terça-feira, 3 de abril de 2012

Braço da Gtech e de Carlinhos Cachoeira manda em MG




Danilo serve ao contraventor desde 90 quando era presidente da Caixa Econômica Federal favorecendo a Gethec, conforme apurou CPI dos Bingos

Embora até agora apenas o senador Demóstenes Torres ( DEM) esteja no centro das atenções do escândalo que balança a República, o leque vai abrir-se, trazendo novas figuras que não são novas, apenas a impunidade reinante no País permite que estes criminosos continuem a agir impunimente.

Na verdade o atualmente famoso Carlinos Cachoeira iniciou sua carreira criminosa através de Danilo de Castro quando, na condição de presidente da Caixa Econômica Federal, entregou os jogos da caixa a Gtech. Afinal, quem é esta Gtech?

Trata-se de uma empresa de loteria acusada de corrupção em todo o mundo.

Texas, 1997. Antes de ser presidente dos Estados Unidos, George W. Bush governava o Estado.Sem explicações, ele suspende a licitação para explorar a loteria local e o contrato é entregue à Gtech, líder mundial no negócio de jogos eletrônicos. Mais tarde, descobre-se que o lobista da Gtech, Ben Barnes, havia sido responsável pela convocação de Bush, nos anos 60, para se alistar na Força Aérea Texana, o que o dispensou de ir ao Vietnã.

Pelos serviços prestados à Gtech, Barnes embolsou US$ 23 milhões. Rhode Island, 1998. O presidente e fundador da Gtech, Guy Snowden, renuncia. A Justiça prova que ele havia tentado subornar o bilionário britânico Richard Branson, dono da Virgin, para afastá-lo do mercado inglês de loterias – em 1992, Snowden já havia investido US$ 100 mil na empresa do filho de uma autoridade irlandesa, semanas antes de vencer um contrato em Brasília, entregue por Danilo de Castro. O que gerou diversos processos e condenações para Danilo.


Novamente em 2004, a Gtech está no centro de um novo terremoto. Em notas oficiais, a empresa admite que fez negócios com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e que seus executivos tiveram encontros com Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil, em 2003, durante o governo Lula. Depois disso, a Gtech conseguiu renovar por 25 meses, sem licitação, um contrato de quase R$ 1 bilhão com a Caixa Econômica Federal para processar o jogo em cada uma das 9,5 mil loterias brasileiras.

Essas três histórias revelam o perfil de uma empresa quase monopolista que há anos prospera no Brasil, agindo na sombra. Sediada no moderno edifício paulistano da Bolsa de Imóveis, conhecido como “Robocop”, a Gtech comporta-se como uma sociedade secreta. Seu telefone não consta do discreto website corporativo da companhia nem do serviço de informações da Telefônica. Seus assessores evitam revelar até o endereço da empresa. E, todas as vezes em que foi procurado, o presidente da filial da Gtech, Fernando Cardoso, disse estar em reunião.

Apesar de todo o mistério, o Brasil se transformou no maior mercado internacional da Gtech, que chegou ao País em 1993 pelas mãos de Danilo de Castro. Das receitas globais de US$ 1,5 bilhão, 15% vêm do Brasil. Com ações negociadas na Bolsa de Nova York, a multinacional, criada por três ex-executivos da IBM, tem um valor próximo a US$ 3,5 bilhões.


E, além da Caixa, os principais contratos no País envolvem loterias estaduais, como as de Minas Gerais e Santa Catarina. São raros os casos em que não há algum tipo de confusão. Em Minas, uma dívida de R$ 29 milhões foi perdoada no governo Itamar Franco.

“É impressionante a desenvoltura com que a Gtech se expandiu no Brasil”, espanta-se o procurador Rodrigo Albuquerque, da Promotoria de Combate ao Crime Organizado. “Vamos fazer uma devassa em todos os atos e contratos da empresa.”

Depois do escândalo Waldomiro, a Gtech não teve como escapar a um pente fino federal. O contrato renovado com a Caixa foi investigado pelo Ministério Público, pelo Tribunal de Contas e pela Controladoria Geral da União. Os procuradores suspeitaram das relações de Waldomiro com o diretor de loterias da Caixa, Paulo Campos. Ambos já haviam trabalhado juntos no governo petista de Cristovam Buarque, em Brasília.

No TCU, uma auditoria concluída em 2003 já havia apontado indícios de superfaturamento de R$ 90 milhões num contrato fechado com a Caixa em 1997, com Danilo de Castro. No seu histórico, a multinacional americana já se envolveu em muitas outras encrencas, como compras de juízes no Texas e na Califórnia. Em razão disso, seu diretor de vendas, David Smith, chegou a ser condenado pela Justiça americana.

Posteriormente, a empresa trocou seus executivos, contratou ex-investigadores do FBI para Conselho e hoje jura seguir um código interno de conduta, que inibe qualquer prática de corrupção. No entanto, depois do escândalo Waldomiro/Cachoeira, a Gtech e sua ética, mais uma vez, estão em xeque. Como em um filme de pornochanchada, na época do escandâlo apurado pela CPI dos Bingos, avisava o senador Demóstenes Torres: (PFL-GO).“Teremos de fazer uma CPI só para investigar a Gtech”.


Nas últimas semanas, a revelação das conexões do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos, empresários e policiais estremeceu a capital federal. O arsenal de informações contidas no inquérito da Operação Monte Carlo foi tão devastador que conseguiu silenciar uma das principais vozes da oposição, o senador Demóstenes Torres (DEM/GO). O parlamentar, porém, pode não ser o único a cair em desgraça sob a acusação de manter ligações perigosas com o contraventor.

Para tentar entender por que Cachoeira atemoriza tanta gente, mesmo isolado numa pequena cela do presídio federal de Mossoró, Rio Grande do Norte, segundo “ISTOÉ” que ouviu pessoas ligadas a ele. Os relatos dão conta de um esquema milionário que abasteceu o caixa 2 de diferentes partidos. Os pagamentos eram acertados pelo próprio Cachoeira com os arrecadadores de campanha. E o que mais provoca temor em seus interlocutores e comparsas: a maioria dessas negociatas foi devidamente registrada pelo empresário da jogatina.

Em pouco mais de uma década, o bicheiro acumulou um vasto e explosivo acervo de áudio e vídeo capaz de comprometer muita gente graúda. Na operação de busca e apreensão na casa de Cachoeira no início do mês, a PF encontrou dentro de um cofre cinco CDs avulsos. No entanto, outra parte do material – ainda mais explosivo – estava escondida em outro lugar, uma chácara em Anápolis (GO). O local sempre serviu como espécie de quartel-general para reuniões do clã Cachoeira, além de esconderijo perfeito para seu acervo de gravações.


Conforme apurou “ISTOÉ”, nos vídeos que ainda estão em poder de Cachoeira não constam apenas reuniões políticas ou pagamentos de propina. Lá há registros de festinhas patrocinadas por ele com a presença de empresários e políticos. Uma artilharia capaz de constranger o mais desinibido dos parlamentares. Flagrado em conversas nada republicanas com o contraventor, o senador Demóstenes Torres deixou a liderança do DEM no Senado e deverá ser expulso do partido. Constrangido, avalia renunciar ao mandato.

Depois do escândalo de 2004, ele foi para a Argentina, de onde passou a operar. No Brasil, quem gerenciava o jogo para o bicheiro, num esquema que movimentou R$ 170 milhões em seis anos, era seu braço direito Lenine Araújo de Souza. Cachoeira também contratou arapongas bastante conhecidos em Brasília, como Jairo Martins, o sargento Dadá e o ex-delegado Onésimo de Souza. Consta do inquérito da PF que pelo menos 43 agentes públicos serviam a Cachoeira.“Quem detém informação tem o poder”, dizia o bicheiro.

Antes de ser preso, ele recebia mensalmente gravações e um relatório dos monitoramentos dos alvos dava novas diretrizes de ação, inclusive a elaboração de perfis de autoridades de interesse. Boa parte disso está guardada em seu QG, a chácara em Anápolis. Este mês, dois novos vídeos circularam na imprensa. Neles, o bicheiro conversa com o deputado federal Rubens Otoni (PT- GO) sobre pagamentos para a campanha do petista.


Até agora, Otoni não se explicou. A divulgação da conversa com Otoni, porém, foi uma pequena amostra do poder do bicheiro. Apenas um dos vários recados que ele enviou a Brasília desde que foi preso em fevereiro. Pessoas próximas a Cachoeira dizem que ele ainda tem muita munição. As mensagens foram captadas pela cúpula petista, que acionou o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. Ele reuniu-se com a mulher de Cachoeira, Andressa, no último dia 21, e pediu que convencesse o marido a se controlar, com a promessa de que conseguiria retirá-lo da cadeia em breve. Andressa voou para Mossoró e deu o recado de Thomaz Bastos ao bicheiro. Desde então, ele silenciou à espera do habeas corpus.

Ao mesmo tempo, porém, Carlinhos Cachoeira mandou espalhar que possui gravações contra políticos de um amplo espectro partidário. É o caso, por exemplo, dos integrantes da chamada bancada do jogo que defendia a regularização dos bingos no País. Além do deputado goiano Jovair Arantes (PTB), arrolado no inquérito da Operação Monte Carlo, mantinham contatos freqüentes com Cachoeira os deputados Cândido Vaccarezza (PT-SP), Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Lincoln Portela (PR-MG), Sandro Mabel (PR-GO), João Campos (PSDB-GO) e Darcísio Perondi (PMDB-RS). Todos têm mantido silêncio absoluto sobre a prisão de Cachoeira.

A lei do silêncio foi seguida também pelo senador Demóstenes, que, além de presentes, teria recebido pelo menos R$ 1 milhão do esquema do bicheiro. Para investigar essas e outras, Demóstenes teve seu sigilo bancário quebrado pelo STF na quinta-feira (29). Outro que em breve terá de se explicar é o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo.

Segundo o inquérito da PF, Cachoeira indicava pessoas para cargos de confiança no governo Perillo. A PF suspeita ainda que o dinheiro repassado por Cachoeira às campanhas de vários políticos viria não só da contravenção, mas de contratos entregues a empreiteiras para quem o bicheiro serviu de intermediário.

A participação de Danilo de Castro a serviço da Gtech e em diversas outras contravenções já foi amplamente noticiada por Novojornal, através da matéria “MPF estoura esquema de apostas da “Gangue dos Castros”. Diante de novos fatos, o Governo de Minas não poderá mostrar-se surpreso com o envolvimento de seu secretário, porque, mesmo após a aprovação da Lei da Ficha Limpa e diante da comprovada participação e condenação de Danilo de Castro, insiste em manté-lo no cargo mesmo ciente de seu envolvimento em todo tipo de crime. O motivo? Novojornal já perguntou várias vezes e jamais obteve respostas. As versões são várias.

http://www.novojornal.com/politica/noticia/braco-da-gtech-e-de-carlinhos-cachoeira-manda-em-mg-03-04-2012.html






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