sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Tumulto, briga, xingamento em votação polêmica que destituiu presidente do PSB de Fortaleza






O PSB é um partido peculiar, como o são a quase totalidade dos partidos políticos que estão inseridos no sistema eleitoral em vigência. Assim como o recém fundado PSD de Kassab, o PSB do velho Miguel Arraes também não tem ideologia. Para o PSB o que importa é está à sombra da árvore frondosa do poder, independentemente se o poder foi conquistado pelo próprio partido, por meio da força de suas lideranças junto ao eleitorado, ou por osmose, ao fazer o jogo sujo da barganha para alcançar o objetivo de comandar o governo de um grande ente federativo, seja Estado ou Município, como quando renuncia a pretensão de lançar candidatura própria a presidência da república em troca de apôio para eleger uma bancada de deputados e senadores, incluindo alguns governos dos Estados, muitas vezes em prejuizo do potencial de votos que algumas de suas lideranças teriam caso fossem bater chapa com os dois partidos que polarizaram as ultimas eleições presidenciais depois do governo desastroso de Fernando Collor, o PSDB e o PT, ou ainda quando dá abrigo a grupos políticos sem nenhuma identificação com o passado histórico da legenda, como é o caso do grupo político dos irmãos Gomes, Ciro/Cid que já foram da Arena, do PDS, PMDB, PSDB, PDT, PPS e agora estão temporariamente instalados no PSB.

Essa prática política do PSB não é um fenômeno localizado, exclusivo do Estado do Ceará. Não, ela se reproduz por todo o país, descaracterizando aquela que já foi uma das mais importantes legendas partidárias que ao lado de outras forças políticas de esquerda combateu a ditadura, esteve à frente do movimento pelas diretas já e a redemocratização do país, apenas para ficar nos momentos mais importantes de nossa história recente. No amplo espectro da salada ideológica que definha o PSB, seu arco de aliança é da cor do arco íris, símbolo da causa Gay que não faz acepção nem de pessoas o que dirá de partidos, contanto, claro, que favoreça a defesa de seus interesses. Assim, o PSB é aliado do governo Dilma no plano federal, o que em nada o diminui posto que teoricamente o PSB é parceiro preferencial do PT e ambos estão nessa caminha desde a primeira disputa de Lula para chegar a presidência, mas é também aliado do PSDB no governo de Alckmin em São Paulo, de Anastasia em Minas Gerais e de Kassab, ex Arena, PDS, PFL, DEM e agora PSD, prefeito da capital paulista, o suprassumo do conservadorismo das velhas oligarquias que dominam a política do maior Estado brasileiro. 

Não me pergunte como o PSB consegue administrar tão grandes diferenças ideológicas que não saberei responder com certeza. Imagino que seja tão-somente em função da busca frenética do poder pelo poder. E não para por aí. Se fizermos uma pesquisa em todas as administrações espalhadas pelo Brasil afora, nos municípios e Estados, não nos surpreenderemos com a constatação de que o PSB é aliado, senão de todos os governos que estão em pleno exercício de suas funções, seguramente o é de mais de 80%. O PSB é daltônico, não distingue coloração partidária nas alianças que faz. É o mais democrático de todos os partidos. Mais do que o PT, que não aceita aliança partidária com o PSDB, PPS e DEM, mais do que o PSDB que não se alia com o PT e mais do que o PPS e DEM que também não quer nem saber de falar em aliança com o partido dos "Petralhas". Para o PSB esse tipo de idiossincrasia só atrapalha o progresso do Brasil.

Quem conhece como funciona a política no Brasil, sabe que não há almoço grátis, de sorte que o PSB tem seu quinhão em cada administração da qual participa. Em troca de seu oferecido apoio, a fatura é paga com cargos nos primeiros e nos escalões inferiores dos governos. O PSB tem ministro no governo federal, secretários em vários governos estaduais, municipais, e uma reserva de inúmeros cargos de confiança que lhe é garantido pela generosa contribuição que tem dado aos mais nobres propósitos de servir aos interesses do povo. A dimensão política que alcançou, por sempre ficar ao lado de quem está no poder, elegendo uma bancada parlamentar expressiva, permitiu receber somas significativas do fundo partidário que alimenta o aparelho do partido e oferece uma vida de conforto e regalias aos seus dirigentes, pagos com o dinheiro que vem desse fundo. Diga-se de passagem, dinheiro público, recolhido dos impostos que eu e as torcidas do Flamengo e do Corinthians despejamos nas arcas da viúva.

A experiência encurta caminhos. As velhas raposas do PSB, os chamados históricos, que são os responsáveis pelos rumos atual do partido, aprenderam jogar o jogo da política e tanto usam como se deixam usar por aqueles que demonstrem disposição de levá-los até onde possam chegar, especialmente se houver perspectiva de alcançar algum espaço de poder que lhes proporcionem participação efetiva. Amiúde se deram bem, ultimamente estão sendo colocados para trás por uma geração nova na idade mas velha nas mesmas práticas políticas absorvidas pela observação do modus operandi ensinado pela cúpula do partido. O discípulo segue os passos do mestre e com ele aprende.

O PSB era um partido modesto, de posições ideológicas bem definidas. Uma lei, porém, aprovada no congresso que estabeleceu a chamada claúsula de barreira que impõe severas restrições as atividades políticas dos partidos que não conseguissem alcançar 5% dos votos, retirando-lhe a representação parlamentar, colocou os dirigentes do PSB em polvorosa e os fez abrir as porteiras do partido para quem tivesse potencial de votos, em nome da sobrevivência da legenda, ameaçada de não atingir o desempenho estabelecido por lei. Grupos políticos sem nenhuma afinidade ideológica com o PSB ingressaram de casa adentro no partido e garantiram ao PSB sua presença no congresso nacional. Foi assim que Sérgio Novaes e os históricos do PSB no Ceará receberam o grupo político de Cid Gomes tendo seu irmão Ciro à frente. Novaes pressupôs erroneamente que conseguiria manter o controle do partido, mesmo tendo que brigar com a figura de maior relevo do partido, o governador do Estado que por certo não abriria mão de ter a maior fatia de influência sobre o PSB uma vez que ele trouxe prestígio, representação parlamentar e voto para a legenda.  

Cedo Novaes percebeu o tamanho da Briga que comprou. A queda de braço com o governador pela legenda vem se arrastando desde o primeiro governo de Cid com sucessivas vitórias de Novaes que mantinha sob rédeas curtas as lideranças históricas do partido que comandava no Estado. Como bom enxadrista, Cid pouco a pouco minava o poder de Novaes, usando da caneta para cooptar aqueles que com renitência permanecia ao lado de Novaes. Bastou a irmã de Sérgio Novaes, a deputada Eliane conseguir numa reunião partidária, questionada pelo grupo do governador, a indicação do PSB para disputar as eleições do próximo ano como candidata, para ser deflagrada a mais renhida disputa pelo comando do partido, com direito a lavagem de roupa suja na assembléia, discursos contundentes de Eliane contra o governador, até chegar ao desfecho na sede do PSB, onde houve uma reunião tumultuada com portões fechados, com a presença do batalhão de choque da polícia militar que lá esteve para controlar os ânimos e garantir que não houvesse confronto entre os grupos de apoiadores de Novaes e os do governador.

De nada adiantou Novaes impedir que a executiva municipal entrasse na sede do partido para votar sua destituição da presidência. A votação foi feita do lado de fora, na calçada, debaixo de gritos e vaias. Assim terminou um dos mais tristes episódios da política de nosso Estado. Agora só resta ao ex-presidente Sérgio Novaes recorrer a justiça para garantir que seu mandato tenha continuidade como prevê o estatuto do partido.

Não há mocinho nessa história. Novaes se serviu do grupo político do governador para garantir a existência de seu partido no congresso nacional e continuar a receber dinheiro do fundo partidário. Equivocou-se ao avaliar que faria de Cid um inocente útil. Foi para o confronto. Mediu forças e perdeu. O governador por sua vez vislumbrou a oportunidade de ter o controle de um partido de esquerda, embora jamais tenha sido de esquerda. Partido que sempre esteve aliado a Lula. Lula que elegeu-se presidente e saiu consagrado com estratosféricos índices de popularidade. Cid aproveitou-se do prestígio do presidente que o apoiou ao governo do Estado, derrotando outro governador ainda no poder, fato inesperado e admirável. Lula apoiou Cid porque estava no PSB que era da base aliada. Cid usou e foi usado, como tantas vezes fez o PSB. Essa é a política que se pratica no Brasil, nem mais, nem menos. 

Nenhum comentário: