domingo, 21 de agosto de 2011

Sindicalismo tucano

 

De olho nas eleições de 2014, o PSDB atrai cerca de 150 sindicalistas e abre dissidências nos partidos da base aliada do governo Dilma

Alan Rodrigues

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PALANQUE
Aécio Neves quer o apoio de entidades que reúnem 60 milhões de pessoas
Nos últimos quatro anos, seis das oito centrais sindicais brasileiras funcionaram como correias de transmissão do governo federal. Esse cenário, que ajudou as vitórias eleitorais petistas, começa a mudar no sábado 20, quando o senador Aécio Neves anuncia a filiação ao PSDB de mais de 150 sindicalistas de diversas origens, inclusive da maior central do País, a CUT, historicamente ligada ao PT. “Vamos acabar com a imagem negativa de que o PSDB é de viés elitista”, diz o presidente da Força Sindical em Minas Gerais, Rogério Fernandes, que trocará o PDT pelo PSDB. Apesar de ainda não estar claro se esse agrupamento engordará as fileiras da oposição no Congresso Nacional, a iniciativa tucana já desperta reações na base governista. “Se a CUT não se requalificar, ela será engolida por essa onda tucana”, avalia Wagner Xavier, consultor sindical ligado à corrente petista.

Segunda maior central sindical do Brasil, a Força Sindical terá a maior participação na empreitada. Entretanto, Aécio arrastou também sindicalistas filiados ao PMDB, PTB e PPS, todos ligados a outras entidades (leia quadro). Independentemente da origem dos sindicalistas que migrarão para o PSDB, o que está em jogo é a disputa por voz e voto de um exército que representa quase 60 milhões de trabalhadores, seis mil sindicatos e um orçamento de mais de R$ 80 milhões. Nas eleições de 2010, esse poderio sindical conseguiu, por exemplo, eleger 61 representantes para o Congresso Nacional, alavancar a campanha de Dilma Rousseff e ainda contribuiu para levar às cordas o candidato do PSDB, José Serra. A robustez política dessa frente sindical levou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a concluir, em artigo publicado na revista “Interesse Nacional” em fevereiro, que se o PSDB não identificar outros grupos da sociedade para dialogar, restará aos oposicionistas o eterno fracasso eleitoral. “Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT a influência sobre os ‘movimentos sociais’ ou o ‘povão’, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, [eles] falarão sozinhos”, disse FHC. O ex-presidente sofreu críticas por admitir em público que o PSDB estava à procura de outra identidade. Seu recado, porém, foi claro: os tucanos precisam esquecer os dependentes do Bolsa Família e buscar espaço nos movimentos trabalhistas, estudantis e na nova classe C.
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ALERTA
FHC foi o primeiro a defender a busca de novos espaços
Aécio entendeu como ninguém o recado de FHC. Não por acaso, o sindicalismo tucano terá o Estado de Minas Gerais como base. Com as bênçãos do governador mineiro, Antonio Anastasia, o partido investirá na formação política de lideranças. Isso significa, inclusive, apoio nas eleições do próximo ano. O projeto de Aécio também será encampado pelo governador paulista, Geraldo Alckmin. Seu principal articulador na área é o secretário de Estado de Emprego e Renda, Davi Zaia, vice-presidente nacional da Força Sindical. “Esse projeto será replicado nos outros sete Estados administrados pelo PSDB”, adianta Zaia, que é filiado ao PPS e dirigente da União Geral dos Trabalhadores (UGT). “A CUT é chapa-branca. Temos que trabalhar com independência”, afirma Zaia. “A estratégia do PSDB é partir para a disputa ideológica e não se restringir a acordos em anos eleitorais”, avalia o consultor sindical Wagner Xavier. Para Aécio, a política se faz com gestos. Ele não esconde de ninguém que esse é o primeiro aceno em direção às eleições de 2014.
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