Do Sul 21
Organização norte-americana solicita informações sobre a morte do jornalista | Foto: Diego Wendhausen Passos
Samir Oliveira
O Commmittee to Protect Journalists (Comitê para a Proteção de Jornalistas – CPJ), com sede em Nova York, nos Estados Unidos, está interessado em investigar a morte de Amilton Alexandre, conhecido como Mosquito, que foi encontrado enforcado em sua casa, na cidade de Palhoça, na última terça-feira (13). O jornalista mantinha o blog Tijoladas do Mosquito, onde denunciava atos de corrupção praticados por autoridades de Santa Catarina.
p>Sara Rafsky, investigadora associada ao Programa das Américas do CPJ, enviou um e-mail ao jornalista Sérgio Rubim, amigo de Amilton, informando que a organização está interessada em acompanhar o caso do blogueiro catarinense. “Escrevo ao senhor porque estamos investigando o caso de Amilton Alexandre e averiguando se é um caso que devemos levar adiante”, disse Sara.O comunicado pode ser lido na íntegra no CangaBlog, mantido por Rubim. O Sul21 entrou em contato com o CPJ para obter mais informações sobre o interesse da organização na morte de Mosquito, mas até o fechamento desta matéria não obteve resposta.
Num dos trechos do e-mail, Sara solicita o contato de Izidoro Azevedo dos Santos, um dos advogados que defendia Amilton – que sofria mais de 40 processos na Justiça. A investigadora do CPJ diz que “ele teria uma outra opinião” sobre a morte de seu cliente.
Preocupação de Mosquito era não ser preso, diz advogado
Em conversa telefônica com o Sul21, o advogado disse que ficou “surpreso” com a morte de Mosquito e garante que vai conversar com pessoas ligadas ao jornalista sobre o assunto. Ele aguarda ter acesso ao laudo pericial cadavérico do Instituto Médico Legal (IML) de Florianópolis.
O conteúdo do laudo já foi antecipado ao Sul21 pela assessoria de imprensa do IML. O documento atesta que a causa da morte foi “asfixia por enforcamento” provocada por “força de ordem mecânica”. O IML se recusa a revelar o nome do médico legista que assinou a perícia.
De posse do documento, Santos pretende submetê-lo a análise de peritos não ligados ao IML. “Pretendo conversar com alguém da medicina legal que conheça casos de mortes por enforcamento para ver se diz algo diferente do laudo, se houve a presença de algum agente externo”, aponta o advogado.
Santos, junto com o colega Edson Jardim, advogava gratuitamente para o jornalista, que estava com sérios problemas financeiros. “Ele sofria processos criminais, cíveis e até de natureza tributária”, conta o advogado, acrescentando que “não era isso (os problemas financeiros) que o angustiava, o principal motivo era a iminência de ele ser preso (por conta de alguma condenação que pudesse vir)”.
Santos acredita que a hipótese de um homicídio forjado não pode ser descartada. “As denúncias que ele fazia eram contundentes e envolviam gente poderosa. Pelo rol de denunciados, qualquer um pode ser um inimigo em potencial”, comenta.
Mosquito colecionava muitos desafetos, desde o prefeito de Florianópolis, Dário Berger (PMDB), à atual ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti (PT) – ambos moveram ações contra o jornalista.
E pelo menos duas pessoas já ameaçaram publicamente Amilton de morte. O vereador de Florianópolis, Márcio Souza (PT), e o ex-diretor do Departamento de Administração Prisional de Santa Catarina (Deap, órgão semelhante à Susepe gaúcha), Hudson Queiroz. Souza teria ameaçado Mosquito durante uma audiência judicial entre os dois, na frente da juíza. E Queiroz já teria agredido fisicamente o jornalista durante um evento na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, ameaçando-o de morte pelas redes sociais.
O ex-diretor do Deap é um dos envolvidos nas denúncias de torturas contra detentos do Complexo Prisional de São Pedro de Alcântara. As imagens de policiais afogando presos em vasos sanitários tiveram repercussão nacional em novembro de 2009. O caso levou Queiroz a perder o cargo.
Uma pessoa ligada a Amilton acredita que Hudson pode ser um dos principais suspeitos, caso tenha havido realmente um assassinato. “Ele mostrou sinais de ser desequilibrado, a ponto de ameaçá-lo nas redes sociais. E é policial, sabe os procedimentos para mascarar um suicídio”, aponta.
O delegado responsável pela investigação da morte de Mosquito, Attilio Guaspari Filho, da Delegacia de Palhoça, já está intimando pessoas ligadas ao jornalista e quer tomar depoimentos de desafetos que o ameaçaram. Mas ele evita confirmar se Hudson ou o vereador Marcio Souza estão serão chamados a depor. “Estamos ainda em fase de inquérito e não posso confirmar”, despista.
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