sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

China transforma a África em seu "faroeste"













Álvaro de Cózar

Em Madri (Espanha)



Ninguém mais se surpreende com a glutonaria chinesa na África. Desde os anos 1980, mas especialmente na última década, o país asiático demonstrou um enorme apetite pelas matérias-primas do continente; petróleo e gás, mas também madeira, produtos agrícolas e minérios necessários para fazer aparelhos eletrônicos. Os números já conhecidos, os únicos disponíveis, do FMI, falam de relações comerciais que cresceram nos últimos anos em média 30% e que provavelmente ultrapassaram os US$ 100 bilhões em 2010.



Mas a China não parece ter ido à África para fazer negócios e sair correndo, e sim para ficar. O governo chinês animou seus cidadãos a ir para o continente e ali construir seu "oeste distante" - o "faroeste" dos americanos.



cerca de 500 mil chineses - segundo dados da Associação de Amizade dos Povos Chinês e Africano, citados no livro "China en África" (ed. Alianza, 2009) - emigraram para a África para trabalhar e ganhar mais dinheiro que em seu país de origem. E sujaram as mãos para consegui-lo. Na África, o ocidental se queixa de quase tudo. Da necessidade de subornar para fazer negócios, da quantidade de papéis que é preciso entregar para abrir uma empresa, do calor, das doenças, dos mosquitos e da corrupção generalizada.



Os chineses trabalham. Construíram represas, oleodutos e redes de fibra óptica. Revolucionaram o transporte com suas motos de baixo custo, utilizadas como táxis para movimentar-se por todo o continente; montaram hotéis e karaokês. E tudo sem reclamar, em um ritmo lento e silencioso.



Quando o Ocidente percebeu, era tarde demais. Os africanos haviam preferido a humildade chinesa para fazer negócios ao paternalismo ocidental e todos os seus valores. Sem nada disso, sem falar nem uma palavra dos idiomas autóctones, sem misturar-se demais com a população, mas muitas vezes vivendo nas mesmas condições, a China fez negócios com a única linguagem que conhece, a da cor do dinheiro. A África aplaude essa nova concorrência que combate os tradicionais monopólios das colônias. Embora isso não signifique que as coisas melhorem para a população.



A maioria dos países onde há presença chinesa teve índices de crescimento superiores a 4%, mas a pobreza e o desemprego continuam sendo extremos neles. O modelo de crescimento chinês casou com os interesses de muitos governantes africanos, que não viram seus cargos ameaçados por exigências de mais democracia. Parte do futuro, mais que nunca, passa pela África e os dirigentes sabem disso. O ex-presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo, preparava assim seu país para a nova ordem mundial: "Gostaríamos que a China dirigisse o mundo, e quando isso ocorrer queremos estar logo atrás de vocês".



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