quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sorteio das eliminatórias da Copa-14 bancado com dinheiro público

O lucro privado com o dinheiro público

Conta da megafesta do sorteio das eliminatórias da Copa-14, bancada com dinheiro público, era para ser paga, segundo contrato, pelo Comitê Organizador

RODRIGO MATTOS

ENVIADO ESPECIAL AO RIO

SÉRGIO RANGEL
DO RIO

na Folha
Ao pagarem pela organização do Sorteio Preliminar da Copa de 2014, que ocorre sábado às 15h, Prefeitura e governo do Rio assumiram função que deveria ser do COL (Comitê Organizador Local).
É o que diz o Acordo para Sediar, contrato entre comitê e Fifa para o Mundial.

Segundo o COL, os custos do evento atingiram R$ 30 milhões, divididos entre governo e prefeitura, por conta de exigências da entidade máxima do futebol.

Não há controle sobre esses gastos, apesar de o dinheiro ser público. Isso porque os recursos foram investidos como patrocínio, o que evita, por exemplo, contratações por meio de licitações.

A Prefeitura do Rio informou ter adotado essa opção por ser a única possível no modelo da Fifa. Ou seja: não poderia assumir a organização do evento porque esse tem de estar sob responsabilidade do comitê local.

De fato, pelo artigo 10.4 do Acordo para Sediar, “a organização do Sorteio Preliminar pelo COL será feita às custas do COL”. O texto prevê 13 obrigações, entre aluguel, estrutura, equipamentos, acomodação e escritórios para membros da Fifa.

Presidido por Ricardo Teixeira, também à frente da CBF, o COL tem orçamento previsto de R$ 856 milhões para organizar o Mundial, dinheiro vindo da Fifa.

“Contratamos a Geo Eventos [empresa da Globo], que foi atrás de patrocinadores e conseguiu prefeitura e Estado”, disse a diretora-executiva do COL, Joana Havelange.

A Folha apurou com a Geo que outras cidades lutavam para sediar o evento e também estavam dispostas a patrociná-lo com dinheiro público. São Paulo e Brasília eram duas das interessadas.
Os recursos do Rio servirão para bancar instalações provisórias em toda a Marina da Glória, na zona sul do Rio, local escolhido para o sorteio.

Há um salão de festas de 7.600 m2, mais salas provisórias de imprensa, de credenciamento e de logística.

“A Fifa fez os requerimentos em relação ao tamanho do palco e outras especificações. O orçamento foi feito com base nesses requerimentos”, declarou Joana.

Segundo ela, o projeto se desenvolveu por mais de um ano e serve para demonstrar ao mundo que o Brasil está pronto para fazer a Copa.

“Temos a oportunidade de mostrar um país organizado”, afirmou a dirigente.

Até o fim do Mundial, o COL também será responsável por fazer outros eventos, como o Sorteio Final da Copa, seminários técnicos e o Congresso da Fifa. A entidade mundial fica só com custos menores nesses casos -os maiores são do comitê.

O próximo sorteio, que definirá os grupos da Copa, não deve ser no Rio. Isso porque, nos últimos três Mundiais, foram usadas cidades diferentes para cada festa.

A Secretaria de Esporte do Estado do Rio não respondeu às ligações da reportagem para falar do assunto.

PS do Viomundo: A certa altura do aclamado perfil de Ricardo Teixeira, publicado pela revista Piaui, a repórter escreveu “Ao contrário do Comitê Olímpico Brasileiro, cujas verbas são públicas, na CBF não há dinheiro do Estado”. Faltou apenas dizer que a CBF só tem faturamento privado, de patrocinadores, por se utilizar de um símbolo nacional — portanto, do Estado brasileiro –, que é a seleção. E, com o duplo poder de presidente da CBF e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa 2014, Ricardo Teixeira extrai dinheiro público (como se vê acima, ou aqui) para financiar o lucro privado (da CBF e da FIFA).

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