domingo, 5 de junho de 2011

Situação segue delicada após entrevista



Entrevista do ministro-chefe da Casa Civil ao Jornal Nacional deixa de esclarecer principais pontos da polêmica
Embora o discurso oficial seja o de que Antonio Palocci foi convincente e que ainda desfruta de confiança no Planalto após as primeiras entrevistas concedidas desde que inaugurou a primeira crise do governo de Dilma Rousseff, o ministro-chefe da Casa Civil começa a semana em situação ainda mais delicada do que encerrou a última. Ao decidir não revelar o nome dos clientes nem detalhes sobre como conseguiu enriquecer nos últimos quatro anos prestando serviços de consultoria, Palocci deu munição para que a oposição subisse o tome e ampliasse a ameaça de uma convocação no Congresso.
O momento político fez com que opositores, imersos na própria crise de identidade, vissem na tensão do governo uma oportunidade de se montar um novo palanque. É o que deixa a entender, por exemplo, o líder tucano no Senado, Alvaro Dias (PR), ao anunciar, logo após a entrevista do ministro ao Jornal Nacional, que pretende levar à votação a convocação do ministro no Senado, desta vez na Comissão de Constituição e Justiça. “Podemos usar a entrevista dele como peça de acusação, nunca de defesa”, declarou ao site do PSDB. A intenção, ameaça o senador, é submeter Palocci a perguntas “incômodas” ao Planalto.
A outra frente da oposição é a Comissão de Agricultura da Câmara, onde deputados conseguiram aprovar a convocação do ministro na última quinta-feira – a decisão, porém, foi suspensa em seguida pelo presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS). Após a entrevista, o líder tucano na Câmara, Duarte Nogueira (SP), cobrou o afastamento do ministro que, segundo ele, “falou e não disse absolutamente nada”. A artilharia de Nogueira é disparada apesar do silêncio dos colegas caciques, como o ex-governador José Serra e o senador mineiro Aécio Neves.
Do lado do governo, a avaliação é que, a partir de agora, cabe à presidenta Dilma Rousseff avaliar se o ministro convenceu ou se deve ser substituído. Dela ainda não houve manifestação pública desde a entrevista – embora a mídia paulista já dê conta de que a presidenta dispõe de uma lista de eventuais substitutos, e até mesmo uma conversa agendada com o antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, para decidir o que fazer. Enquanto isso, petistas e aliados que vieram a público se esforçam para expressar a confiança no ministro. “Ela [Dilma] que dispõe do cargo. Não sou eu que tenho que dizer o que deve ser feito. Não sei se há possibilidade de Palocci sair. Sei que temos muita confiança nele”, disse o vice-presidente Michel Temer, no sábado, dias após bater boca com o próprio ministro por causa da votação do Código Florestal.  “A fala dele [Palocci, na entrevista] foi muito útil. Acho que foram eficientes as explicações. Ele foi muito convincente e com muita lealdade profissional aos seus clientes, aqueles que ele serviu”, completou.
No PT, o esforço para manter a crise longe do Planalto ao dizer que ela é pessoal e não partidária foi mantido. Líder do governo na Câmara, Candido Vaccarezza deu entrevistas dizendo que Palocci deixou claro que os problemas eram dele e que não houve uso de “informações privilegiadas”.
Já o deputado estadual Rui Falcão, presidente nacional do PT, avaliou a entrevista de Palocci ao Jornal Nacional como “muito convincente” e tentou, de todo jeito, retirar a crise da conta do Planalto: “Ele mesmo afirmou, e sempre achei isso também, que não há nenhuma crise, e com essas informações detalhadas acredito que se encerra o assunto”.
O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), que chegou a declarar que o aumento patrimonial do ministro era estranho, fugiu de polêmica durante encontro do partido em Salvador, no sábado 4. Ao chegar ao evento, se negou a falar sobre o assunto e brincou com os jornalistas que insistiam: “A agenda [de sábado] é de trabalho e de projeto político. Vocês só pensam naquilo”.
Após 20 dias, Palocci falou
Na primeira entrevista após a denúncia de que multiplicou exponencialmente seu patrimônio com sua empresa de consultoria, ao Jornal Nacional, o ministro-chefe da Casa Civil não revelou o nome das empresas com quem trabalhava nem quanto recebeu no período. Afirmou apenas que prestava consultoria para empresas  de “mercados de capitais, fundos de investimentos em outras empresas privadas e de serviço em geral”.
Palocci afirmou que jamais atuou com empresas privadas com interesses em órgãos públicos, mas se negou a divulgar os nomes alegando que “agiria contra a lei” se assim procedesse.
“O meu papel é de respeitar as leis rigorosamente. Quando vim ao governo, entreguei à comissão de ética todas as informações das medidas que eu tomei junto dela. Há atuação de consultoria junto aos orgãos públicos, declarou. “Afirmo categoricamente que toda o lucro da empresa foi fornecida aos orgãos de controle. Elas já estão com a Procuradoria Geral da República”.
Palocci também negou que o dinheiro recebido nos últimos meses em que a empresa esteve aberta – cerca de 10 milhões de reais entre novembro e dezembro de 2010 – tivesse relação com a campanha nas eleições 2010. ” Neste período eu apenas fiz encerramento de contrato que eram previstos ao longo do tempo. Não foram serviços prestados naquele mês, foram prestados ao longo dos anos, e então houve o pagamento”, disse.
Sem dar as principais respostas após três semanas de crise, Antônio Palocci deve continuar em processo de fritura como ministro-chefe da Casa Civil de Dilma Roussef, cargo que exige forte intermediação política com a base aliada e a oposição.
A entrevista ao Jornal Nacional não foi realizada ao vivo, como se cogitava horas antes de ir ao ar. Palocci respondeu as perguntas do repórter Júlio Mosquera em seu gabinete.
Em maio, uma reportagem da Folha de S. Paulo informou que Palocci teve o patrimônio inflado em 20 vezes entre 2006 e 2010 graças a sua atuação como consultor de empresas privadas. A repercussão do caso atrapalhou o governo de Dilma Roussef em alguns dos principais focos do governo federal neste início de mandato, como a votação do código florestal e na aprovação dos kits de combate à homofobia nas escolas. Também ofuscou o lançamento do programa Brasil Sem Miséria, principal projeto eleitoral da presidenta.

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