domingo, 20 de novembro de 2011

“A estrela sobe o morro”




José mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, é um ás na manga do governador Sérgio Cabral. É uma carta que pode ser deitada à mesa das eleições de 2014 para o governo do estado. Basta Beltrame querer.


Ele tem ganhado a luta contra os traficantes e retoma o controle das favelas, como na Rocinha, na zona sul carioca. Com isso, adquiriu uma virtude e, com ela, uma vantagem sobre a soma de seus defeitos, considerados eleitoralmente inadequados.


Quais seriam os obstáculos a esse projeto político-eleitoral?


Inicialmente, a própria resistência dele, gerada pela timidez e insegurança. Delegado da Polícia Federal, Beltrame tem um perfil pessoal inadequado para os marqueteiros. O discurso dele é monótono e tocado em uma nota só: a segurança.


De alguns pontos de vista, relacionados com a exposição ele pode ser comparado a Dilma Rousseff. E até leva vantagens. Já teria, na partida, mais intimidade com os holofotes e não dependeria de transferência de votos de Sérgio Cabral, como Dilma de Lula. Teria, por fim, o apoio forte das Organizações Globo.


Império no setor de comunicações, a Globo não se dá bem quando pretende “fazer reis” na contramão da opinião pública. No caso de Beltrame, no entanto, nadaria a favor da correnteza.


Após a batalha sem sangue na Rocinha, Beltrame frequentou assiduamente as telas da TV Globo. Deu entrevistas ao Jornal Nacional e ao Bom Dia Brasil. Foi filmado passando a tropa em revista e, ainda, na cerimônia na qual fez elogios, merecidos, aos dois policiais militares que não cederam à tentativa de suborno do traficante Nem.


Por que a Globo prefere Beltrame sem mesmo saber se o secretário aceitaria a investidura de candidato?


Ele tem notória incompatibilidade com a esquerda e a esquerda do PT com ele. Atraiu atenção e crítica por essa declaração infeliz, em 2008: “Os bandidos trazem a cultura da violência do ventre da mãe”.


Em princípio, o governador está amarrado a uma aliança com o PT ou, antes, com Lula. Esse acordo elegeu Cabral em 2006 e o reelegeu em 2010. Foi, em contrapartida, um palanque importante para a eleição de Dilma e poderá ainda mais em 2014. Para a oposição e, consequentemente, para a Globo, o fim desse acordo seria fundamental. E pode ocorrer.


Além das discordâncias com o governo petista em torno dos royalties do petróleo, o PT constrói candidatura própria ao governo estadual: o senador Lindberg Farias, renovação política do partido no Rio.


Sérgio Cabral tem no vice-governador, Luiz Fernando, o Pezão, um candidato inviável. Não dá muita corda a essa candidatura, mas, com ela, mantém o controle do espaço político-eleitoral para negociação. O PT vai apoiar a reeleição do prefeito do PMDB, Eduardo Paes, confiante que haverá reciprocidade à candidatura em 2014.


Aécio Neves, aspirante à Presidência, cultiva a simpatia de Cabral. É a única possibilidade que o tucano tem de montar um palanque forte no Rio. Candidato, o secretário de Segurança seria um dos suportes nesse caso.


Na terça-feira 15, Beltrame apareceu “de surpresa” no front. Foi aplaudido pelos moradores da Favela do Vidigal, contígua à Rocinha, também liberada. Um morador gritou para ele: “O senhor vai ser governador do Rio”. Beltrame sorriu simpaticamente e disse que não tinha interesse pelo cargo. O morador não recuou: “Na hora H, eu sei que o senhor vai aceitar”.


Esse diálogo desaparecerá ou entrará nessa história.

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