27/03/2011 - 10:43
Mark Weisbrot
Washington
"O presidente não tem poder, sob a Constituição, de autorizar unilateralmente um ataque militar em uma situação que não envolva a detenção de uma ameaça efetiva ou iminente à nação".
Estas foram as palavras do então senador Barack Obama ao se opor, em 20 de dezembro de 2007, à ideia de que o presidente Bush poderia bombardear o Irã sem a aprovação do Congresso. Agora, no entanto, ele faz exatamente o que condenou quando ainda não representava o establishment da política externa dos EUA - em outras palavras, um império.
As pessoas que fundaram este país não estavam interessadas em governar o mundo inteiro. Foi por isso que elas escreveram uma Constituição que deu aos representantes do povo no Congresso a autoridade de declarar guerra.
O norte-americano médio, ao contrário do que diz a mitologia popular, vive muito mais próximo desses princípios do que a elite da política externa. Para apoiar uma guerra em qualquer lugar, o cidadão geralmente precisa ouvir mentiras durante anos e ser convencido de que existe uma séria ameaça à nossa segurança. O Iraque é apenas o mais ostensivo e recente exemplo, no qual 70% das pessoas foram convencidas de que Saddam Hussein estava envolvido nos massacres do 11 de Setembro. Ainda assim, a maioria dos norte-americanos era contra a invasão do Iraque antes de ela ocorrer.
Para a elite da política externa, a despeito de suas divergências sobre o Iraque, a guerra é apenas uma extensão da política por outros meios. Seus filhos não têm de lutar nelas nem voltar para casa inválidos ou mortos, e eles não arcam com os custos econômicos.
Esta diferença de atitude explica por que o governo foi à guerra na Líbia sem consultar o Congresso, apesar de trabalhar com o Conselho de Segurança da ONU e a Liga Árabe. Há bons motivos para um representante eleito pensar duas vezes antes de apoiar o envolvimento dos EUA em mais uma guerra em um país muçulmano distante que pouco ou nada tem a ver com nossa segurança nacional.
Não sabemos quanto essa guerra vai durar; ela pode se prolongar por anos. A história mostra que é muito mais fácil entrar em uma guerra do que sair; ainda há 100 mil soldados dos EUA no Afeganistão nove anos depois, apesar de uma pesquisa recente do Washington Post ter mostrado que quase dois terços dos norte-americanos acreditam que a guerra não vale a pena.
Em apenas alguns dias de bombardeios contra a Líbia, gastamos centenas de milhões de dólares - e a conta certamente chegará aos bilhões. O parlamentar Barney Frank falou por milhões de norte-americanos ao declarar que esta ação militar é um "problema fiscal" e que alguns norte-americanos vão morrer porque estamos demitindo bombeiros e policiais. Mas sempre há, de algum modo, alguns bilhões extras para a guerra.
Os norte-americanos estão compreensivelmente céticos quanto à ideia de que nosso envolvimento em mais uma guerra em um país petrolífero é motivado por preocupações humanitárias. Nossos líderes parecem não se importar muito com o povo do Iêmen enquanto dezenas de manifestantes pacíficos são massacrados por um governo apoiado pelos EUA. Além disso, se Washington e seus alidados estivessem realmente tentando evitar o derramamento de sangue na Líbia, haveria um esforço verdadeiro para encontrar uma solução negociada para o conflito - o que não ocorre.
A intervenção externa em uma guerra civil frequentemente torna as coisas piores ao inflamar conflitos étnicos. Mais de um milhão de iraquianos estão mortos como resultado da invasão norte-americana, que, entre outras coisas, promoveu uma sangrenta guerra civil. A invasão do Afeganistão também agravou dramaticamente a guerra civil no país.
Alguns membros do Congresso, entre eles John Larson, líder do caucus democrata na Câmara, exigiram que o presidente Obama solicite aprovação parlamentar para essa guerra. Esperemos que mais congressistas tenham a coragem de juntar-se a eles. Do contrário, o próximo presidente poderá concluir que tem o direito de decidir bombardear o Irã.
* Mark Weisbrot é co-diretor do Center for Economic and Policy Research (Centro de Pesquisa Econômica e Política), em Washington. Também é presidente de Just Foreign Policy. Publicado originalmente pelo Centro de Pesquisa Econômica e Política.
http://operamundi.uol.com.br/opiniao_ver.php?idConteudo=1426
Mark Weisbrot
Washington
"O presidente não tem poder, sob a Constituição, de autorizar unilateralmente um ataque militar em uma situação que não envolva a detenção de uma ameaça efetiva ou iminente à nação".
Estas foram as palavras do então senador Barack Obama ao se opor, em 20 de dezembro de 2007, à ideia de que o presidente Bush poderia bombardear o Irã sem a aprovação do Congresso. Agora, no entanto, ele faz exatamente o que condenou quando ainda não representava o establishment da política externa dos EUA - em outras palavras, um império.
As pessoas que fundaram este país não estavam interessadas em governar o mundo inteiro. Foi por isso que elas escreveram uma Constituição que deu aos representantes do povo no Congresso a autoridade de declarar guerra.
O norte-americano médio, ao contrário do que diz a mitologia popular, vive muito mais próximo desses princípios do que a elite da política externa. Para apoiar uma guerra em qualquer lugar, o cidadão geralmente precisa ouvir mentiras durante anos e ser convencido de que existe uma séria ameaça à nossa segurança. O Iraque é apenas o mais ostensivo e recente exemplo, no qual 70% das pessoas foram convencidas de que Saddam Hussein estava envolvido nos massacres do 11 de Setembro. Ainda assim, a maioria dos norte-americanos era contra a invasão do Iraque antes de ela ocorrer.
Para a elite da política externa, a despeito de suas divergências sobre o Iraque, a guerra é apenas uma extensão da política por outros meios. Seus filhos não têm de lutar nelas nem voltar para casa inválidos ou mortos, e eles não arcam com os custos econômicos.
Esta diferença de atitude explica por que o governo foi à guerra na Líbia sem consultar o Congresso, apesar de trabalhar com o Conselho de Segurança da ONU e a Liga Árabe. Há bons motivos para um representante eleito pensar duas vezes antes de apoiar o envolvimento dos EUA em mais uma guerra em um país muçulmano distante que pouco ou nada tem a ver com nossa segurança nacional.
Não sabemos quanto essa guerra vai durar; ela pode se prolongar por anos. A história mostra que é muito mais fácil entrar em uma guerra do que sair; ainda há 100 mil soldados dos EUA no Afeganistão nove anos depois, apesar de uma pesquisa recente do Washington Post ter mostrado que quase dois terços dos norte-americanos acreditam que a guerra não vale a pena.
Em apenas alguns dias de bombardeios contra a Líbia, gastamos centenas de milhões de dólares - e a conta certamente chegará aos bilhões. O parlamentar Barney Frank falou por milhões de norte-americanos ao declarar que esta ação militar é um "problema fiscal" e que alguns norte-americanos vão morrer porque estamos demitindo bombeiros e policiais. Mas sempre há, de algum modo, alguns bilhões extras para a guerra.
Os norte-americanos estão compreensivelmente céticos quanto à ideia de que nosso envolvimento em mais uma guerra em um país petrolífero é motivado por preocupações humanitárias. Nossos líderes parecem não se importar muito com o povo do Iêmen enquanto dezenas de manifestantes pacíficos são massacrados por um governo apoiado pelos EUA. Além disso, se Washington e seus alidados estivessem realmente tentando evitar o derramamento de sangue na Líbia, haveria um esforço verdadeiro para encontrar uma solução negociada para o conflito - o que não ocorre.
A intervenção externa em uma guerra civil frequentemente torna as coisas piores ao inflamar conflitos étnicos. Mais de um milhão de iraquianos estão mortos como resultado da invasão norte-americana, que, entre outras coisas, promoveu uma sangrenta guerra civil. A invasão do Afeganistão também agravou dramaticamente a guerra civil no país.
Alguns membros do Congresso, entre eles John Larson, líder do caucus democrata na Câmara, exigiram que o presidente Obama solicite aprovação parlamentar para essa guerra. Esperemos que mais congressistas tenham a coragem de juntar-se a eles. Do contrário, o próximo presidente poderá concluir que tem o direito de decidir bombardear o Irã.
* Mark Weisbrot é co-diretor do Center for Economic and Policy Research (Centro de Pesquisa Econômica e Política), em Washington. Também é presidente de Just Foreign Policy. Publicado originalmente pelo Centro de Pesquisa Econômica e Política.
http://operamundi.uol.com.br/opiniao_ver.php?idConteudo=1426
Nenhum comentário:
Postar um comentário