terça-feira, 18 de outubro de 2011

datenismo


Marcelo Rubens Paiva





Chico Buarque deu risada quando, ao dar os primeiros passos na web, descobriu o leitor anônimo que respondia a seus comentários com ódio nos dedos.
Pensava que era adorado pelo público.
Quem tem blog ou Twitter já se acostumou com seguidores que não economizam palavras para desqualificar o autor.
É parte da histeria do meio que abre as portas democraticamente para uma gente que se esconde atrás de nomes e e-mails falsos.
O problema é quando um jornalista provoca o rancor, para obter audiência e seguidores.
Prejulgar, alimentar a intolerância, datenizar a notícia e criar generalizações desnecessárias não estão nos manuais do bom jornalismo.
A tentação é grande, e alguns caem na sopa da polêmica com deleite.
Fiz uma brincadeira tola com o blogueiro Reinaldo Azevedo, numa entrevista para a TPM, em que me declaro um gozador profissional que não leva nada a sério, e por isso paga um preço.
Eu disse que era a sua versão à esquerda. Só isso.
Petralha é seu termo mais utilizado para se referir a petistas. Seus leitores o adoram. O chamam de “rei”.
Sua resposta foi rápida, como era de se esperar. Nada contra dois jornalistas se cutucarem. Nada contra debater os ideais de colegas e a postura diante dos rumos que o Brasil deve tomar.
Mas tomei um susto quando li os comentários dos seus leitores.
Vi o ódio virar uma catarse contra mim, minha família e amigos.
“Eu sou o John Malkovich de Marcelo Rubens Paiva”, começava a resposta de Reinaldo.
Nem tanto. Li acho que duas vezes o seu blog. Mas a referência ao filme do genial roteirista Charlie Kaufman é criativa.
Ele nem chegou a me esculhambar muito, mas de uma entrevista de dez páginas destacou:
“Marcelo tem 52 anos; tenho 50. Num dado momento da entrevista, ele afirma: ‘Hoje, as mulheres tomam mais a iniciativa, mas parece que elas levam a sério, se apaixonam. Antes, você transava com a amiga, a namorada de amigo, era uma coisa mais solta’. Transar com namorada de amigo como expressão de uma ‘coisa mais solta’? Acho que nunca fui Marcelo Rubens Paiva, nem quando era de esquerda.”
Então, mais de 200 leitores comentaram.
Foram aprovados pelo mediador, apesar do aviso: “Aprovamos comentários em que o leitor expressa suas opiniões. Comentários que contenham termos vulgares e palavrões, ofensas, dados pessoais (e-mail, telefone, RG etc.) e links externos, ou que sejam ininteligíveis, serão excluídos.”
Alguém é responsável pela aprovação. Mas quando são muitas, perde-se o controle.
Porém, a vaidade, somada à vontade de ter muitos comentários, contamina o bom senso.
E a histeria se fez:

agnes eckermann – 26/09/2011 às 0:37
“Sou assinante do Estadão, mas não perco tempo lendo o que escreve esse sujeito. É um recalcado, era um filhinho de papai, quando o regime sumiu com seu pai. E após o acidente que o deixou numa cadeira de rodas, ele odeia tudo e todos, aliás menos o PT e os comunas seus amigos. É lamentável que o Estadão dê espaço para esse tipo de pessoa, que não tem conteúdo e escreve boçalidades.”
Nilton – 15/09/2011 às 17:51
“Pois é, o cara tem 52 anos mas não cresceu. Tenta dar a impressão de que tem 32, mas a cabecinha continua nos 22. Seu sonho de mundo ideal (o mundo melhor…) é poder comer a mulher do próximo sem censuras, e servir, presumo, sua própria mulher de banquete para os amigos. O pior é que o infeliz nem sabe escrever, nem tem talento, humor, graça, verve, essas coisinhas básicas para quem quer ganhar a vida como escritor. É por essas e outras que não vou renovar minha assinatura do Estadão. Enquanto gente dessa estirpe e estatura colaborar com o jornal (pois há muitos outros…) eu tô fora.”
estrela azul – 15/09/2011 às 15:23
“Este cara pode ser simplesmente um mentiroso, ou, verdadeiramente, um petista. Ainda que saiba da coisa apenas por ouvir dizer, dentro da militância petista, é normal o acasalamento animalesco tal qual o descrito.”
Ali – 15/09/2011 às 12:35
“Esse MRPaiva é um deslumbrado, sempre se aCHOU “JÊNIO” e agora tá mais bobo ainda, dizendo que está cada vez mais à esquerda? Deve ser efeito retardado do tombo de cabeça quando era ABORRECENTE!!!!”
bolsa terrorista – 15/09/2011 às 11:15
“só pra saber: o marcelo ganha bolsa terrorista?”
eder – 15/09/2011 às 11:07
“o Marcelo participou da marcha da maconha…mas será que apareceu nesse último dia 7 na marcha contra a corrupção???…duvido!!!”
claudio – 15/09/2011 às 10:12
“Quem tem um amigo como este, não precisa se preocupar, porque o cabra é mentiroso pra caramba!”
Baianinho – 15/09/2011 às 9:52
“Rei, gostaria de ler um texto teu sobre o “educador” das madrugadas, Serginho Groisman. Ou, o chuchu politicamente correto.”
Rods – 15/09/2011 às 9:28
“REI.
ESTE É MAIS UM COMUNISTA QUE É BAJULADO POR CAUSA DE SUA DEFICIÊNCIA FÍSICA, TER SIDO FILHO DE UM COMUNISTA E POSSUIR SUPOSTA CULTURA ESQUERDOPATA.
MAIS UMA CRIAÇÃO DAS ESQUERDAS COM O EPÍTETO DE INTELECTUAL.”
marina silva – 15/09/2011 às 9:19
“A entrevista é mesmo papo de ptrlha em TPM sem pé nem cabeça…Parece que a queda do rapaz ainda provoca sequelas além da tetraplegia pois se nao era assim nao se exporia a esse ridiculo!”
DaIlha – 15/09/2011 às 8:09
“O pai dele talvez discordasse…Mas o Marcelo é feito da mesma matéria que o Lulla, a vítima, o tadinho, que falava “verdades” corajosamente no apagar da ditadura e com isso angariou simpatias. Outro paralelo é que os dois se levam muito à sério…”
Bene – 15/09/2011 às 5:57
“Esse tal de marcelo realmente, nunca poderia pertencer a outra corrente a não ser a esquerda- burra, anacrônica e destituida de um mínimo de bom senso.Mais um a receber pagamento do lullo-petismo para inverter a ordem das coisas e conspurcar a verdade da forma vulgar com que eles se especializaram ao longo dos anos, de vagabundagem que é a caracteristica principal dessa súcia.”
Toninho boca suja – 15/09/2011 às 2:52
“Li “Feliz Ano Velho”,e nunca mais pus os olhos num livro dele. Pensei até que já tinha desencarnado por efeito de drogas.”
Alexandre Campolina – 15/09/2011 às 0:27
“Sinceramente? Nem todos podem ter todos os prazeres que a vida permite e optam por fantasiar sobre os prazeres que as pessoas normais têm. E então estes coitados (No sentido inocente da palavra) encontram alternativas fictícias de prazer. Alguns bebem, outros cheiram. E há os que queiram holofotes falando asneiras.”
Alexandre M. F. Silva – 14/09/2011 às 22:54
“Marcelo Rubens Paiva é sempre o mesmo: vazio e ignorante. Uma das piores figuras da imprensa brasileira.”
Leniéverson Azeredo – 14/09/2011 às 22:35
“Reinaldo, eu acho o Marcelo Rubens ideologicamente parecido com um certo atual Governador do estado do RJ.”
Anônimo – 14/09/2011 às 21:54
“Elle (Marcelo Paiva) se acha. Certa ocasião estava no bar de um teatro em Sampa e ele apareceu por lá. Tive oportunidade de observá-lo de uma mesa próxima, e constatar o quanto é arrogante.
É apenas um “intelectualóide” metido a besta. Só se tornou conhecido por conta dos dos tristes acontecimentos de sua trajetória de vida. Menos, Marcelo Paiva!”
WHK – 14/09/2011 às 21:31
“Pode prestar atenção: arnaldo jabor é cineasta = ficção;
marcelo rubens paiva = escritor = ficção.
Outros ditos “jornalistas” se acham escritores (= ficçãO).
Ora, quando vai trentar expressar alguma coisa sobre a realidade, acaba acontecendo a mesma coisa que um cisdadão comum querer pilotar um caça. Ou seja, como não são do ramo, só vão fazer merda. Esperar coerência de uns tipos como esses?”
JM – 14/09/2011 às 20:59
“Liga”não!
Todo bom comuna é recalcado e invejoso.
A inveja é uma ….
Aliás ,vc já viu algum país socialista produzir vinho de qualidade?
Vinho bom ,só na área do Império Romano.”
Alvaro Risso – 14/09/2011 às 20:23
“esse é o problema do comunismo: Até as mulheres são “bens de produção” (geram filhos) e por isso são propriedade do estado e estão à disposição dos “cumpanheiros”. Tô fora! Aliás já li comentários assim a respeito dos nossos grupos guerrilheiros das décadas 60-70.”
Mauricio A – 14/09/2011 às 20:07
“Uns roubam hóstia, outros roubam namorada.
Mas todos esquerdistas roubam.
E assumidamente.
E ninguém acha feio.
Ninguém acha que se rouba uma coisa, pode roubar outras.
É a moralidade elástica do brasileiro.
Têm o que merecem.”
Valéria Rodrigues – 14/09/2011 às 19:44
“Tambem quase caí da cadeira ao ler que o Marcelo Rubens Paiva tem 52 e o polemista de direita tem 50! Pensando bem, ele só pode mesmo estar indo cada vez mais para a esquerda. Aquela barba “de cara suja”, pose “de jovem”… hoje ele deve ter uns 20 aninhos. Nunca vai ser um tiozinho.”
Leopoldo Dogher – 14/09/2011 às 19:09
“Quem é mesmo Marcelo Rubens Paiva?
O garotão? O eterno adolescente?
Hahahaha, o carinha é da tchurma dos modernos da Vila Madá e da Folha. Tem salvo conduto permanente.
Pega mal não gostar dele.”
Gil – 14/09/2011 às 19:08
“Sólê Marcelo RubensPaiva a brava gente que pertence à diretoria da UNE…”
Gil – 14/09/2011 às 19:05
“Reinaldo, você fez bem em nunca ter sido Marcelo Rubens Paiva. Que vida levou esse eterno jovem de 52 anos? Ancorou-se na história do pai por décadas para fazer a sua jornada de vida. É só o que ele tem a dizer, nada mais. Como não seria ele de esquerda? Como não seria ele a favor da Comissão da Verdade? Como não deixaria ele de mamar na Bolsa Ditadura? Taí mais um tema para mais um futuro livro adolescente dele…”
Bastião – 14/09/2011 às 18:26
“Eu tenho hepatite C e estou quase no bico do corvo,não vou usar o meu sofrimento para bater a carteira de ninguem.”Mesmo nos tempos de mais grave doença,nunca me tornei doentio” “Na solidão,o solitário se devora a si mesmo;na multidão devoram-no inúmeros.Então escolhe.” Nietzsche. Não dou esmolas no farol e nem compro livros porcaria.”
patricia m. – 14/09/2011 às 18:16
“PARA QUEM DIZ QUE SE SITUAR COMO ESQUERDA OU DIREITA EH “ROTULAR” PESSOAS (ha uns 2 ou 3 comentarios assim abaixo):
ISSO EH COISA DE GENTE QUE TEM VERGONHA DE ADMITIR QUE EH DIREITA OU COISA DE ESQUERDALHA. EU SOU DIREITA E COM ORGULHO. Deviamos lancar um movimento desse tipo, alias… SOU DIREITA E COM ORGULHO.”
ClaudioM – 14/09/2011 às 18:06
“Tarso (16:39), MRP escreveu um mini-conto no Estadão certa vez em que, resumindo, é a história de uma garota que conheceu um cara, transou com ele, botou a roupa e foi embora. Sem cigarrinho, nem pipi depois. E o cara ficou ali na cama, choroso e apaixonado.”
MULLA DA SELVA – 14/09/2011 às 18:04
“foi uma das pessoas mais mal educadas e arrogantes que conheci.
trabalhei na radio usp onde ele tbem tinha lá uma espeice de ’sinecura’.
achava-se um ‘deus’. em uma festa, certa vez, aproximei-me e com educação apresentei-me e lhe disse ‘oi, meu nome é fulano e trabalhamos juntos na Radio’…NAo ME ESTENDEU A MÃO DE VOLTA E ME FEZ UMA CARA DE DESDEM QUE JAMAIS ESQUECEREI . Ao seu lado, duas meninas, filhas de dois grandes nomes da indústria paulista o adulavam com um conversê de ‘esquerda-chic’.”
Paulo Bento Bandarra – 14/09/2011 às 17:25
“Os amigos dele devem estar agoraem dúvida. Tenhoou não tenho galhada? Eu sugeriria um exame urgente de AIDS.”
Justo Eu – 14/09/2011 às 17:12
“É aquele cara que não pensa o que faz por isso está paraplégico.”

E por aí vai.
Bem, nunca trabalhei na Rádio USP. Nem nunca estive lá.
Não sou filiado nem nunca fiz parte de nenhuma administração petista. Não sou “petralha”.
Nunca transei com a namorada de um amigo. Eu disse que, naquela época, no ambiente UNICAMP-USP que frequentei, era comum.
Achei curioso alguém me ver num bar e me achar arrogante. Como se avalia a personalidade de um bebum numa mesa próxima?
Não tenho AIDS. Não participei da Marcha da Maconha.
Participei da Marcha Pela Liberdade de Expressão, que ocorreu uma semana depois.
Pois acho que quem quer tem o direito de participar de uma Marcha Pela Maconha. Eu e o STF.
Nem estou paraplégico porque não penso no que faço.
Nem meu pai nem eu pertencemos ou fomos filiados ao PCB. Nunca fomos “comunas”.
FHC, Lula e Serra são amigos da família há décadas.
Frequentaram a nossa casa.
Sou admiriador dos 2 ex-presidentes, como também tenho críticas.
Nas únicas vezes em que estive com eles oficialmente, pedi para que fiscalizassem os direitos dos deficientes. Nunca pedi emprego ou bolsa.
Ao menos 1 leitor do blog citado se dispôs a escrever algo que reflete com educação o que, para ele, eu e minha família representamos:

Alexis de Tocqueville – 14/09/2011 às 17:22
“O ex-deputado federal Rubens Paiva só alcançou a condição de ícone graças a seu assassinato por agentes da ditadura militar, pois teve uma atuação política relativamente discreta durante o período em que ocupou um mandato na Câmara dos Deputados, que viria a ser cassado em abril de 1964 por força do Ato Institucional nº 1. Até mesmo sua tão comentada participação na CPI que foi instituída em princípios de 1963 para investigar as atividades do IPES e do IBAD – entidades notórias por suas articulações golpistas contra o governo de João Goulart – foi marcada por extrema sobriedade. Embora tenha sido um jornalista de talento e militante do antigo PCB, Vladimir Herzog só alcançou seu status de figura mítica por causa das torturas que causaram sua morte em instalações do famigerado DOI-CODI nos idos de 1975, pois não era considerado uma figura de primeira grandeza nem entre seus colegas de ofício nem entre os integrantes daquela agremiação política. A História está repleta de exemplos de indivíduos que se tornaram involuntariamente mártires em função da morte precoce que lhes impuseram regimes autocráticos das mais variadas feições.
O escritor Marcelo Rubens Paiva sempre rechaçou posturas dogmáticas, conforme deixa claro, aliás, sua incansável disposição de debater civilizadamente com pessoas que defendem um ideário político bem distinto do seu. “Feliz Ano Velho”, seu livro mais famoso, relata em tom coloquial e divertido as aventuras e desventuras por que passou até o fatídico dia em que se tornou paraplégico ao mergulhar de cabeça em um lago quando tinha apenas vinte anos de idade, além de descrever com tintas bastante realistas o doloroso processo de recuperação que teve de enfrentar ao longo de um ano. Marcelo usou aquele trágico acidente como mote para tecer interessantes considerações sobre temas palpitantes, como a formação da identidade e da fé, por exemplo. A linguagem descontraída e o bom-humor de sua narrativa constituem, ao lado da recusa à autopiedade e à autocomplacência por parte de seu autor, os traços mais marcantes daquele livro.”

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