quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Aprendiz João Doria contra veteranos do PSDB




Aprendiz João Doria contra veteranos do PSDBFoto: Divulgação

CANSADO DO NHENHENHÉM DE JOSÉ SERRA, GOVERNADOR ALCKMIN ENFIA NOME DO APRESENTADOR JOÃO DORIA JR. EM PESQUISA ELEITORAL; RESULTADO NA SEGUNDA 5; NA QUARTA 7, DORIA PREMIA ‘LÍDERES DO BRASIL’ EM JANTAR NO PALÁCIO DOS BANDEIRANTES; “ESTOU HONRADO”, DISSE O ELEMENTO SURPRESA AO 247; PING PONG

01 de Dezembro de 2011 às 00:16
Marco Damiani_247 – O nhenhenhém de José Serra se voltou contra ele mesmo. Emparedado entre quatro candidatos de baixa densidade eleitoral e o ex-governador que desdenha da chance de disputar a sucessão municipal em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin cansou. E no criador do movimento Cansei!, que em 2007 ensaiou uma aglutinação de empresários para bater duro no governo Lula, acredita ter encontrado o fato novo para oxigenar o PSDB, aquietar a quadra de postulantes e empurrar Serra para o acostamento. Ou, ao menos, pregar-lhe um susto de boa monta.
A surpresinha burilada por Alckmin atende pelo nome de João Doria Jr., 54 anos, cuja popularidade está sendo cotejada, até a sexta-feira 2, com a dos quatro pré-candidatos tucanos (Andrea Matarazzo, Bruno Covas, Ricardo Trípoli e José Aníbal) e o out sider Serra. Versus os políticos, Doria tem a favor de sua imagem, hoje, o fato de pilotar um sucesso televisivo chamado O Aprendiz, na Rede Record. Ali, no papel de si mesmo, ministra lições de empreendedorismo cuja compreensão, ao final, valerá um prêmio de R$ 1,5 milhão. De quebra, apresenta há 12 anos o programa Show Business, na Rede Bandeirantes, no qual já entrevistou cerca de 3 mil empresários. Filiado ao PSDB desde 2001 e recadastrado este ano, por iniciativa do presidente municipal da legenda, Julio Semeghini, a tempo de cumprir todos os prazos legais para uma eventual candidatura, Doria tem no twitter perto de 50 mil seguidores.
LANÇAMENTO EM PALÁCIO? - O levantamento de opinião pública imaginado por Alckmin como forma de arrefecer os ânimos pelas prévias partidárias – já catapultadas para março do ano que vem - é coordenado pelo calejado pesquisador Orjan Olsen. O campo começou na segunda 28. Pela via expressa, o resultado do levantamento estará sobre a mesa do governador já na segunda 5, dois dias depois de ter sido encerrado. E dois dias depois de lida e digerida a pesquisa, na quarta 7 Doria oferece a bambambans do sistema o prêmio Líderes do Brasil. Onde? No Palácio dos Bandeirantes em que Alckmin trabalha e mora. O desempenho do novato na corrida municipal não terá, necessariamente, de ser superior aos demais para que o governador trabalhe por ele. Bastará não apresentar uma rejeição que soe como intransponível. Por todas estas, já se diz nos meios políticos que o festão de elite em palácio será a moldura doirada para um lançamento triunfal da candidatura de Doria, de resto torcedor do mesmo Santos Futebol Clube de Alckmin, com quem costuma ver jogos decisivos lado a lado.
À primeira vista um estranho no ninho, Doria, nessa corrida, leva mais jeito de puro sangue do que de zebra. Ele é presidente do LIDE, o Grupo de Líderes Empresariais, organização que inventou dez anos atrás e se dedica a eventos os mais variados para empresários e executivos de companhias que, em comum, alcançam faturamento anual superior a R$ 200 (du-zen-tos) milhões. Doria se orgulha, nos concorridos almoços do grupo, de poder dizer que sua plateia reúne quase 50% do PIB privado do Brasil. Igualmente, gosta de contabilizar o número de veículos de imprensa presentes a cada encontro, nos quais abre espaço para ministros do governo, senadores, deputados e personagens de diferentes partidos e áreas, inclusive do exterior. Bate mais (bem mais) na administração do PT do que alisa, mas tem muitos trunfos. A seus requintados convescotes, realizados regularmente nos melhores hotéis de São Paulo, já atraiu, em mais de uma sessão, quase uma centena de diferentes veículos de comunicação. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, comparece ano sim, ano sim. Aluizio Mercadante, da Tecnologia, é palestrante contumaz.
Extremamente protocolar, Doria não vê problemas em assoprar um apito a cada vez que burburinhos vindos dos capitães do capitalismo verde-amarelo atrapalham as perorações de seus convidados. Para ocasiões mais informais, nas quais as famílias dos associados participam de encontros de finais de semana em cenários paradisíacos no Brasil e alhures, saca do bolsilho, para o mesmo fim, seu estimado apito de ouro. Doria só anda em carros importados com motorista, tem horror a atrasos, adiamentos e improvisos e gosta de chamar pelo apelido mais carinhoso ou por simpáticos diminutivos os seus poderosos interlocutores. Enriqueceu com suas ideias e uma jornada de trabalho que começa no desejum e ultrapassa a ceia, de segundo a segunda, praticamente. Como paga, mora em todo um quarteirão no metro quadrado mais caro de São Paulo, no bairro dos Jardins, e administra uma fortuna que, necessariamente, uma vez em campanha, terá seu tamanho revelado. Em tempo: ele é um “com jatinho”.
"CANSEI DO NÃO SEI!" - No campo político, onde, pelo que se vê do seu perfil atual, deveria se esperar um homem nascido e criado pela direita, o que se tem é o avesso. Filho do ex-deputado João Agripino da Costa Doria (1919-2000), eleito em 1962 pelo PDC da Bahia, o João Doria Jr. que Alckmin testa em pesquisa rumou para o exílio, com a família, logo na primeira leva de cassados pelo golpe militar de 1964. Porque nela estava seu pai, que se não era nenhum esquerdista, também não passou no crivo dos generais. Foram, então, dez anos fora do Brasil. Aos 21 anos de idade, já de volta, ele foi politicamente adotado pelo então prefeito de São Paulo Mario Covas, que concedeu-lhe o cargo de presidente da tentacular Paulistur, a então agência de turismo e eventos da maior cidade do País. Com 25 anos, já era presidente da Embratur. Da campanha das Diretas Já, em 1984, Doria se vê como um dos principais organizadores daqueles comícios históricos. Mais perto, ao botar na rua o Cansei! (com exclamação e tudo), esboroou-se politicamente diante da popularidade do presidente Lula, a quem, na prática, queria derrubar, com o apoio de empresários, pela via rápida do impeachment em razão do Caso Mensalão. Frustrado em seu objetivo, recuou, voltou a dedicar-se a seu clube de elite e construiu pontes sólidas com homens de governo como o já citado ministro Mantega. À cerimônia da próxima quarta 7, presença confirmada é do vice-presidente Michel Temer. Ausência certa é da presidente Dilma Rossseff. O Planalto já sabe o quanto Doria com poder político formal pode incomodar.
Não dá para dizer, por mais que se torça o nariz ao seu estilo janota, que Doria, em política, seja realmente um aprendiz. Ele circunda a militância partidária realizando até campanhas de finanças para iniciativas tucanas, mas, efetivamente, jamais mergulhou de cabeça em encontros de diretórios de bairros. Ao contrário, está acostumado a só jogar pelo alto. Fez do LIDE uma organização economicamente poderosa, que anualmente reúne, na Ilha de Comandatuba, na Bahia, políticos e empresários de grande quilate. Uma de suas bandeiras mais antigas acaba de ser encampada pelo governo federal: a privatização de aeroportos. Faz tudo isso temperado com ações sociais que envolvem artistas e personagens populares. Exemplo é o Natal do Bem, que arrecada alguns milhões para entidades sociais e cuja musiquinha revela bem o espírito político de seu tutor: “Eu sou ateu, eu sou judeu, eu sou cristão. Eu preciso da sua mão!”, diz a letra.
A seguir, a entrevista concedida na tarde da quarta-feira 30 por João Doria Jr. ao 247:

247_ O sr. vai ser o candidato dos ricos a prefeito de São Paulo?
João Doria Jr. – Não, da mesma maneira que um candidato pobre não será o candidato dos pobres, ou um candidato negro não será o candidato dos negros. Cada um será o candidato dos que o apoiarem, dos que votarem nele. Eu serei o candidato das pessoas que quiserem votar em mim. Isso se eu vier a ser candidato, é claro.
- Não teme, por ser rico, vir a ser atacado na campanha?
- Minha vida é limpa, não tenho nada a temer. Trabalho desde os 15 anos de idade. Eu sempre fui muito bem avaliado pela minha conduta. Posso, isso sim, ser um exemplo de vencedor. O que importa mesmo é que tenho conteúdo.
- Se eu lhe perguntar em que região da cidade de São Paulo fica a Vila Nhocuné, o sr. sabe dizer?
- Não vejo problema, neste momento, em não saber. Nem mesmo em não saber tudo sobre todos os detalhes dos problemas de São Paulo. O Brasil inteiro sabe que eu sou o aprendiz. E serei um aprendiz muito afiado para aprender tudo a respeito da cidade no mais breve tempo. Tenho clareza que os principais problemas a serem enfrentados são saúde, educação, transportes e segurança. Saberei enfrentá-los. Aonde eu não conhecer, deverei aprender.
-Será preciso ao sr.tomar um banho de povo?
- Não digo isso. É claro que tenho uma atividade que não permitiu, até aqui, estar presente em toda a cidade, olhando de perto o que acontece nos seus muitos bairros. Isso não estava no meu foco de atuação. Mas terei tempo para me preparar no sentido de entender os problemas e buscar a superação.
- Como?
- O que a população espera da eleição é encontrar o melhor gestor público para a cidade. Já tive cargos públicos, sou empresário, gerencio problemas. Me sinto capaz de ser esse homem. Tenho foco, concentração, capacidade. Sei que o poder público, sozinho, não pode tudo. Está provado que sem articulação na sociedade, não dá. Então, um grande programa de parcerias público-privadas pode ser uma ótima alternativa para São Paulo.
- Pode-se esperar, numa eventual gestão João Doria, uma onda de privatizações em São Paulo?
- Um grande programa de PPPs (Parcerias Público Privadas), sim. E estou dizendo parcerias, com fortes mecanismos de controle e fiscalização por parte do poder público. Porque todo e qualquer programa de parceria terá de ser monitorado muito de perto. Males como a corrupção e má administração não existem apenas no setor público, mas também na iniciativa privada. Existe muita má gestão nas empresas. Os problemas não estão apenas nas administrações públicas.
- O sr. poderá ser um candidato no campo de apoio do prefeito Gilberto Kassab ou de oposição a ele?
- Eu sou um pragmático. Como tal, olho para a frente. O que passou, passou. O interesse da população é a solução dos problemas da cidade. É nisso que vai estar o meu foco.
- Mas diante do governo Lula, o sr. foi um ferrenho opositor, líder do Cansei!
- Não poderia ser diferente. Naquele momento, tivemos a coragem de enfrentar um político com 70 por cento de popularidade, mas que comandava um governo apoiado no mensalão, que cooptava os parlamentares. Era o tempo do ‘não sei’, que nós respondemos com o ‘cansei do não sei’. Me sinto orgulhoso de ter liderado um movimento cívico que, naquele momento, reuniu muita gente indignada com o que ocorria.
- Como surgiu isso de o sr. ser colocado pelo governador Alckmin numa pesquisa sobre pré-candidatos tucanos?
- Ele me chamou para saber se eu autorizava a inclusão do meu nome. Eu disse que não via problema nenhum, ao contrário, que me sentia honrado de ter sido lembrado. Não articulei nada, não assoprei nada para ninguém, não sugeri, não agi, não fiz. Sou filiado ao PSDB desde 2001 e, dentro do prazo legal, passei pelo recadastramento de filiações, a pedido do presidente Julio Semeghini, para que não houvesse qualquer filigrana jurídica que colocasse sob suspeita essa minha situação de filiado. Fiquei, é claro, muito feliz com a lembrança do governador.
- O sr. não teme passar por cima dos outros pré-candidatos e do ex-governador José Serra?
- Não, de jeito nenhum. A pesquisa que está sendo feito é absolutamente democrática e deverá servir para monitorar o próprio partido. É mais um instrumento de consulta, absolutamente democrático. Sei que está sendo feito um campo bastante grande, sob a coordenação de um pesquisador muito respeitado por seus pares. Eu sou amigo pessoal do Andrea Matarazzo, que frequenta a minha casa e eu a dele. O Ricardo Trípoli foi o único parlamentar que esteve comigo em recente viagem de negócios à Itália, para você ter uma ideia do nosso bom relacionamento. Me dou igualmente muito bem com o José Anibal. E fui auxiliar do avô do Bruno Covas, por quem tenho o maior apreço. Não há diferenças pessoais entre nós. Também com o ex-governador José Serra, que é um ícone do PSDB, um político que, mesmo que não se coloque, está sempre incluído em todos os movimentos importantes do partido, tenho a melhor relação.
- O sr. faz alguma projeção para o seu desempenho na pesquisa?
- Não, nenhum. Nunca passei por uma experiência desse tipo, mas já está sendo muito interessante.
- E se o seu desempenho for ruim?
- Tudo bem, não faz mal. Eu não pedi para entrar. Não vou sofrer por isso, irei em frente.
- Como o sr. avalia as primeiras reações à possibilidade de vir a ser candidato a prefeito?
- Saiu uma notícia pequena sobre isso, mas foi o suficiente para minha caixa de e-mails ficar lotada, receber muitos telefonemas, todos muitos entusiasmantes. É animador.
- Se a sua candidatura for abraçada pelo partido, pelo que a gente vê das suas relações com grande empresários e empresas, por meio do LIDE, não deverão existir problemas de dinheiro para financiar sua campanha.
- Bom, é você que está dizendo isso, mas acho que você pode estar certo.

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