domingo, 24 de julho de 2011

Coletânea de Gretchen revela presente de Jorge Ben Jor

A música foi gravada pela rainha do rebolado em 1983 e permanece praticamente desconhecida até hoje. CD produzido pelo pesquisador Rodrigo Faour resgata faixas lançadas pela artista que vendia milhões no começo da década de 1980

DANILO CASALETTI

EM CD Coletânea traz músicas gravadas pela artista entre o final da década de 70 e o início dos anos 80
“Dizem que sou boa cantora, mas quem vende disco é o bunda da Gretchen.” A afirmação consta de qualquer coletânea de frases ditas pela cantora Elis Regina (1945-1982) e serve para ilustrar o sucesso popular que a “rainha do rebolado” fez entre o final da década de 1970 e o início da de 1980. É justamente esse período do auge da “cantora” que foi reunido na coletânea Gretchen – Charme, talento e gostosura (Microservice).

As 14 faixas do CD foram lançadas em LP’s e compactos pela antiga Copacabana Discos. Coube ao jornalista e pesquisador musical Rodrigo Faour remexer o arquivo para juntar grandes sucessos, como "Freak le boom boom" (1979), "Conga conga conga" (1980) e "Melô do piripipi" (1981), com canções que passaram desapercebidas pelo público, entre elas um cover de Freddie Mercury em "I was born to love you" e "Melô do Pata pata", uma versão do sucesso da sul-africana Miriam Makeba. O álbum ainda traz a reprodução de todas as capas originais dos discos.

Entre as raridades, está a faixa "Ela tem raça, charme, talento e gostosura", um presente de Jorge Ben Jor, à época, apenas Ben, feito especialmente para Gretchen, lançada em 1983 e que permanece quase inédita até hoje. (ouça abaixo). Poucas receberam esse tipo de mimo do músico. Gal Costa ganhou uma chamada “Miss Gal”, mas nunca gravou a canção.

Para Faour, Gretchen não fez o sucesso que fez à toa. Orientada pelo produtor argentino Mister Sam, Gretchen foi preparada para ser um produto de massa, um prato cheio para os programas de TV da época que precisavam empolgar o auditório e encher os olhos do telespectador no sofá da sala. Artistas como a Gal Costa, Fafá de Belém, Simone, Ney Matogrosso e As Frenéticas já vinham liberando o lado da sensualidade. Gretchen, segundo Faour, foi por um viés menos sofisticado, mas direto ao ponto. “Ela foi tachada de vulgar, mas tinha também um lado moleca, agradava às crianças. Um verdadeiro sucesso”, diz o pesquisador.

Faour reconhece que Gretchen nunca foi propriamente uma cantora, mas afirma que é preciso observar a qualidade musical que as gravações dela traziam. O pop brasileiro ainda engatinhava e os registros dançantes de Gretchen ainda eram raros. “Mister Sam colocava nas músicas break, samba-rock, samba-funk, ritmos que só fariam sucesso lá na frente”, diz Faour.

Gretchen tem substituta? Na mesma década de 1980 a chacrete Rita Cadillac – que também encantava os marmanjos com suas medidas – gravou algumas músicas (impossível não se lembrar da infame “É bom para o moral”), mas não conseguiu o mesmo sucesso que a rainha do rebolado. Para Faour, Gretchen realmente não tem uma substituta. Ele diz que encontra alguma semelhança - mas sem o lado lúdico que a cantora tinha - no samba de roda pop do grupo baiano É o tchan, que trazia dançarinas e coreografias, e no funk carioca, com suas “popozudas” e “mulheres frutas. “Não dou cinco anos para que o trabalho do É o tchan vire cult”, diz o pesquisador.

Atualmente, Gretchen, vez ou outra, aparece na mídia por conta de notícias popularescas. Fez um filme pornô, casou e separou por inúmeras vezes, brigou publicamente com a filha. Sua assessoria faz questão de divulgar até mesmo as datas de suas cirurgias plásticas. Era melhor ter ficado no "Melô do piripipi". Diante de tudo isso, a dancinha, de fato, parece coisa de criança.

Um comentário:

Arte em Grafite disse...

Gretchen fez seu nome no cenário musical brasileiro, queiram os criticos ou não, se sua qualidade vocal não "agrada" tanto, seu carisma supera.Uma das poucas artistas brasileiras, lembrada por tantos anos, messe turbilhão de artistas descartáveis.Trazer ao conhecimento do público canções como "Ela tem raça,charme, talento e gostosura", de Jorge Bem Jor, ou "Bate, bate coração" cantada em portugues, são a prova de que sua carreira não é limitada apenas a Conga ou Piripipi, e que seu sucesso não se deu a toa.Gretchen, pode sem dúvida, ser colocada no posto de Diva, afinal são 36 anos de carreira, com altos e baixos, mas de muito talento, charme e gostosura...