sábado, 14 de abril de 2012

Governador ao mar ou mais um ataque especulativo?



Governador ao mar ou mais um ataque especulativo?Foto: Lindomar Cruz/ AGÊNCIA BRASIL

NOBLAT PREVÊ ABANDONO DE AGNELO PELO PT, PARTIDO NEGA E GDF DEMONSTRA TRANQUILIDADE, AFIRMANDO QUE CACHOEIRA TENTOU SE INFILTRAR NO GOVERNO, MAS SEM ÊXITO

14 de Abril de 2012 às 05:58
247 – Num post publicado nesta sexta-feira, e cujo conteúdo foi reproduzido neste sábado pelo jornal O Globo, o jornalista Ricardo Noblat previu a queda do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, em razão de 70 ligações que ligariam seus secretários ao contraventor Carlos Cachoeira. O próprio PT estaria decidido a atirá-lo ao mar. De acordo com Noblat, haveria até a possibilidade novas eleições no Distrito Federal. A informação ecoou no blog do jornalista Lauro Jardim, da revista Veja, que falou em intervenção no Distrito Federal. A informação, no entanto, foi negada pelo presidente do PT, Rui Falcão, que falou que o partido mantém confiança no governador.
No Palácio do Buriti, o caso foi tratado como mais um ataque especulativo contra o governador Agnelo Queiroz e que não mereceria resposta. Segundo o GDF, todas as gravações mostram que o contraventor, já influente em Goiás, tentou se infiltrar no Distrito Federal, mas sem êxito. Uma das evidências é o fato de Demóstenes Torres, braço político de Cachoeira, ter sido a voz mais eloquente a pedir o impeachment de Agnelo Queiroz. Além disso, reportagens da revista Veja, produzidas pela equipe de Cachoeira, tentavam dobrar o GDF.
Neste sábado, o jornal Estado de S. Paulo afirma que Agnelo favoreceu a Delta ao pedir ao governo anterior não interrompesse contratos essenciais. Um deles, o da varrição e coleta de lixo, exercido pela empreiteira de Cavendish. Segundo o GDF, o pedido não demonstra favorecimento, mas preocupação com a população do Distrito Federal.
Leia, abaixo, o post de Noblat:
70 gravações ligam secretários de Agnelo a Cachoeira
Em sigilo, as cabeças mais coroadas do PT nacional já admitem que é irreversível a situação do governador Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, envolvido via alguns dos seus principais auxiliares com a gang do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
O envolvimento está comprovado em no mínimo 70 gravações de conversas por telefone grampeadas pela Polícia Federal com autorização da Justiça. A direção nacional do PT e parte da direção do PT de Brasília ouviram algumas das gravações mais comprometedoras.
Começou a pressão sobre Agnelo para que ele renuncie ao cargo. Se ele concordar que não lhe resta outra saída, a pressão passará a ser exercida sobre seu vice, Tadeu Felipelli, do PMDB. Nada até agora foi descoberto que ligue Felipelli com Cachoeira.
Mas o PT não quer entregar o governo ao vice, que no passado foi homem de confiança do ex-governador Joaquim Roriz. Caso ele e Agnelo renunciem aos mandatos, haverá nova eleição direta para os dois cargos. É o que manda a lei quando metade dos mandatos não foi cumprida.
Não será fácil para o PT eleger o sucessor de Agnelo. Primeiro porque o partido não dispõe de um candidato natural. O próprio Agnelo nunca foi petista. Era do PC do B. Entrou no PT só para ser candidato ao governo.
O partido dispõe de pesquisas de intenção de voto que apontam José Roberto Arruda como, disparado, o nome mais forte para disputar a vaga de Agnelo. Arruda (DEM) se elegeu em primeiro turno governador do Distrito Federal em 2006.
No final de novembro de 2009, a Polícia Federal descobriu que ele paga o apoio de deputados distritais com dinheiro tomado de empresas que prestavam serviços do governo. Era o mensalão do DEM. Em um vídeo, de antes de ele ser eleito, Arruda apareceu recebendo dinheiro de um assessor de Roriz
Preso em fevereiro de 2010, Arruda depois renunciou ao mandato. Seu vice, o empresário Paulo Octavio, acabou renunciando também. A Câmara Distrital elegeu um governador para completar o mandato dos dois. Até hoje, o Ministério Público não denunciou Arruda.
Anteontem, Agnelo concedeu entrevista negando que tivesse se reunido com Cachoeira. Ontem, voltou atrás e admitiu que se reunira com ele. Agnelo soube que seriam divulgadas gravações onde seus dois secretários mais poderosos diziam querer "se enturmar" com o próprio Cachoeira.
As gravações foram transcritas, hoje, no site da revista VEJA. Eis parte do relato da revista:
"Paulo Tadeu, deputado federal licenciado e titular da Secretaria de Governo, e Rafael Barbosa, velho amigo do governador e atual secretário de Saúde do Distrito Federal, jantaram em 7 de abril do ano passado com Cláudio Abreu, parceiro de primeira hora de Carlinhos Cachoeira que tinha como incumbência tocar os contratos da máfia com o poder público, especialmente nos setores de obras e limpeza urbana.
O jantar foi num restaurante japonês de Brasília. Enquanto esperava os dois secretários, Cláudio Abreu telefona para Cachoeira e diz que a conversa serviria para “amarrar os bigodes”. “Estou aqui no restaurante esperando o Rafael e o Paulo Tadeu", diz. "Os dois vêm cá para amarrar os bigodes comigo. Vamos ver como é que vai ser”. Ele não entra em detalhes acerca do que se seria tratado.
Cachoeira demonstra estar informado sobre a reunião e sugere que Cláudio Abreu – que formalmente se apresentava como diretor da Delta Construções, empreiteira que a investigação aponta como integrante do esquema – convide os dois secretários para uma orgia em Goiânia: “Marca uma p... com eles amanhã aqui em Goiânia. Aí eu chamo as meninas”. Cláudio Abreu, então, propõe que o encontro seja marcado para a semana seguinte: “Não, vamos fazer semana que vem”.
Cerca de duas horas depois, Cláudio Abreu interrompe o jantar para pedir um número de telefone a Cachoeira. O contraventor aproveita para saber como estava indo a conversa. Ouve como resposta a notícia de que Paulo Tadeu e Rafael Barbosa desejavam “se enturmar” com o próprio Carlinhos Cachoeira. Em relatório, a Polícia Federal descreve assim o diálogo: "Carlinhos pergunta se está boa a conversa com o amigo e Cláudio diz que tá bom para c... e querem (Paulo Tadeu e Rafael) se enturmar com Carlinhos".
Atualização das 23h31 - Nota de esclarecimento. Sobre a matéria publicada nesta sexta-feira (13) no Blog do Noblat “70 gravações ligam secretários de Agnelo a Cachoeira”, a direção nacional do Partido dos Trabalhadores quer destacar a sua total confiança no governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT).
Fica, assim, desmentida a suposta pressão da direção para que ele renuncie ao cargo.
Rui Falcão, Presidente nacional do PT
Leia ainda a reportagem do Estado de S. Paulo:
O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), intercedeu em favor da construtora Delta, suspeita de ligação com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, antes mesmo de tomar posse. Em ofício ao então governador Rogério Rosso (PMDB), protocolado em 15 de dezembro de 2010, o petista, na condição de eleito, pediu a prorrogação de todos os contratos essenciais, entre os quais os do lixo, com vencimentos previstos até 2011.
Agnelo foi identificado nas escutas da Polícia Federal como o “01 de Brasília” pela organização desmantelada pela Operação Monte Carlo.
O maior dos contratos beneficiados foi justamente o da Delta, orçado em mais de R$ 90 milhões anuais. Até agora, Agnelo vinha sustentando que jamais intercedeu ou fez ato de ofício em favor da empresa, detentora de 70% dos serviços de limpeza urbana no DF.
A Delta é suspeita de financiar a campanha de Agnelo com caixa 2 e depois cobrar a “fatura eleitoral”, contrapartidas, conforme sugerem diálogos interceptados pela PF com autorização judicial, divulgados pelo Estado.
No ofício, Agnelo pede outras manutenções de contrato, além do serviço de limpeza urbana.
A Delta nega irregularidades na obtenção do contrato ou que tenha pago propina a dirigentes do governo para favorecer seus negócios, como sustenta a PF no inquérito da Monte Carlo. A empresa informa ainda que afastou do cargo o diretor regional da empresa em Goiânia, Cláudio Abreu, indiciado como braço direito da organização comandada por Cachoeira.
A Delta detém dois dos três lotes da limpeza urbana do DF, o que inclui o Plano Piloto e sete cidades-satélites. O contrato totaliza R$ 472 milhões em cinco anos, com vencimento previsto para 2012. Em 2010, o contrato foi suspenso após a descoberta de que a empresa usou atestado falso de capacidade técnica, fornecido pelo governo do Tocantins. Mas a Delta vem se mantendo até hoje à frente do serviço mediante sucessivas liminares obtidas na Justiça do DF.
A fatia da Delta representa 70% dos serviços de varrição de ruas, coleta de lixo, tratamento de resíduos, pinturas de meio fio, remoção de entulho e lavagem de paradas e monumentos públicos. Os outros 30% estão nas mãos da empresa Valor Ambiental, autora da recurso contra ilegalidades no contrato da concorrente, que acabou no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Há uma semana, a corte acatou a reclamação e mandou suspender o contrato, mas a empresa disse que vai recorrer.
Incremento. A chegada de Agnelo ao Palácio do Buriti coincide com o vultoso incremento dos repasses à Delta. Em 2010, a empreiteira recebeu R$ 19,4 milhões do governo, valor que saltou para R$ 92,8 milhões em 2011, primeiro ano do petista no poder. Este ano, a empresa já recebeu R$ 27,5 milhões.
Desde 2007, quando o governador era José Roberto Arruda, a Delta detém contratos de limpeza urbana no DF.
O governador informou, por meio de sua assessoria, que havia decisão judicial em favor da empresa e que o ofício a Rosso é uma praxe de governos eleitos, para evitar interrupção de serviços públicos essenciais. Além de limpeza urbana, o ofício contempla diversos outros serviços.

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