domingo, 16 de outubro de 2011

O curinga de Meirelles



O ex-presidente do Banco Central chega ao PSD de Gilberto Kassab com potencial para embaralhar a corrida eleitoral paulistana e ampliar o apoio à presidente Dilma no Congresso

Alan Rodrigues e Luiza Villaméa
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A CARTADA 
Como os movimentos de Henrique Meirelles no PSD podem alterar o jogo político
Dono da mais recente ficha de filiação ao PSD, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, desde 2002, aspira eleger-se a um cargo executivo. Depois de se destacar no setor financeiro internacional, ele começou a trajetória política como o deputado federal mais votado de Goiás. Em 2003, abriu mão do mandato para conduzir o Banco Central durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Com a perspectiva de ser o vice na chapa de Dilma Rousseff à Presidência, Meirelles trocou o PSDB pelo PMDB em 2009. No partido repleto de caciques, não conseguiu espaço para entrar na chapa presidencial, muito menos para disputar o governo de Goias, seu outro desejo. Recém-filiado ao partido criado por Gilberto Kassab, o prefeito de São Paulo, Meirelles pode mudar a sua sorte. Agora, tem a chance concreta de disputar um dos postos mais importantes da política nacional, a prefeitura de São Paulo. Ao menos publicamente, ele, aos 66 anos, garante não ter, “no momento”, projetos eleitorais (leia entrevista), mas assume estar motivado para participar da criação de um partido desde o início: “Vou começar formulando o programa econômico do partido.”

No PSD, que entrou para o jogo político ao montar a terceira maior bancada da Câmara dos Deputados, com 55 deputados, Meirelles assume posição similar à do curinga, aquela carta versátil que se encaixa em várias situações durante o jogo. Jogador experimentado, Kassab cortejou o ex-presidente do Banco Central durante meses. Não por acaso, em março o prefeito foi um dos mais entusiasmados participantes da posse de Meirelles na presidência do Viva o Centro, o movimento que ele ajudou a fundar nos anos 1990 para revitalizar a região central paulistana. Goiano de Anápolis, Meirelles mantém vínculos com a cidade desde os tempos de estudante de engenharia civil, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). “Ele está credenciado não apenas para ser o condutor das políticas públicas do programa do partido na área econômica, mas também para atuar na cidade de São Paulo, qualquer que seja sua posição”, afirma Kassab, de olho nas eleições municipais de 2012.

Na prática, alguns movimentos de Meirelles podem provocar alterações no cenário político nacional, em particular graças à credibilidade conquistada à frente do Banco Central. “A filiação de Meirelles foi uma jogada hábil de Kassab, já que ele trouxe para o PSD o nome forte do governo Lula”, avalia Gaudêncio Torquato, cientista político da USP. Interlocutor assíduo do ex-presidente, Meirelles tem bom trânsito no PT e sua entrada no PSD possibilita a abertura de até duas vagas para o partido na Esplanada dos Ministérios. Em contrapartida, a base de apoio do governo Dilma amplia, enquanto a oposição ficaria ainda mais enfraquecida.

No âmbito municipal, Meirelles é uma alternativa do PSD, que já tem como potencial candidato o vice-governador do Estado, Guilherme Afif Domingos. Como se não bastasse, Meirelles tem o perfil ideal para atrair o eleitorado do PSDB e, assim, realizaria o desejo de Lula – pulverizar os votos e levar a eleição para o segundo turno. Com capacidade para atrair a simpatia de empresários e possíveis doadores, em 2012 o ex-presidente do Banco Central poderia até ser o vice numa eventual coligação com o PSDB, o PT ou o PMDB. Mas, como todo bom curinga, aguarda para dar cartadas mais altas, na condição de reserva estratégica do PSD.
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“NO MOMENTO, MEU PROJETO NÃO É ELEITORAL”
ISTOÉ – Por que o sr. mudou o seu colégio eleitoral para São Paulo e se filiou ao PSD?
Henrique Meirelles – Porque não resido mais em Goiás, e São Paulo é o local onde estou mais presente desde minha saída do Banco Central. 

ISTOÉ – Quais as suas expectativas eleitorais para 2012?

Meirelles – Entrei no PSD motivado pela oportunidade de participar da formação de um grande partido nacional desde o seu início. Não se trata de um projeto eleitoral da minha parte, mas do desejo de contribuir no debate e na formulação de políticas para sustentar e incrementar o nosso desenvolvimento. 

ISTOÉ – O sr. quer ser prefeito de São Paulo? Por quê? 

Meirelles – Sempre tive uma grande disposição de cooperar com o País, e os oito anos em que fiquei no Banco Central não só reforçaram essa vocação como aumentaram minha experiência e visão sobre a administração pública brasileira. Mas meu projeto no momento não é eleitoral. Vou começar formulando o programa econômico do partido.

ISTOÉ – Além da associação Viva o Centro, que outros projetos o sr. tem para a cidade?
Meirelles – São Paulo é a maior cidade do Brasil, que reúne brasileiros de todas as regiões. Há mais mineiros, baianos e paranaenses morando em São Paulo do que em boa parte das cidades desses Estados. Aqui temos praticamente todos os problemas e virtudes dos centros urbanos do país, e soluções para São Paulo podem ser soluções para as outras cidades brasileiras. 

ISTOÉ – Podem servir de referência para o poder público?
Meirelles – Acho por princípio que não devemos esperar que seja tudo resolvido pelo poder público. Ele deve ser um condutor, um facilitador para liberar as forças das empresas e dos cidadãos. A participação da sociedade civil, que já é relevante em muitas áreas e cidades do Brasil, deve ser ainda mais estimulada, como é o caso do Viva o Centro. É preciso otimizar o uso dos muitos recursos disponíveis nas grandes cidades, humanos, físicos e financeiros, e aí o poder público pode ter um papel importante. Os centros urbanos brasileiros são prioritários para sustentar o crescimento econômico dos últimos anos. É necessário um conjunto de políticas urbanas envolvendo os três níveis de governo e a sociedade civil, priorizando o transporte, a segurança, a moradia, a saúde, a educação e a revitalização dos centros. Vamos formular um conjunto de ideias que sirva de base para uma proposta de escopo nacional.

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