Foto: BETO BARATA/AGÊNCIA ESTADO
PRIMEIRO FOI DURVAL BARBOSA (À DIR.), QUE SAIU DA POSIÇÃO COMPROVADA DE CORRUPTOR PARA A DE DENUNCIANTE; AGORA, O PM JOÃO DIAS, QUE SE BENEFICIOU DE CONVÊNIOS MILIONÁRIOS NO MINISTÉRIO DO ESPORTE, TENTA MUDAR DE LADO E ATIRA FEITO LOUCO
247 – Seria cômico, não fosse trágico. No Brasil desses tempos de faxina ética, até quem deveria ser varrido para o lixo da história está conseguindo posar de gari com pinta de herói. E pelo menos dois desses casos vem de Brasília, na órbita do governo do Distrito Federal. Primeiro apareceu Durval Barbosa, velho quadro da administração do tristemente famoso governador Joaquim Roriz. Sempre partícipe do alto escalão do GDF, uma posição privilegiada tanto para observar, tomar parte ou denunciar malfeitos, ele permaneceu mudo por anos a fio. Quando Roriz deixou o poder, Barbosa passou a agir como um verdadeiro espião da administração do sucessor José Roberto Arruda, gravando as cenas de distribuição de propina em que ele próprio, Barbosa, era o corruptor. Um comportamento diligente que, se ele teve durante o governo de Roriz, ainda não contou para ninguém. O certo é que, mesmo admitindo ser um dos pivôs do propinoduto, Barbosa valeu-se do escudo protetor da legislação de delação premiada, fez a sua cena e retirou-se, incólume. Não parece justo, mas é assim que as coisas estão.
Agora, de maneira bastante atabalhoada, o que só fez aumentar a repercussão de seu gesto, o PM João Dias igualmente tenta disparar sua carga no mesmo alvo. Numa atitude inédita na história global da corrupção, cujo início remonta ao período antes de Cristo, Dias procurou a maneira mais espalhafatosa que se tem noticia para entrar numa sede de governo. Sem audiência marcada e aos gritos, na terça-feira 6, ele apareceu na sede do GDF com uma mala na qual carregava R$ 159 mil, agrediu duas secretárias, quebrou um dedo ao enfrentar a segurança e, arrestado, saiu dizendo que só queria devolver uma propina que teria sido recebida, um dia antes, do secretário de Governo.
É difícil acreditar que alguém, e ainda mais dessa maneira, tente devolver dinheiro roubado recebido das mãos de outrem. Mas, vá lá, arrependimentos acontecem. A intenção declarada, porém, era a de criar provas contra o secretário. Nesse caso, é preciso ser, além de louco, muito burro para acreditar que, dessa maneira, as provas seriam consubstanciadas. Com as facilidades tecnológicas dos dias atuais, Dias poderia ter gravado de diferentes ângulos a cena que disse ter existido. Graças a seus bons relacionamentos na mídia, que passou a alimentar no episódio da derrubada do ministro do Esporte, Orlando Silva, mesmo após ter sido beneficiado, com sua ONG, de convênios que renderam R$ 2,6 milhões em repasses, ele poderia ter combinado uma campana de jornalistas. Nesse caso, logo após pegar a mala que alega ter pego, ele poderia abri-la diante do fotógrafo acantonado, levar o profissional imediatamente ao corruptor e, de quebra, ganhar novos espaços a cores como atuante faxineiro.
Não, em lugar dessas e outras alternativas, Dias preferiu um caminho que sabia impossível, o que resultou em sua prisão. Apesar de toda a trama, até aqui, resultar numa grande história mal contada, ele já recuperou parte de seu status de denunciador de corruptos. O site da revista Veja, na tarde da quarta 7, poucas horas depois de ele ter sido solto, já divulgava novas afirmações do próprio Dias. Ele aproveitou para ampliar seu alvo, anunciando ter participado de um esquema de captação ilegal de dinheiro para a campanha eleitoral do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.
Dias, ex-beneficiário de repasses milionários do Ministério do Esporte, e pelo comportamento tresloucado desta semana, não tem credibilidade pessoal para pendurar uma conta no açougue mais próximo à sua residência. Para disparar ataques sobre um ex-presidente da República, no entanto, ele parece à revista Veja a fonte mais crível do planeta. Não inspira desconfiança, não demanda checagem sobre o que diz, nem sequer desperta a ordem de se ouvir o outro lado, justamente o que ele ataca. Nada disso. Ele aciona sua descarga e tudo desce, online, ao público. A verdade é que muita coisa cheira muito mal nessa história muito mal contada.
Um comentário:
É impressionante como um policial invade o palacio,distribui porradas,diz que recebeu dinheiro,mostra o dinheiro,e ninguem faz nada,cade o MP para pedir prisão? por muito menos,e sem provas,num falso flagrante montado,o arruda foi preso ,e agora? cade a raquel dogde? onde estão os estudantes? onde esta a midia indignada?
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