quarta-feira, 9 de maio de 2012

CPI: 'estamos perdendo tempo', diz deputado sobre delegado da PF


Do Terra

 Antônio Cruz/Agência Brasil
Alguns parlamentares criticaram a necessidade de uma sessão secreta da CPI do Cachoeira para ouvir o depoimento do delegado da Polícia Federal (PF) Raul Alexandre Marques
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Gustavo Gantois - Direto de Brasília
A necessidade de uma sessão secreta da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira para ouvir o depoimento do delegado da Polícia Federal (PF) Raul Alexandre Marques não foi unânime entre os parlamentares. O deputado Silvio Costa (PTB-PE) foi um dos que saíram da reunião criticando a oitiva. "Tudo o que o delegado está falando consta no inquérito. Estamos perdendo tempo aqui e ainda mostrando ao País que queremos esconder certas coisas", disse.
O senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP) compartilhou do entendimento do deputado. Para ele, o depoimento apenas oficializou algumas conclusões que já haviam sido tomadas pelos parlamentares. "Estou mais convencido do envolvimento do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e dos deputados Sandes Júnior (PP-GO) e Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO). Não restam mais dúvidas da participação deles. Demóstenes era o principal braço político da organização", acusou o senador. O Terra entrou em contato com a assessoria de Demóstenes e aguarda um retorno.
Randolfe também afirmou que a participação da Delta Construções no esquema está mais do que comprovada. A empreiteira tem como sócio majoritário o empresário Fernando Cavendish. "Tenho convicção que devemos convocar o senhor Cavendish para depor. Ele e o senhor Claudio Abreu (ex-diretor da empresa no Centro-Oeste) têm explicações a dar", advertiu o senador.
Para o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), o depoimento do delegado Raul Alexandre Marques também não acrescentou muitas informações ao que os parlamentares já sabiam. Segundo Bueno, a única certeza que ficou da oitiva é que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, deve ser chamado a depor na CPMI. "O procurador-geral deve explicações ao País sobre a demora na apuração. O delegado informou que recebeu um pedido de envio do inquérito em 2009 e nada foi feito. São três anos em que esse processo ficou parado com o procurador-geral", disse o deputado.
Sessão secreta
A decisão sobre o sigilo do depoimento do delegado Raul Marques foi tomada no inicio da sessão da CPMI. Por 17 votos a 11, os parlamentares decidiram fechar as portas para que as investigações não fossem comprometidas pelos vazamentos nos depoimentos.
O pedido de sigilo vale também para os depoimentos do delegado Matheus Mella Rodrigues, e dos procuradores da República Daniel de Rezende Salgado e Lea Batista de Oliveira, responsáveis pela investigação da operação Monte Carlo, previsto para ocorrer na próxima quinta-feira.
Carlinhos Cachoeira 
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Nenhum comentário: