quarta-feira, 27 de julho de 2011

Frente ao horror dos ataques, Noruega promete 'mais tolerância'

 

Do prefeito de Oslo ao rei Harald, autoridades pedem que os cidadãos não se deixem influenciar pela mensagem de ódio propagada pelo atirador

AFP

000_Par6414991.jpg


“Juntos puniremos o assassino. E seu castigo será mais generosidade, mais tolerância, mais democracia”. Em uníssono com o prefeito de Oslo, Fabian Stang, a Noruega se nega a mudar seus valores após o massacre provocado por um suspeito de extrema-direita na sexta-feira, que deixou 76 mortos no país. Desde Stang até o rei Harald, passando por cidadãos anônimos, a mensagem é a mesma: transparência, abertura, proximidade, democracia. Virtudes que para eles devem seguir constituindo a identidade do país.

De acordo com Harald Stanghelle, articulista do jornal Aftenposten, a Noruega seguirá sendo a mesma no futuro. A questão da segurança vai adquirir maior relevância, mas não será onipresente, acredita ele. "Tanto os políticos como as demais autoridades e a imprensa dizem que é indispensável ter cuidado para não ficamos obcecados com a questão da segurança, que o país não deve se fechar em si mesmo e viver angustiado", afirmou Stanghelle à AFP. "Por outro lado, a Noruega é um país inocente e parte desta inocência foi embora", acrescentou.

Ele acredita que um dos efeitos imediatos poderia ser uma simpatia maior pelos imigrantes na sociedade norueguesa que, segundo ele, "até agora associava o terrorismo unicamente ao islamismo", considera. Saudado por sua ação humana mas firme após os atentados, o primeiro-ministro trabalhista Jens Stoltenberg orienta seus concidadãos a "conservar seus valores".

"A Noruega se divide agora em antes e depois de 22 de julho. Somos nós mesmos quem devemos decidir como será o país daqui para frente", observou o chefe de Governo na segunda-feira, quando mais de 100 mil pessoas se reuniram à noite em homenagem às vítimas dos ataques. Em nenhum momento durante as homenagens, ocorreram reações de ódio à tragédia que viveu o país. "O mal pode matar uma pessoa, mas não pode matar um país", bradou Stoltenberg na ocasião.

Nas ruas predomina o mesmo sentimento: os noruegueses estão assustados, mas se mostram pacíficos. As rosas são onipresentes e ultimamente surgiram camisas estampadas com a palavra "Oslove", uma junção das palavras Oslo e "love" (amor, em inglês). "Temos que responder com um espírito mais aberto, dando mais ouvidos aos outros, sendo um país livre para não dar a Breivik o que ele quer", opinou Per Gunnar Gulstuen, de 52 anos, referindo-se a Anders Behring Breivik, acusado pelo massacre que em um longo manifesto escrito ao longo dos anos se apresentou como um "cruzado" comprometido com a luta contra o islamismo e o marxismo.

"Não façamos como os Estados Unidos, que depois do 11 de setembro colocou polícia e controle por todas as partes", acrescentou Gulstuen. "O primeiro-ministro tem razão ao decidir que a resposta é mais abertura. Ele respondeu de forma humana, inteligente", disse Astrid Gunby, uma norueguesa de 55 anos moradora do bairro onde se localiza o prédio-sede do Governo, destruído por uma bomba.
Até mesmo o rei Harald, habitualmente discreto, pediu que os ataques não provoquem uma mudança no país. "Mantenho-me fiel às minhas convicções de que a liberdade é mais forte que o medo. Mantenho-me fiel a minha fé em uma democracia norueguesa aberta", manifestou.

Nenhum comentário: