quinta-feira, 3 de maio de 2012

Sugestão “çábia” e silêncio sobre associação da mídia com Cachoeira



Por Alceu Nader
Antes de ler seu relatório preliminar no Conselho de Ética do Senado contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), por quebra de decoro parlamentar,na manhã desta quinta-feira, o senador Humberto Costa chamou a atenção para “sábios” da mídia que, durante o final de semana, o chamaram de “ingênuo”. A adjetivação deveu-se à convicção do senador de não incluir nenhum dos vazamentos que têm inundado à imprensa, desde o começo de março, com farta exposição de documentos das operações Vegas e Monte Carlo que se encontram sob segredo de Justiça da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Se seguisse o conselho de conhecido colunista que escreve diariamente sobre as atividades do Congresso do Rio de Janeiro, Demóstenes Torres seria o grande beneficiário. Sua defesa alegaria que o senador Humberto Costa fundamentou seu relatório a partir de documentos ilegais – e pediria a anulação do processo.
A sugestão do conhecido colunista sustentou-se em defesa da revista Veja (e da empresa que a publica), que foi flagrada, em associação com a quadrilha de Carlos Cachoeira nas escutas autorizadas, para fabricar denúncias que, em vários casos, reverteram em ganho para a organização criminosa de Cachoeira, na forma de instrumento de pressão para influenciar decisões de governo e perturbação da ordem pública.
Tal comportamento tem um nome: corporativismo. Para a criação de um círculo de proteção contra empresas que caem na ilegalidade, a CPMI será rebaixada ao ponto de ser classificada como “ameaça à democracia”, como o mesmo conhecido colunista do conselho estapafúrdio escreve hoje em sua coluna. Esse script não é novo. Nas eleições presidenciais de 2010, jornalistas da mesma revista semanal e o mesmo conhecido colunista foram ao Clube Militar discursar sobre ameaça à liberdade de imprensa – falaram sobre ameaça à liberdade de expressão justamente para os responsáveis pelo período mais sombrio de censura da história do Brasil.
A tela do computador é branca, assim como as folhas de papel do tempo em que textos jornalísticos eram produzidos em máquinas datilográficas, e aceita qualquer coisa – inclusive bobagens, como a sugestão do colunista feita ao senador do PT. Absurdos como esse tendem a se reproduzir a partir de agora mais fortemente na CPMI que investiga as ligações com órgãos públicos e privados da organização criminosa de Carlos Cachoeira. Ao mesmo tempo em que irão se repetir à exaustão afirmações como a que o governo pretende blindar os trabalhos da CPMI, ou que as investigações privilegiarão suspeitos dos partidos da oposição, entre outros, nada ou muito pouco se lerá sobre a responsabilidade dos jornalistas e das empresas de comunicação que se associam a organizações criminosas.

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