sábado, 21 de abril de 2012

O último vôo de Cabral na “asa Delta”



Charge de Aroeira (Reprodução do jornal O Dia)
Charge de Aroeira (Reprodução do jornal O Dia)


Existe um pressuposto entre a maioria dos empresários donos de veículos de comunicação de que interesses comerciais podem interferir na linha editorial do seu jornalismo, mas só até certo ponto. É claro, que as ofertas de milhões seduzem, e como no caso das Organizações Globo, os irmãos Marinho aceitaram comprometer parte da credibilidade do seu produto que é a notícia, com certeza além do que o Doutor Roberto permitiria.

Nem Lula, que foi o presidente que mais despejou dinheiro em publicidade conseguiu uma blindagem tão eficaz e prolongada como Cabral. Num momento, em 2007, em que a internet começava a fazer os primeiros estragos na vendagem de jornais e revistas, assim como na audiência do rádio e da televisão, e que ainda por cima, a Globo enfrentava a concorrência determinada da Record, Cabral chegou ao governo. Ofereceu mundos e fundos aos reis da mídia, muito mais do que qualquer outro governante estadual de todo o Brasil jamais fez. Isso soou como música para a família Marinho, que juntando a esse fato, todos sabem que nutre por mim um ódio mortal antigo. O binômio não poderia ser mais atraente para as Organizações Globo: muito dinheiro entrando no cofre e ao mesmo tempo a oportunidade de destruir o Garotinho, um dos objetivos prioritários de Cabral.

Existem momentos na história em que os fatos atropelam os planos dos poderosos, fogem ao controle dos que governam e são tão devastadores que rompem a blindagem da mídia. É o que aconteceu com o Mensalão e agora se repete com o caso Cachoeira – Demóstenes – Delta. Com o agravante de que pela primeira vez, representantes da imprensa estão sendo colocados em cheque e pairando sobre eles dúvidas sobre envolvimentos nada éticos nessa teia de interesses sujos.

A imprensa está atordoada com tudo que está vindo à tona e com as especulações do que ainda será revelado. Ninguém quer correr o risco da desmoralização em praça pública. Uma coisa é o segmento esclarecido da sociedade, dizer que o jornal A ou a televisão B estão protegendo Cabral ou outro qualquer. Outra coisa é surgirem fatos na CPI tão explosivos e gritantes que os grandes veículos não possam explicar por que os esconderam ou abafaram durante todo este tempo.

Estamos num momento de tensão política, de insegurança para muitos (os que devem alguma coisa) e de incerteza geral sobre o que vai acontecer na CPI. Assim como Cabral, conforme mostrei ontem aqui no blog, já colocou em ação uma estratégia jurídica preventiva, a mídia também assume uma postura diferente. Não dá mais pra esconder o envolvimento de Cabral com o mar de lama da Delta. Os jornalistas bem informados sabem que por mais que tentem proteger Cabral na CPI, não há mais como salvá-lo. Não vão se deixar arrastar por ele para o fundo do mar de lama. Precisam convencer a população de que não têm envolvimento nesse escândalo de corrupção, ainda que de forma indireta. Precisam salvar a própria imagem. Agora chegou a hora em que os milhões de Cabral não podem mais manter a blindagem.

Não sou ingênuo de achar que agora vão atacar Cabral de forma implacável. Ainda não chegou essa hora. Vão esperar para ver a evolução da CPI. Mas é visível que a blindagem foi rompida, ou para entrar no clima da charge de Aroeira, a “asa delta” de Cabral está pegando fogo e despencando em queda livre. Daqui pra frente Cabral terá outro tratamento na imprensa podem apostar.

Cabral escapou de um trágico acidente de helicóptero na Bahia, ele e seu amigo, pelo menos era até dias atrás, Fernando Cavendish, da Delta. Mas o vôo duplo de “asa delta” de Cabral e Cavendish vai terminar com ambos estatelados no chão, na lama que está descendo da cachoeira. É só uma questão de tempo. 

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