da Marinha e a Delta Force do Exército e também pelos ataques com aviões-robôs pilotados a distância (drones), como parte de guerras clandestinas nas quais também está envolvida a CIA, como na Somália, no Paquistão e no Iêmen. Além disso, o JSOC opera uma rede de prisões secretas, talvez 20 pontos negros, só no Afeganistão, usados para interrogar alvos considerados de alto valor.

O crescimento da indústria

De força com cerca de 37 mil agentes no início dos anos 1990s, o Comando de Operações Especiais, SOCOM, cresceu muito; tem hoje quase 60 mil agentes, um terço dos quais, são membros de carreira do SOCOM; os demais são especialistas de outras áreas ocupacionais militares, que circulam periodicamente pelo Comando.

Depois de 11/9/2001, o crescimento foi exponencial: o orçamento básico do SOCOM quase triplicou, de $2,3 bilhões, para $6,3 bilhões. Se se soma o investimento para as guerras no Iraque e no Afeganistão, em três anos o orçamento mais que quadruplicou e chega hoje a $9,8 bilhões. Não surpreendentemente, o número de agentes ativos no exterior é hoje quatro vezes maior. E estão em estudo novos aumentos, com expansão das operações em curso.

O tenente-general Dennis Hejlik, ex-comandante do Comando de Operações Especiais da Marinha – o último ramo de serviços que foi incorporado aoSOCOM, em 2006 – indicou, por exemplo, que prevê a duplicação da unidade de 2.600 que comandou: “Vejo-os como força de cerca de 5 mil unidades ativas, aproximadamente o número de SEALs que temos no campo de combate. Entre 5 e 6 mil”, disse Hejlik em café da manhã com jornalistas que cobrem a Defesa, em Washington, em junho. Planos de longo prazo exigem que a força seja aumentada imediatamente em mais 1.000 unidades ativas.

Em recente depoimento ao Senado, depois de ter sido indicado para presidir o SOCOM, o vice-almirante William McRaven da Marinha, que acabava de deixar o comando do JSOC (que ainda comandava no ataque que matou bin Laden) defendeu crescimento continuado do contingente ao ritmo de 3-5% ao ano; e pediu mais recursos, inclusive novos aviões-robôs tripulados à distância (drones) e a construção de várias novas instalações para operações especiais.

Ex-agente SEAL que ainda várias vezes acompanha as ações de campo, McRaven disse acreditar que, com a retirada das forças convencionais do Afeganistão, os agentes das forças especiais terão de desempenhar papel mais amplo do que atualmente. O Iraque, disse ele, muito terá a ganhar se agentes das forças especiais dos EUA continuarem ativas lá, mesmo depois de esgotado o prazo final para total retirada, em dezembro de 2011. E garantiu à Comissão das Forças Armadas do Senado que “como ex-comandante do JSOC, posso dizer que também estamos examinando com atenção os casos do Iêmen e da Somália”.

Em discurso à Associação Nacional da Indústria de Defesa, no simpósio anual sobre Operações Especiais e Conflitos de Baixa Intensidade, no início de 2011, o almirante da Marinha Eric Olson, às vésperas de deixar o posto de Comandante do Comando de Operações Especiais, exibiu uma imagem noturna do planeta, feita de fotos feitas por satélites. Antes de 11/9/2001, a parte ‘iluminada’ do planeta – nações industrializadas do norte do globo – era definida como a área chave. “Mas o mundo mudou”, disse o almirante Olson. “Nosso foco estratégico e a ação da comunidade de operações especiais olham hoje sobretudo para o sul (...); temos de lidar com ameaças que vêm de áreas não iluminadas”.

Para essa finalidade, Olson lançou o “Projeto Lawrence” – esforço para ampliar as competências culturais dos agentes – estudos avançados de idiomas e melhor conhecimento da história e costumes locais, com vistas a preparar os agentes para operações em outras terras. O programa recebeu o nome do oficial britânico Thomas Edward Lawrence (“Lawrence da Arábia”), que se aliou a combatentes árabes numa luta de guerrilhas no Oriente Médio, durante a I Guerra Mundial. Falando sobre Afeganistão, Paquistão, Mali e Indonésia, Olson disse que o SOCOM precisa contar agora com “Lawrences de seja onde for”.

Olson falou de apenas 51 países como principais pontos de preocupação para o SOCOM; Nye disse-me em entrevista que, em termos gerais, há forças de Operações Especiais ativas hoje em aproximadamente 70 países em todo o mundo. E todas, apressou-se a esclarecer, a pedido dos respectivos governos locais.

Segundo depoimento que Olson prestou à Comissão de Forças Armadas da Câmara de Deputados no início desse ano, cerca de 85% dos agentes de operações especiais estão ativos em 20 países da área de operação do CENTCOM no Grande Oriente Médio: Afeganistão, Bahrain, Egito, Irã, Iraque, Jordânia, Cazaquistão, Kuwait, Quirguistão, Líbano, Omã, Paquistão, Qatar, Arábia Saudita, Síria, Tadjiquistão, Turcomenistão, Emirados Árabes Unidos. Uzbequistão e Iêmen. Os demais estão distribuídos pelo planeta, da América do Sul ao Sudeste da Ásia, em alguns casos em pequenos números, em outros, com grandes contingentes.

O Comando de Operações Especiais não diz em que países operam seus agentes. “Evidentemente há casos em que não nos interessa divulgar a nossa presença”, diz Nye. Nem todos os países querem divulgar essa colaboração por razões deles, internas ou regionais.”

Mas se é segredo, é segredo mal guardado. Muitos sabem que os agentes ‘de uniformes pretos’ das operações especiais, como os SEALs e a Força Delta, estão engajados em ações de “matar/prender” no Afeganistão, Iraque, Paquistão e Iêmen; e que os agentes ‘de uniformes caquis’, como os Boinas Verdes e os Rangers treinam parceiros locais, como parte da guerra planetária contra a al-Qaeda e outros grupos militantes.

Nas Filipinas, por exemplo, os EUA gastam 50 milhões de dólares por ano com um contingente de 600 agentes de forças das Operações Especiais, SEALs da Marinha, operadores especiais da Força Aérea e outros, que trabalham em operações de contraterrorismo com aliados filipinos, contra grupos insurgentes como Jemaah Islamiyah e Abu Sayyaf.

Ano passado, como mostram análises de documentos do SOCOM, informações divulgadas pelo Pentágono e um banco de dados de missões das Operações Especiais reunido pela jornalista investigativa Tara McKelvey (para a Iniciativa “Jornalismo e Segurança Nacional” da Medill School of Journalism), as principais ações das tropas especiais dos EUA foram exercícios conjuntos no Belize, Brasil, Bulgária, Burkina Faso, Alemanha, Indonésia, Mali, Noruega, Panamá e Polônia.

Até agora, em 2011, missões similares de treinamento foram realizadas na República Dominicana, Jordânia, Romênia, Senegal, Coreia do Sul e Tailândia, dentre outros países. Nye disse-me que, de fato, há ações de treinamento em praticamente todas as nações para as quais se enviam agentes das Forças Especiais. “Dos 120 países que visitaremos até o final do ano, posso dizer que haverá operações de treinamento, de um modo ou de outro. São classificados como exercícios de treinamento.”

A elite do poder do Pentágono

Inicialmente vistas como filhas bastardas do establishment militar, as forças de Operações Especiais cresceram exponencialmente não só em tamanho e orçamento, mas também em poder e influência. Desde 2002, o SOCOM foi autorizado a criar suas próprias Força-tarefas Conjuntas – como a Força-tarefa Filipinas, do JSOC –, prerrogativa que, antes, era privilégio de comandos maiores, como o CENTCOM. Esse ano, sem qualquer alarde, o SOCOM criou também sua própria Força-tarefa de Aquisições, quadro de especialistas em design e aquisição de equipamentos.

Com autonomia sobre orçamento, treinamento e equipamento de suas forças, poderes que antes eram exclusivos de departamentos (como o Departamento do Exército ou o Departamento da Marinha), com dólares ‘carimbados’ em todos os orçamentos do Departamento da Defesa e com defensores influentes no Congresso, o SOCOM é hoje ator excepcionalmente poderoso no Pentágono.

Com esse efetivo poder, pode vencer batalhas burocráticas, comprar tecnologia de ponta e fazer pesquisa reservada no campo das comunicações ou das tecnologias ‘de invisibilidade’, como a dos aviões stealth invisíveis aos radares. Desde 2001, sextuplicou o número de contratos entre o SOCOM e pequenas empresas – produtoras, quase sempre, de equipamento bélico e armas.

O SOCOM tem quartel-general na base aérea de MacDill na Florida, mas opera em teatros de comando espalhados pelo planeta (com bases no Havaí, na Alemanha e na Coreia do Sul); ativo hoje na maioria dos países do planeta, o Comando de Operações Especiais já é força praticamente independente.

Como disse o comandante Olson, pouco antes de deixar o comando do SOCOM no início de 2011, o SOCOM “é um microcosmo do Departamento de Defesa, com forças de terra, mar e ar, presença global e autoridade e responsabilidade correspondentes ao dos Departamentos e Serviços militares e das agências da Defesa”.

Com a tarefa de coordenar todo o planejamento do Pentágono contra as redes globais de terrorismo e, como resultado disso, intimamente conectado a outras agências do governo dos EUA; a militares estrangeiros e a serviços de inteligência, e armado com enorme arsenal de helicópteros ‘invisíveis’, mísseis teleguiados, aviões-robôs (drones) pesadamente armados, barcos de alta velocidade armados e equipados com tecnologia ultrassofisticada, veículos Humvees especializados e veículos camuflados blindados à prova de minas [orig. Mine Resistant Ambush Protected vehicles (MRAPs)]; além de uma parafernália de equipamentos de tecnologias de última geração, com mais inovações já em planejamento e produção, o SOCOM representa algo completamente novo no campo militar.

O falecido especialista em militarismo Chalmers Johnson costumava referir-se à CIA como “o exército privado do presidente”. Hoje, esse papel cabe aoJSOC. Esse Comando Associado de Operações Especiais atua como esquadrão da morte privado do chefe do executivo nos EUA; e seu parente próximo, o Comando de Operações Especiais, SOCOM, funciona como uma elite superarmada do Pentágono – um exército secreto dentro do exército, com poder doméstico e alcance global.

Em 120 países em todo o globo, agentes do Comando de Operações Especiais fazem sua guerra secreta de assassinatos predeterminados pontuais de suspeitos ‘importantes’; ou de assassinatos ‘a granel’ de suspeitos menos ‘importantes’; operações de captura/sequestro; operações noturnas de derrubar portas de casas habitadas e explodir paredes; e missões de treinamento com parceiros ‘locais’ – ações de uma guerra clandestina sobre a qual os cidadãos norte-americanos nada sabem. Forças que já foram consideradas “especiais” por serem pequenas, ágeis e auxiliares no corpo do exército, são hoje “especiais”, pelo extraordinário poder que concentram, pelo acesso sem qualquer restrição a qualquer ponto de qualquer lugar do planeta, pela influência e pela “aura”.

Essa “aura” cresce hoje, por efeito de uma incansável campanha de propaganda e publicidade, que divulga nos EUA e no exterior imagens de agentes sobre-humanos, como se fossem super-heróis, apesar de aqueles agentes, hoje, trabalharem cada vez mais escondidos na clandestinidade, exatamente o contrário do que fazem os heróis de televisão e histórias em quadrinho. Exemplar dessa visão de propaganda com que se querem travestir, foi a frase do almirante Olson: “Estou convencido de que as Forças [Especiais] são os parceiros mais culturalmente bem afinados, os caçadores-matadores mais eficientes, os assessores e instrutores mais empenhados, ágeis, criativos, inovadores, os mais eficientes solucionadores de problemas e guerreiros intrépidos que qualquer nação do mundo pode hoje oferecer”. Dão a impressão de que estão à venda, como numa feira de rua.

Recentemente, no Fórum de Segurança do Instituto Aspen, Olson repetiu esses comentários de propaganda, além de informação falsa, ao dizer que as Forças Especiais dos EUA estariam operando em apenas 65 países e engajadas em combate em apenas dois. Perguntado sobre os ataques com aviões-robôs não tripulados (drones) em território do Paquistão, Olson, segundo os jornais, respondeu: “Vocês estão falando daquelas explosões sem causa conhecida?”

Mas há outras coisas reveladoras, no que disse. Olson observou, por exemplo, que operações “de uniformes pretos”, como a ‘missão bin Laden’, de agentes em helicópteros em ataque noturno, tornaram-se extremamente comuns. “Uma dúzia dessas missões, ou quase isso, acontecem por noite” – disse ele. Talvez ainda mais reveladora seja uma observação que fez sobre o tamanho do SOCOM. Hoje, disse Olson, as forças de Operações Especiais dos EUA têm números equivalentes a todo o exército canadense hoje em serviço ativo. As forças especiais dos EUA são, de fato, maiores que os exércitos regulares de muitas nações nas quais operam hoje. E esses números continuam a aumentar.

Os cidadãos norte-americanos têm de enfrentar o significado de o país manter força “especial” tão gigantesca, tão ativa e tão secreta – o que jamais conseguirão fazer até que haja mais e melhor informação. Não é discussão que se possa esperar que Olson ou seus soldados proponham. “Nosso acesso [aos países estrangeiros] depende de nossa capacidade de não falar sobre o que fazemos” – disse Olson em resposta a perguntas sobre o segredo que cerca o SOCOM. Os soldados secretos reclamam, quando as missões são divulgadas e expostas, como aconteceu no assassinato de bin Laden. E concluiu: os exércitos secretos sempre querem voltar às sombras, “para fazer o que sabem fazer”.

Mais Guerra! A rota para o Armagedon

 



Paul Craig Roberts

por Paul Craig Roberts [*]

Quando principiou a segunda década do século XXI, a economia estadunidense não se recuperara da Grande Recessão iniciada em Dezembro de 2007.

O fracasso da recuperação econômica verificou-se apesar do maior estímulo fiscal e monetário da história do país. Houve um salvamento bancário de US$700 bilhões, um programa de estímulo de US$700 trilhões, um par de trilhões (trillion) de “facilidade quantitativa”, isto é, monetização de dívida ou impressão de dinheiro para financiar as despesas do governo. Além disso, o balanço do Federal Reserve expandiu-se em trilhões de dólares quando o Fed comprou títulos hipotecários e derivativos problemáticos no seu esforço para manter o sistema financeiro solvente e em funcionamento. Segundo auditoria do Government Accountability Office do Federal Reserve, divulgada pelo senador Bernie Sanders, o Federal Reserve proporcionou empréstimos secretos a bancos dos EUA e estrangeiros que totalizavam US$16,1 trilhões, uma soma maior do que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA.


Apesar do enorme estímulo fiscal e monetário, a economia permaneceu morta.

Em 2011 o déficit das despesas anuais do governo federal foi de 43 por cento do orçamento. Por outras palavras, o governo dos EUA tinha de tomar emprestado, ou o Fed tinha de monetizar, 43 por cento das despesas federais durante o ano fiscal de 2011. Apesar deste estímulo fiscal e monetário sem precedentes, a economia não recuperou.

No fim da primeira década do século XXI, o declínio da economia foi temporariamente suspenso pelos subsídios federais para compras de carros e de casa. O subsídio de habitação de US$8.000 ajudou recém-casados a comprarem as primeiras casas, pois o subsídio era uma grande fatia da entrada num mercado habitacional em depressão. O subsídio à compra de carro transferiu procura futura para o presente. Quando estes subsídios expiraram, os aparelhos salva-vidas da economia foram desligados.

Problemas com informação estatística de desemprego, inflação e PIB disfarçaram o agravamento para pior da economia. Ajustamentos sazonais utilizados para aplanar os dados ao longo do ano não foram concebidos para recessão prolongada. Nem tão pouco o modelo “nascimento-morte” utilizado pelo US Bureau of Labor Statistics (BLS) para estimar empregos não relatados de novas companhias que arrancavam e perdas de companhias que abandonaram os negócios. O modelo nascimento-morte foi concebido para uma economia em crescimento e durante épocas baixas superestima o número de novos empregos criados.

O “efeito substituição” utilizado no índice de preço no consumidor (IPC) subestima a inflação ao assumir que os consumidores substituem alimentos mais baratos por aqueles que sobem de preço. Por exemplo: se o preço de um bife em Nova York sobe, isto não é mostrado no IPC devido à suposição de que as pessoas mudam as suas compras para bife menos caro.

Cozinhando a contabilidade

A medida amplamente utilizada do “núcleo inflacionário” (“core inflation”) não inclui alimentos ou energia. O núcleo inflacionário é uma medida útil para aqueles que querem dar uma visão otimista da perspectiva.

Ao subestimar a inflação, o governo pode superestimar o crescimento do PIB real, criando, portanto, uma perspectiva fictícia rósea. Analogamente, ao utilizar a medida do emprego conhecida como U.3, o governo subestima o desemprego.

A “manchete” da taxa de desemprego, aquela enfatizada pela “imprensa” e a imprensa financeira, fixava-se em 9,2 por cento em Junho de 2011. Mas esta taxa não inclui quaisquer trabalhadores desencorajados. Um trabalhador desencorajado é uma pessoa que cessou de procurar um emprego, porque não há empregos a serem descobertos. Um trabalhador desencorajado não é considerado estar na força de trabalho e não é contado entre os desempregados U.3. O governo federal sabe que isto é falso e tem uma medida U.6 do desemprego que conta os desencorajados a curto prazo. Esta medida, raramente informada pela “imprensa”, fixava-se em 16,2 por cento em Junho de 2011.

O estatístico John Williams ( shadowstats.com) continua a contar também os trabalhadores desencorajados a longo prazo de acordo com o modo como era feito oficialmente em 1980. Em Junho de 2011, esta medida completa da taxa de desemprego nos EUA era de 22,7 por cento.

Em outras palavras; em 2011 entre um quinto e um quarto da força de trabalho dos EUA estava sem emprego.

À medida que 2011 avançava, os Estados Unidos enfrentavam três crises econômicas simultâneas. Uma crise decorre da perda de empregos nos EUA, PIB, rendimento do consumidor e base fiscal causada por corporações deslocalizando sua produção destinada ao mercado estadunidense. Ao invés de fabricar seus produtos em casa com trabalho americano e proporcionar empregos aos americanos e receitas fiscais aos estados e localidades, corporações estadunidenses proporcionam PIB, empregos, rendimento do consumidor e uma base fiscal a países como a China, Índia e Indonésia. Esta prática significa que o estímulo econômico foi incapaz de ressuscitar a economia dos EUA, pois os americanos não podem ser chamados de volta a empregos que foram exportados.

Outra crise foi a financeira resultante da desregulamentação; fraude e cobiça. A titularização de hipotecas significou que emissores de hipotecas já não tinham qualquer incentivo para averiguar a possibilidade de crédito do tomador do empréstimo, porque os emissores vendiam as hipotecas a terceiros os quais combinavam as hipotecas com outros e vendiam-nas a investidores.

Como as hipotecas foram emitidas à base de comissões (fees), quanto mais hipotecas emitidas, mais alto era o rendimento das comissões. A fim de arrecadar rendimento de comissões, alguns emissores falsificaram relatórios de crédito para tomadores de empréstimos. Com o mercado habitacional em expansão, muitas pessoas fizeram hipotecas a fim de ganhar dinheiro com a revenda das propriedades. Com os preços habitacionais a subir rapidamente, as entradas e a confiabilidade do crédito tornaram-se preocupações do passado. A crise financeira foi agravada pela capacidade de bancos de investimentos para contornar exigências de capital e, portanto, alavancar seu capital incorrendo em enormes dívidas. Quando todas as bolhas estouraram, o castelo de cartas entrou em colapso.

Armagedon econômico

A terceira crise foram os déficits do orçamento federal de US$1,5 trilhão, os quais eram demasiado grandes para serem financiados sem que o Federal Reserve comprasse novas emissões de dívida do Tesouro. Conhecido como monetização da dívida, o Federal Reserve comprou os Títulos do Tesouro, notas e outros títulos através da criação de uma conta corrente, da qual o Tesouro retiraria para pagar as contas do governo. A expansão da dívida do Tesouro despertou preocupações acerca do valor cambial do dólar e do seu papel como divisa de reserva, e despertou temores de inflação. Os preços do ouro e da prata se elevaram quando o dólar declinou em mercados de câmbio estrangeiros.

Qualquer uma destas crises era séria. Todas juntas, implicavam o Armagedon econômico.

Não havia caminho óbvio de saída, mas mesmo que alguém pudesse descobri-lo o governo estava focado alhures – em guerras.

Além das operações em curso no Iraque, Afeganistão, Paquistão, Iêmen e Somália, os EUA e a NATO começaram operações militares contra a Líbia em 19 de março de 2011. Tal como as guerras existentes, o objetivo real da agressão contra a Líbia não foi reconhecido, mas ficou claro que o objetivo da guerra era expulsar a China dos seus investimentos em petróleo na Líbia oriental. Ao contrário dos protestos árabes anteriores, a rebelião Líbia foi um levantamento armado no qual alguns viram a mão da CIA.

A guerra líbia aumentou o risco, porque embora escondendo-se por trás do véu do protesto árabe, os EUA estavam realmente confrontando a China.

Analogamente, no apoio estadunidense à rebelião armada na Síria, o objetivo de Washington era a base naval russa em Tartus. Derrubando o governo Assad na Síria e instalando ali um regime amistoso para com os EUA poria fim à presença naval russa no Mediterrâneo.

Ocultando seus objetivos por trás dos protestos árabes na Líbia e na Síria que pode ter iniciado, Washington evitou conflitos diretos com a China e a Rússia, mas, no entanto as duas potências entenderam que Washington estava atacando os seus interesses. Isto elevou a imprudência das políticas agressivas de Washington ao iniciar confrontação com duas potências nucleares, uma das quais possui poder financeiro sobre os EUA, pois é o maior credor estrangeiro da América.

Os investimentos petrolíferos da China em Angola e na Nigéria eram outros dos objetivos. Para conter a penetração econômica da China na África, os EUA criaram o American African Command nos últimos anos da primeira década do século XXI. Perturbado pela ascensão da China, os EUA procuraram impedir a China de ter fontes de energia independentes. O grande jogo que no passado sempre levou à guerra está sendo jogado outra vez.

O 11 de Setembro de 2001 proporcionou a Washington uma nova “ameaça” para substituir a ameaça soviética, a qual expirou em 1991. Apesar da ausência da ameaça soviética, o orçamento militar e de segurança foi mantido alto durante uma década. O 11 de Setembro de 2011 injetou crescimento rápido no orçamento militar e de segurança. Uma década mais tarde o orçamento fixava-se em aproximadamente US$1,1 trilhões por ano, ou aproximadamente 70 por cento do déficit federal, o qual debilitava o dólar e ameaçava a classificação de crédito do Tesouro dos EUA.

Centrada nas guerras do Médio Oriente, Washington estava perdendo a guerra da economia dos EUA.

Quando a expectativa de recuperação econômica se evaporou, no decorrer de 2011, a necessidade da guerra tornou-se mais imperiosa.

01/Agosto/2011

[*] Ex-editor do Wall Street Journal e ex-assistente do secretário do Tesouro dos EUA. Seu último livro, HOW THE ECONOMY WAS LOST , foi publicado por CounterPunch/AK Press. Este artigo saiu no número do Verão de 2011 do Trends Journal, publicação do Trends Research Institute de Gerald Celente.

O artigo original, em inglês, encontra-se em: More War! The Road to Armageddon
Esta tradução foi extraída de: Resistir

Ricardo Teixeira é investigado por repasse de verba ao Maranhão

RENATO CASTRONEVES
DE SÃO PAULO

A Polícia Civil do Maranhão abriu inquérito para investigar os presidentes da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, e da FMF (Federação Maranhense de Futebol), Carlos Alberto Ferreira, pelo crime de desobediência.



    Felipe Dana-30.jul.2011/Associated Press
    Teixeira bate palma durante sorteio das eliminatórias da Copa-14 entre Sérgio Cabral e Pelé

    Teixeira bate palma durante sorteio das eliminatórias da Copa-2014, no Rio, entre Sérgio Cabral e Pelé

    De acordo com a promotora Lítia Cavalcante, autora da denúncia que motivou o inquérito, os dois dirigentes não atenderam ao pedido de envio de documentos referentes aos repasses de verbas de 2009 e 2010.

    A denúncia foi enviada ao secretário de Segurança Pública do Estado, Aluisio Mendes, e será investigada pela Deic (Delegacia Estadual de Investigações Criminais).

    No balanço financeiro publicado no site da CBF, a Federação Maranhense divulgou dois valores diferentes em relação ao recebimento de verba em 2010.

    O documento apresenta duas versões diferentes, com valores de R$ 240 mil e R$ 320 mil. "A diferença [R$ 80 mil] é muito grande. Acredito que a federação [maranhense] nem percebeu o erro de mandar dois balanços distintos do mesmo ano", disse a promotora.

    Paralelo ao inquérito por desobediência, que prevê pena de 15 dias a seis meses, o Ministério Público Estadual do Maranhão abriu um inquérito civil público para investigar outros possíveis desvios de recursos e transgressões ao Estatuto do Torcedor.

    "Não pensei que um pedido simples sobre a transparência no futebol do Estado fosse criar tanto problema. Seria muito mais fácil eles [dirigentes] disponibilizarem os recibos", afirmou a promotora.

    O presidente da FMF não foi encontrado para comentar a denúncia. Procurada, a CBF não se manifestou.

    Luciana Whitaker-30.jul.2011/Reuters
    Manifestantes durante passeata contra Ricardo Teixeira e os gastos públicos para a Copa na zona sul do Rio

    Manifestantes durante passeata contra Ricardo Teixeira e os gastos públicos para a Copa na zona sul do Rio

    Nelson Jobim é 'página virada', diz Dilma



    FÁBIO GUIBU
    ENVIADO A JUAZEIRO (BA)

    A presidente Dilma Rousseff afirmou na tarde desta sexta-feira que o ex-ministro da Defesa Nelson Jobim é "página virada" no governo federal. A declaração foi concedida no aeroporto de Petrolina (PE) a rádios locais.

    "Eu reconheço o trabalho que ele [Jobim] deu ao país. Infelizmente, nós esgotamos uma etapa e, por isso, passamos e viramos a página", disse Dilma.



    Questionada sobre o sucessor de Jobim, Dilma elogiou o desempenho de Celso Amorim quando ele era ministro das Relações Exteriores. "O Amorim assume o Ministério da Defesa porque ele já deu mostras de ser um brasileiro muito dedicado ao Brasil."

    Leonardo Munhoz/Mandel Ngan/Efe/France Presse
    Nelson Jobim (à esq.) deixou o Ministério da Defesa, que será ocupado por Celso Amorim
    Nelson Jobim (à esq.) deixou o Ministério da Defesa, que será ocupado por Celso Amorim

    "Tenho certeza de que ele [Amorim] vai prosseguir no trabalho importante realizado pelo ex-ministro Jobim e vai acrescentar um reforço especial, na medida em que a gente sempre tem que melhorar. A gente não pode nunca se contentar com o que conquistou", afirmou Dilma.

    DECLARAÇÕES

    À revista "Piauí" Jobim disse que a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) é "fraquinha" e que Gleisi Hoffmann (Casa Civil) "sequer conhece Brasília".

    O então ministro, no entanto, negou na tarde de ontem que tenha se referido de forma pejorativa ao trabalho das ministras.

    A situação de Jobim já havia ficado insustentável nos últimos dias após a declaração de que votou em José Serra nas eleições de 2010. A revelação foi feita no programa "Poder e Política - Entrevista", conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues no estúdio do Grupo Folha em Brasília. O projeto é uma parceria do UOL e da Folha.

    Ele também causou constrangimento ao Planalto recentemente, na solenidade de homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, disse ser preciso tolerar a convivência com "idiotas", que "escrevem para o esquecimento". Jobim explicou ter se referido a jornalistas, mas petistas entenderam como recado ao governo.

    QUEDAS

    Com a saída de Jobim, já são três as baixas no governo Dilma em apenas oito meses. O primeiro a sair foi Antonio Palocci, que deixou a Casa Civil após a Folha revelar o crescimento de 20 vezes do seu patrimônio nos últimos quatro anos, enquanto exercia mandato parlamentar.

    No mês passado, o senador Alfredo Nascimento (PR-AM) pediu demissão do Ministério dos Transportes apóser ser envolvido em suspeitas de corrupção e superfaturamento de obras na pasta.

    Embora não tenha deixado o governo, Dilma também precisou trocar o titular da Secretaria de Relações Institucionais. Luiz Sérgio, que exercia o cargo, assumiu o Ministério da Pesca, trocando de posto com Ideli Salvatti.

    MINHA CASA, MINHA VIDA

    Em visita a Juazeiro (BA), também nesta sexta-feira, Dilma entregou 1.500 apartamentos de um conjunto residencial do programa "Minha Casa, Minha Vida". A obra, que custou R$ 61 milhões, ainda tem poucos moradores e não tem água nas torneiras.

    "O lugar é ótimo, mas não tem água nem para beber ou tomar banho", disse a moradora Maria de Fátima Oliveira dos Santos, 28. "Tenho que buscar em baldes com os vizinhos ou comprar água mineral", afirmou ela.

    Santos se mudou para o apartamento 101 do bloco 40 na terça-feira (2), com seus dois filhos, de 7 anos e 3 meses de idade. Segundo ela, a promessa é de que o abastecimento seja normalizado até segunda-feira (8).