terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Secretário do PT defende Rui Falcão de acusações do livro "A privataria tucana"



Claudio Leal
Esgotado nas principais redes de livrarias do País, três dias depois do lançamento, o livro "A privataria tucana", do jornalista Amaury Ribeiro Jr., traz em sua parte final os bastidores de uma das crises políticas da campanha de Dilma Rousseff à presidência da República, em 2010.
Na pré-campanha, o PT foi acusado de montar uma equipe de arapongas para espionar e elaborar dossiês contra o candidato do PSDB, José Serra. Após as acusações, o assessor de comunicação, Luiz Lanzetta, deixou o QG petista em junho de 2010
Uma reportagem da revista "Veja" descreveu o encontro do proprietário da Lanza Comunicação com o delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo Sousa. Eles foram acusados de tentar monitorar Serra e o deputado federal Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), suspeito de equipar a contrainteligência do PSDB. Lanzetta teria sido indicado pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT), atual ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
No livro, Amaury acusa o presidente petista, Rui Falcão (coordenador da comunicação de Dilma), de ter sido a fonte da "Veja" e de ter mandado copiar as páginas iniciais de "A privataria tucana". "Descrito minuciosamente pelo diretor da revista, o que ele chamava de relatório era o esboço geral deste livro arquivado no meu notebook", narra o jornalista. "Não foi preciso nem um pouco de esforço para chegar à conclusão: o texto só poderia ter sido copiado na ratoeira do apartamento do hotel em que me haviam colocado em Brasília e onde Rui Falcão tinha trânsito livre".
Amaury atribui a queda de Lanzetta a uma manobra empresarial, não só política, do desafeto. "Uma das raras atividades de Falcão como coordenador de comunicação da campanha, além de vazar informações, foi forçar a entrada de seus sócios em cima da empresa já contratada", acusa, referindo-se ao grupo de Valdemir Garreta. Falcão não atendeu às ligações de Terra Magazine para comentar os trechos do livro. Em abril, o petista entrou com uma queixa-crime contra Amaury, que continua a acusá-lo de ter violado dados armazenados em seu computador.
Secretário nacional de comunicação do PT, o deputado federal André Vargas diagnosticou, em 2010, a origem do conflito: a proximidade de Fernando Pimentel com o governador mineiro Aécio Neves trouxe o dossiê (ou esboço de livro) para o colo da campanha. "Essa relação muito íntima com adversários figadais não dá certo. Aécio se preparou pra uma guerra contra o Serra, que não aconteceu. Aí acabou uma mina ativa pra gente", declarou, referindo-se a uma reportagem encomendada pelo "Estado de Minas" a Amaury.
Em entrevista a Terra Magazine, André Vargas defende Falcão das acusações:
- Isso nunca existiu. O que existiu foi um grupo de pessoas que estava assumindo funções pela campanha e que não eram da campanha. Não tinha um dirigente da campanha (...) Rui Falcão estava incluído na direção da campanha. E esse grupo não estava sob a coordenação de ninguém da campanha - diz Vargas.
Com farta documentação, Amaury Ribeiro Jr. relata casos de desvios de recursos e pagamentos de propinas durante o processo de privatizações no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo o autor, houve um esquema de lavagem de dinheiro com conexões em paraísos fiscais, unindo membros do PSDB, como o ex-ministro da Saúde e ex-governador paulista José Serra, ao banqueiro Daniel Dantas.
Confira a entrevista de André Vargas.
Terra Magazine - Deputado, o senhor começou a ler o livro de Amaury Ribeiro Jr.? 
André Vargas - Comecei a ler... Não li ainda. Interessante, né?
O livro reforça uma avaliação feita pelo senhor, durante a campanha, de que o episódio do dossiê teria partido de um grupo da comunicação de Dilma que entrou em contato com Amaury Ribeiro, que investigou as privatizações no jornal "Estado de Minas", a pedido de Aécio Neves. Como o senhor avalia o livro em relação a esses fatos?
Não, quem afirmou que ele estava trabalhando para Aécio não fui eu, foi o próprio Amaury. Ele trabalhava no "Estado de Minas" e fazia um dossiê.
Mas o senhor já leu a parte em que o jornalista denuncia a guerra na comunicação da campanha de Dilma?
Não, não. Eu folheei só o livro. Não li com o cuidado que precisa. Mas tem muito documento. O cara assina embaixo de afirmações fortes.
As denúncias do livro devem ter ressonância na mídia ou no Congresso?
Na mídia, em grande parte, não, né? Não toca nem no assunto. Se o assunto fosse diferente, fosse do PT, tinha uma revista aí que publica qualquer coisa contra o PT. Agora, quando é contra os tucanos, não tem, né?
Do que o senhor leu, o que é mais grave?
Dinheiro migrado, ligação (da filha de Serra) com a Verônica, a irmã do Daniel Dantas.
Amaury Ribeiro Jr. também acusa o presidente do PT, Rui Falcão, de querer montar um grupo à parte na campanha de Dilma, de pretender impor o grupo dele de comunicação em função de negócios. O senhor faz essa leitura?
Não faço. Pelo contrário. Isso nunca existiu. O que existiu foi um grupo de pessoas que estava assumindo funções pela campanha e que não eram da campanha. Não tinha um dirigente da campanha. Quem tinha função de dirigente da campanha era o José Eduardo Dutra e o próprio Rui Falcão. Rui Falcão estava incluído na direção da campanha. E esse grupo não estava sob a coordenação de ninguém da campanha.
É um ponto injusto do livro?
É injusto, mas no livro, em si, o pano de fundo não tem nada a ver com isso.
O próprio PT não tem se pronunciado tanto sobre o livro. Ele traz denúncias documentadas, fac-símiles... 
O PT, oficialmente, denunciou todos os excessos no processo de privatização. Continuamos achando que foi o maior escândalo de corrupção. Um grampo flagrou o presidente da República (Fernando Henrique Cardoso), à época, beneficiando ou aparentemente beneficiando um dos grupos das privatizações. À época, nós atuamos. Agora, nós temos a responsabilidade de governar e olhar para a frente. Não podemos nos comportar como fazem os tucanos, que leem uma revista ou leem um livro e passam a repeti-los. As consequências, vamos debater no parlamento, claro. Não será uma postura do PT como ofensiva partidária. Nós achamos que esse caráter da luta política que se conduz no Brasil interdita a democracia.
O livro pode atiçar a briga do PSDB entre o grupo de Aécio Neves e de José Serra, revolvendo os rancores eleitorais? 
Eles sabem o que fizeram um para o outro. Não me parece que o clima do PSDB tenha melhorado desde então, passada a derrota do Serra. A tendência é mais de divisão, independente do livro. O livro apenas deixa isso claro.

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