terça-feira, 7 de dezembro de 2010

As angústias de 2009 – bastidores da campanha de Dilma, parte 2

As angústias de 2009 – bastidores da campanha de Dilma, parte 2
Por Renato Rovai

Segue um quase-box das duas grandes matérias que estão na edição que está nas bancas da Revista Fórum. A primeira está aí embaixo, nela tratei da construção da candidatura de Dilma desde que ela saiu do ministério das Minas e Energia e foi para a Casa Civil. A segunda publicarei amanhã, onde em 10 pontos, contarei a história da campanha propriamente dita. Desde os primeiros passos, até a reta final com o destaque para importância da militância.



Nesta que segue, destaco o ano de 2009, quando a candidatura enfrentou dois grandes desafios, a descoberta do linfoma de Dilma e a crise financeira internacional.



O ideal é que se leia essa série na sequência, começando pelo post anterior.







As angústias de 2009



O ano de 2009 não foi nada simples nem para a candidata, nem para o estafe que já trabalhava na organização da sua pré-campanha. Desde o começo daquele ano, o jornalista Oswaldo Buarim estava com ela na Casa Civil, com a preocupação de torná-la mais conhecida e melhorar seu relacionamento com a mídia. Além dele, contratado pelo PT, o marqueteiro João Santana já fazia pesquisas qualitativas e gravava imagens de arquivos. Pelo governo, fundamentalmente Franklin Martins, Gilberto Carvalho e Marco Aurélio Garcia, além de Clara Ant, preparavam o terreno da candidata tanto do ponto de vista dos debates programáticos, que fariam parte da agenda de 2010, como de questões que precisavam de respostas no dia a dia. Quem conduzia as negociações políticas era o presidente do PT, Ricardo Berzoini.



A avaliação era que 2009 não seria um ano fácil, principalmente porque a crise financeira, que havia estourado em setembro de 2008, prometia derrubar todas as projeções de crescimento para aquele ano. Havia quem falasse em perda de até cinco pontos no PIB. Lula falava em marolinha e a oposição, em tsunami.



Para não deixar a crise sufocar o país, o governo programou uma série de medidas anticíclicas. Em 25 de março, foi lançado o Minha Casa, Minha Vida, que projetava a construção de 1 milhão de casas para famílias de baixa renda. Ao mesmo tempo, a área econômica concedia isenção de IPI a automóveis e produtos da linha branca, e o governo ainda trabalhava para lançar o marco regulatório para exploração do pré-sal, que acabou acontecendo no final de agosto.



A doença



Mas em abril, Dilma foi surpreendida com a descoberta de um linfoma, que precisaria ser tratado com urgência para não evoluir. A ministra viveu dias de angústia até decidir, na manhã de 25 de abril, anunciar que fazia tratamento por quimioterapia. Na decisão, foi importantíssima a ação do secretário de Comunicação Social do governo, Franklin Martins. Foi ele quem a convenceu que o melhor caminho era abrir o jogo com a imprensa e com a população. O drama de Dilma, por um desses caminhos tortos, acabou tornando-a ainda mais conhecida do grande público, principalmente porque o caso foi tratado à exaustão pela mídia comercial. Em geral, de maneira correta. Mas, em alguns casos, com um viés que buscava comprometer a sua candidatura, como visto na edição 2.011 da revista Veja, que acusa o governo de tentar “transformar um assunto grave e delicado” em “trunfo para a campanha presidencial”.



Enquanto a notícia do câncer de Dilma ainda era absorvida, em 14 de maio, numa manobra com lances cinematográficos, os senadores da oposição não viajaram na quinta à noite para as suas bases, como sempre fazem os parlamentares, e na sexta pela manhã criaram a CPI da Petrobras, em um plenário esvaziado, pegando os governistas de surpresa. O senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) foi o responsável pela leitura, em plenário, do requerimento para a instalação e a criação da comissão. O governo foi hábil e controlou a comissão. E a Petrobras também foi rápida e criativa, lançando um blogue, onde respondia, simultaneamente à publicação das matérias na imprensa comercial, todas as perguntas que lhe eram encaminhadas. A iniciativa desarmou a oposição, que aos poucos abandonou os trabalhos.



Entretanto, em 9 de agosto, a ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira, em entrevista à Folha de S. Paulo, afirmou que a ministra havia sugerido que fosse concluída rapidamente a investigação das empresas da família Sarney, pelo órgão que ela comandava. “Falamos sobre amenidades e, então, ela me perguntou se eu podia agilizar a fiscalização do filho do Sarney”, disse Lina ao jornal. Parte da imprensa transformou o episódio em tráfico de influência e colocou várias cascas de banana no caminho da ministra, para que o fato se transformasse em algo similar ao que a crise do caseiro Francenildo foi para Antônio Palloci.



A última pedrada com que a campanha de Dilma teve que lidar, ainda em 2009, foi a aprovação do PNDH3, proposto pelo Ministério dos Direitos Humanos em dezembro. Num primeiro momento, como o plano passou formalmente pela Casa Civil, ele foi atribuído à ministra. A verdade é que o governo se assustou com a repercussão do PNDH3, e a campanha petista anotou que ele tinha potencial para danos políticos futuros, como acabou ocorrendo.



Contudo, o fim do ano reservou boas notícias. Dilma liderou a comitiva brasileira na Conferência do Clima em Copenhague e, mesmo disputando o noticiário com Serra e Marina, que também foram ao encontro, conseguiu aproveitar o evento para aparecer como liderança, tanto do ponto vista interno como externo. A crise parecia debelada e, mesmo sem ter crescido naquele ano, a projeção era de uma recuperação forte em 2010.



Mas o fato mais importante daquele final de 2009 ocorreu em 10 dezembro, quando foi ao ar um programa de 10 minutos do PT, no qual estavam todos os ingredientes que seriam utilizados por João Santana na campanha deste ano, principalmente no segundo turno. A famosa peça da escada, por exemplo, onde se compara o governo FHC e Lula e se fala em coisa de pobre e coisa de rico, fazia parte da peça. Como também a do jogo de baralho, em que um negro vai virando as cartas, citando programas do governo, e diz que Lula inverteu o jogo. Com aquele programa, Dilma chegou ao final do ano com as pesquisas lhe atribuindo 20%.



Àquela altura, os que trabalhavam pensando no cenário de 2010 avaliavam que, mesmo sendo um ano duríssimo, tinha sido superado com bons resultados. Para 2010, sabia-se que a economia voltaria a crescer e que a candidata já estaria livre da peruca, que tinha lhe acompanhado o ano todo, dando-lhe um ar fake.



Para 2010, em uma reunião de avaliação, o estafe da campanha havia chegado à conclusão que tinham tudo a favor: previsão de grande crescimento econômico, otimismo da população com o país, a agenda de futuro (Olimpíadas e Copa) e ainda contavam com um “Pelé” ao lado, no caso, Lula e sua popularidade próxima a 80%. Por isso, tudo indicava uma campanha ainda mais dura que o normal, porque

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