quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Golpe perfeito, diz Mantega. De quem?



Golpe perfeito, diz Mantega. De quem?Foto: FERNANDES/AGÊNCIA ESTADO

MINISTRO DA FAZENDA DIZ QUE BANCO CENTRAL NÃO TINHA COMO DETECTAR ROMBO DO BANCO PANAMERICANO ANTES DA VENDA À CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, POIS FRAUDE FOI MUITO BEM-FEITA; SÓ FALTOU DIZER SE O TAL GOLPE FOI O ROMBO NO BANCO OU O RESGATE DO FUNDO GARANTIDOR DE CRÉDITO

23 de Novembro de 2011 às 21:57
247 – O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, saiu em defesa do Banco Central nesta quarta-feira, ao dizer que acha estranha a informação de que o BC tinha informações sobre a fraude no Banco Panamericano quando aprovou a venda de parte da instituição para a Caixa Econômica Federal (CEF), em julho de 2010. Para Mantega, o golpe foi perfeito. "Foi uma fraude muito bem-feita. O BC detectou a fraude depois que a Caixa efetuou a compra, senão a Caixa não teria feito o depósito", disse o ministro.
A questão, contudo, não é a qualidade do golpe, mas a aparente incompetência do Banco Central para evitá-lo. Como um rombo de R$ 4 bilhões não foi captado pelo BC – principalmente depois de as carteiras do Panamericano terem sido oferecidas ao Banco do Brasil e recusadas? Outra: o BC não indicou ainda o responsável pela fraude. Terá sido Silvio Santos, que negou conhecimento da questão e tratou de se livrar do banco assim que o rombo foi descoberto? Uma pergunta melhor: poderia o golpe perfeito ocorrer sem a participação do dono?
O ex-presidente do Panamericano Rafael Palladino e o ex-superintendente do SBT Luiz Sandoval devem ser indiciados pela Polícia Federal por formação de quadrilha e, à medida que o inquérito avança, torna-se ainda menos consistente a versão de que Silvio Santos era o único a não saber o que se passava no Panamericano. Se era o único a não saber, Silvio Santos é também aquele, dos pretensos envolvidos, que conseguiu preservar seu patrimônio depois do imbróglio, graças ao generoso Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
Mantega destacou nesta quarta que não há dinheiro público envolvido no resgate do banco, porque as transações com fraudes estão cobertas pelo FGC. Seria esse almoço grátis de R$ 2,5 bilhões, então, o golpe perfeito a que o ministro se referiu? "Não há prejuízo. Não houve pressão do governo. Foi uma decisão da Caixa, porque interessa a ela", disse Mantega. O ministro ainda esclareceu que as fraudes não estão relacionadas à crise mundial e deu uma dica aos futuros fraudadores: "O Panamericano era auditado por vários anos, é que a fraude era de nível internacional, escapou a todos”.
Relembre artigo do jornalista Elio Gaspari sobre o FGC:
O FGC virou o mico da banca
Elio Gaspari
EM ABRIL, Murilo Portugal, presidente da Federação Brasileira de Bancos, poderá assumir a direção do Fundo Garantidor de Créditos. Tomara que dê certo, com resultados melhores do que a tentativa da Febraban de azucrinar a vida de quem recebia nota pintada de vermelho em caixa eletrônico.
O FGC é uma instituição que, em tese, preserva a vitalidade do sistema bancário. Criado durante o tucanato, é alimentado pelos bancos, sem dinheiro da Viúva, e se destina a garantir depósitos dos correntistas de instituição que venha a quebrar. Nos cofres do FGC há hoje algo como R$ 20 bilhões, colocados lá pela patuleia que toma empréstimos e, neles, paga taxas bancárias.
Na prática, o FGC virou ação entre amigos na qual a má qualidade da fiscalização do Banco Central juntou-se à má administração de bancos com diretores bem relacionados.
Durante a crise de 2008, o Fundo Garantidor foi um colchão eficiente para evitar uma crise de crédito. Socorreu 24 pequenos bancos emprestando-lhes R$ 4 bilhões.
Nessa época, elevou-se a garantia dos depositantes de R$ 20 mil para R$ 70 mil. Como havia perigo de incêndio, criou-se uma proteção especial, que vai até R$ 20 milhões para papéis denominados DPGEs. Ela está aí até hoje. Há assim uma garantia para os cavalgados e outra para os cavalcantis.
No final do ano passado, o FGC socorreu com R$ 2,5 bilhões o Banco PanAmericano, do empresário Silvio Santos. Foi a maior operação de sua história, concluída com a compra da instituição pelo BTG Pactual. O buraco era maior do que se pensava, e o fundo perderá alguns bilhões de reais. Até setembro passado, as arcas do FGC puseram R$ 8,5 bilhões em 26 bancos. Há mais gente na fila e, como sempre, há na fila interesses que nela já estiveram e a ela pretendem voltar.
Passados 16 anos da criação do FGC, a grande banca coabita com um mico. Aquilo que seria a privatização do risco bancário transformou-se numa terceirização de funções do Banco Central e numa modalidade de almoço grátis.
Enquanto a alta finança inventou o conceito de "grande demais para quebrar", a baixa finança nacional criou os "pequenos demais". Pequenos no tamanho, não nos vínculos. No caso do PanAmericano, felizmente rastreou-se a generosidade com que seus diretores aspergiam dinheiro para candidatos petistas (legalmente) e para o tucanato alagoano, pagando contas que não eram suas.
Pode-se entender que bancos quebrem na Europa. No Brasil, se uma instituição financeira vai à garra, de duas uma: ou foi saqueada (o que ocorre na maioria dos casos) ou foi administrada por irresponsáveis. Do Banco Santos, que estava nas duas condições, o FGC só conseguiu recuperar 25% do que lá pôs.
Se os administradores do fundo blindarem seu cofre, inclusive recusando tratativas verbais com o Banco Central, é possível que ele passe a garantir apenas os depositantes. Não se pode tirar dinheiro do FGC sem que a autoridade monetária sugira e justifique a operação, por escrito, documentando o processo.
As negociações ocorridas em Wall Street na crise de 2008, bem como os nomes dos negociadores, são mais ou menos conhecidos. As conversas que levaram metade do PanAmericano para a Caixa, seu rombo para o FGC e o que sobrou, para o Pactual, ainda estão numa caixa de surpresas. O caso está na Polícia Federal.

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