domingo, 30 de outubro de 2011

Lula, que deu voz ao povo, inicia a sua maior batalha



Lula, que deu voz ao povo, inicia a sua maior batalhaFoto: Clóvis Cranchi Sobrinho/Agência Estado

TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO COMEÇA NESTA SEGUNDA-FEIRA E VISA PRESERVAR A FALA DE UM EX-PRESIDENTE QUE FEZ COM QUE O POVO BRASILEIRO, ANTES CALADO, SE FIZESSE OUVIR E RESPEITAR

30 de Outubro de 2011 às 20:38
247 – Nos idos de 1979, Luiz Inácio Lula da Silva e seu amigo Devanir Ribeiro estavam no Morumbi, em dia de estádio lotado, assistindo a uma partida entre Corinthians e Guarani. No meio da partida, Lula se virou para Devanir e disse: “O dia em que a gente fizer uma assembleia com um tanto assim de gente, nós vamos virar este país de ponta-cabeça”.
Depois daquele jogo, Devanir começou a planejar um encontro que entrou para a história do sindicalismo brasileiro, na Vila Euclides, no ABC paulista. Lula se viu diante de 160 mil operários. “Você não queria o povo? Ele está aí”, disse Devanir. Lula encarou aquela multidão e, com o microfone nas mãos, começou a usar e abusar da sua principal arma política: a voz. Foi eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo com 98% dos votos e passou a balançar a ditadura. O “povo”, antes uma abstração, começou a se transformar num ator da política brasileira.
Corte agora para 2006. Lula estava reunido com um pequeno grupo de jornalistas no Instituto da Cidadania, em São Paulo. Confidenciou que já havia recebido recomendação médica para tratar as cordas vocais. Mas que vinha adiando porque a voz e a capacidade de inflamar multidões sempre foram seus principais instrumentos de trabalho.
Nesta semana, quando o Brasil foi surpreendido com a notícia do câncer na laringe de Lula, muitos especularam sobre as causas. Terá sido o cigarro? Pode ser, mas Lula fuma bem menos do que se imagina. De concreto, apenas a certeza de que nenhuma voz é tão presente no imaginário brasileiro quanto a de Luiz Inácio Lula da Silva. E essa mesma voz que o levou ao poder, também garantia, fora dele, seu régio sustento. Nos últimos meses, Lula vinha fazendo palestras empresariais, ao custo de R$ 200 mil por evento.
A grande batalha de Lula
Nos últimos 32 anos, do comício da Vila Euclides até hoje, Lula falou, falou, falou e falou. Correu o Brasil inteiro, fez as caravanas da cidadania, disputou quatro eleições presidenciais e, nos seus oito anos de poder, utilizou a retórica como um instrumento eficiente de condução das massas.
Nesta segunda-feira, sem voz, ele iniciará a mais importante de todas as suas batalhas: a luta contra um câncer na laringe, cujo tratamento quimioterápico visa preservar a sua fala. O tumor tem três centímetros e se localiza na supraglote. De acordo com oncologistas, é plenamente curável, quando diagnosticado de forma precoce.
Aos médicos, Lula perguntou se seu cabelo cairia. Os médicos disseram que sim. Também pediu que seja dada máxima transparência ao seu tratamento, no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Num comício recente, Lula disse à multidão: “... se cortarem o meu braço, vocês serão o meu braço; se calarem a minha voz, vocês serão a minha voz”.
O fato é que, depois de Lula, o povo brasileiro se fez ouvir.

Nenhum comentário: