sábado, 3 de dezembro de 2011

A mulher que destruiu a vida de Marcos Valério




A mulher que destruiu a vida de Marcos ValérioFoto: LÚCIO TÁVORA/ AGÊNCIA ESTADO

ÀS VÉSPERAS DO JULGAMENTO DO MENSALÃO, SEU GRANDE OPERADOR ESTÁ PRESO. A RESPONSÁVEL POR TUDO ISSO SE CHAMA FERNANDA KARINA, SUA SECRETÁRIA QUE ENTREGOU O CAMINHO DAS PEDRAS

03 de Dezembro de 2011 às 07:07
Leonardo Attuch_247 – “Follow the money”, ensinam os norte-americanos. “Cherchez la femme!”, retrucam os franceses. Qual será a melhor forma de investigar um escândalo? Seguir o rastro do dinheiro ou procurar uma mulher que seja capaz de desvendar o mistério. Talvez os dois caminhos sejam necessários.
No caso de Marcos Valério de Souza, havia uma mulher no seu caminho. E ela se chamava Fernanda Karina. Era sua secretária. Sem FK, o escândalo do Mensalão teria sido abafado. E Roberto Jefferson, que denunciou o esquema, entraria para a história como um Alfredo Nascimento ou um Carlos Lupi da era Lula – aquele aliado indesejável que acaba sendo expelido da base de apoio do governo, a partir de denúncias colocadas na imprensa.
A revista Veja reivindica para si a paternidade do escândalo do Mensalão, com a reportagem sobre Maurício Marinho, o ex-funcionário dos Correios que recebeu uma propina filmada dentro da estatal. Mas quem conhece os meandros do jornalismo e do poder sabe bem que aquela foi uma reportagem a favor do Palácio do Planalto e não contra – como têm sido, aliás, várias das denúncias atuais de Veja contra ministros do governo Dilma. Ao PT de Lula, interessava expelir um aliado indesejável (Roberto Jefferson), como ao PT de Dilma também interessa expurgar nomes pesadões como Carlos Lupi. O que muitos chamam de “PIG”, ou imprensa golpista, nada mais é do que um departamento dos palácios interessados em fritar seus próprios auxiliares.
Feitiço contra o feiticeiro
No caso do Mensalão, no entanto, fez-se um erro de cálculo. Imaginava-se, no PT, que Roberto Jefferson não reagiria da forma como reagiu, concedendo duas entrevistas bombásticas à jornalista Renata Lo Prete, da Folha de S. Paulo. Na primeira, ele denunciou a existência do Mensalão. Na segunda, afirmou que o operador do esquema se chamava Marcos Valério de Souza.
Naquele momento, ainda era possível, para o PT, estancar a crise. Roberto Jefferson era tratado como um personagem sem credibilidade. Um denunciante sem provas. E Marcos Valério, embora detentor de fartas contas de publicidade do governo federal, era ainda um ilustre desconhecido.
O que mudou o curso dos acontecimentos foi a entrevista de Fernanda Karina, ex-secretária de Marcos Valério, à revista Istoé Dinheiro. Foi Fernanda quem revelou os vínculos entre Valério, o PT e os verdadeiros financiadores do Mensalão – os bancos mineiros Rural e BMG. A partir daquele momento, a crise ganhou impulso, a CPI foi instalada e o final da história será decidido pelo Supremo Tribunal Federal no início de 2012.
Repetição de 2005
Quais terão sido as razões de Fernanda Karina para denunciar seu ex-patrão?
Mistérios insondáveis, que geram crises políticas de onde menos se espera. E que revelam ainda que o feitiço, muitas vezes, também pode virar contra o feiticeiro.
O que se vê hoje, no Brasil, é uma repetição de 2005. Naquele momento, o PT, surfando na popularidade do ex-presidente Lula, acreditava que seria possível enquadrar e emparedar os aliados. Veio o Mensalão.
Hoje, Dilma Rousseff faz o mesmo com a sua base de apoio no Congresso. O que virá?

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