segunda-feira, 4 de julho de 2011


Escândalo do Ministério dos Transportes vai bater direto na Delta Construções, a empreiteira preferida do governador Sergio Cabral e do Dnit (antigo DNER).

Carlos Newton
Nenhuma surpresa. Como dizia o grande escritor alemão Erich Maria Remarque, nada de novo na frente ocidental. Só que o novo escândalo aconteceu antes do que se esperava. A presidente Dilma Rousseff nem ligou para o fim de semana e determinou no próprio sábado que o ministro Alfredo Nascimento (Transportes) afastasse imediatamente todos os envolvidos no esquema de propinas na pasta.
Segundo reportagem da revista “Veja”, representantes do PR, partido que comanda os Transportes, funcionários do ministério e de órgãos vinculados à pasta montaram um esquema de superfaturamento de obras e recebimento de propina por empreiteiras.
Entre os acusados estão o próprio chefe de gabinete do ministro, Mauro Barbosa, o assessor do ministério, Luiz Tito, o diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Luiz Antonio Pagot, e o presidente da estatal Valec, José Francisco, o Juquinha.
Dilma conversou com Nascimento por telefone, dando a ordem de demitir a quadrilha. O ministro estava fora de Brasília, mas a presidente vai recebê-lo hoje para ouvir pessoalmente as explicações dele, que já está com um pé (ou os dois) fora do governo.
Este novo escândalo nacional vai determinar novas investigações sobre a Delta Construções, a empreiteira de Fernando Cavendish, o amigo íntimo do governador Sérgio Cabral e da quadrilha do Dnit (antigo DNER), que cuida das rodovias federais.
De 2006 até agora, a Delta recebeu do Dnit, por meio de gastos diretos do governo federal, cerca de R$ 1,95 bilhão. Só este ano, segundo levantamento feito no Portal da Transparência, a empresa já recebeu do governo federal R$ 381,5 milhões – destes, R$ 341,1 milhões saíram do Dnit, vejam só que coincidência.  
No segundo mandato do presidente Lula, a Delta figurou sempre entre os primeiros lugares no ranking de favorecidos pelos gastos diretos federais, no item “Pessoas físicas, empresas e outros”. Foi a quarta em 2006, pulou para o segundo lugar em 2007, voltou ao quarto lugar em 2008, subiu para primeiro no ano passado, e este ano, até agora, está em segundo.
Quase a totalidade dos recursos federais recebidos pela empresa via gasto direto saiu do Dnit. Em 2006, por exemplo, a Delta recebeu R$ 248,7 milhões federais, sendo que R$ 237,4 milhões foram do Dnit. Já em 2007, dos R$ 392,2 milhões repassados à companhia via gasto direto, R$ 388,2 milhões tiveram origem no órgão.
No ano seguinte, a Delta recebeu R$ 370,1 milhões por gastos diretos, sendo R$ 329,4 milhões repassados pelo Dnit. E no ano passado, de R$ 773.7 milhões – o maior montante repassado à empresa desde 2006 -, R$ 652,4 milhões foram originários do Dnit.
Além do Dnit, a Delta foi favorecida pelos recursos de outros ministérios, como Defesa, Ciência e Tecnologia, Saúde e Integração Nacional. Desde 2006, a empresa recebeu da Defesa, por exemplo, mais de R$ 26 milhões, todos saídos do Comando do Exército.
Em anos anteriores, a empresa já se envolveu em outras polêmicas, como a que cercou a luxuosíssima obra da nova sede da Procuradoria Geral do Trabalho, em Brasília, coisa de primeiríssimo mundo. Em 2007, o TCU foi acionado para apurar acusações de cálculos inflados por serviços não executados nela. Outro contrato, de R$ 104 milhões para pavimentação de ruas na gestão Anthony Garotinho de 1999 a 2002, foi alvo de investigação do TCE-RJ, por suspeita de direcionamento de licitação, exibindo a longa folha corrida do empreiteiro Fernando Cavendish.
E como dizia Vinicius de Moraes, de repente, não mais que de repente, um escândalo estadual acaba sendo tragado por um escândalo muito maior, de âmbito federal, e a presidente Dilma Rousseff nem precisou esperar a preparação do Código de Conduta do governador Cabral para tomar as providências.

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