quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Dilma: qual é o rumo?

 

Dilma: qual é o rumo?
Foto: Divulgação/Carlos Moura/CB/D.A Press


Clicada há 50 anos, uma imagem de Jânio Quadros entrou para a história. Simbolizava as indecisões de um presidente que empunhou a vassoura e foi varrido. Dilma já brigou com aliados, fez as pazes e agora flerta com tucanos. Há semelhanças, além da imagem?


18 de Agosto de 2011 às 21:42
Rodolfo Borges_247 – A presidente Dilma Rousseff encontra-se numa encruzilhada. Ao perder quatro de seus ministros mais importantes – três deles por causa de denúncias de corrupção – em apenas oito meses de governo, Dilma se indispôs com grande parte de sua base aliada, algo que dificulta sua relação com o Congresso.

Ao mesmo tempo, o clima de “faxina” em ministros remanescentes do governo Lula contribuiu para que a aprovação da presidente permanecesse acima dos 70%, um feito maior que o de seus dois antecessores, Lula e Fernando Henrique Cardoso, a este ponto do governo. O povo gosta de ver os corruptos serem defenestrados, mas os aliados, que a ajudaram a se eleger, exigem pelo menos algum carinho.

Dilma já percebeu que a caça às bruxas em seus ministérios é prejudicial para a governabilidade – o PR deixou a base aliada e o Congresso está praticamente paralisado há duas semanas. Tanto que mudou de conduta no caso que acabou derrubando Wagner Rossi do Ministério da Agricultura. Ao contrário do procedimento adotado na queda do senador Alfredo Nascimento (PR-AM) dos Transportes, e de Nelson Jobim da Defesa, Dilma manifestou apoio público a Rossi desde as primeiras denúncias de irregularidades em sua Pasta – e até lamentou seu pedido de demissão em nota.

A mudança de comportamento, no entanto, parece não ter sido considerada o bastante pelo ex-ministro, que, indicado pelo vice-presidente Michel Temer, deixou a Pasta evidentemente magoado. Estabelece-se o dilema: agradar ao Brasil e combater a corrupção ou aderir ao fisiologismo e proteger os aliados políticos? Não bastasse o paradoxo, a presidente ainda ensaia uma aproximação do PSDB, principal partido de oposição, e do maior rival político de seu mentor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nesta quinta-feira, a presidente fez mais elogios a Fernando Henrique Cardoso durante o lançamento do plano Brasil Sem Miséria na região Sudeste, realizado em São Paulo – estado governado pelo PSDB. A presidente também convidou o governador Geraldo Alckmin para acompanhá-la nesta sexta-feira 19, em viagem a São José do Rio Preto, onde serão entregues 1.993 unidades habitacionais do programa "Minha Casa, Minha Vida". O convite foi aceito, o que obviamente não agrada em nada o PT – deputados de São Paulo já haviam manifestado incômodo pelo lançamento .

Afinal de contas, o que quer Dilma? Na política brasileira, a imprevisibilidade da presidente só tem paralelo na figura do ex-presidente Jânio Quadros, que, coincidência ou não, ficou conhecido por sua vassoura anticorrupção e, empossado em janeiro de 1961, renunciou depois de apenas sete meses de governo.

À época, Jânio atribuiu sua renúncia a “forças ocultas”, mas a verdade é que o presidente teve de tomar impopulares medidas de austeridade para combater a inflação acumulada no governo Juscelino Kubitschek e não tinha base de sustentação no Congresso Nacional, que aceitou prontamente sua carta de renúncia.

Depois de Jânio, o segundo presidente que descuidou da relação com o Congresso foi Fernando Collor de Mello, que prometia caçar marajás. Tanto ele quanto Jânio foram varridos.
Dilma corre esse risco? Tudo indica que não. Até porque os sinais recentes indicam que ela está bem mais atenta à governabilidade do que esteve nestes sete meses e meio de governo.

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