segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Tudo tem limite, até o Rafinha Bastos


Rafinha Bastos bateu na parede. Acostumado a dizer o que lhe vem à cabeça sem sofrer quase nenhuma consequência, dessa vez o apresentador do "CQC" foi longe demais. Xuxou onça com vara curta, e agora vai ter que pagar.
Ronaldo "Fenômeno" reclamou com a direção da Band. O jogador é sócio de Marcus Buaiz na 9ine, que começou como uma empresa de marketing esportivo mas já se tornou uma agência de propaganda de verdade, com clientes consideráveis. E Buaiz é o marido de Wanessa Camargo.
Uma emissora de TV não pode ter um mau relacionamento com os anunciantes, nem com as pessoas que agenciam estas verbas, e ainda menos com as estrelas do esporte. Simples assim. Rafinha vai ser censurado porque irritou interesses importantes.
LALO DE ALMEIDA PARA THE NEW YORK TIMES
Rafinha Bastos ficará de fora do "CQC" nesta segunda
Rafinha Bastos ficará de fora do "CQC" nesta segunda
Isto é ruim? É um fato da vida. Nenhum humorista pode querer ter total liberdade junto com riqueza e fama. A de Rafinha já repercute no exterior: ele foi alvo de uma longa matéria no "New York Times", e sua conta no Twitter tem mais seguidores do que as de Obama ou Lady Gaga.
Mas o cara ainda se comporta como se estivesse diante de uma pequena plateia num espetáculo de "stand-up". Quer ser "cult" e "underground" na TV, e se esquece de que cada vírgula do que fala repercutirá ao infinito na internet. O sucesso rápido e estrondoso fez com que ele não enxergasse seus limites.
Rafinha já não participará do programa desta noite. O castigo não deve ir muito além disto: no máximo ele amargará um tempo na geladeira, e não se fala mais nisto. Duvido que seja demitido. Pegaria mal para a imagem de irreverência do "CQC". Além do mais, no dia seguinte Rafinha já estaria com um programa próprio numa emissora concorrente.
E aí teria que cair na real para valer. Passaria pelo mesmo que seu colega Danilo Gentili, que, por causa da boca descontrolada, afastou os patrocinadores da estreia do seu "Agora É Tarde". Danilo fez a lição de casa: maneirou o tom, conquistou audiência, e agora o canal já pensa em estender seu "talk show" para outras noites da semana.
Mas uma coisa é certa. Os humoristas andam o tempo todo sobre uma linha tênue. Qualquer piada sempre irá desagradar a alguém: os problemas surgem quando estas pessoas formam a maioria. Que, no affair Rafinha/Wanessa, era composta por toda a população do planeta. Acho que jamais se ouviu uma tirada tão sem graça e fora de propósito em toda a história da humanidade.
Enfim, acidentes acontecem. O humor de fato engraçado é sempre iconoclasta (detesto a expressão "politicamente incorreto", que está se tornando um escudo para quem quer dizer escrotices). O desafio é dosar. Saber para quem se está falando, quem vai gostar e quem vai se incomodar. Rafinha tem uma fortuna a perder em imagem e contratos de propaganda. Mas nós, o público, perderemos ainda mais se ele exgerar na dose e enfiar o rabo entre as pernas.
Tony Goes tem 50 anos. Nasceu no Rio de Janeiro mas vive em São Paulo desde pequeno. É publicitário em período integral e blogueiro, roteirista e colunista nas horas vagas. Escreveu para vários programas de TV e alguns longas-metragens, e assina a coluna "Pergunte ao Amigo Gay" na revista "Women's Health". Colaborador frequente da revista "Junior" e da Folha Ilustrada, foi um dos colunistas a comentar o "Big Brother 11" na Folha.com.

Nenhum comentário: