quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Johnbim achou que ia cantar de galo com a Presidenta


Do alto de 1,90m ele se considerava o Caudilho

O passarinho pousou na janela lá de casa e disse que com a Presidenta ninguém é “assessor especial”.

Outro dia, os especialistas Ricardo Paes e Barros, do IPEA, e Marcelo Neri, da FGV, foram conversar com a Presidenta sobre ascensão social e a Classe C.

Saíram de lá impressionados com a interlocutora: ela falou de igual pra igual sobre o tema.

Nicholas Lehman, da Universidade de Columbia, entrevistou a Presidenta para uma reportagem que fará para a revista New Yorker (aquela que a “Piauí” gostaria de ser).

Saiu de lá impressionado: a Presidenta fez uma minuciosa exposição sobre a Independência dos Estados Unidos e seus protagonistas.

Clique aqui para ler o excelente artigo de Mauro Santayana sobre os mitos americanos.

O Johnbim achou que ia chegar e cantar de galo.

O Cerra e a Eliane Catanhêde acham que a Dilma é incompetente e não comanda.

O Johnbim deve achar isso e muito mais.

O Johnbim se acha o mais preparado – como o Cerra.

E o mais inteligente – como o Cerra.

Ele achou que no Governo da “incompetente” ele seria protagonista.

E desempenharia o papel de intermediário com o Poder Judiciário.

Como se sabe, Johnbim e Gilmar Dantas (*) envolveram o Presidente Lula no grampo sem áudio, produziram uma babá eletrônica e construíram a quimera que justificaria um Golpe de Estado da Direita.

Johnbim e Gilmar são frutos do sombrio governo do Farol de Alexandria e dois de seus legados mais funestos.

Com a Presidenta ninguém canta de galo.

Mesmo com um 1,90m e a pose de Caudilho Castilhista.

Clique aqui para ler sobre Julio de Castilhos e a política gaúcha.

Ele nunca imaginou travar, por telefone, o seguinte diálogo, segundo Vera Rosa, do Estadão, com uma mulher:

Dilma para Jobim, ao telefone: ‘Ou você pede para sair ou saio com você

Depois de ler a reportagem da revista ‘Piauí’ em que Jobim critica colegas de esplanada, presidente decidiu demitir ministro da Defesa


Vera Rosa/BRASÍLIA – O Estado de S.Paulo

Depois de ler a reportagem completa da revista Piauí e decidir demitir Nelson Jobim do Ministério da Defesa, a presidente Dilma Rousseff pediu para falar com ele por telefone. O ministro está em Tabatinga, no Amazonas, fronteira com a Colômbia. Depois de ouvir as explicações de Jobim, Dilma foi dura e direta ao assunto: “Ou você pede para sair ou saio com você”.

(…)




Paulo Henrique Amorim

Dilma pede desculpas aos sindicalistas

 

 

 


Por Altamiro Borges


Do repórter Chico de Gois, no sítio do jornal O Globo:


*****


Depois de ter anunciado o plano de industrialização, chamado Brasil Maior, na terça-feira, enfrentando a resistência das centrais sindicais, que se recusaram a participar da cerimônia por se sentirem preteridos na discussão do projeto, a presidente Dilma Rousseff apareceu de surpresa, nesta quinta-feira, numa reunião das centrais na Secretaria Geral da Presidência e desculpou-se pela atitude do governo, segundo disseram os sindicalistas em entrevista coletiva. Ela fez um mea-culpa pelo que considerou um erro. As centrais aceitaram o pedido de desculpas, mas querem que o governo coloque em prática a sugestão apresentada por elas, de manter câmaras setoriais, com participação paritária, nas 25 cadeias de produção. Dilma prometeu atender ao pedido.


- Foi uma surpresa o aparecimento da presidente na reunião – disse o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical.


- Ela desculpou-se da relação com as centrais e disse que o governo cometeu um erro de não ter discutido a proposta do plano com as centrais. A presidente também garantiu uma mudança no tratamento às centrais – complementou.


*****


Confirmando a informação, o jornalista Luiz Carlos Azenha, do blog Viomundo, entrevistou Artur Henrique, presidente da CUT:


“Queria te dar uma informação absolutamente nova, que acabou de acontecer uma nova reunião em Brasília com as centrais sindicais e os ministros, para dar continuidade a esse debate [sobre a política industrial], e tivemos a participação da presidente da República. A Dilma compareceu à reunião, fez um mea culpa, vamos dizer assim, dizendo, olha, vocês tem razão em relação à crítica, nós vamos melhorar esse método e não chamar vocês apenas para informar as medidas, mas construir um processo coletivo de discussão das medidas antes delas serem anunciadas”.


Flertando com os inimigos


A manifestação de intenção da presidenta Dilma é muito positiva. Afinal, as relações entre o seu governo e os movimentos sociais, incluindo o sindicalismo, estavam se deteriorando. Logo no início do seu mandato houve a frustração nas negociações do reajuste do salário mínimo, na qual as centrais sindicais saíram inconformadas com a falta de habilidade e diálogo.


Na sequência, o governo cedeu ao deus-mercado, ao promover drásticos cortes no Orçamento e ao elevar a taxa de juros. Dilma também se aproximou dos barões da mídia, seus algozes na campanha eleitoral, e fez uma “carta de amor” ao tucano FHC. O tom das críticas à presidenta se elevou. Ela estaria abandonando o projeto mudancista do seu antecessor e flertando com os inimigos.


O boicote das centrais


Nesta semana, para complicar ainda mais as relações com os movimentos sociais, o governo anunciou o seu plano de incentivo à indústria nacional, sem ouvir o sindicalismo e ainda prevendo a desoneração da folha de pagamento – uma antiga demanda do patronato que pode esvaziar os cofres da Previdência Social. As centrais decidiram boicotar o lançamento do “Brasil Forte”, endurecendo o jogo.


Agora, Dilma parece que dá o braço a torcer. A decisão de ir, de surpresa, à reunião das centrais e reconhecer os erros é um gesto de grandeza. Afinal, governar um país tão complexo como o Brasil exige acima de tudo habilidade política, que combine firmeza de princípios e flexibilidade tática. Não é coisa para tecnocratas, gerentonas ou marqueteiros.


A força dos movimentos sociais


Em outubro passado, o povo derrotou o tucano José Serra e o risco do retrocesso neoliberal. Votou na continuidade do ciclo de mudanças iniciado por Lula, seu maior cabo-eleitoral. Dilma enfrentou uma campanha de baixarias da mídia e dos setores mais retrógrados da sociedade. No momento mais difícil da sucessão, os movimentos sociais foram às ruas para derrotar a direita e eleger Dilma.


Agora, novamente, Dilma atravessa uma fase delicada. Ela está acuada diante da onda denuncista da mídia contra a corrupção no seu governo. Há mais de dois meses que a velha imprensa, com seus interesses matreiros, só dá noticia ruim sobre a atual gestão. O Brasil parece um inferno, um país de ladrões. Até os demotucanos, natimortos, já se animam e propõem a criação de CPIs.


Retomada da ofensiva política


A cedência ao deus-mercado e o “namorico” com a mídia demotucana podem ser fatais para a presidenta Dilma. Sem o diálogo e o apoio crítico dos movimentos sociais, dificilmente o governo conseguirá enfrentar a pressão das elites dominantes. Reconhecer essa limitação pode ser o primeiro passo para a retomada da ofensiva política contra as forças do atraso no país.

Nasa teria descoberto água em estado líquido em Marte

 

"Isso reafirma o planeta como um importante destino futuro para a exploração humana", afirmou o diretor da Agência Espacial Americana



Do Portal Terra

Uma sonda da Nasa - a agência espacial americana - que orbita Marte registrou imagens do que parece ser água em estado líquido no planeta vermelho. Já se sabe que há água no astro, mas sempre foi encontrada em forma de gelo.




"O programa de exploração de Marte continua a nos trazer mais próximos de determinar se o planeta vermelho poderia abrigar vida de alguma forma (...) e isso reafirma Marte como um importante destino futuro para a exploração humana", diz Charles Bolden, diretor da Nasa.


Segundo a Nasa, o registro mostra manchas escuras que aparentemente se estendem para baixo pelas encostas durante a passavam da primavera para o verão na região observada. "A melhor explicação para essas observações é o fluxo de água salgada", diz Alfred McEwen, da Universidade do Arizona, autor do artigo que explica o registro e que será publicado na revista especializada Science.
Segundo a Nasa, as manchas superficiais aparecem nas encostas de Marte durante a temporada de calor e desaparecem na temporada de frio e poderiam ser formadas por água salgada.


A descoberta foi feita graças à análise de uma série de imagens obtidas pelo Experimento Científico de Imagens de Alta Resolução (HiRise) do Orbitador de Reconhecimento de Marte (MRO, na sigla em inglês), que explora o planeta vermelho desde 2006. O diretor da Nasa para pesquisa científica do programa de prospecção a Marte, Michael Meyer, fez o anúncio em entrevista coletiva junto ao professor Alfred McEwen da Universidade do Arizona, entre outros membros da equipe.

Celso Amorim deve assumir Defesa

 

 

 

Após receber a entrega da demissão de Nelson Jobim, Dilma convidou o ex-chanceler para a pasta



AE e Terra



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O ministro da Defesa, Nelson Jobim, entregou na noite de hoje uma carta de demissão à presidente Dilma Rousseff, em reunião no Palácio do Planalto. Segundo informou o Palácio do Planalto, o encontro entre Jobim e Dilma foi rápido e durou apenas cinco minutos.


Dilma convidou o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim para o cargo, que aceitou ocupar a pasta. Jobim era ministro desde 2007 e foi presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Indicado ao cargo pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Jobim estava enfrequecido politicamente após fazer uma série de críticas ao membros do governo de Dilma.


Jobim caiu após declarações dadas à revista Piauí, que irá às bancas nesta sexta-feira, mas antecipadas pelo jornal Folha de S.Paulo. Na entrevista, Jobim teria considerado a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, "muito fraquinha", e dito que a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, "sequer conhece Brasília". Jobim negou ter feito as críticas e disse que as informações seriam "parte de um jogo de intrigas".


O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), minimizou a declaração de Jobim, dizendo que a articuladora política do governo, Ideli Salvatti, "é até bem gordinha, não é bem fraquinha". Depois de reunir-se com Ideli, o líder do PR na Câmara dos Deputados, Lincoln Portela (MG), disse que a ministra "brincou" em relação ao que disse Sarney, "que o presidente Sarney quis dizer que ela estava 'fortinha', não gordinha". Segundo o deputado, Ideli "não teceu nenhum comentário sobre o ministro Jobim", durante a reunião. "Relevou isso e está seguindo em frente."


Na última semana, outra declaração de Jobim à imprensa gerou mal-estar no governo. Em entrevista, ele declarou seu voto no tucano José Serra nas eleições presidenciais do ano passado. A série de frases polêmicas, contudo, começou no início de julho, em uma cerimônia em homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no Senado Federal. Ao discursar, ele citou o dramaturgo Nelson Rodrigues, dizendo que "os idiotas perderam a modéstia". A fala foi interpretada como uma insatisfação do ministro com sua situação no governo. Mais tarde, contudo, ele disse que se referia a jornalistas.

Prefeita de Jandira será investigada por morte de antecessor




O desembargador Amado de Faria, do Tribunal de Justiça de São Paulo, determinou que a Polícia Civil instaure um novo inquérito para investigar a possível participação da atual prefeita municipal de Jandira (Grande São Paulo), Anabel Sabatine (PSDB), no assassinato o prefeito da cidade, Walderi Braz Paschoalin (PSDB) --morto a tiros em 2010.



A decisão é de terça-feira (2) e foi publicada no Diário Oficial nesta quinta-feira, quando acontece a primeira audiência na Justiça do processo sobre a morte do prefeito. O pedido foi da Procuradoria-Geral de Justiça.

"Requisite-se da autoridade policial competente, doutor delegado de Polícia Seccional, a instauração de novo inquérito policial, desta feita destinado a apurar a eventual participação da atual prefeita municipal de Jandira, Anabel Sabatine, no crime de homicídio, o qual teve como vítima o então alcaide daquela cidade, Walderi Braz Paschoalin, e tentativa de homicídio contra Wellington Martins dos Santos. Os elementos indiciários ensejam a instauração do procedimento apuratório em face da prefeita municipal de Jandira. Tão logo concluída a investigação, retornem os autos conclusos a este Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo", diz o despacho do desembargador.

A Prefeitura de Jandira informou que ainda não foi notificada.

O juiz Seung Chul Kim, da 1ª Vara Judicial de Jandira, ouvirá 15 testemunhas de acusação no fórum de Jandira hoje --cinco delas estão sob proteção policial. No total, 16 pessoas foram arroladas como testemunha, mas uma não foi encontrada.

A audiência teve início às 14h20. Oito pessoas são acusadas de envolvimento na morte de Paschoalin; uma está foragida. Os sete que foram presos estão no fórum.


O CRIME

O assassinato aconteceu no dia 10 de dezembro de 2010 quando o prefeito de Jandira chegava a uma rádio da cidade para participar de um programa semanal. Ele foi baleado por dois atiradores que o atingiram com ao menos 13 tiros de fuzil e submetralhadora. O motorista e segurança do prefeito também foi atingido.

Segundo a denúncia da Promotoria, o prefeito foi morto porque demitiu Sérgio Paraízo (ex-secretário de Governo de Jandira) e por conta de desentendimento com Wanderley Lemes de Aquino (ex-secretário de Habitação), que também pretendia demitir do cargo.

O documento afirma ainda que havia vários esquemas de corrupção na Prefeitura de Jandira, envolvendo desvios de dinheiro público, licitações fraudulentas, superfaturamento e nomeação de funcionários fantasmas.

Na versão do Ministério Público, os ex-secretários tramaram a morte do prefeito a fim de assumir o controle desses esquemas e contrataram os outros quatro denunciados para executar o crime.

Robson da Silva Lobo, um ex-policial militar, ficou encarregado de conseguir as armas. Na véspera do assassinato, foi visto recebendo grande quantia em dinheiro e se encontrou com Alemão na mesma noite.

Segundo a Promotoria, as investigações apontaram que o carro onde estavam o prefeito e o motorista foi interceptado por um Polo ao chegar à emissora de rádio. Adilson Alves de Souza --o Alemão ou Dilsinho-- e Lázaro Teodoro Faustino --o Lazinho-- desceram do carro e dispararam várias vezes, matando o prefeito e ferindo o motorista. Lauro de Souza --o Negão-- lhes dava cobertura.

Seguidos por Lauro os dois fugiram até a estrada das Pitas e entregaram as armas para um homem em um carro prata. Adilson e Lázaro foram presos perto dali, e a polícia encontrou um veículo prata na estrada.

Todos foram denunciados por homicídio triplamente qualificado e por tentativa de homicídio.

O advogado de Paraízo, Ademar Gomes, afirma que não há consistência nas provas. "As provas contra ele são muito fracas. Pode ser que existam indícios muito frágeis, porque tudo pode ser indício para uma denúncia, mas não há consistência nas provas. Na minha convicção, ele é inocente", diz.

Apu Gomes/Folhapress
Imagem mostra marcas de tiros no carro onde estava Paschoalin
Imagem mostra marcas de tiros no carro onde estava Paschoalin

Jobim pede demissão e Celso Amorim será o novo ministro

ANA FLOR
DE BRASÍLIA


A presidente Dilma Rousseff convidou o ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a assumir a pasta da Defesa. Amorim aceitou, mas a posse ainda não foi marcada.

Em uma rápida reunião na noite desta quinta-feira, o ministro Nelson Jobim entregou sua carta de demissão.

O ministro cancelou a participação em evento da Defesa na tarde desta quinta-feira e antecipou a volta de Tabatinga (AM) a Brasília para se encontrar com Dilma.



Mais cedo, a presidente conversou por telefone com Jobim e, segundo a Folha apurou, disse a ele que, diante da polêmica criada por suas declarações, a única saída era ele pedir demissão. Do contrário, teria afirmado Dilma, não lhe restaria outra opção a não ser ela mesma demiti-lo.

Eduardo Anizelli/Folhapress
O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, foi convidado por Dilma para o Ministério da Defesa
O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, foi convidado por Dilma para o Ministério da Defesa

O ministro tem feito declarações polêmicas e desagradado o governo. À revista "Piauí" ele disse que a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) é "fraquinha" e que Gleisi Hoffmann (Casa Civil) "sequer conhece Brasília".

O ministro, no entanto, negou na tarde de hoje que tenha se referido de forma pejorativa ao trabalho das ministras.

Os trechos da entrevista foram antecipados pela coluna de Mônica Bergamo na edição da Folha desta quinta.

POLÊMICAS

A situação do ministro já havia ficado insustentável nos últimos dias após a declaração de que votou em José Serra nas eleições de 2010. A revelação foi feita no programa "Poder e Política - Entrevista", conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues no estúdio do Grupo Folha em Brasília. O projeto é uma parceria do UOL e da Folha.

Apesar disso, Dilma preferiu não tomar nenhuma atitude em meio a uma semana politicamente conturbada.

Jobim também causou constrangimento ao Planalto recentemente, na solenidade de homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, disse ser preciso tolerar a convivência com "idiotas", que "escrevem para o esquecimento". Ele explicou ter se referido a jornalistas, mas petistas entenderam como recado ao governo.

QUEDAS

Com a saída de Jobim, já são três as baixas no governo de Dilma Rousseff em apenas oito meses. O primeiro a sair foi Antonio Palocci, que deixou a Casa Civil após a Folha revelar o crescimento de 20 vezes do seu patrimônio nos últimos quatro anos, enquanto exercia mandato parlamentar.

No mês passado, o senador Alfredo Nascimento (PR-AM) pediu demissão do Ministério dos Transportes apóser ser envolvido em suspeitas de corrupção e superfaturamento de obras na pasta.

Embora não tenha deixado o governo, Dilma também precisou trocar o titular da Secretaria de Relações Institucionais. Luiz Sérgio, que exercia o cargo, assumiu o Ministério da Pesca, trocando de posto com Ideli Salvatti.

Para Jobim, Planalto cometeu 'muita trapalhada' na discussão sobre fim de sigilo de documentos

Do Estadão.com.br


Em entrevista à edição deste mês da revista Piauí, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, fez novas críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff e às ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). 'É muita trapalhada, a Ideli é muito fraquinha e Gleisi nem sequer conhece Brasília', afirmou sobre a condução do Planalto na discussão do fim do sigilo de documentos ultra-secretos. Abaixo, trechos exclusivos da reportagem:

'Numa quinta-feira de julho, Nelson Jobim marcou apenas um compromisso na agenda, na parte da manhã: participar da comemoração dos 80 anos de Fernando Henrique Cardoso, no Senado. De terno escuro e gravata azul-clara, foi o único ministro do governo a participar da cerimônia. Quando o aniversariante chegou, Jobim sentou-se à mesa armada no palco do auditório do Senado, cercado de políticos do PSDB e do DEM.

Fez questão de falar e chamou seu discurso de um monólogo para Fernando Henrique. 'Fui seu amanuense, ou escrivão, durante a Constituinte', brincou. 'Fui seu ministro da Justiça e indicado por você para o Supremo Tribunal Federal. Se estou aqui hoje, Fernando, é por tua causa.' E encerrou o discurso com uma citação que causou surpresa na mesa e na plateia: 'Nelson Rodrigues dizia que, no tempo dele, os idiotas entravam na sala, ficavam quietos num canto ouvindo todo mundo falar e depois iam embora. Mas hoje, Fernando, os idiotas perderam a modéstia.' Ao fim da cerimônia, à uma da tarde, Jobim foi para o gabinete do senador Fernando Collor. (...)

Jobim deixou a sala de Collor e foi para o Ministério, onde almoçou rapidamente. Enquanto comia uma salada, comentou a discussão da liberação de documentos sigilosos do Estado. 'É muita trapalhada, a Ideli é muito fraquinha e Gleisi nem sequer conhece Brasília', falou, referindo-se à ministra das Relações Institucionais e à da Casa Civil.

Disse que o Collor não criaria empecilhos, mas que estava chateado porque, enquanto ele discutia o projeto, foi atropelado por um pedido de urgência na votação, feito pelo senador Romero Jucá, da base governista. 'Ele se sentiu desrespeitado, não havia razão para o pedido de urgência', afirmou Jobim. Na conversa, Collor lhe contou que faria um discurso contra o projeto e Jobim lhe pediu que não o fizesse, no que foi atendido. 'Eu disse a ele que havia muito espaço para negociação e que, se ele fizesse o discurso atacando o governo, estreitaria essa possibilidade.' Perguntado sobre por que havia tantas idas e vindas no governo na relação com o Congresso, Jobim não teve dúvidas: 'Falta um Genoíno para ir lá negociar.'

José Genoíno se candidatou a deputado, não se elegeu e, no começo do ano, Jobim o chamou para ser seu assessor. Antes de convidá-lo, porém, informou a presidenta da sua intenção. 'Mas será que ele pode ser útil?', perguntou-lhe Dilma. E ele respondeu: 'Presidenta, quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu.'"

Dilma decidiu por saída de Jobim; ministro da Justiça é cotado

Do Terra Magazine



Marina Dias

A saída do ministro da Defesa, Nelson Jobim, do governo já foi acertada no Palácio do Planalto e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, é um dos nomes cotados para assumir o cargo. Apesar de, publicamente, Cardozo dizer que os rumores são "pura especulação", sabe-se que ele já foi informado de que a presidente Dilma conta com a possibilidade de trocá-lo de ministério.

A polêmica em torno de Jobim ganhou força nesta quinta-feira (4), quando chegou a público que novas críticas ao governo feitas pelo ministro seriam publicadas na revista Piauí deste primeiro fim de semana de agosto. No perfil, Jobim afirma que o governo de Dilma fez "trapalhadas" e critica duas das ministras indicadas pessoalmente pela presidente: Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, e Gleisi Hoffmann, ministra-chefe da Casa Civil.

O ministro da Defesa afirmou que Ideli é "muito fraquinha" e que Gleisi "nem sequer conhece Brasília". Jobim, publicamente, desmentiu as declarações em entrevista coletiva nesta quinta-feira (4), em Tabatinga, no Amazonas.

A presidente Dilma já teve acesso às páginas da Piauí e decidiu não adiar mais a saída de Jobim. Uma conversa com Cardozo já foi acertada para discutir o futuro dos ministérios da Justiça e Defesa.

Da Folha.com

Dilma fala com Jobim e sugere que ministro formalize demissão

NATUZA NERY
DE BRASÍLIA


A presidente Dilma Rousseff conversou brevemente por telefone com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, nesta quinta-feira.

Segundo a Folha apurou, Dilma disse ao ministro que, diante da polêmica criada por suas declarações, a única saída era ele pedir demissão. Do contrário, teria afirmado a presidente, não lhe restaria outra opção a não ser ela mesma demiti-lo.

Dilma fala com Jobim e sugere que ministro formalize demissão

NATUZA NERY
DE BRASÍLIA


A presidente Dilma Rousseff conversou brevemente por telefone com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, nesta quinta-feira.

Segundo a Folha apurou, Dilma disse ao ministro que, diante da polêmica criada por suas declarações, a única saída era ele pedir demissão. Do contrário, teria afirmado a presidente, não lhe restaria outra opção a não ser ela mesma demiti-lo.


Jobim negou na tarde desta quinta-feira que tenha se referido de forma pejorativa ao trabalho das ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Segundo a revista, ele chamou a primeira de "fraquinha" e disse que a segunda "sequer conhece Brasília".

Lula Marques - 13.jun.2011/Folhapress
Jobim criticou as ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil; atrás)
Jobim criticou as ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil; atrás)

Os trechos da entrevista foram antecipados pela coluna de Mônica Bergamo na edição da Folha desta quinta.

O governo espera que o ministro se antecipe e formalize seu pedido de demissão. Considera essa a melhor alternativa. Jobim está em missão oficial a Tabatinga, ao lado do vice-presidente Michel Temer e do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça).

O Planalto busca agora nomes que possam substituí-lo.

POLÊMICAS

A situação do ministro já havia ficado insustentável nos últimos dias após a declaração de que votou em José Serra nas eleições de 2010. A revelação foi feita no programa "Poder e Política - Entrevista", conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues no estúdio do Grupo Folha em Brasília. O projeto é uma parceria do UOL e da Folha.

Apesar disso, Dilma preferiu não tomar nenhuma atitude em meio a uma semana politicamente conturbada.

Jobim também causou constrangimento ao Planalto recentemente, na solenidade de homenagem ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião, disse ser preciso tolerar a convivência com "idiotas", que "escrevem para o esquecimento". Ele explicou ter se referido a jornalistas, mas petistas entenderam como recado ao governo.

Dilma decide que vai demitir Jobim quando ele voltar da Colômbia

Ministro da Defesa, Nelson Jobin, sai de gravação do programa Roda Viva, da TV Cultura. Foto: Marcos Alves


RIO - A presidente Dilma Rousseff já decidiu demitir o ministro da Defesa, Nelson Jobim, depois das declarações dele à revista "Piauí" , que chegará às bancas nesta sexta-feira. Na entrevista, afirmou que a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, é "muito fraquinha" e que Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, "nem sequer conhece Brasília".




A decisão foi tomada hoje de manhã em reunião de Dilma com Ideli, Gleisi, a ministra de Comunicação Social, Helena Chagas, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e Gilles Azevedo, assessor pessoal de Dilma.

No entanto, a presidente vai esperar Jobim voltar de Tabatinga, na fronteira do Amazonas com a Colômbia, para informá-lo da decisão. Dilma considera deselegante demiti-lo hoje, quando ele participa de viagem oficial em companhia do vice-presidente colombiano, do vice brasileiro, Michel Temer, e do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.


O trecho da entrevista à "Piauí" em que Jobim critica as ministras foi antecipado pela colunista Monica Bergamo, na "Folha de S. Paulo" . Segundo o jornal, o ministro da Defesa também atacou o governo no debate sobre o fim do sigilo eterno de documentos. "É muita trapalhada", disse.
Embora já tenha decidido demitir Jobim, Dilma lerá só hoje à noite a entrevista dele à "Piauí".

Segundo assessores, a presidente ficou especialmente incomodada com a informação sobre a conversa que ambos tiveram quando Jobim decidiu convidar José Genoino para assessorá-lo na Defesa. Dilma teria perguntado se Genoino seria útil no ministério e, segundo a entrevista, Jobim respondeu: "Quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu".
" Eu acho até que não combina com a ministra Ideli, porque a Ideli é até bem gordinha, não é bem fraquinha "



A presidente também considerou uma agressão gratuita o comentário de Jobim sobre as ministras Ideli e Gleisi. Em entrevista a um programa da "Folha" e do UOL, Ideli considerou "desnecessárias" as declarações do colega e disse que ele "deveria se conter um pouquinho".


O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), não criticou abertamente as declarações de Jobim. Na tentativa de consertar o estrago do ministro, Sarney acabou piorando a situação.


- Eu não li ainda essas declarações, mas o que posso dizer é que o ministro Jobim é um homem muito experiente, muito equilibrado. Jamais faria comentário qualquer que pudesse atingir as pessoas ou pudesse atingir o governo. Eu acho até que esta [declaração] não combina com a ministra Ideli porque a Ideli é até bem gordinha, não é bem fraquinha - afirmou Sarney.


Petistas consideram que ministro quer sair do governo

 
As declarações irritaram os petistas reunidos nesta quainta-feira no Rio para o encontro da executiva nacional do partido. O líder do PT no Senado, Humberto Costa, afirmou que Jobim deu mostras de que quer deixar o governo.


- Foi uma declaração infeliz gerando constrangimento para o governo e para a base de apoio. A impressão que dá é que ele está querendo sair - disse o senador, ex-ministro do governo Lula.
Já o secretário nacional de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PR) disse que os petistas não "perderiam tempo" discutindo a situação do ministro.


- Ele não é dirigente do PMDB, aliás, ele acaba constrangendo seu partido. Essa é uma questão (as declarações do ministro) está mais para o PMDB do que para o PT responder.


No Senado, a entrevista de Jobim não foi bem recebida . Para o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), o ministro externou seu lado machista:


- As declarações do ministro se excederam e trazem um eco de machismo que não cabe nem no momento da nossa evolução social. A ministra Dilma foi eleita presidente por um público majoritariamente feminino. E ela repersenta não só as delicadezas da alma feminina, mas também as resistências morais e de caráter da mulher brasileira.


Na avaliação do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), Jobim estaria fazendo provocações.
- A sensação que fico é a de que o ministro está fazendo provocações. E isso é péssimo - afirmou.
Jobim viajou para Tabatinga, no Amazonas, para a assinatura de um acordo para a criação da Comissão Binacional Fronteiriça (Combifron) e a adoção do Plano Binacional de Segurança Fronteiriça.

Segundo a agenda, o ministro deixará a base do Caximbo, no Amazonas, às 20h30m. No avião que o levou de São Gabriel da Cachoeira, também no Amazonas, a Tabatinga, Jobim leu a nota da colunista da "Folha" e teria comentado com assessores que nem se lembrava mais disso, já que a entrevista à "Piauí" ocorreu um mês atrás.


Na semana passada, o ministro da defesa também provocou polêmica após dizer que tinha votado em Serra em 2010. A declaração provocou reação dos petistas e desconforto com Dilma. O ex-presidente Lula defendeu Jobim ,cuja situação no governo se complica a cada dia. O ministro da Defesa será o segundo apoiado expressamente pelo ex-presidente a ser demitido por Dilma. O primeiro foi Alfredo Nascimento, que deixou o Ministério dos Transportes no fim de julho.

Jobim diz que suas declarações foram tiradas do contexto

Da Folha Tucana


JOÃO CARLOS MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL A TABATINGA (AM)*


Sob risco de deixar o governo, o ministro Nelson Jobim (Defesa) negou na tarde desta quinta-feira que tenha se referido de forma pejorativa ao trabalho das ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil).
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"Isso faz parte do jogo da intriga, da tentativa de desestabilizações. Ou seja, daquilo que passa pela cabeça de quem não percebe as necessidades do país", afirmou Jobim após cerimônia de assinatura de acordo entre Brasil e Colômbia para aumento da fiscalização na fronteira entre os dois países.

De acordo com o ministro, suas declarações se referiam exclusivamente à discussão sobre a Lei de Acesso à Informações, em discussão no Senado, e foram tiradas do contexto. A edição da revista começa a circular amanhã.

"Absolutamente [fez as críticas]. O que nós comentávamos, o que nós nos referíamos, era o projeto de lei sobre informações sigilosas. Em momento nenhum fiz referências dessa natureza. Aliás, reconheço em Ideli a capacidade e uma tenacidade importantíssimas na condução dos assuntos do governo", afirmou Jobim, também negando ter dito que o governo faz trapalhada.

O vice-presidente Michel Temer, também presente à solenidade, defendeu o ministro, que integra o seu partido, o PMDB.

"O ministro Jobim declarou que o contexto era a lei de informações públicas. A ministra Ideli e a ministra Gleisi têm um apreço pelo ministro Jobim, que se apoia em incentivo e práticas de elogio", disse o vice-presidente, completando: "Não haverá problema de nenhuma natureza. Reitero que o ministro Jobim não fez referência à pessoa ou à atuação da ministra A ou B, só em relação à aprovação do projeto de lei".

O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), outro dos que foram a Tabatinga, comentou os rumores de que poderia substituir Jobim. "Há muita especulação. Meu trabalho é muito integrado ao do ministro Jobim. Qualquer coisa que se diga nesse momento é absolutamente especulação".

Jobim ainda tem previsão de visitar um batalhão de fronteira, durante a tarde, na fronteira com a Colômbia.

*O repórter fez o percurso Brasília-Manaus-Tabatinga em avião da FAB, a convite.

Rússia aproxima-se do Irã

 



4/8/2011, *M K Bhadrakumar, Asia Times Online
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Traço recorrente nas relações entre Rússia e Irã é que elas lá ficam, hibernadas no horizonte, mas sempre podem saltar para o centro do palco à primeira criticalidade na situação do Oriente Médio. O ministro das Relações Exteriores do Irã Ali Akbar Salehi acertou recentemente, ao dizer em entrevista à imprensa russa, que o Irã “é o mais significativo vizinho” da Rússia –, postado no caminho da estratégia ocidental para cercar a Rússia.

Mensagem bem clara: os russos precisam mais do Irã, que o Irã, dos russos. Pelo sim, pelo não, as relações russo-iranianas já caminham pé-ante-pé para o centro do palco. A erosão continuada no “reset” das relações entre EUA e Rússia é o grande telão de fundo.

Ao mesmo tempo, o impasse EUA-Irã agravou-se, agravamento calibrado, em larga medida, pelo lobby pró-Israel nos EUA, que explora a deriva geral dos movimentos do governo Obama. Outros contextos aparecem, que aproximam Moscou e Teerã – o programa de mísseis de defesa dos EUA, a questão turca, a Síria, o Iraque e o Afeganistão.

Contra esse pano de fundo, Moscou rapidamente agendou um intenso diálogo estratégico com Teerã na próxima quinzena. O secretário do Conselho de Segurança Nacional Russa Nikolai Patrushev parte para Teerã no próximo fim de semana e imediatamente depois disso Salehi fará visita oficial a Moscou.

Parece que, ignorando os protestos de EUA-Israel, Teerã e Moscou afinal formalizarão a conclusão do negócio da usina nuclear de Bushehr no Irã, construída pela Rússia – encerrando assim uma saga de 13 anos que oscila conforme a geopolítica do Oriente Médio.

O ministro iraniano da Relações Exteriores confirmou que a agenda de consultas com Patrushev incluirá a questão nuclear iraniana. Teerã recebeu bem a proposta russa de uma abordagem “em etapas” para resolver o impasse nuclear, mediante a qual pode haver afrouxamento gradativo das sanções, em vez de o Irã ter de enfrentar diretamente as preocupações internacionais e as questões não resolvidas com a Agência Internacional de Energia Atômica. Os russos movem-se para esse front, depois de consultas com Washington.

Parece que o que se espera é que se gerem impulsos positivos durante as consultas de Patrushev em Teerã e conversas posteriores durante a visita de Salehi a Moscou, que podem ajudar a romper o impasse em torno da questão nuclear. Significativamente, o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, participará da Assembleia Geral da ONU em New York.

A propaganda israelense de que haveria cisão dentro do regime iraniano parece ter sido desmascarada. A decisão de Teerã, de engajar a Rússia na questão nuclear tem o indispensável imprimatur do Líder Supremo Ali Khamenei. (Como também a escolha de Rostam Qasemi, ex-comandante do Corpo de Guardas Islâmicos Revolucionários, que Ahmadinejad nomeou para o posto de Ministro do Petróleo do Irã.)

E o que, nisso, interessa a Moscou? Além de reduzir as tensões no Oriente Médio, Moscou espera posicionar-se bem no primeiro círculo do processo, que pode ter ecos positivos no “reset” EUA-Rússia. Moscou está fazendo tudo que pode para impedir que Washington implante componentes do sistema de mísseis de defesa na região do Mar Negro, sobretudo na Turquia.

Dmitry Rogozin, enviado da Rússia à Aliança do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), alegou recentemente, durante visita a Ancara, que a instalação de mísseis antibalísticos [orig. anti-ballistic missiles (ABM)] na Turquia poderia ser prelúdio de ataque militar dos EUA ao Irã.

Ambas, Moscou e Teerã, estão perturbadas pela fluidez das políticas turcas para a Síria. O governo islâmico de Recep Tayyip Erdogan joga jogo duplo – sistematicamente desestabilizando e enfraquecendo a Síria, ao mesmo tempo em que professa interesse em reformas democráticas pacíficas; manifesta-se simpático à Primavera Árabe, mas sucumbe às tentações do “dinheiro verde” da Arábia Saudita e do Catar.

A trajetória futura de Erdogan depois da atual crise com a liderança do exército turco é questão que muito preocupa Moscou e Teerã. (Ver Turkey says farewell to the generals, Asia Times Online, 4/8/2011, [em tradução].) Há incertezas pela frente. Editorial do jornal Jerusalem Post comentava, na 4ª-feira:

À medida que diminuem as possibilidades de integrar-se à União Europeia, Erdogan claramente visa a reorientar o foco da Turquia para o oriente islâmico. Com os partidos seculares de oposição enfraquecidos, Erdogan torna-se cada vez mais autocrático.

Nesse país – dilacerado entre a ocidentalização e o islã tradicional – a destruição entre o legado Kamalista e a ressurgência do populismo islâmico, contra o desejo dos militares – reverberá bem além das fronteiras turcas. Sinal claro e preocupante – se se pode confiar no que se ouve hoje – de que a separação entre a Turquia e o ocidente já começou”.

A russos e iranianos interessa que Erdogan construa política exterior independente. A inclinação de Erdogan, para permitir a instalação dos mísseis antibalísticos é difícil teste para suas políticas regionais. Mas Moscou e Teerã aproximaram-se realmente, isso sim, na questão da Síria: as duas capitais já manifestaram apoio a reformas e rejeição de qualquer modalidade de interferência externa na Síria.

Salehi disse semana passada: “Vemos e consideramos inaceitável a distorção deliberada, por forças externas, das reivindicações dos sírios (...). O que se vê aqui é um quadro claro de envolvimento estrangeiro, a serviço de interesses colonialistas (...) A Síria desempenha papel muito importante na região. Tem influência significativa em todo o Oriente Médio, como linha de frente da resistência contra o estado sionista, E a pressão que hoje está sendo aplicada contra a Síria está diretamente relacionada ao papel de vanguarda da resistência”.

Teerã apreciou que, em relação à Síria, Moscou não tenha repetido o erro que cometeu no caso da Líbia, quando não vetou a Resolução que garantiu ao ocidente a folha de parreira de um mandado da ONU atrás da qual escondeu a vergonha de uma intervenção armada no conflito interno da Líbia. Do ponto de vista do Irã, a posição firme que a Rússia está adotando em defesa da Síria é teste crucial para que se possa avaliar até que ponto Moscou resistirá à pressão dos EUA. O vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia Mikhail Bogdanov disse em entrevista em Moscou, na 2ª-feira:

“Cremos que os sírios devem resolver os problemas dos sírios integrados à sua agenda doméstica. Trata-se de conflito civil interno que não deve ser internacionalizado (...). Por outro lado, devemos aprender com nossos erros. Não se deve esquecer os efeitos da Resolução sobre a Líbia. Todos vimos o que aconteceu e o que está acontecendo agora – inúmeros atores internacionais que não se limitam a executar o mandado que receberam, nem o espírito daquela Resolução”.

Também aqui, Moscou dá sinais de apreciar o papel complexo nuançado que o Irã desempenha no Iraque – sem confrontação com os EUA, mas, embora passivo e nem sempre perfeito, nunca em atitude de colaboração com os EUA. A animação controlada sobre a situação dos EUA no Iraque entra agora em nova fase, com o governo Obama já desistindo de praticamente qualquer plano e virtualmente suplicando que Bagdá permita que 10 mil soldados norte-americanos lá permaneçam depois de esgotado o prazo limite, em dezembro de 2011.

Teerã opõe-se abertamente e declaradamente à permanência de longo prazo de militares norte-americanos; a Rússia ainda não manifestou qualquer opinião mais forte e parece mergulhada em profunda meditação. Mas nem Rússia nem Irã tem o que ganhar num Oriente Médio instável e querem obter o que veem como um fim do predomínio da Guerra Fria dos EUA na região.

Mas não há dúvidas de que Moscou e Teerã ainda terão de percorrer alguma distância até se tornarem realmente parceiros num projeto substantivo para o Oriente Médio.

Dito claramente, é preciso ainda construir confiança e confiabilidade mútuas e sustentáveis. Por hora, os dois lados ainda desconfiam que o outro lado esteja construindo algum tipo de negócio secreto com Washington. O Irã já passou por tristes experiências, vítima do “reset” EUA-Rússia. E Moscou avalia se o Irã perderia tempo em outras vias, no caso de acontecer, a qualquer momento, algum tipo de normalização das relações EUA-Irã.

Nesse quadro, a negociação em torno da usina Bushehr torna-se especialmente importante. Até agora, já várias vezes a Rússia desistiu no último momento, em diferentes fases da construção do projeto Bushehr. Moscou considerará que não será inteligente desagradar Teerã mais uma vez, na atual conjuntura. Com todas as políticas dos EUA para o Oriente Médio em completo desarranjo, é altamente provável que, a qualquer momento, Washington seja obrigada a buscar algum diálogo político com o Irã.

A realidade geopolítica é que a influência regional do Irã está posicionada para aumentar. O impasse em que o ocidente meteu-se na Líbia e o fracasso das tentativas ocidentais para derrubar o regime sírio; o movimento da Turquia na direção do Oriente Médio muçulmano e o rompimento de relações com Israel; o colapso do eixo EUA-Israel-sauditas e o fortalecimento do eixo Síria-Irã; as atribulações dos EUA no Iraque e no Afeganistão; a reaproximação entre Egito e Irã; a alta probabilidade de a ONU reconhecer o estado palestino, em setembro; e por último, mas fator de modo algum insignificante, a determinação da China, que insiste em construir uma parceria estratégica com o Irã – todos esses fatores trabalham a favor de Teerã.

Além do mais, Teerã iniciou agora operação de reparar cercas, com Riad; e, se merece alguma confiança o que diga o Fundo Monetário Internacional, a economia iraniana vai muito bem.

Moscou com certeza sabe que qualquer nova negligência que cometa nas relações com o Irã pode ter impacto negativo nas suas políticas para o Oriente Médio. A iniciativa, agora, de reativar o projeto da usina nuclear pode trazer Moscou de volta ao jogo e ressuscitar o diálogo estratégico com o Irã.

Embaixador*M K Bhadrakumar foi diplomata de carreira; serviu no Ministério de Relações Exteriores da Índia. Ocupou postos diplomáticos em vários países, incluindo União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão, Kuwait e Turquia.

Roberto Gurgel é reconduzido a cargo de Procurador-Geral da República

Depois de ser sabatinado na CCJ do Senado, o procurador foi reconduzido ao cargo por 21 votos favoráveis e um contra. Durante a entrevista, a oposição pressionou por explicações de sua suposta cobertura a Antonio Palocci

Redação ÉPOCA, com agências
 
 

Antônio Cruz
 
 
SABATINADO

 “Quero dar continuidade ao trabalho de construção do Ministério Público do futuro sem afastar outras iniciativas que serão necessárias e que o próprio plano estratégico poderá observar"
 
 
Por 21 votos a 1, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou nesta quarta-feira (3) a recondução de Roberto Gurgel ao cargo de procurador-geral da República. O procurador foi indicado por um mandato de mais dois anos pela presidente Dilma Rousseff. A votação ocorreu após sabatina em que Gurgel foi cobrado por integrantes do DEM e do PSDB por ter arquivado, sem abrir o inquérito, as acusações de enriquecimento ilegal contra o ex-ministro chefe da Casa Civil Antonio Palocci.



Depois de aprovado na CCJ, Gurgel precisará passar pelo crivo do plenário da Casa. Em pouco mais de duas horas de sabatina, Gurgel foi muito elogiado por sua gestão no Ministério Público Federal, mas teve também que responder a perguntas de senadores da oposição sobre o pedido de condenação dos réus do chamado mensalão.



Gurgel argumentou que não tinha indícios suficientes para pedir abertura de inquérito contra Palocci no Supremo Tribunal Federal (STF) e que, para eventualmente prosseguir as apurações, precisaria da autorização do STF para pedir a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Palocci. No entanto, ele avaliou que, sem indícios suficientes, o STF não autorizaria essas investigações. "Seria inútil porque jamais haveria autorização para quebra de sigilo pelo Supremo", disse.



“Em primeiro lugar, a lei penal não tipifica a incompatibilidade do patrimônio e a renda declarada. Para que isso possa ser crime é preciso agregar novos elementos, como indícios de que a renda teve origem ilícita ou pela prática de outros crimes”, afirmou Gurgel. “Pedi ao ex-minstro Palocci que me fornecesse outros elementos e não havia qualquer indício de que a renda tivesse sido advinda da prática de delitos nem usado do mandato parlamentar.”



Quanto ao pedido de condenação dos réus do mensalão, Gurgel ressaltou que o país precisa combater a corrupção, que ele considera um dos mais graves problemas do país. “Não há como conceber a atividade política sem a observância dos princípios éticos. Poucos males serão tão terríveis para a República como a corrupção.”



O senador Pedro Taques (PDT-MT) - que é ex-procurador - disse ter discordado da decisão de Gurgel e afirmou que procurador-geral da República não pode ser um "esperador geral da República" e que deveria ter investigado mais a conduta de Palocci para tomar sua decisão de arquivar ou não as acusações.



Gurgel rechaçou as acusações de que teria arquivado as investigações para garantir sua recondução ao cargo. Ele disse que essa postura seria "uma canalhice e uma burrice" porque, de acordo com ele, quando tomou sua decisão, já seria público que Palocci deixaria o cargo.



Após ter o nome aprovado pelo plenário do Senado, Gurgel será reconduzido à Procuradoria-Geral da República com mandato de dois anos. “Quero dar continuidade ao trabalho de construção do Ministério Público do futuro sem afastar outras iniciativas que serão necessárias e que o próprio plano estratégico poderá observar. Destaco, sobretudo, que a razão de ser e a finalidade dessas medidas são precisamente aprimorar nossos serviços”, afirmou o procurador-geral.



Nascido em Fortaleza, Gurgel é casado e tem dois filhos. Ele foi aprovado no quinto concurso público para o cargo de procurador da República e ingressou na carreira em julho de 1982. Foi vice-procurador-geral da República de julho de 2004 a junho de 2009, vice-procurador-geral Eleitoral de julho de 2002 a julho de 2004, e subprocurador-geral da República, promovido por merecimento, desde março de 1994.
LH

Crise da dívida pode prejudicar Obama nas eleições de 2012

Crise da dívida pode prejudicar Obama nas eleições de 2012






Na segunda-feira, o Filtro destacou a coluna do economista Paul Krugman, no jornal The New York Times, no qual ele atacava duramente o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pelo acordo que fechou com o Congresso para aumentar o teto da dívida americana. Para Krugman, Obama sucumbiu diante da pressão de setores radicais republicanos e conseguiu um acordo que corta gastos do governo (inclusive em programas sociais) e não obtém nenhuma nova renda, como por exemplo com impostos para os mais ricos.


Como Krugman, diversos comentaristas da esquerda americana estão irritados. A revista The New Republic aponta os diversos erros que Obama cometeu nas negociações. Mais indignada, a colunista Froma Harrop sugere que o partido Democrata realize primárias para escolher um novo candidato para o lugar de Obama. A revolta democrata com Obama ficou clara na aprovação do plano na Câmara de Representantes. Enquanto dois terços dos republicanos aprovaram o texto, apenas 50% dos democratas fizeram o mesmo. Ao jornal The New York Times, o deputado G. K. Butterfield, da Carolina do Norte, revela a decepção dos democratas, mesmo daqueles que aprovaram o plano.


“Eu não chamaria de raiva, mas estou perplexo sobre a forma como isso acabou”, disse, fazendo caretas após encontro com [o vice-presidente] Biden. “Mas ficamos sem opção e sabemos das consequências. Já ouvi histórias horríveis sobre a Grande Depressão [de 1929]. Não quero minha impressão digital nisso”.


O colunista William McGurn, do jornal conservador The Wall Street Journal, avalia que, enquanto Obama terá de conviver com a indignação democrata, o partido republicano ficou mais forte.


Quando chegar a eleição de 2012, esse acordo vai ajudar a forçar o debate que todos os conservadores querem há muito tempo – sobre o tamanho, o escopo e a missão de nosso governo federal (…) Isso coloca 2012 em termos muito mais amigáveis à argumentação que os republicanos precisam fazer para a população americana. É algo assim: se você quer um governo em Washington que gaste menos, cobre menos impostos e encoraje o setor privado a crescer, você precisa de um republicano na Casa Branca.


Mesmo neste clima, auxiliares próximos de Obama acreditam que o acordo pode ter sido bom para ele se considerado o longo prazo. Primeiro porque o debate sobre o teto da dívida ficou para 2013, depois das eleições. E segundo porque acreditam que podem vencer o tamanho do Estado americano, como afirmou o estrategista de Obama David Axelrod ao jornal The Washington Post:


“[O debate sobre o teto da dívida] ajudou a cristalizar o debate. Não há dúvidas de que [nas eleições de 2012] haverá uma escolha muito distinta [entre Obama e o candidato republicano]. (…). A luta será entre a estridência deles e uma balanceada, justa e séria abordagem do futuro, disse Axelrod, dizendo que o presidente “vai saborear o debate. Ele não pode esperar por esse debate”.


O que os auxiliares de Obama parecem não levar em conta é até onde os americanos concordam com Obama. Em editorial, o jornal conservador The Washington Examiner, que é abertamente contra a existência do sistema de bem-estar social nos EUA, diz que os republicanos estão vencendo o debate sobre o tamanho do Estado e comemora uma pesquisa que mostra o tamanho da preocupação dos americanos com isso:


“A população americana entenda que esses programas de bem-estar social não podem ser pagos. De acordo com o Gallup, dois terços dos americanos acreditam que os custos da Segurança Social e do Medicare ou já estão criando uma crise para o governo federal (34%) ou vão criar uma em dez anos (33%). Essa realidade, no entanto, só agora está começando a ser entendida pelos liberais”.


É bom Obama realmente estar disposto para o debate. Ele vai ter muito trabalho para convencer os americanos de que sua visão de futuro para o país é a mais correta.
Foto: AP
José Antonio Lima

Chefe do FMI será investigada por abuso de poder

Redação ÉPOCA, com Agência EFE
 
 


Richard Drew
 
 
ESCÂNDALO
 
A francesa Christine Lagarde, chefe do FMI, dará explicações à Corte de Justiça da República francesa.
 
 
Depois de ver a queda de seu ex-diretor-gerente Dominique Strauss-Kahn por conta de um escândalo sexual, o Fundo Monetário Internacional (FMI) entrou nesta quinta-feira (4) em mais um período de polêmica. Desta vez, quem responde está no olho do furacão é a substituta de DSK, a também francesa Christine Lagarde, acusada de abuso de poder enquanto exercia o cargo de ministra das Finanças da França.


A decisão de abrir o processo contra Lagarde foi tomada nesta quinta pela Corte de Justiça da República (CJR), um tribunal dedicado a apurar denúncias contra ministros de Estado franceses. A corte ordenou uma investigação sobre qual foi o papel de Lagarde, ex-ministra, no pagamento de € 285 milhões ao empresário Bernard Tapie, referentes a um acordo judicial firmado entre Tapie e um banco estatal. O caso ganhou ainda mais repercussão porque Tapie é amigo do presidente da França, Nicolas Sarkozy.


A decisão da CJR se deu após uma audiência que durou várias horas. A recomendação da corte é que a apuração preliminar realizada sobre o caso seja analisada por um painel judiciário. Lagarde nega qualquer desvio de conduta no caso. A Procuradoria da Corte apresentará a denúncia contra Lagarde e será constituída uma comissão de instrução formada por três magistrados, que realizarão a investigação.


O tribunal, reunido desde o início da manhã desta quinta, decidiu que é necessária uma investigação sobre o papel de Lagarde na indenização concedida em 2008 a Tapie pela venda da Adidas, em um processo que sofreu intervenção estatal. Essa indenização foi estipulada por uma comissão de arbitragem privada sob determinação de Lagarde e não pela Justiça comum, como estabelece a lei, segundo a acusação.


Ao jornal francês Le Monde, o líder dos socialistas, deputado Jean-Marc Ayrault, disse que a decisão da CJR mostra a confusão de interesses dos líderes que ocupam a cúpula do governo, e que a convocação de Lagarde "confirma a existência de anomalias e irregularidades na gestão atual (do presidente Nicolas Sarkozy)".


"Parece que o envolvimento de Lagarde está claro, e ela terá que se explicar de maneira mais convincente frente à CJR que ao Congresso Nacional. Essa acusação causará, certamente, desconforto em seu novo cargo frente ao FMI", afirmou Ayrault.
Christine Lagarde assumiu o comando do FMI depois que Dominique Strauss-Kahn deixou o cargo em meio às acusações de que teria tentado estuprar uma camareira de um hotel em Nova York, nos Estados Unidos.

O lado B de Amy Winehouse

 

Drogas, agressão à pele em forma de enfeite, perda da autoimagem. Os fãs se identificavam com seu comportamento, mas não notaram a gravidade de sua doença psiquiátrica



Antonio Carlos Prado



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Não houve glamour na vida e muito menos na morte de Amy Wine­house. Houve doença, uma intrincada enfermidade psiquiátrica denominada Transtorno da Personalidade Borderline – suas portadoras (predomina em mulheres na proporção de gênero de três para um entre a população mundial adulta) são invadidas constantemente por avassaladores sentimentos imaginários de abandono e sofrem terrível desmoronamento do ego, desintegração da identidade e da autoimagem. São impulsivas, mantêm suas relações interpessoais como um elástico que se tensiona ao máximo, as suas emoções e humor são fios desencapados em curto-circuito. Sentem-se esburacadas e autolesionam a pele para aplacar a dor da alma, sempre encharcada pela sensação, quase nunca real, de perda de pessoas que lhes são queridas. Assim, nesse inferno psíquico, viveu Amy Winehouse, falecida em Londres no sábado 23 e cremada na terça-feira segundo os preceitos religiosos judaicos. O funeral ocorreu sem que se soubesse com precisão a causa da morte, e isso só virá a público em algumas semanas, assim que a médica legista Suzanne Greenaway concluir os exames toxicológicos das vísceras retiradas do cadáver da cantora. Seja qual for a causa, no entanto, um fato está dado: mais do que simplesmente morrer, Amy descansou um corpo maltratado, um cérebro embotado e um músculo cardíaco esmagado pelo uso ininterrupto, abusivo e nocivo de vodca e coquetéis de outras drogas que chegaram a cruzar cocaína, heroína, anfetaminas, ecstasy e até quetamina (anestésico de cavalo). Em outras palavras, ainda que a causa mortis não revele overdose, sua precoce partida aos 27 anos foi acelerada pelo Transtorno de Abuso de Substâncias como um transatlântico que se dirige loucamente para espatifá-lo contra um iceberg.



O Transtorno de Abuso de Substâncias é, digamos assim, uma das franjas visíveis, concretas e palpáveis do Transtorno da Personalidade Borderline, e também uma de suas marcantes características. Essa expressão inglesa significa fronteira ou fronteiriço e foi utilizada pela primeira vez para determinar um tipo específico de distúrbio patológico da personalidade no final da década de 1960 pelo pesquisador Otto Kernberg – nos primórdios da psicanálise ela servia para designar a fronteira entre a neurose e a psicose, serventia essa totalmente desconsiderada pela psiquiatria moderna, que cravou um diagnóstico próprio da doença. A rigor, ser Amy Winehouse não é para a mulher que quer, é para a mulher que pode. Isso vale para sua fenomenal voz de branca a cantar como uma diva negra do soul, mas esqueçamos a voz e continuemos concentrados em seu comportamento. Ou seja, para ser a turbulenta Amy há de trazer consigo “pesadas ferramentas” biológicas, psicológicas e ambientais para desenvolver tal tipo de personalidade. É por isso que se diz, aqui, que não é para quem quer, mas, tristemente, para quem pode – e, creiam, a mulher que possui tais ferramentas agradeceria à ciência ou a Deus se com elas pudesse nunca ter entrado em contato, assim como Amy, aos berros e na impulsividade, ou aos prantos e na depressão, muitas vezes implorava querer “ser trocada por outra”.



No campo psicobiológico, aquilo que se chamou de “ferramenta” pode ser traduzido tecnicamente pelo funcionamento descompassado no cérebro do neurotransmissor serotonina. Tentativas recorrentes de suicídio são traços do transtorno e estudos recentes constataram concentrações mínimas do ácido 5-hidroxiindolacético (5-HIAA, metabólito da serotonina) em pessoas deprimidas que haviam tentado suicídio. No campo ambiental, pesa na infância a negligência ou a desatenção dos pais, abusos físicos, emocionais ou sexuais da criança. Pois bem, tentativas de suicídio – praticamente crônicas – não faltaram na vida da cantora ao utilizar drogas e cruzar vodca (sua dependência química prevalente) com medicamentos (cerca de 6% das borderlines que tentam suicídio conseguem consumá-lo, aproximadamente 60% de mulheres em ambientes institucionais psiquiátricos ou prisionais são borderlines). Quanto ao ambiente, sabe-se que seu pai, Mitch, disputava desde cedo com ela a atenção da mãe, Janis.



Na idade adulta, o que se viu foi novamente o pai taxista tentando pegar carona na fama da filha a ponto de lançar-se como cantor, atitude que arrastou Amy para uma profunda depressão – tal comportamento de Mitch voltou a ser criticado nos últimos dias pela imprensa inglesa e americana.


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TRANSFERÊNCIA

Os fãs põem litros de vodca em frente à casa de Amy: identificação com seu alcoolismo


Falou-se antes da constante oscilação e perda da autoimagem e identidade como fortes componentes do Transtorno da Personalidade Borderline, e nesse buraco da identidade é que entram, por exemplo, a droga e o “lance da pele” (é como se faltasse uma pele protetora do ego), que vai da dermatotilexomania (provocar escoriações no próprio corpo) ao prazer ou autoagressão em se cobrir de tatuagens. Ao não ter fixada uma identidade em si nem um ego consistente, Amy, até por viver sobre palcos e sob refletores, fez da sua pseudoimagem de adicta a sua própria identidade enquanto pessoa – ou, na inteligente e sensível expressão do professor de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo Ronaldo Laranjeira, para a cantora “a doença fazia parte de uma liberdade poética”. Os seus fãs incondicionais, o público em geral e a indústria da música, por sua vez, “compravam” e “vendiam” essa identidade, era cada vez mais essa a identidade que esperavam de Amy e, perversamente, de forma involuntária ou não, a reforçavam. Em meio a tudo isso e a todos, ela era idealizada e idolatrada quando parava em pé no palco, desvalorizada e ridicularizada quando se exibia cambaia, como aconteceu ainda esse ano em seu último show, na Sérvia. Incrível, poucos viram que ali não havia nada além de doença.



O público sempre é passional e volúvel. Quanto aos fãs, com certeza é com carinho e boa intenção, mas também com grande dose de ignorância sobre saúde mental, que levam garrafas de vodca ao santuário que se montou diante da casa da cantora no bairro boêmio londrino de Camden Town – se Amy só se identificava com a Amy alcoolista, os seus fãs, num processo quase psicoterapêutico de transferência, também se identificam com essa Amy. Para a indústria do som, cifras nos olhos, o que não é lucro não está no mundo, e já festeja que o álbum “Back to Black”, de 2006, saltou para o primeiro posto na lista de mais vendidos nos EUA assim que a morte da artista foi anunciada.



Nos buracos do cenário borderline, cenário com simbólicos pregos emocionais por todos os cantos, a portadora do transtorno vai pondo tranqueira atrás de tranqueira na busca desesperada de preencher o seu vazio e aliviar o “torno psíquico” que não cessa de apertar. É comum encontrar-se mulheres presas que são borderlines e deveriam estar em tratamento e não encarceradas – acabam presidiárias porque, na ânsia de se “colarem” ao outro para ter uma identidade psíquica, muitas vezes se “colam” em tranqueiras traficantes. Elas anônimas, Amy Winehouse famosa, a história é a mesma. A cantora, no auge de uma de suas crises, casou-se em 2007 com o produtor e traficante (olha aí!) Blake Fielder-Civil. O relacionamento durou dois anos e a maior parte dele Blake passou na cadeia – e lá continua por roubo e posse de arma que não era verdadeira, era de brinquedo (ele não foi autorizado a sair da prisão para ir ao funeral). Agora, funeral feito, o que não faltam são vozes a dizer que Amy errou, não se tratou medicamente, não aproveitou as internações: “tentaram me mandar para reabilitação/eu disse não, não, não/ele tentou me mandar para reabilitação/mas eu não vou, vou, vou”, diz uma de suas famosas canções, chamada “Rehab”. Os que agora a criticam, e certamente entre eles há os que depositam garrafas de vodca diante de sua casa vazia, precisam saber que Amy era, em essência, enferma. Em “Beat The Point To Death”, ela cantou: “além disso estou doente/de ter de encontrar alguma paz”. Amy hoje tem paz, o “torno” borderline afrouxou-se, a montanha-russa borderline cessou de despencar, mas é a inútil paz dos mortos, não a fecunda paz dos vivos. De fato, não houve nenhum glamour em sua vida e muito menos em sua morte.


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Colaborou Laura Daudén

Ataque de Jobim 'é desnecessário', diz Ideli

ANDREZA MATAIS
FÁBIO BRANDT

DE BRASÍLIA


A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) afirmou hoje ao programa "Poder e Política - Entrevista", uma parceria da Folha de S.Paulo, Folha.com e UOL, que o ministro Nelson Jobim (Defesa) tem dado declarações "desnecessárias" e deveria se "conter um pouquinho". À revista "Piauí", o ministro classificou Ideli como "fraquinha" e disse que sua colega Gleisi Hoffmann (Casa Civil) "nem sequer conhece Brasília".

Ideli chegou para a entrevista no estúdio do Grupo Folha, em Brasília, preparada para ser confrontada com as declarações de Jobim. Quando o assunto foi mencionado, Ideli respondeu de maneira pausada: "Posso fazer só uma observação. Quando você está à frente de uma pasta, de um ministério, você tem que ter sempre muita preocupação de executar aquilo que você está delegado para executar. Não quero brincar, mas apesar de muita gente dizer que o ataque é sempre a melhor defesa, o ministro da Defesa talvez devesse se conter um pouquinho. Acho que tem declarações que não são necessárias", afirmou.



Jobim atacou o núcleo do governo Dilma ao criticar Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil; atrás)
Jobim ataca o núcleo do governo Dilma ao criticar Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil)

Na semana passada, Jobim afirmou ao programa "Poder e Política" que havia votado no candidato José Serra (PSDB) à Presidência da República. Disse ainda que o tucano reagiria exatamente como Dilma Rousseff diante da crise de corrupção no Ministério dos Transportes. Para Ideli, o ministro da Defesa deveria se ater aos problemas da pasta dele.

"Para um ministro da Defesa é desnecessário determinados ataques. É desnecessário. Não é assunto relacionado à pasta dele... Nao [fiquei chateada] até porque eu tenho clareza das minhas qualidades, das minhas potencialidades e das minhas dificuldades. Me esforço muito para corresponder a honra que a presidenta me deu de estar neste momento respondendo pela secretaria das Relações Institucionais, me esforço muito", afirmou.

A entrevista completa de Ideli ao jornalista Fernando Rodrigues será publicada na edição impressa de amanhã na Folha. O vídeo do programa "Poder e Política" e a transcrição em texto do que disse a ministra estarão disponíveis na Folha.com e no UOL a partir das 7h de amanhã.