sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O dinheiro sem carimbo e os partidos -


Maria Cristina Fernandes

Deputado cassado e presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson é réu no inquérito domensalão. Responde pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Policial Militar no Distrito Federal, João Dias está preso. Agrediu um sargento que tentava contê-lo no Palácio do Buriti onde entrou com um pacote de R$ 159 mil eespécie.

Jornalista e ex-assessor da campanha petista em 2010, Amaury Ribeiro Jr. foi indiciado pela Polícia Federal por quatro crimes: violação de sigilo fiscal, corrupção ativa, uso dedocumentos falsoe oferta de vantagem a testemunha.

Com a denúncia de que o governo Luiz Inácio Lula da Silva pagava mesada a sua baseparlamentar, Jefferson provocou um doescândalos políticos de maior repercussão da história da República. Com a acusação, da qual voltaria atrás na defesa apresentada por seus advogados no Supremo, Jefferson pôs em risco o mandato de Lula e levou 40 réus a serem arrolados no Supremo Tribunal Federal.

Pela denúncia de que recursos públicos destinados a um programa de formação de núcleosesportivoeescolas públicas estavam sendo desviados para Ongs ligadas ao PCdoB, Dias precipitou a queda do titular do Ministério doEsportes, Orlando Silva, um ex-presidente da UNE que estava no cargo havia cinco anos.

Jeffersoe Dias denunciaram esquemas ilícitos dos quais foram participantes. A valoração, pela Justiça, de depoimentos de suspeitoe até criminosos condenados, deu curso aoinstituto da delação premiada.
A suspeição que recaía sobre ambos não impediu que os depoimentos de Jeffersoe Dias, com ampla divulgação nos meios de comunicação, tivessem desdobramentos políticoejurídicos significativos.
É com base nesses precedentes que cresce, na internet, a indignação cooescassos desdobramentos nos jornais e nos meios políticos das denúncias publicadas pelo jornalista Amaury Ribeiro no livro "A Privataria Tucana" (Geração Editorial, 344 páginas).

Contratado como elo da assessoria de comunicação da campanha petista e o universo da arapongagem, o jornalista foi indiciado no inquérito que apura a violação do sigilo fiscal dedirigentes tucanoe familiares do ex-candidato à Presidência, José Serra.

O livro é uma compilação de documentos que sugerem lavagem de dinheiro da privatização.O autor revela vínculoentre muitos dos personagens que estiveram ligados à venda dasestatais, às campanhas do PSDB e à família de Serra, mas, apesar da farta documentação, não encontra carimbo no dinheiro lavado. Talvez pela simples razão de que o jornalismo nãoé dotado de meios policiais e jurídicos para identificar o carimbo.

Muitos personagens dos governos do PSDB e do PT que enriqueceram às custas de tráficode influência e informação privilegiada passaram incólumes pela imprensa porqueembolsaram dinheiro lavado. Uma única operação da Polícia Federal apurou que entre 1996e 2002, no auge das privatizações, evadiram-se U$ 30 milhões pelas chamadas contas CC5, criadas pelo Real para liberalizar o fluxo de capitais.
Muito mais fácil do que identificar o carimbo nesse dinheiro é descobrir e, com toda razãopublicar, a história de um ministro que um dia teve duplo emprego.
A indignação de internautas questiona por que os jornais que já execraram a família de Lula não se ocupam em seguir as pistas dos familiares de Serra que o livro revela.

Num tempo em que se derrubam ministros como quem preenche uma cartela de bingo talvezesteja fora de moda lembrar que o jornalista pode achar que apura como um promotoejulga como um magistrado, mas o jornal não tem como abrigar plenamente o direito dedefesa e, por isso, não substitui a Justiça.
Isso não desmerece a reportagem. Muito pelo contrárioO valor do jornalismo investigativoestá em identificar os interesseem disputa e revelá-los ao público. Propagar unicamente a munição que vem de um dos lados é partidarismo.

O livro é menos partidário do que o uso que se faz - e não se faz - dele. Depois de ter chegado às livrarias na última sexta-feira, teve sua primeira edição esgotada em 48 horas. Oespaço que lhe dedicam os blogs é inversamente proporcional à centimetragem impressa. Nofosso entre uma e outra abordageestá a constatação de que face às chances de seidentificar o dinheiro carimbado, tanto tucanos quanto petistas preferiram deixar as lavanderias funcionando.

Boa parte da documentação de que se vale o livro é originária da CPI do Banestado, instalada no primeiro ano do governo Lula. Se houvesse real interesse em pôr freio à lavagem, ali teria sido o momento.
O volume de informações fiscais, bancárias e telefônicas levantado por aquela comissão foi mais do que suficiente para se fechar o ralo. Mas o relator (José Mentor), petista, ocupou-seem tentar incriminar o ex-diretor do BC, Gustavo Franco, pela liberação da remessa derecursos para o exteriosem a identificação do remetente. Deparou-se coo presidente da comissão (Antero Paes de Barros), tucano, disposto a sugerir o indiciamento do entãopresidente do BC, Henrique Meirelles, por ter se utilizado de uma conta de doleiros para transferir U$ 50 mil para o exterior. O resultado é que dois relatórios foram apresentadoenenhum foi aprovado.

Nos documentos da CPI já se viam as digitais do Rural, o que não impediu que o bancofosse o escolhido para a lavanderia do mensalão. Visadas, as agências de publicidade pouco a pouco foram cedendo espaço aoescritórios de advocacia na intermediação do dinheiro quea política busca esquentar.
No projeto de lei sobre lavagem de dinheiro que tramita no Congresso, a OAB faz pressãocontra o artigo que obriga os advogados a revelar a origem dos recursos com que seus clientes pagam os honorários advocatícios. E encontra defensores de PT a PSDB.

Mesa de ontem no Casserole, centro de São Paulo, reunia o ex-diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira, um dos principais personagens do livroo ex-ministro da Casa Civil do governo Fernando Henrique Cardoso, Clóvis Carvalhoe o advogado José Carlos Dias.
http://sergyovitro.blogspot.com/2011/12/o-dinheiro-sem-carimbo-e-os-partidos.html

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