sexta-feira, 2 de março de 2012

As razões da subordinação de Kassab a Serra



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Lideranças do PSD estão imersas em elucubrações sobre os motivos que levaram o prefeito paulistano Gilberto Kassab a apoiar José Serra. Politicamente é um desastre para o PSD e, dentro do partido, para Kassab.
Chegou-se a aventar a possibilidade de Kassab estar nas mãos de Serra devido a algum segredo recôndito. A explicação é muito mais simples do que parece e pode ser buscada nas origens políticas de Serra, ainda no governo Montoro.
A carreira de Serra foi montada em cima de dois Serra, o 1 e o 2
Seu lado mais eficiente foi o Serra 2, da gestão financeira informal do partido. No governo Montoro indicou os financeiros das principais estatais paulistas; controlou a liberação dos precatórios; monitorou ferreamente a importação de equipamentos médicos. Mais tarde, comnandou a ala tucana do Banespa, através de seu sócio Vladimir Riolli; foi o tucano mais influente no Banco do Brasil, através de Ricardo Sérgio; no Planejamento, controlou as privatizações e foi o mais ferreo defensor (para dentro), embora se poupasse (para fora). Na Saúde, meteu-se na encrenca das ambulâncias. Eleito prefeito, trouxe para a prefeitura um conjunto enorme de prestadores de serviços que atuavam principalmente no Distrito Federal.  No Estado, teve o Rodoanel e Paulo Preto.
Serra 2 foi blindado pelo seu alter ego público, o Serra 1, suposto intelectual, economista desenvolvimentista etc. Foi uma blindagem esperta, porque contou, durante anos, com o aval de intelectuais de peso - como Maria da Conceição Tavares, Carlos Lessa e Luiz Gonzaga Beluzzo - iludiu políticos ladinos - como FHC e Lula -, sem contar os jornalistas que caimos nesse conto.
Depois que colocou o pescoço para fora, como governador e como candidato a presidente, constatou-se que o Serra 1, se algum dia existiu, morreu nos anos 80. Já o Serra 2 tornou-se cada vez mais explícito e dominante. A campanha abjeta que desenvolveu desnudou-o de vez, matando resquícios do Serra 1.
Hoje creio estarmos quase todos - jornalistas que o conheceram e o apoiaram no início, economistas desenvolvimentistas, intelectuais tucanos, os próprios FHC e Lula - convencidos de que o estilo Serra, que extravasou nos últimos anos, não se deve a burrice política, desequilíbrio ou quetais. Para consumo externo, Serra era Gianotti; no âmago, sempre foi Itagiba, Gesner, Paulo Preto. O verdadeiro Serra era o Serra 2.
Fez a mais cara campanha de deputado federal em 1989. Para impor sua candidatura presidencial ao partido, o grande trunfo foi seu caixa de campanha, suficientemente robusto para financiar aliados em outros estados. O grande trunfo de Kassab para montar o PSD, sem nunca ter tido atuação nacional, foi o caixa proporcionado pelo terceiro maior orçamento do país - a prefeitura de São Paulo.
O livro "A Privataria Tucana" mostra que Serra montou todo seu universo em torno da família, os únicos a merecerem sua confiança irrestrita. É crível supor que, impondo Kassab ao partido, nas eleições para prefeito, deixasse em suas mãos o controle da caixinha partidária? É evidente que não.
Eleito governador, a primeira coisa que Geraldo Alckmin fez foi nomear seu homem para a área de transportes - Saulo de Castro Abreu. A primeira declaração de Saulo foi ameaçar mudar os cálculos dos pedágios paulistas. Chegou até a estimar as perdas das empreiteiras. Dado o aviso sobre quem era o novo rei, quedou em silêncio obsequioso de quem já reconquistou o terreno.
É evidente que, surgindo através das mãos de Serra, Kassab não teve a mesma oportunidade de romper o cordão umbilical. É possível que Serra consiga o recorde de sepultar dois partidos de uma vez.

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