sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Oscar Maroni Filho: “O Bahamas é um patrimônio para as famílias”



Condenado a quase 12 anos de cadeia por favorecer a prostituição, o empresário recorre em liberdade e se diz vítima de juízo moral. "É um ato criminoso o que fizeram comigo" 
EntrevistaVida Urbana - Por Eduardo Duarte Zanelato - 30/11/2011  
PERSEGUIDO? Maroni Filho afirma que não vive de explorar o sexo e que os moralistas sempre irão condenar liberais como ele
Enérgico e falastrão, o mais conhecido empresário de “entretenimento adulto” do país foi condenado em outubro a 11 anos e oito meses de prisão por favorecimento à prostituição. Recorre em liberdade e luta para reabrir sua megaboate, o Bahamas, um conhecido reduto da luxúria inaugurado há 15 anos em Moema. Além do clube, que rendia cerca de R$ 1 milhão por mês ao empresário – e, segundo a decisão judicial, era frequentado por garotas que faturavam R$ 300 por programa –, Maroni é dono do Oscar’s Hotel, anexo à casa.
Com 11 andares e 223 apartamentos, o prédio ficou famoso após o acidente com o voo 3054 da TAM, que matou 199 pessoas, em 2007. Prestes a ser inaugurado na ocasião, foi apontado como possível vilão por ser alto demais para o local, a apenas 600 metros do aeroporto. O episódio, amplificado pelas declarações sempre polêmicas de Maroni, chamou a atenção das autoridades, que lacraram o hotel e passaram a investigar seus negócios.
Formado em psicologia e ex-candidato a vereador (ele recebeu 5.804 votos em 2008), o empresário afirma que, no Bahamas, lucrava com a venda de bebidas e com a locação de quartos, mas jamais com o agenciamento das garotas. Na entrevista a seguir, feita no escritório de seu advogado, José Thales Solon de Mello, ele se diz vítima de perseguição e juízo moral – e conta como deixou o consultório de psicoterapia para enriquecer com a diversão para maiores.
O senhor sonha em reabrir o Bahamas?
Eu não sonho, quero vê-lo reaberto. Considero um ato criminoso o que estão fazendo comigo. Tenho 60 anos e só a morte vai me calar. Irei às últimas consequências para fazer justiça. Tenho documentos que provam legalmente a perseguição que estou sofrendo.
É essa a avaliação que o senhor faz de sua condenação? 
A juíza (Cristina Ribeiro Leite) alega que o Bahamas tem as mulheres mais lindas do Brasil e que ganho mais de R$ 1 milhão (por mês). Diz que as moças funcionam como chamarizes para clientes de alto poder aquisitivo, artistas, políticos e esportistas. Isso não é ilegal e nunca foi. Sofri um julgamento moral. Ela também alega que me orgulho de ser um empresário do sexo. Digo novamente: sou um empresário do sexo. Mas não vivo da exploração do sexo. Sou empresário do sexo, fiz cinco anos de faculdade de psicologia, seis anos de clínica sobre a sexualidade humana, e assumo o que estou dizendo: essa juíza errou. Ela se baseou em valores morais questionáveis. E, na lei, não se questiona valores morais. Existe prostituição no Brasil inteiro. Por que só eu sou condenado?
Vivemos numa sociedade conservadora?
Temos uma minoria hipócrita, mal resolvida sexualmente, que quer impor seus valores. E também temos os religiosos. Sou radicalmente contra isso. Vivemos numa democracia. Eu tenho o direito de ser ateu, de pecar quanto quiser. Nas sociedades evoluídas, não se discute moral. O que se discute é a lei. E essas pessoas querem reprimir todo mundo. Sou a favor de pênis eretos, vaginas molhadas e de cada um colocar a boca onde bem entender. Sexo é bom, é saudável, e a humanidade deveria fazer mais. Os moralistas não aceitam os excessivamente liberais como eu. Aí passei para a história com essa condenação de 11 anos e oito meses. Eu e Calígula (imperador romano no século I d.C., famoso pela vida desregrada e libertina).
Por que muitos dos concorrentes do Bahamas continuam abertos?
Porque a lei nos possibilita isso. Já me disseram várias vezes na Subprefeitura de Vila Mariana: “Oscar, o problema não é o hotel nem o Bahamas. O problema é você”. É uma picuinha. Não gostam de mim. Falo demais. Me acham arrogante, prepotente.
Qual é o tamanho do mercado de sexo na cidade de São Paulo? 
Há dez ou 15 estabelecimentos do tamanho do Bahamas. São os tops: Café Photo, Bamboa, Ilha da Fantasia, Escândalo. Depois, há casas menores e as casas de massagem. Nesse caso, é só abrir o jornal e ver que existem mais de 200.
Qual é a situação do Bahamas hoje? 
O Bahamas fechou porque o Zé do MP (o promotor José Carlos Blat, do Ministério Público Estadual) declarou que eu não tinha alvará de funcionamento. Então fomos providenciá-lo. Foram três, quatro anos para tirar o documento. Tudo o que me pediam eu apresentava. Chegou um dia em que só faltava o auto de conclusão de uma obra de adequação que tivemos de fazer na boate. Os engenheiros da subprefeitura garantiram que estava tudo certo e que me dariam o auto. Mas não deram. Passei por três áreas da prefeitura, e o auto não foi concedido. Alegaram que eu poderia voltar a abrir o Bahamas. Aí o (prefeito) Kassab indeferiu a licença. Estou com o imóvel fechado, pagando impostos, e não posso alugar, vender ou construir nada. Entramos com um mandado de segurança e vamos esperar o resultado. Manter o Bahamas aberto é um direito meu, líquido e certo. Até o final deste mês, devemos ter uma decisão.
Quanto tempo será preciso para reabrir o Bahamas, caso consiga o alvará?
Reabro em no máximo 48 horas, com tudo em ordem, limpo e conservado.
Qual é sua fonte de renda hoje?
Há quatro anos não entra um tostão em minha casa. Consegui arrendar minha fazenda em Araçatuba (SP), onde eu criava gado de corte, para um grupo que cultiva cana-de-açúcar, e estou vivendo desse arrendamento. Estou pagando as dívidas, entrando nos eixos. Quando terminei a obra do hotel, que nunca chegou a ser inaugurado, ele e o Bahamas renderiam, juntos, R$ 3,2 milhões por mês. De repente, o senhor Fabio Lepique (então subprefeito de Vila Mariana), para puxar o saco do senhor Kassab, chegou e disse que iria lacrar porque eu tinha afirmado que aquela era uma casa de prostituição de luxo. E me levaram preso. Meu mundo caiu. E comecei a quebrar. O fato é que eu tenho ideias, dinheiro e sou bem-sucedido. E isso incomoda.
O Bahamas recebia políticos e artistas. Quem eram esses clientes?
Noventa por cento dos frequentadores do Bahamas são homens de 35 a 60 anos, casados, que amam suas esposas e suas famílias. São grandes políticos e empresários. De vez em quando, querem dar uma escapadinha. Algo do umbigo para baixo, sem grandes consequências. O Bahamas é um patrimônio das famílias. É melhor frequentá-lo que ter uma amante que o chantageia. Depois que o Ronaldinho (Fenômeno) brigou com a Daniella Cicarelli, foi duas ou três vezes lá. Chegava, tomava uma água, subia com umas duas garotas, fazia a farra e ia embora. Em dias de Fórmula 1, ficamos lotados. A sociedade precisa entender que isso é lícito!
Entre os políticos, o Bahamas era mais frequentado por tucanos ou petistas?
(Silêncio) Eu acho que ali chegava Karl Marx com um tucano no ombro (risos).
A prostituição deveria ser legalizada?
A prostituição é, sim, uma profissão e deveria ser encarada dessa forma. Ruth Escobar (atriz, ex-deputada estadual por dois mandatos e líder feminista nos anos 1980) dizia que o intelectual aluga o cérebro, o trabalhador braçal aluga os músculos e a prostituta aluga a fantasia.
Foi a psicologia que o fez virar empresário da noite?
Sempre gostei de boemia e sexo. Uma vez, estava num hotel de quinta categoria com uma profissional. Enquanto ela tomava banho, olhei para aquele lixo de quarto e pensei: se ela entrar com o sexo, o cliente com o cheque e eu entrar com o uísque e o lençol, esse negócio fica mais adequado. Conversei com meu amigo (advogado criminalista José Roberto) Batochio, e ele me disse que, se eu fosse apenas o dono do local, não haveria nada de ilegal. Nesse período, eu estava com consultório e tinha um paciente com ejaculação precoce, semi-impotente. Levei o caso à minha orientadora e ela me disse que, no Brasil, era comum apelar para casas de massagem. Conversei com uma das moças e expliquei o caso. De vez em quando, elas me ligavam para contar como estava o paciente. Em seis meses, ele virou uma bala. Tirei sua ansiedade fazendo-o frequentar uma casa na Rua Caconde (Jardim Paulista). Pensando em qual negócio eu poderia ter além do consultório, decidi montar um lugar como aquele. Comprei a casa da Rua Caconde e, depois, mais duas ou três.
O senhor tem vontade de voltar a atuar como psicólogo? O que pretende fazer de agora em diante?
Até recentemente, minha vida estava estruturada sobre cinco empresas: o Bahamas, o Oscar’s Hotel, a fazenda, os eventos de luta e o energético da marca Show Fight e a edição das revistas Hustler e Penthouse no Brasil. De repente, não é mais assim. Tenho quatro filhos, todos do casamento com a Marisa, também psicóloga. Costumo dizer que ela é minha ex, não é a atual, mas pode voltar a ser, no futuro. Comprei uma cobertura dúplex no Campo Belo, quebrei ela inteirinha e só deixei as paredes externas. Moro ali sozinho. Agora, quero voltar a escrever. Estou dando minhas arranhadas num blog. E quero voltar a ter consultório. A psicologia, para mim, é uma filosofia de vida.

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