terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Bastidores da campanha de Dilma – parte 1

Por Renato Rovai.
Bastidores da campanha de Dilma – parte 1


Escrevi para a Fórum de novembro, que ainda está nas bancas, uma matéria de 47 mil toques sobre a campanha que levou Dilma à presidência da República. Ela tem muitos bastidores que fui juntando durante o processo eleitoral e, como diz meu amigo Idelber Avelar, modéstia às favas, acho que vale a pena ser lida. Por isso vou publicá-la em três (grandes) partes de hoje até domingo. Segue a primeira matéria.



Dilma, antes de ser a candidata



Ela foi uma das últimas escolhidas de Lula para compor seu primeiro ministério e acabou se tornando a sua preferida para a missão mais importante, sucedê-lo. Mas durante um bom tempo, seu principal desafio foi o de convencer o PT de que estava preparada para a missão





Por Renato Rovai



Em 21 de junho de 2005, Dilma Rousseff foi ao Ministério das Minas e Energia para acertar os últimos detalhes com secretários, assessores e principalmente com o presidente da Empresa Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim – escolhido para ocupar interinamente a função de ministro até que o presidente Lula fizesse os últimos arranjos para garantir a governabilidade em um momento tão difícil. A posse de Dilma na Casa Civil estava marcada para as 16 horas. Ela assumiria o cargo em substituição a José Dirceu, histórica liderança petista afastada do cargo em meio à crise do mensalão.



Dilma foi escolhida pelo presidente para a função porque Lula decidira que precisava de alguém que não deixasse o governo parado enquanto a crise política prosseguia. Um gerente, não um articulador, no cargo. A coordenação política do governo e o enfrentamento da crise seriam realizados diretamente por ele, com a contribuição de Jaques Wagner, então ministro das Relações Institucionais, e Márcio Thomas Bastos, à época ministro da Justiça. À Dilma, estava reservado o papel de fazer o governo andar.



Lula foi conversar com os partidos para construir uma base política sólida no Congresso. Naquele momento, o PMDB tinha apenas dois ministérios e o PP estava fora do primeiro escalão, sendo que ocupava a presidência da Câmara com o deputado Severino Cavalcanti. Enquanto empossava Dilma, o presidente já negociava o Ministério das Cidades com o PP e a ampliação da cota do PMDB para quatro ministérios. O das Minas e Energia era um dos que entrara na negociação. No dia 6 de julho, Silas Rondeau deixava a presidência da Eletrobrás e assumia a pasta. O acordo estava selado, e o governo constituía uma maioria estreita no Congresso.



Dilma passava a fazer parte do círculo mais próximo do presidente Lula, na ocasião mais difícil do seu primeiro mandato. E desempenhou, naquele período de pouco mais de um ano antes da reeleição, um papel fundamental para que o governo tivesse uma lista de realizações, que permitisse ao presidente buscar a reeleição com chances reais de vitória.



No início de 2007, com Lula reeleito, vários nomes começaram a ser cogitados para disputar a sucessão pelo PT. Entre eles, Tarso Genro, Marta Suplicy, Fernando Haddad, Patrus Ananias e até mesmo Antônio Palocci, que havia caído no episódio do caseiro Francenildo. Havia gente que defendia, porém, que o partido não teria condições de construir uma alternativa viável para vencer a eleição e que deveria abrir mão da cabeça de chapa para fazer um acordo com Ciro Gomes (PSB). Várias lideranças importantes do petismo consideravam essa hipótese como bastante razoável, em conversas de bastidores. De vez em quando, o nome de Dilma era citado como mais um dos prováveis na bolsa de apostas. E quem sempre incluía a ministra entre os nomes fortes era o ex-deputado José Dirceu, que costumava dizer nas conversas sobre o tema: “prestem atenção na Dilma”.



O curioso é que ela entrava nas listas de apostas como opção porque possuía um perfil gerencial, já que no PT se imaginava que a disputa teria esse contorno se, do outro lado, estivesse José Serra, que acabara de vencer a eleição para o governo de São Paulo. Além disso, Dilma tinha um passado totalmente livre de denúncias e havia sido designada para comandar o principal programa do segundo mandato, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).



Mas seu nome era desdenhado por muitos. Os que não viam possibilidades de ela concorrer diziam, entre outras coisas que “não era conhecida”, “não tinha experiência com campanhas eleitorais”, “era dura demais”, “faltava-lhe tato político” e “criava muitas áreas de conflito”. Nesse período, não foram incomuns histórias de ministros que eram duramente cobrados por Dilma. Quando essas histórias se tornaram públicas, a ministra soltou uma frase irônica e que dialogou com a crítica: “Não sou criticada porque sou dura, mas porque sou mulher. Sou uma mulher dura, cercada por ministros meigos”, brincou. Mas, de repente, esse seu comportamento, mais ríspido e fechado, passou a ser encarado de outra forma por alguns personagens do primeiro escalão. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, considerado um dos mais próximos de Dilma, passou a desarmá-la usando a frase: “Dilminha, não fala assim que eu gamo.” A maneira brincalhona, desenvolvida por ele para lidar com o temperamento da ministra, teria ajudado não só outros ministros e executivos do governo a se relacionar com a “gerentona do PAC” como também fez com que ela passasse a ser mais delicada no trato com seus parceiros de governo.



Contudo, para Lula, isso não era um problema. Tanto que, em agosto de 2007, o jornal espanhol El Pais já especulava sobre o nome de Dilma para a sucessão de Lula. Assinada pelo correspondente do jornal Juan Arias, a reportagem fazia a seguinte análise: “Lula, ao convertê-la em ministra da Casa Civil, em seu braço direito e ao também ter encomendado a ela seu grande projeto econômico, o PAC, catapultou-a a ser a candidata natural à sua sucessão, visto que sua agremiação, o Partido dos Trabalhadores (PT), após a crise de 2005, não tem neste momento um candidato capaz de recolher a herança de popularidade de Lula.”



O cala-boca em Agripino e as eleições municipais







Em dezembro de 2007, realizou-se o 3º Processo de Eleições Diretas do PT (PED). E mesmo com a discreta participação de Dilma nas questões do partido, aquele debate se tornou fundamental para que a sua candidatura seguisse adiante. No primeiro turno daquele PED, realizado no dia 2, o deputado federal Ricardo Berzoini teve 129.191 votos (43,75%). Jilmar Tatto, 60.578, (20,51%), José Eduardo Cardozo, 55.891 (18,93%) e Valter Pomar, 33.755, (11,43%). Berzoini e Tatto foram para o segundo turno, que se deu no dia 16. Berzoini venceu.



Entre outros pontos, aquele PED construiu uma nova maioria no PT. Isso porque em vez de o grupo majoritário oferecer a vaga na Secretaria-Geral para o segundo colocado no pleito, Jilmar Tatto, o cargo foi negociado com o grupo de José Eduardo Cardozo, que viria a se tornar um dos coordenadores da campanha de Dilma. Também foi naquele pleito que foi abortado um movimento, externo e interno, que considerava a possibilidade de o candidato ser de outro partido da base. Pouco lembrado, esse episódio foi extremamente importante para a sucessão.



No primeiro semestre de 2008, pelas movimentações de Lula, formou-se a convicção de que Dilma era a sua escolhida para a sucessão presidencial. Nos bastidores petistas, o que se dizia é que o presidente bateu o martelo a favor dela quando começou a andar com Dilma pelas obras do PAC e viu as pessoas dizendo que queriam tirar fotos com “a mulher do Lula”.



O ano de 2008, porém, não começou bem para o governo. Em janeiro, eclodiu o escândalo dos cartões corporativos, que causou a demissão da ministra de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, e levou o ministro dos Esportes, Orlando Silva, a ter de enfrentar um processo absurdo por conta da compra de uma tapioca. A oposição entrou com um pedido de CPI e, no fim de março de 2008, já em clima de prévia das eleições municipais, uma reportagem publicada pela revista Veja acusava o Palácio do Planalto de montar um dossiê, que detalhava gastos da família de FHC quando este ocupara a presidência da República. A reportagem afirmava que os documentos estariam sendo usados para intimidar a oposição na CPI dos Cartões Corporativos.



Na sequência, em 28 de março, a Folha de S. Paulo publicou uma reportagem indicando que a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, teria dado a ordem para a organização do dossiê. Em 4 de abril, Dilma reconheceu que havia um banco de dados com aquelas informações, mas descartou que se tratasse de um dossiê. Evidente que aquilo não foi suficiente para acalmar a oposição. E a ministra foi convocada, em 7 de maio, para audiência na Comissão de Infra-Estrutura do Senado Federal, onde ficou à disposição dos senadores para tratar do assunto do suposto dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Naquele dia, Dilma mostrou que tinha estatura para ser a candidata do PT à sucessão de Lula. Ela foi ao Senado para ser abatida e saiu fortalecida.



O senador José Agripino Maia (DEM/RN) leu o seguinte trecho de uma entrevista que ministra deu à Folha de S. Paulo em 2003, e que só foi publicada em 2005:



Folha – Que lembranças a sra. guardou dos tempos de cadeia?



Dilma Rousseff – A prisão é uma coisa em que a gente se encontra com os limites da gente. É isso que às vezes é muito duro. Nos depoimentos, a gente mentia feito doido. Mentia muito, mas muito.



Após ler este trecho, Agripino sugeriu que se a ministra mentia muito durante a ditadura, também poderia estar mentindo sobre o vazamento de dados. A resposta de Dilma foi demolidora:



“Eu fui barbaramente torturada, senador. Qualquer pessoa que ousar falar a verdade para os torturadores, entrega os seus iguais. Eu me orgulho de ter mentido na tortura, senador. Porque mentir na tortura não é fácil. Salvei companheiros da tortura e da morte. Uma ditadura policiada é a impossibilidade de se dizer a verdade em qualquer circunstância. Não é possível supor que se dialogue no choque elétrico, no pau-de-arara. Na tortura, quem tem coragem e dignidade fala mentira. Isso integra a minha biografia, que eu tenho imenso orgulho.” E ainda acrescentou: “Qualquer comparação entre a ditadura militar e a democracia brasileira só pode partir de quem não dá valor à democracia. E eu acredito, senador, que nós estávamos em momentos diferentes da nossa vida em 70.”



Todos os veículos de comunicação reverberaram o “cala-boca” no líder do DEM, considerado por muitos como um dos senadores mais articulados do plenário. O escândalo do dossiê submergiu porque a forma firme e segura como Dilma reagiu à provocação de Agripino fez com que até senadores de oposição ficassem incomodados. Arthur Virgilio (PSDB/AM) levantou e saiu da sala depois daquele diálogo. Dilma começava a mostrar que era boa marinheira em águas turbulentas. E que, nos momentos difíceis, crescia, o que já havia ocorrido no episódio da crise do mensalão. As eleições municipais de 2008, mais do que um teste sobre a popularidade do governo, foram fundamentais para a construção de alianças regionais que apontassem para uma grande aliança capaz de eleger Dilma em 2010. Naquele momento, no PT, não se falava em outra candidatura. Dilma não era só a candidata de Lula, mas se tornara o nome do partido. Foi também na eleição municipal de 2008 que Lula começou a articular para neutralizar Aécio, sabendo da importância que Minas Gerais teria no resultado eleitoral de 2010. Na ocasião, Lula já estava convicto que o candidato do PSDB seria José Serra.



Há quem considere que, por esse motivo, ele deixou que se fizessem as articulações por Fernando Pimentel na disputa de Belo Horizonte. À época, em conversas reservadas, o prefeito alegava que, ao patrocinar uma candidatura conjunta com Aécio na capital mineira – a de Márcio Lacerda (PSB) –, plantava uma aproximação com o tucano, que seria benéfica ao partido em 2010. Nos cálculos de Pimentel, Aécio o apoiaria para o governo do estado e poderia inclusive ir buscar abrigo num partido aliado, como o PSB, se o clima entre ele e Serra atingisse níveis de tensão muito altos.



A direção nacional do PT era refratária à tese. E foram muitas as reuniões de dirigentes nacionais tentando demover Pimentel de seguir aquele caminho. Lula, porém, não fez movimentos que desautorizassem o prefeito. Isso permitia ao prefeito de Belo Horizonte dizer que tinha a compreensão de Lula e de outros ministros, incluindo Dilma, para as suas articulações.



A consolidação de Serra



Encerrada as eleições municipais de 2008, a mídia, principalmente a paulista, não teve dúvida em apontar o grande vencedor: José Serra. E praticamente lançou a sua candidatura à presidência. O primeiro parágrafo de um artigo assinado por Elio Gaspari, logo após o segundo turno, ilustra o tom das análises:



“A TENACIDADE (assim mesmo, a palavra toda em letras maiúsculas) e o sangue-frio de José Serra fizeram dele o maior vencedor da eleição de domingo. Aliou-se ao PMDB, elegeu seu poste, derrotou os adversários internos e, num lance de sorte cronológica, habilitou-se para uma liderança política qualificada para tratar com os efeitos da crise internacional sobre a economia brasileira.”



Lula contra-atacou e anunciou, pela primeira vez em público, que Dilma era a sua candidata. Ao contrário do que se costuma dizer, naquele momento, o PT já tinha absorvido o seu nome. O que havia, e isso perdurou até a primeira parte da campanha, era uma grande dúvida se ela seria capaz de empolgar a militância. Dúvida que, em muitos casos, beirava o ceticismo. Os discursos de Dilma eram considerados exageradamente técnicos, cansativos e sem emoção pela quase totalidade dos dirigentes petistas.



O primeiro “teste de fogo” público de Dilma com a militância aconteceu no Fórum Social de Belém, em janeiro de 2009. Ela foi convidada a falar num seminário organizado pela Secretaria de Mulheres do PT, na tenda de Cuba. A intenção era debater a participação feminina nos espaços do poder. Mais de duas mil pessoas esperavam a ministra naquela tarde de um sol escaldante. Um dia antes, num encontro com cerca de cem integrantes do Conselho Internacional do Fórum, ao comentar a proposta dos organizadores de realizar o próximo evento, em 2011, no exterior, Lula disse que “se for ainda em 2010 vou participar como presidente. Agora, se for em 2011, já vai ser a Dilma”. Não havia mais mistério algum sobre quem seria a candidata do presidente.



Foi nesse clima que a ministra chegou ao evento, ladeada pela governadora do estado, Ana Júlia Carepa. A governadora estava, então, com a popularidade em baixa (e não se recuperou, tanto que foi derrotada pelo tucano Simão Jatene, em outubro último) e, mesmo assim, ao falar, ofuscou o discurso de Dilma.



A fala da ministra da Casa Civil foi longa, enfadonha, técnica e sem empolgação, o que deixou muitos dirigentes petistas e militantes do Fórum ressabiados. Algumas pessoas começaram a achar que talvez fosse o caso de se criar um plano B para a hipótese de Dilma não vir a empolgar. E seus índices nas pesquisas ainda estavam na casa de um dígito. De qualquer maneira, mesmo sem brilhar, ao terminar o discurso, Dilma foi cercada pelos militantes de base que queriam cumprimentá-la, tirar fotos e pedir para que ela assinasse suas camisas. Dilma ficou uma meia hora atendendo o público. Havia algo difícil de explicar, porque aquele fenômeno não era comum. Outras lideranças haviam passado pelo mesmo espaço, produzido discursos muito mais animados, e não tinham sido tão assediados quanto ela. Parecia que o fato de seu discurso ser mais ou menos empolgante não era assim tão significativo para uma boa parte da militância. O que importava é que Lula a tinha escolhido para ser sua sucessora. E ponto.



Naquele Fórum Social Mundial, outro fato ficou evidente: as divergências entre Dilma e Marina, por conta dos projetos hidrelétricos na Amazônia, haviam tomado uma proporção tal que dificultava, inclusive, a relação cordial entre ambas. Os petistas tomaram vários cuidados para que elas não se cruzassem nos eventos. E Marina já começava a ponderar a saída do PT, que viria a ocorrer no dia 19 de agosto daquele ano. Aliás, foi no Fórum Social Mundial, numa mesa que dividiu com Leonardo Boff, que Marina talvez tenha ouvido pela primeira vez uma multidão cantar: “Brasil, urgente, Marina presidente”.



Durante o ano de 2009, ficava claro tanto para Lula quanto para a maior parte dos dirigentes do PT que o candidato da oposição seria Serra e que Dilma polarizaria a disputa com ele. No meio daquele ano, se iniciou o esforço para que ela fosse a única candidata da base governista, de maneira que a disputa pudesse ser decidida, se possível, no primeiro turno. O então presidente do PT, Ricardo Berzoini, quem conduziu as negociações com o PMDB e os demais partidos da base. Ele consegu ir costurando as alianças com quase todos os partidos, e as chances da candidatura Ciro Gomes se viabilizar vão diminuindo. Berzoini e o grupo que trabalhava as alianças avaliava que, num dado instante, o próprio PSB desistiria da opção Ciro, principalmente por conta das questões regionais relacionadas principalmente ao Nordeste, como no caso de Pernambuco, do Rio Grande do Norte, do Piaui e mesmo do Ceará, onde Cid Gomes era candidato à reeleição e preferia ir à disputa sem ter de enfrentar, por exemplo, a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins. Além disso, ainda havia o que negociar no Espírito Santo, onde o senador Renato Casagrande queria ser candidato a governador e precisava do apoio do PT.



Em meio a essas articulações, Marina se lançou candidata, e o jogo dá uma pequena embolada. A tese de Ciro Gomes, que viria a se confirmar, era de que com Marina na disputa, o segundo turno era inevitável. E Ciro avaliava que num segundo turno com Serra, Dilma teria problemas, pois o PV tenderia a apoiar o tucano.



O ano de 2009 terminou com Dilma participando de um encontro de prefeitos em Guarulhos, marcando a entrada deles nas articulações para fortalecer sua candidatura nos planos estaduais. Aliás, foi numa reunião com prefeitos, ainda em setembro de 2009, na sede nacional do PT, em Brasília, que Dilma ouviu pela primeira vez, em público, que teria de mudar sua postura se quisesse vencer a eleição. Entre os prefeitos presentes, estavam Ary Vanazzi (São Leopoldo/RS), João Coser (Vitória/ES), Elói Pietá (ex-prefeito de Guarulhos/SP) e Moema Gramacho (Lauro de Freitas/Bahia). Os participantes questionaram sobre a sua forma técnica de discursar e a sua pouca intimidade com os eleitores. A reunião não tinha sido convocada para isso, mas no meio da conversa, as sugestões e cobranças começaram a pipocar. Dilma ouviu com atenção e não reagiu mal às críticas. Ao contrário, fez um diálogo honesto com os prefeitos presentes e explicou que não era Lula, mas que queria contar com eles para melhorar sua performance.



No final de 2009, antes da entrada do ano eleitoral, houve, ainda, o 4º Processo de Eleições Diretas do PT (PED). Todas as chapas que disputaram, sem exceção, apoiaram o nome de Dilma como pré-candidata do partido. Nem Lula, na candidatura de 2002, teve esse privilégio – no processo, disputou uma prévia com o senador Eduardo Suplicy. Nesse período, já começavam a aparecer os que acreditavam que as coisas estavam se encaminhando bem para que a eleição pudesse ser decidida no primeiro turno, mesmo com a anunciada candidatura de Marina Silva.



No PT, a avaliação era a de que, sem um partido forte, sem alianças e sem tempo na TV, Marina não iria longe. Teria uma votação próxima à de Heloísa Helena (PSOL). Eram poucos que imaginavam que a candidata verde pudesse chegar aos 10%. Talvez nem no próprio PV alguém acreditasse numa votação de 20%.



Em fevereiro de 2010, Dilma é oficialmente homologada pré-candidata do PT. Serra ainda não tinha definido sua candidatura, mas Aécio já tinha saído do jogo em dezembro do ano anterior. No Congresso do partido, o discurso de Dilma já estava um pouco melhor, a postura da candidata também já era mais amigável e sua imagem era outra. Além da cirurgia plástica, que havia suavizado alguns dos seus traços faciais, a candidata tinha abandonado a “peruca básica” com a qual escondeu a perda de cabelos, por conta do tratamento do linfoma em 2009.



No Congresso petista, a sensação dos dirigentes era de que o partido que tinha elegido o primeiro presidente operário também elegeria a primeira mulher presidenta da República. O otimismo era geral. Não havia quem criticasse os movimentos da pré-campanha. E mesmo no debate das propostas do plano de governo, que foi conduzido por Marco Aurélio Garcia, as polêmicas não eram tão emocionantes quanto em outros tempos.



O primeiro tempo do jogo estava terminando com gosto de vitória. Mas muita emoção ainda estava reservada para o momento decisivo da disputa. Dilma já era candidata. Mas isso não era tudo. Havia uma campanha pela frente.

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