quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

CDN irrita Planalto com nomeação de Mario Sabino



CDN irrita Planalto com nomeação de Mario SabinoFoto: Divulgação

DESAFETO DO PT, DO EX-PRESIDENTE LULA E DE MINISTROS DA PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF, EX-REDATOR CHEFE DE VEJA MARIO SABINO É NOMEADO VICE-PRESIDENTE PARA O SETOR PÚBLICO DA COMPANHIA DE NOTÍCIAS; EMPRESA DETÉM A CONTA DO GOVERNO FEDERAL PARA DIVULGAÇÃO DA IMAGEM DO BRASIL NO EXTERIOR; CONTRATAÇÃO SOOU AO GOVERNO COMO PROVOCAÇÃO DO EMPRESÁRIO JOÃO RODARTE; “DEEM AS BOAS-VINDAS AO MARIO!”, REGISTROU ELE EM CARTA AOS ‘COLABORADORES’; ÍNTEGRA

19 de Janeiro de 2012 às 16:12
247 – Pegou mal. Depois de ser demitido de maneira estriptosa do cargo de redator chefe da revista Veja, na qual coordenou algumas dezenas de reportagens eivadas de ataques políticos e ideológicos ao PT, à gestão do presidente Lula e, mais recentemente, à administração Dilma Rousseff, o jornalista Mario Sabino reapareceu hoje. Ele foi nomeado vice-presidente para o Setor Público da empresa Companhia de Notícias, do empresário João Rodarte. Será sócio e terá responsabilidades “inclusive na prospecção de novos clientes”, conforme Rodarte registrou em mensagem aos seus “colaboradores” (leia íntegra abaixo). Fundada pouco antes e desenvolvida durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, de quem Rodarte foi genro, na Presidência da República, a CDN se tornou uma das maiores organizações de assessoria de imprensa e relações públicas do País. O faturamento anual é superior a uma centena de milhão de reais. Hoje, detém a conta do governo federal para a divulgação do Brasil no exterior.
No Palácio do Planalto, alvo contumaz de ataques de Mario Sabino no período em que ele deteve poder editorial em Veja, revista na qual serviu por 17 anos, a nomeação para o cargo de vice-presidente de Setor Público da CDN foi classificada por um integrante do núcleo mais próximo à presidente Dilma como “provocação”.
Pela ótica de seus históricos relacionamentos com políticos tucanos, a contratação efetuada por Rodarte faz todo o sentido. Com trânsito livre no PSDB, o empresário conquistou uma série de contas no governo de São Paulo, no qual as administrações tucanas se sucedem desde 1995. No momento, o secretário de Comunicação da administração Geraldo Alckmin é o jornalista Márcio Aith, amigo pessoal e ex-colega de Sabino em Veja. Na publicação da editora Abril, ambos se especializaram em alinhar denúncias e atacar por diferentes ângulos a gestão do ex-presidente Lula e os principais quadros de seu partido. Foi, de resto, em razão de uma trapalhada, ano passado, na busca por atingir um deles, o ex-presidente do PT José Dirceu, que Sabino, pouco mais tarde, foi excluído da equipe de Veja. Nas férias de Alcântara, o então redator chefe Sabino coordenou a ação de um repórter da revista em Brasília que terminou numa delegacia de polícia, sob a acusação de tentativa de invasão do domicílio particular que Dirceu ocupava no Hotel Naoum.
Do ponto de vista do relacionamento da CDN com o governo da presidente Dilma Rousseff, no entanto, qualquer outra escolha de Rodarte dificilmente conseguiria ser pior, política e eticamente, do que a de Sabino. O anti-petismo dele é latente, assim como sua má vontade diante das realizações da atual e da administração anterior. Às vésperas da chegada da então candidata vitoriosa Dilma ao Planalto, ele esteve à frente do trabalho gráfico que exibiu o ainda presidente Lula procurando segurar os ponteiros de um grande relógio, num indicativo de que, desesperadamente, não queria deixar o cargo. Lula, como se sabe, não advogou para si a exceção de um terceiro mandato. Ao contrário, aceitou a regra constitucional e ofereceu ao voto sua candidata Dilma.
Outro problema na nomeação de Sabino para o cargo de vice-presidente de uma empresa de relações com a imprensa e o público é, exatamente, suas relações com a imprensa e o público. Tirante Aith e o blogueiro Reinaldo Azevedo, não se conhecem ao certo jornalistas e formadores de opinião que tenham boas relações com Sabino. Escritor que já foi classificado de “insuportável” por Paulo Coelho, criador de personagens misóginos e maníacos que valeram a ele o epíteto de “escroto” em crítica publicada no jornal Valor Econômico, Sabino, a partir de agora, “atuará também junto a outras áreas da CDN sempre que necessário”, como frisou seu sócio Rodarte na seguinte mensagem:
Caros colaboradores,
Tenho grande satisfação em anunciar a chegada à CDN de Mario Sabino, um dos mais importantes jornalistas do Brasil. Mario trará para a nossa equipe a experiência de 27 anos em postos de comando em alguns dos principais veículos de comunicação do país. Tenho certeza de que ele dará enorme contribuição ao crescimento da CDN e ao atendimento cada vez mais estratégico a nossos clientes.
A partir de 14 de fevereiro, Mario assumirá o cargo de Vice-Presidente, com foco em Comunicação para o Setor Público, área da qual será sócio. Ele atuará também junto às outras áreas da CDN sempre que necessário, inclusive na prospecção de novos clientes.
Nosso novo colega nasceu em 1962, em São Paulo. Formou-se em jornalismo na PUC. Começou sua carreira em 1984, como responsável pela seção Livros da Folha de S. Paulo. Em 1990, editou a revista Teoria&Debate, ligada ao diretório estadual do Partido dos Trabalhadores, apesar de nunca ter se filiado a partido nenhum. A revista precisava de um profissional capaz de imprimir um tom mais jornalístico à publicação. No final de 1990, foi convidado por Mino Carta para trabalhar na revista Istoé, na qual exerceu a função de editor de Cultura e editor especial. Em 1994, teve uma breve passagem pela redação de O Estado de S. Paulo, como subeditor do Caderno 2. No final do mesmo ano, foi convidado para trabalhar na Veja. Na revista em que permaneceu por dezessete anos, foi editor de Geral, editor-executivo de Artes e Espetáculos e redator-chefe, cargo que ocupou por oito anos.
Sabino mantém, em paralelo, uma atividade literária prolífica. Em 2004, lançou seu primeiro romance, O Dia em que Matei Meu Pai, publicado em outros dez países. No ano seguinte, lançou o livro de contos O Antinarciso, que ganhou o Prêmio Clarice Lispector, concedido pela Biblioteca Nacional, como o melhor livro do gênero em 2005. Em 2009, foi publicado o seu segundo livro de contos, A Boca da Verdade, e, no ano passado, o romance O Vício do Amor, comprado na Holanda antes de sair no Brasil. Ainda no campo da literatura, traduziu o ensaio Arte e Beleza na Estética Medieval.
Peço a todos que deem as boas-vindas ao Mario!
Abraços,
João Rodarte

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