O jovem fiel que receberá o papa no Brasil não se dedica mais só à espiritualidade. Ele defende uma agenda social, quer acabar com a pobreza e discute tabus
Rodrigo Cardoso e João LoesISTOÉ Online conversou com alguns jovens que irão participar da jornada. Assista ao vídeo:
Na próxima semana, o papa Francisco irá desembarcar no Brasil e dirá, em Aparecida e no Rio de Janeiro, o que o catolicismo espera dos jovens. O pontífice encontrará no País, durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que acontece entre os dias 22 e 29 deste mês, fiéis diferentes dos encontrados pelos dois últimos papas. Após um longo período de preponderância da experiência religiosa individual, ganha impulso agora o engajamento social. Com suas bandeiras e expectativas de transformações nas áreas de saúde e educação, respeito às diferenças, diminuição da violência e fortalecimento de uma economia mais solidária, a nova juventude católica brasileira busca eco na palavra do papa que prega a humildade e o amor ao próximo.
UNIÃO
A chegada da Cruz Peregrina ao Rio para a Jornada Mundial da
Juventude, que vai reunir 2,5 milhões de pessoas: a formação
humanística do papa casa com os anseios dos jovens
A chegada da Cruz Peregrina ao Rio para a Jornada Mundial da
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TRANSFORMAÇÃO
Fiéis de todo o Brasil irão para a Jornada: jovens querem agenda mais social
Fiéis de todo o Brasil irão para a Jornada: jovens querem agenda mais social
EXPECTATIVA
No Santuário de Aparecida, visitantes já
encontram imagens do papa nas lojas de suvenir
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Priscila Naves, 21 anos, articuladora nacional da PJ Estudantil, explica que essa vontade de ir além e atuar no campo social tendo a fé como balizador moral é um dos desejos da Pastoral para todos os seus membros. “É o resultado do que chamamos de educação libertadora”, diz. Essa formação começa aos dez anos, com discussões que ajudam na construção do caráter e da identidade da criança. Com o tempo e o acompanhamento da PJ, o adolescente começa a se perceber no contexto de sua família, escola, bairro, cidade e país. “Trabalhamos para que o jovem tenha uma visão crítica do mundo e que, a partir disso, proponha mudanças”, explica.
ENGAJADO
"A juventude quer colocar mais a mão na massa,
mostrar que pode transformar o mundo",
diz Cavalcante
"A juventude quer colocar mais a mão na massa,
mostrar que pode transformar o mundo",
diz Cavalcante
Na opinião da socióloga Silvia Fernandes, coordenadora da pesquisa, atualmente a juventude busca novos caminhos de participação social que não passam necessariamente por instituições. “Mas ela pode considerá-la se estas se configuram em espaço de aceitação e realização do jovem que deseja se perceber ativo socialmente”, diz ela, que é professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Está aí uma grande oportunidade para a Santa Sé recuperar prestígio e tentar conter a sangria do grupo de fiéis que representa o futuro da religião. Entre 2000 e 2010, segundo o IBGE, a população católica entre 15 e 29 anos diminuiu 7,1%.
PREPARATIVOS
Enquanto em Copacabana (acima) o palco que receberá o papa está quase pronto,
em São Paulo os irmãos Pedro e Taynah (abaixo) ensaiam a participação na JMJ
Enquanto em Copacabana (acima) o palco que receberá o papa está quase pronto,
em São Paulo os irmãos Pedro e Taynah (abaixo) ensaiam a participação na JMJ
O carioca Rodolfo Viana, 28 anos, crismado na catedral metropolitana do Rio de Janeiro, afastou-se do catolicismo por dois anos depois de ser praticamente expulso da Renovação Carismática, um dos 61 movimentos de evangelização da juventude computados pela CNBB. Motivo: um de seus coordenadores descobriu que Viana tinha um namorado. “Como não conseguia ser ex-gay, me tornei ex-católico”, diz. Ele só retornou à religião ao conhecer o Diversidade Católica, um grupo de gays católicos que se reúne a cada 15 dias – e que conta com a colaboração de padres e teólogos – para conciliar as identidades religiosa e sexual, numa demonstração de que tabus, como a homossexualidade, agora encontram espaço para discussão entre os fiéis. “Hoje, não sou mais vítima da Igreja, que faz parte da minha cultura e formação moral. Bater o pé e não sair do banco do catolicismo é fazer política. Do contrário, estaria me amputando”, diz Viana.
O jesuíta Francisco é um papa que critica a corrupção, o neoliberalismo e defende o direito dos pobres. Adota um posicionamento de esquerda nas questões sociais. Ele sabe que ao não aceitar o livre arbítrio da juventude a Igreja deixa de evangelizar muitos fiéis. Durante a Jornada, o Diversidade Católica irá promover, na UNIRio, um encontro para que jovens católicos homossexuais contem como vivem a sua identidade religiosa. Há uma expectativa em torno do que o pontífice dirá aos jovens sobre os assuntos doutrinários, como o segundo casamento, a ordenação feminina e, principalmente, sexo. Desde o Concílio de Trento, no século XV, onde se reforçou, só para dar um exemplo, o celibato de padres, a Igreja não muda o discurso sobre a sexualidade. Conservador em temas morais, Bergoglio não deverá ousar nessa seara, segundo estudiosos.
Mas o argentino costuma quebrar protocolos. Já disse, inclusive, que o cristão tem de ser revolucionário, ir contra a corrente. Foi ele quem fez as pessoas voltarem novamente os olhos para o catolicismo, que se encontrava desacreditado e manchado pelos escândalos de pedofilia. Tem, portanto, grande capacidade de atrair a juventude, inquieta por natureza e, atualmente, com anseio de viver sua fé com justiça social.
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