Do Facebook de Lula, uma grande sacada para traduzir a ascensão do povo brasileiro desde 2003, produzida pelo site Muda Mais.
É a mudança na vida dos personagem da série A Grande Família, uma recriação brasileiríssima de Oduvaldo Vianna Filho, o , e de Armando Costa, em cima da ideia de um seriado americano (Tudo em Família)com a qual - segundo o biógrafo de Vianinha, Denis de Moraes ” - driblava as duas censuras (a do regime e a da própria emissora, a TV Globo)” traduzindo ” a partir do cotidiano de uma família da classe média remediada” as ” aspirações dos dilemas de boa parte da sociedade brasileira em meio ao chamado milagre econômico”.
Com a final da série, depois de 13 anos do retorno de sua segunda versão, o pessoal do “Muda Mais” pegou de exemplo o que aconteceu com cada personagem do seriado para mostrar a ascensão experimentada pela classe “C”.
A Dona Nenê, antes uma simples dona de casa, agora tem uma loja de roupas.
Lineu, antes o responsável por tudo, aposentou-se e foi construir um barco, seu grande desejo.
Bebel, dependente dos pais e do terrível Agostinho Carrara, se mete com o marido trambiqueiro em uma série de confusões, mas acaba ficando próspera com seu trabalho dirigindo a muito confusa empresa dos dois.
Tuco, o outro filho, volta a estudar e faz vestibular para ser, como o pai, veterinário.
A ficção, quase sempre, termina mesmo por imitar a vida.
Num tempo em que a criação televisiva anda mais para Big Brother que para Grande Família, acho que Vianinha – que morreu em 1974 – ficaria feliz com o progresso dos seus geniais personagens.
Num gesto de transparência, Petrobras publicou , nesta segunda-feira, duas notas nos principais jornais brasileiros, que reproduzo ao final do post.
Nelas, informa que a Comissão Interna de Apuração constituída para averiguar as denúncias de supostos pagamentos de suborno a empregados da companhia, envolvendo a empresa SBM Offshore, não encontrou fatos ou documentos que evidenciem pagamento de propina a empregados da Petrobras. Essa comissão foi, inclusive, recolher na Europa os documentos que estariam em poder do Ministério Público da Holanda, com denúncias contra a empresa. E foi informada pelas autoridades daquele país, embora se tenha feito uma onda imensa no Brasil , de que “não há investigação aberta sobre o caso de propina envolvendo a empresa SBM Offshore e a Petrobras. ”
A segunda informa da abertura de investigação interna sobre a compra da refinaria de Pasadena.
A empresa está cumprindo seu dever de apurar, e ninguém pode achar que quadros de carreira da Petrobras pudessem colocar suas reputações e empregos em jogo para proteger quem quer que seja por razões políticas, ainda mais em um trabalho que será enviado ao Ministério Público, ao TCU e, claro, à CPI que querem instalar sobre o caso.
Falta, agora, cumprir o segundo dever, tão importante quanto o da transparência.
O de assumir a defesa política da empresa, de seu papel na libertação do Brasil, da denúncia das ambições e apetites que cercam a maior empresa do Brasil, a mais capaz e a mais importante para o imenso tesouro do pré-sal.
A família do sargento da Polícia Militar Mozar Soares da Cunha, de 36 anos - morto, na tarde desta sexta-feira, ao reagir a um suposto assalto na Rua Bertin, próximo à saída para a Avenida Brasil, em Coelho Neto, na Zona Norte - já tinha alertado para os perigos da vida de luxo que exibia. A mulher e a sogra do PM pediram por diversas vezes para que ele trocasse o Camaro amarelo que dirigia ao ser alvejado por um veículo “mais discreto”.
Nas redes sociais, o PM ostentava ainda fotos de passeios de lancha e joias. Quando foi morto, ele estava com R$ 100 mil em dinheiro. A quantia foi levada pelos criminosos, assim como a arma, o cordão, a pulseira, o anel e a aliança de ouro do militar.
- Minha mãe já alertou ele algumas vezes. Ela perguntava: “Pra que isso?” O Camaro é um carro que chama atenção, poderia mesmo ser muito perigoso. Existem tantos carros por aí bons, bonitos e mais comuns, como um Astra por exemplo - disse o genro do PM, Marcos Paulo.
A viúva de Mozar e gerente da loja "O crack da cesta" - empresa que comercializa cestas básicas de propriedade do PM, em Cosmos, na Zona Oeste - também contou que pedia para ele “chamar menos atenção”. No carro, havia um adesivo do estabelecimento.
- Mas não adiantava. Ele gostava desse Camaro amarelo, que tinha comprado por R$ 170 mil há 15 dias. Ele era o terceiro que ele tinha desse modelo - lamentou Nilva Carla.
De acordo com a mulher, o marido tinha acabado de sacar dinheiro, em um banco na Pavuna, e ia fazer compras com uma vendedora, na Ceasa, em Irajá. Esse era o terceiro Camaro que o sargento teve.
No Facebook, amigos e familiares lamentam a morte de Mozar. Na manhã deste domingo, pelo menos seis dos 393 perfis de amigos do PM estavam com a mensagem: “Luto”. “Amigão, fica com Deus. Você sempre vai estar no coração de todos”, escreveu Anderson Souza. Já Allan Santos postou: “Não acredito até agora”. “Estou muito triste, ele era amigo do seu pai. Eles se encontram hoje na casa do senhor”, publicou Deila Maria.
O roteiro do deboche judiciário – sim, esse é o tipo de delinquência que estamos tratando aqui – é simples em sua forma, complexo em seu conteúdo e patético em seu desfecho
Deboche é um adjetivo frequentemente usado pelo presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa. É uma palavra daquelas que trazem consigo o mal estar de antigamente. Deboche tem aquele jeitão de vocábulo que conjuga esperteza com inocência, a meio passo da ingenuidade atrevidas. Mas deboche ao fazer as pazes com o dicionário é bem mais que isso e soa pesado, desaforado mesmo.
Classificado como substantivo masculino, significa "ausência de regras, má conduta, devassidão, libertinagem". O dicionário lhe assegura a compreensão como "zombaria insistente, escárnio, desconsideração, desprezo de algo ou alguém através da ironia". Tudo isso é deboche, que mesmo sendo tudo isso surge etimologicamente nas letras francesas de seu avô débauche.
Se em alguma distante hipótese fosse o ministro Joaquim Barbosa mais afeito ao uso de variações vocabulares em seu repertório linguístico, ao menos quando atuando em sessão plenária da nossa Suprema Corte, certamente teria que se dar ao luxo de substituir o uso do "deboche" por seus sinônimos dicionarizáveis, esses sim, mais pesados e possivelmente mais apropriados ao conteúdo formal de suas falas. E quais os sinônimos para deboche? "Crápula, desregramento, devassidão, libertinagem, tripúdio".
E deboche foi o que ocorreu nesta quinta-feira (27/3/2014) na sessão do STF em que se julgou se o processo do mensalão tucano deveria retornar à primeira instância para ter seu julgamento segundo novo arremedo de ritos jurídicos e novas facetas de casuísmos jurídicos, um retorno breve após longuíssima viagem, cheia de engavetamentos, comodidades muitas.
A fama infame e fugaz dos holofotes midiáticos
O roteiro do deboche judiciário – sim, esse é o tipo de delinquência que estamos tratando aqui – é simples em sua forma, complexo em seu conteúdo e patético em seu desfecho:
Em 1998, Marcos Valério se envolve com o PSDB, cinco anos depois em 2003 se envolve com o PT. Desses dois envolvimentos nascem dois filhos gêmeos e bastardos de pais diferentes, mas com o mesmíssimo DNA, a delinquência clara, explícita. Os filhos bastardos são por seus pais chamados de caixa dois de campanhas eleitorais.
O primeiro gêmeo bastardo, nascido em 1998 passa a ser conhecido como "gêmeo tucano", o segundo bastardo, nascido em 2003, passa a ser referido como "gêmeo petista".
Encrencados em desvios de conduta, pois a matriz da delinquência é uma só, única e indivisível, eis que o segundo gêmeo bastardo – o alcunhado de petista - logo é pinçado cirurgicamente para ser julgado pela Suprema Corte do país, levado com estardalhaço a um pelourinho midiático nunca antes visto, contando com um canal de tevê próprio para transformar um julgamento que deveria se pautar pela discrição, serenidade, urbanidade e lhaneza de trato em verdadeiro 'reality show judiciário', onde milhões de espectadores da TV Justiça puderam testemunhar a troca de insultos pesados, as grosserias encenadas, as altercações cada vez mais previsíveis e o desrespeito contumaz demonstrado entre ministros que se julgavam infalíveis ao optar por condenações a penas draconianas em contraponto àqueles que desejavam se ater aos autos do processo, dar às costas à fama infame dos holofotes midiáticos e embasar o julgamento com o que julgavam ser a melhor forma de proceder na aplicação da justiça.
Foi assim que o Brasil entronizou na história de seu Poder Judiciário o deboche judiciário: com direito a centenas de horas em telejornais e quilômetros de matérias jornalísticas impressas em jornais e revistas de grande circulação diária e semanal. Muitas teses de mestrado e doutorado deverão vir a lume nos próximos anos para tentar entender como foi que o STF deu guinada tão abrupta e impactante rumo a um julgamento desvairado, em que juízes pareciam dublês de comentaristas políticos, assemelhavam-se a dublês de porta-vozes partidários – um ministro escandia desaforos contra um partido e dia seguinte o assunto era objeto de representação política junto ao Ministério Público ou ao Tribunal Superior Eleitoral e, enfim, dublês de cidadãos comuns a defender nada mais que o próprio senso comum.
Dois pesos, duas medidas... decisão do STF flerta com a prescrição do mensalão tucano
Na sessão mencionada os ainda existentes escrúpulos de nossa Corte Suprema foram às favas.
Os petistas são julgados na frente das câmaras de televisão, mediante o empenho midiático e condenados mesmo sem provas, usando-se teorias controversas como a do domínio do fato; os condenados ao regime de prisão semi-aberto são trancafiados em regime fechado, após passar por videoclipe de execração pública, com direito a que a data escolhida seja uma data cívica nacional (15 de novembro), embarquem em avião de São Paulo com destino a Brasília, acompanhados em horário nobre por emissoras de tevê. Nenhum dos réus da AP-470 pode recorrer a uma segunda instância de julgamento, mesmo que a maioria dos implicados jamais tivessem direito a foro privilegiado.
Os tucanos tiveram tratamento inteiramente diferenciado e favorável por parte dos ministros do STF. Esses mesmos ministros estavam bem cônscios que a renúncia do lépido governador mineiro Eduardo Azeredo ao mandato de deputado federal nada mais era que uma mal-dissimulada jogada para fazer o processo em que figura como principal réu – e maior beneficiário dos atos ilícitos elencados no processo - regressar à estaca zero, saindo da alçada máxima do Supremo Tribunal Federal para a a alçada de Primeira Instância. Portanto, à justiça mineira, estado em que foi governador, senador e deputado federal, estado em que o PSDB, seu partido e do qual foi presidente, estado em que o PSDB mantêm o governo estadual em sua alçada há mais de década; estado em que o PSDB parece contar com total controle da imprensa estadual e e desfruta de pesada influência nas lides judiciárias locais, tanto que nunca prosperou, desde os albores do século XXI qualquer representação de adversários políticos do PSDB no Ministério Público Estadual de Minas Gerais em que se faziam acusações de atos de improbidade administrativa envolvendo o senador Aécio Neves e tucanos de alto coturno. Todos os réus do pouco divulgado mensalão tucano, a começar pelo ex-governador Azeredo, com essa decisão quentinha e casuística até a medula, poderão recorrer a todas as instâncias que se fizerem necessárias.
Na prática, a decisão do STF alivia tremendamente a situação do ex-presidente do PSDB Eduardo Azeredo. Contando 65 anos neste ano, com o processo seguindo para a primeira instância, aumentam as chances de Azeredo se beneficiar da prescrição de crimes.
A matemática não deixa margem a dúvidas:
- Se Eduardo Azeredo for condenado antes dos 70 anos e o mensalão tucano for julgado antes de 1º de setembro de 2018, os crimes prescreverão em 31 de dezembro de 2015;
- Se Eduardo Azeredo for condenado após os 70 anos e se o mensalão tucano não tiver sido julgado até 30 de setembro de 2018, todos os crimes terão prescrito.
Mas será que os ministros de nossa Corte são tão bons em matemática como são bons em produzir polêmicas em torno de temas como processo e execução penal?
Em terra de cego... saci vem de voadora
Em resumo, o fato é que em 2012, o STF rejeitou veementemente pedido dos réus do chamado mensalão do PT, para que o processo fosse desmembrado e e eles fossem julgados na primeira instância, mantendo no STF apenas os réus deputados; e em 2014, o STF aprovou também com veemência – 8 votos a 1 – enviar o processo tucano, o mesmo que originou os desvios julgados no processo petista para a primeira instância.
Estranhíssimo é que o arrazoado apresentado pelo ministro Luis Roberto Barroso, relator da ação se embasava na necessidade de se criar um regra clara quanto ao uso de foro privilegiado por políticos: somente detentores de mandatos eletivos etc seriam julgados no STF e os demais desceriam a julgamento na primeira instância.. Muito bem, na teoria é inatacável, na prática é um consumado horror político, uma vez que o STF acatou o palavrório de Barroso apenas no concernente a livrar o tucano Azeredo do julgamento no STF e quanto ao estabelecimento de regras claras e objetivas o assunto resvalou para as calendas de futuro, nada ficando decidido e abrindo-se não mais que uma brecha para que o assunto seja algum dia decidido.
Se o ministro Luis Roberto Barroso imaginava com sua ação elevar o STF acima dos casuísmos políticos e das circunstâncias jurídicas, trazendo de volta alguma forma de equilíbrio a uma Corte useira e vezeira na arte de em tudo se posicionar, sem qualquer pudor, discrição ou senso de equilíbrio, o fato é que o tiro saiu literalmente pela culatra – tachou no STF a pecha que estava ainda em fase de consolidação de ter promovido na AP-470 um julgamento profundamente político-partidário e de ter sido usado pela oposição ao governo petista para fazer sangrar o partido aos olhos da sociedade brasileira, ao mesmo tempo em que pavimentou o mensalão tucano rumo à procrastinação, às chicanas jurídicas, ao compadrio de conterrâneos, ao desinteresse da mídia conservadora e igualmente aparelhada para fazer oposição aos governos petistas – afinal que emissora de tevê dará destaque a um julgamento local, que terá como protagonistas uma juiz de primeira instância, advogados de renomes no máximo regional, e um julgamento que deixará de contar com o strip tease da TV Justiça que levou a todo o Brasil as polêmicas e sempre com jeito de barracos sessões do STF enquanto julgava o chamado mensalão petista, e pior ainda, que não poderá abastecer o noticiário com o loquaz protagonismo dos sempre cheios de opinião ministros do STF?
Somos imbatíveis na arte e na prática do deboche
Equivocou-se também o novato ministro Barroso ao propor o que terminou sendo voto vencedor no plenário do STF e, de quebra, oferecer um escada ao ministro Joaquim Barbosa que, ao ser o único a não acompanhar seu voto, tripudiou em cima do colega: mostrou que não se dobra às teses defendidas pelo colega novato não importa quão certas estas estejam, e segundo, que teria o supremo prazer de açoitar um pouco o PSDB, açoitando em seus irritadiços votos o ex-governador tucano Eduardo Azeredo e demnsteando um apartidarismo político inexistente.
Melhor sorte teve o ministro Ricardo Lewandowski: foi a mais sentida ausência dos últimos tempos. Sua estatura moral paira sobre um recinto que se apequenou, uma Corte que foi encolhendo a ser o que é atualmente – um espaço cada vez mais dominado pela mediocridade, a baixa política de bastidor, a arena de egos inflamáveis. Sorte porque não precisou compactuar com uma pantomima marcada pelo mau odor exalado de uma justiça claudicante e metida a espertezas e que, qual biruta de aeroporto, ora declara o injusto justo e ora o justo injusto.
Uma coisa ficou evidente: somos imbatíveis na prática do deboche como a arte do ofício de julgar. Para saber o que significa deboche, voltemos a ler o que está inscrito nos §§ 1º, 2º e 3º do presente artigo.
Jornal GGN – A advogada Marianna Fux, 32, ganhou espaço cativo no noticiário há alguns meses, quando se iniciou uma movimentação silenciosa para que a filha do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, seja a favorita na sucessão de Adilson Macabu, aposentado compulsoriamente do cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em 2013.
O TJ-RJ ainda não notificou a seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no Estado sobre a vacância da vaga e tampouco intimou a instituição a compor uma lista com seis nomes, que será remetida ao Tribunal, para dar início ao processo de sucessão. Logo, a empreitada de Marianna via Quinto Constitucional ainda não é oficial. Mas certamente já coleciona comentários ácidos e uma série de saias justas.
Quem tem boa memória lembrará que os fatos relacionados a essa disputa não são responsáveis pela primeira aparição da doutora na mídia. Há quase cinco anos, Marianna Fux esteve na mira da imprensa tupiniquim por conta de um esquema de viagens internacionais recheado de regalias conquistadas de maneira questionável por membros do Judiciário. A revista IstoÉ divulgou o caso com exclusividade em abril de 2009.
Tudo começou quando a Câmara Federal se viu pressionada a acabar com a farra das passagens aéreas – situação em que membros do Legislativo estendiam privilégios a familiares e amigos sem fundamentos legais. Depois, veio à tona os esquemas montados em nome do então ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Alberto Menezes Direito, recém-nomeado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na sequência, a revista revelou documentos que apontam as benesses destinadas a Marianna e Débora Blaishman, juíza federal e amiga da filha do ministro Fux. Este, à época, estava lotado no Superior Tribunal de Justiça.
Em novembro de 2008, segundo a publicação, Marianna e a amiga desembarcaram do voo 8085, procedente de Paris. Um dia antes, ofícios do STJ foram encaminhados à Receita Federal, à Polícia Federal, à Infraero e à TAM, solicitando que ambas tivessem "atendimento especial" no desembarque. Em casos que conservam certo grau de semelhança, "atendimento especial" quer dizer viajar em classe superior à passagem aérea adquirida, não passar pelas revistas da Polícia Federal, evitar filas e ter acesso a salas VIP.
Os pedidos de “atendimento especial” contrariam a legislação da Receita Federal e o próprio regimento do STJ, que sustenta que os "serviços relativos ao embarque e desembarque são privativos dos ministros em atividade, dos aposentados e dos respectivos cônjuges. Nenhuma referência é feita a autoridades de outros tribunais ou a filhos, parentes e amigos dos ministros.” Apesar disso, o STF descartou qualquer possibilidade de emplacar uma investigação sobre privilégios em aeroportos.
Bermudes, Fux e a candidatura de Marianna
Após o episódio conturbado do "esquema VIP do Judiciário", os holofotes sobre Marianna Fux passaram a revelar a intenção de ocupar o cargo de desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio e, consequentemente, a relação do advogado Sérgio Bermudes, que comanda o escritório onde ela trabalha no Rio, com Luiz Fux. O ministro, inclusive, chegou bem perto de ter uma festança de 60 anos patrocinada por Bermudes, no ano passado, mas recuou para não prejudicar a candidatura de Marianna.
Fux também recuou da própria decisão de não julgar ações impetradas por Bermudes. Ele havia assinado um documento se declarando incapaz da função, mas não cumpriu a diretriz. O ministro não só participou de processos da empresa de advocacia que emprega a filha como colocou na gaveta, recentemente, uma ação de abono salarial da ordem de R$ 100 milhões que deve beneficiar o governador do Rio, Sergio Cabral. Este, aliás, será responsável por bater o martelo sobre quem ocupará a vaga que Marianna está de olho.
Estratégia rumo ao TJ
A filha do ministro já tem meio caminho andado em direção ao Tribunal do Rio. Afinal, por conta do sobrenome, Marianna teve oportunidade de transitar em meio aos desembargadores que serão responsáveis por reduzir a lista sêxtupla formulada pela OAB do Rio para a vaga em questão a apenas três nomes. Isso porque boa parte deles marcou presença em sua festa de casamento com o advogado e conselheiro efetivo da OAB, Hercílio José Binato, em outubro do ano passado, no Copacabana Palace. Até o ministro Joaquim Barbosa deu o ar da graça.
Os convites foram disparados com base na relação do ministro Fux com os desembargadores. Ele foi juiz eleitoral do Tribunal de Justiça do Rio entre 1983 e 1997, e desembargador do mesmo órgão entre 1997 e 2001, quando então ascendeu a ministro do STJ. Por conta disso, a votação no TJ, que será aberta, deve causar certo constrangimento. Que ex-colega de Corte vai se opor à filha do ministro publicamente?
Formação vs. requisitos
Formada há 10 anos em Direito pela Universidade Cândido Mendes, Marianna Fux tem pós-graduação em Teoria das Obrigações e Prática Contratual pela Fundação Getúlio Vargas (que, de acordo com a FGV, é um curso de extensão universitária de quatro meses, sem valor de doutorado) e acumula meia dúzia de processos julgados na segunda instância, a maioria ligada a Direito Administrativo e Civil. Apesar do currículo enxuto, Marianna se considera apta a conquistar o cargo de desembargadora e, com ele, salário superior a R$ 25 mil, carro oficial e outras regalias.
O mecanismo do Quinto Constitucional, previsto no artigo 94 da Constituição, prevê que 20% das vagas em determinados tribunais sejam compostas por advogados e membros do Ministério Público indicados por representantes da categoria. Como requisitos, os advogados interessados em um cargo na segunda instância sem concurso público precisam ter, no mínimo, mais de 10 anos de exercício profissional, notório saber jurídico e reputação ilibada.
O caso Letícia Mello
Assim como pode acontecer com a filha do ministro Luiz Fux, o peso do sobrenome também foi fator determinante à nomeação de Letícia Mello, filha do também ministro do STF Marco Aurélio Mello. Ela assume, no dia 4 de abril, o cargo de desembargadora do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio de Janeiro e Espírito Santo).
Letícia tem menos tempo de diploma, mas seu currículo é mais consistente que o de Marianna Fux. Apesar de ser considerada uma advogada promissora, dizem os críticos ao Quinto Constitucional que ela é exemplo consolidado de que os tribunais brasileiros são formados por dinastias. Sem o sobrenome de um ministro do Supremo, teria Letícia chegado onde chegou com apenas 37 anos?
O Brasil vive um momento de reorganização social. A classe média cresce como resultado de uma mobilidade induzida por políticas sociais compensatórias, criação de empregos e manutenção da estabilidade econômica. A notícia é velha, mas boa.
Com a ampliação da classe média, o consumo do varejo aumenta, o dinheiro circula mais, a venda de imóveis, veículos e bens duráveis sobe. Em resumo, parece ser bom para todo mundo. Mas só parece. Tem aí um segmento que está muito incomodado. Trata-se da velha classe média – aquela que já era classe média desde o período da ditadura.
Para identificar essa classe social não é difícil. Na década de 70, esse segmento social já tinha casa própria, o que era uma raridade, já que o financiamento público era muito restrito e somente quem tinha uma renda razoável tinha condição de acesso. Os filhos dessa classe estudavam em escolas públicas. A educação pública era de boa qualidade, mas só atendia quem passava em exames de seleção, ou seja, quem tinha condições financeiras de estudar (comprar livros, uniformes, custear um curso de inglês etc). Os pobres ficavam fora da escola, e os ricos estudavam em escolas particulares. Essa família tinha um carro e, nos fins de semana, frequentava clubes de lazer e podia ir ao cinema. Essas famílias também tinham telefone – que era muito caro na época.
De lá para cá, com a redemocratização do país, essa classe viu o ensino público ser universalizado e perder qualidade, o que a obrigou transferir seus filhos para a rede particular. Também presenciou a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), o que retirou dos trabalhadores com carteira assinada a exclusividade do atendimento médico público. Em outras palavras, todo e qualquer cidadão passou a ter direito à saúde pública – mesmo sendo de qualidade questionável.
Mais recentemente, a estabilidade econômica desencadeou estratégias governamentais que expandiram a telefonia fixa e a móvel, permitiram financiamentos da casa própria e para compra de automóvel mais acessíveis. Além de tudo isso, a classe mais carente teve sua renda ampliada com a criação de mais empregos formais.
SEM PRIVILÉGIOS
A velha classe média perdeu seus privilégios e, por outro lado, não conseguiu a mesma mobilidade que os mais pobres obtiveram. Ela não se transformou em rica e viu os pobres se aproximarem. A empregada doméstica, que antes era marca da classe média, virou diarista ou conseguiu um emprego melhor e, agora, tem celular e uma TV de 42” em casa – os mesmo aparelhos que sua patroa. Ela também pode comprar uma passagem aérea e pagar em dez vezes.
O que restou para a velha classe média? Fazer uma marcha pela família e saudar a ditadura. Ela se agarra ao passado, desconhece a democracia, pisa nos valores que adquiriu na universidade pública, portanto paga por toda a sociedade.
A velha classe média se incomoda com um homem de bermuda em um aeroporto, com os negros nas escolas e universidades e em postos profissionais de destaque. Ela perdeu os anéis e não se contenta com os dedos. Ela está desesperada. É assim que pretende ir às urnas, em outubro deste ano, com o rancor do poder perdido.