terça-feira, 26 de novembro de 2013

Delenda est PT

Pedro Eugênio
PEDRO EUGÊNIO 
Chega a ser trágica a comédia que se armou em torno dos "privilégios dos petistas presos". Me poupem, por favor!
O senador romano Catão, o Velho (234-149 a.C.) costumava terminar seus discursos com a frase "Delenda est Cartago", ou seja, Cartago, inimiga de Roma, tem de ser destruída. Pois bem, nos tempos atuais há gente com esse mesmo conceito na cabeça, mas em relação ao PT.
Chega a ser trágica a comédia que se armou em torno dos "privilégios dos petistas presos". Isso me faz lembrar de visita que fiz, há anos, ao presídio estadual de Caruaru. Onde, apesar da superlotação (já existia à época, mas piorou muito - hoje são 1.308 detentos para um espaço feito para 380!), vi experiência extraordinária de reconstrução de vidas encarceradas através de atividades que se desenvolviam ali.

Fui guiado pela então diretora Cirlene Rocha. Vi acontecendo em diferentes espaços, em meio a uma balbúrdia de mercado persa, artesanato, aulas de música, culto religioso, presidiários confeccionando roupas para o mercado local. Conheci o estilista do presídio (estavam organizando um desfile de modas). Soube do time de futebol que participava de um campeonato regional.

Lado a lado com essa dinâmica positiva vi o inferno que havia ali. As paredes estavam cobertas de colchões: na ausência de espaço eles são amarrados nas paredes. À noite são desamarrados e cobrem todo o chão. A diretora disse que ficava todo o mundo muito junto, em uma promiscuidade geradora de tragédias e violações. Até os banheiros eram morada de muita gente. Um que vi abrigava seis presos! À época apresentei uma emenda para dotar a orquestra do presídio de instrumentos musicais. Não funcionou. Este ano já ocorreram duas mortes ali.

Em meio a tudo que vi havia um espaço separado, com menos promiscuidade, com menos aperto. Era uma área reservada para os presos de um processo que envolvia empresas prestadoras de serviços a prefeituras da região.

Ou seja, o sistema prisional brasileiro, de tão absurdo, quando recebe presos socialmente diferenciados gera, em benefício deles, tratamentos diferenciados também. Os tais privilégios são, na realidade, o mínimo de dignidade que deveria ser garantido para todos, e olhe lá.
Pois bem, toda esta história me veio à cabeça ao ler na imprensa tantas vozes ilustres de nosso pensamento político a reclamar dos "privilégios dados aos petistas". Me poupem, por favor! Por que não reclamaram do "privilégio" de não ter sido a Ação 470 dividida como a dos tucanos mineiros? Ou contra o "privilégio" de inaugurar-se no Supremo a aplicação da teoria alemã do domínio do fato, para daí condenar-se réus sem provas? E o "privilégio" de fazer-se coincidir o julgamento com o calendário eleitoral?

O que querem mesmo esses senhores é liquidar com o PT, não pelos seus erros, mas pelos seus acertos. Continuam a não engolir um presidente operário, uma mulher governando e o Estado brasileiro aplicando recursos para permitir aos famintos comerem, abrir a universidade aos pobres e nos grotões, dar crédito farto para pobres e agricultores familiares, entre outras iniciativas.
Têm sido os governos do PT que desmoralizaram a teoria fajuta de que não se poderia crescer e distribuir renda ao mesmo tempo. Isso os conservadores, as oligarquias e se seus apoiadores não toleram. Esquecem que nosso partido sempre abraçou a causa dos direitos humanos, pelo o que é criticado com frequência por quem enxerga contradição entre direitos humanos e justiça.
E agora, (só agora!) que descobriram que temos um sistema prisional realmente absurdo, ao invés de clamar para que todos tenham tratamento digno, exigem que o tratamento humilhante seja "garantido" aos petistas. Para eles parece valer a velha frase de Catão, revisitada: Delenda est PT.

http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/121885/Delenda-est-PT.htm

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