terça-feira, 16 de agosto de 2011

Terra Magazine: Deputado diz sofrer preconceito por ser Bolsonaro

 


O deputado estadual Flávio Bolsonaro, do PP-RJ

Por Ana Cláudia Barros no Terra Magazine

O controverso comentário no Twitter do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP-RJ), filho do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), sobre a juíza Patrícia Lourival Acioli, da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo (RJ), morta a tiros na madrugada desta sexta-feira (12), repercutiu mal e rendeu ataques ao parlamentar na internet. Em sua página pessoal no microblog, havia dito que a magistrada “humilhava gratuitamente réus”, o que teria, segundo ele, contribuído para que Patrícia tivesse inimigos.

Ao ser criticado, Flávio se justificou, afirmando que “a patrulha do politicamente correto e os preconceituosos” tinham colocado palavras em sua boca. Em entrevista a Terra Magazine, o deputado reiterou as acusações à magistrada assassinada.

- Se eu tivesse feito um comentário como esses “defensores dos direitos humanos” colocam a favor dela, eu seria elogiado. Agora, como fiz comentários de fatos concretos… Eu recebi ligação já de um defensor público e dois promotores de Justiça que tiveram oportunidade de trabalhar com ela. Eles disseram: “Deputado, parabéns. Não é porque ela foi morta que a gente tem que canonizar”.
Flávio Bolsonaro disse ainda que a repercussão negativa do seu comentário só aconteceu em razão do sobrenome que carrega.

- Se você pegar as pessoas agora que estão criticando o meu posicionamento, vai ver que são praticamente as mesmas que estavam contra o posicionamento dos Bolsonaros com relação à denúncia que fizemos sobre a distribuição do “kit gay” nas escolas do Brasil. Assumo os ônus e os bônus das posições polêmicas que tomamos – disse.

Confira a entrevista.

Terra Magazine – Esperava tanta repercussão em relação a seu comentário?

Flávio Bolsonaro –
O que eu coloquei no meu Twitter não é novidade, principalmente, para quem é do meio policial. Acho inadmissível a morte de uma juíza, da forma como ela foi assassinada. Agora, o que eu quis mostrar é que ela tinha muitos inimigos não pelo fato de ela exercer o seu trabalho. Acredito que ela tinha muitos inimigos pela forma como se portava dentro da vara criminal. Eu recebia no meu gabinete inúmeras queixas e reclamações especificamente desta juíza no tocante a essa forma como ela tratava principalmente policiais que sentavam no banco dos réus.




Ela humilhava os policiais, botava o dedo na cara deles, falava que eram bandidos, marginais. Neste nível. Não só os policiais, como os familiares deles cansavam de ir ao meu gabinete para fazer reclamações. Eu sempre orientava que eles gravassem essas ameaças e botassem no papel, representasassem contra a magistrada no Conselho Nacional de Justiça. Não sei se eles chegavam ao ponto de fazer isso, mas era uma magistrada que agia com preconcento com relação a policiais e a seus julgamentos.

Se você começar a observar as conversas nas redes sociais, já há jornalistas que trabalham na área criminal, dizendo que ela tinha a fama de ser muito justa, mas quem está perto diz que ela era justa com os inimigos, para os quais ela aplicava a lei. Agora, para os amigos era muito frouxa.

O senhor, inclusive, colocou isso no seu Twitter. Mas não acha inapropriado fazer esse tipo de comentário em relação a uma pessoa que não pode se defender? Não pensou também que, pelo fato de a juiza ter morrido nas circunstâncias em que morreu, seria inapropriado aquele comentário (no Twitter)?

Não acho. Não estou fazendo acusações contra ela. Só estou repercutindo uma das razões que acredito que fizeram ela ter muitos inimigos. Se eu tivesse feito um comentário como esses “defensores dos direitos humanos” colocam a favor dela, eu seria elogiado. Agora, como fiz comentários de fatos concretos… Eu recebi ligação de um defensor público e dois promotores de Justiça que tiveram oportunidade de trabalhar com ela. Eles disseram: “Deputado, parabéns. Não é porque ela foi morta que a gente tem que canonizar”.

O que não pode ser confundido é rigor na aplicação da lei com abuso de autoridade. Com a forma desrespeitosa com que ela tratava as pessoas lá dentro. Então, é por essa razão que acho que ela angariou muitos inimigos.

O senhor fala em agressões gratuitas, humilhação. Ela investigava policiais acusados de participação em milícias, grupos de extermínio. A impressão que dá é que está mais preocupado com a humilhação a esses policiais do que com os fatos em si.

Na boa, é porque o Bolsonaro está falando que já partem para essa linha. Não estou passando a mão na cabeça do mau policial, que tem que apodrecer na cadeia. Estou falando que muitas dessas pessoas que a juíza tratava dessa forma, ela absolvia depois. Eram inocentes. Um policial facilmente senta no banco dos réus. Ele está na ponta da linha. Até os que sentavam como testemunhas eram tratados dessa forma.

Até que se prove o contrário, todo mundo é inocente. Mas essa máxima não valia para policiais.

O senhor usou o termo a “patrulha do politicamente correto” e os “pré-conceituosos”, alegando que essas pessoas estavam colocando palavras na sua boca. Mas este não é um rótulo que comumente colam no discurso dos Bolsonaro.

Esse preconceito de que falo é que as pessoas ficam contra, muitas vezes, não em relação à situação, mas contra o Bolsonaro. Se você pegar as pessoas agora que estão criticando o meu posicionamento, vai ver que são praticamente as mesmas que estavam contra o posicionamento dos Bolsonaros com relação à denúncia que fizemos sobre a distribuição do “kit gay” nas escolas do Brasil.
Começam a misturar com homofobia os comentários que fiz em relação à juiza.

Então, na sua opinião, essa reação toda foi pelo fato de ser um Bolsonaro?

Acho que contribui. Assumo os ônus e os bônus das posições polêmicas que tomamos. Agora, não vou mudar por causa dos politicamente corretos. Vou continuar sendo um parlamentar independente, falando o que eu penso.

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