Com seu estilo franco, direto e contundente de sempre, o jornalista Paulo Henrique Amorim concedeu à edição número 1 do Classe uma entrevista marcante sob todos os pontos de vista. Durante mais de uma hora, Paulo Henrique conversou, no seu apartamento, em São Paulo, com o jornalista Bepe Damasco, assessor de comunicação da CUT-RJ. Mais do que não deixar pergunta sem resposta, esse carioca de “conversa afiada”, radicado em São Paulo, é um lead (que no jargão jornalístico significa a parte da matéria com o conteúdo mais importante) ambulante. Ele falou apaixonadamente sobre um sem número de assuntos, tais como a ação deletéria do Partido da Imprensa Golpista, balanço do governo Dilma, sua passagem pela Globo, a edição do debate Lula x Collor, a urgência de uma Ley de Medios no Brasil, “o mensalão português”, os processos que movem contra ele, o engavetamento do projeto de marco regulatório do ex-ministro Franklin Martins, o medo que Lula e Dilma têm da Globo e muito mais. Sobre o trânsito do banqueiro Daniel Dantas pelos corredores do poder, ele disparou um míssil: “Dantas comprou o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e a Imprensa. Comprou o Brasil.”
Classe: Nos fale um pouco sobre sua origem e sua trajetória na imprensa brasileira?
Paulo Henrique Amorim – Eu praticamente nasci como jornalista, no sentido de que o meu pai era jornalista. Ele enfrentou a censura da ditadura Vargas e trabalhou com o então jornalista Mário Martins, depois senador, e hoje conhecido como pai do Franklin Martins, do Vítor e da Ana Maria Machado. Meu pai levava para a casa aquelas folhas em que se desenhava o jornal. E eu praticamente me alfabetizei preenchendo essas páginas de jornal que o meu pai levava. Aí quando eu fui para a escola já estava praticamente alfabetizado. Eu sempre quis ser jornalista, sempre fui estimulado a ler e escrever. O meu pai tinha um texto muito bom, muito seco. Ele era um nordestino, um baiano do sertão. Então, ele escrevia assim como o Graciliano, sem gordura, sem adiposidade, sem colesterol. E sempre fui estimulado a fazer isso. Por um breve, brevíssimo período, pensei em ser diplomata. Cheguei a estudar línguas, além do que eu já estudava, no Colégio de Aplicação em que estudei, lá na Lagoa, no Rio. Fiz sete anos de CAP: quatro de ginásio e três de clássico. Então, tive um breve período em que achei eu que queria ser diplomata. Mas logo eu vi que não teria temperamento para a vida de funcionário público. Eu sempre fui muito encrenqueiro e não ia dar certo. O meu avô do lado ma minha mãe, português, tinha o sobrenome Crespo. Justino dos Santos Crespo. Era um dono de padaria que gostava de ópera, de Luis de Camões, e que também me iniciou nesta parte. E esse Crespo era um nome que puseram nele. Ele não era Crespo. O Crespo era por causa do temperamento dele, entendeu? Ele era encrespado. Minha mãe dizia que eu era o melhor descendente do meu avô.
Classe: Você é carioca de onde?
PHA – Sou carioca da Glória, mas me criei na ZN, na Zona Norte. Marechal Hermes, Vila Kosmos, Cascadura, naquela região ali.
Classe: Você tem irmãos?
PHA – Tive duas irmãs, uma morreu. Era pintora. A outra é professora na Universidade de Paris, onde leciona Lingüística.
Classe: Ao criar o blog Conversa Afiada, você chegou a imaginar que ele faria o sucesso estrondoso que faz?
PHA – Não. O blog nasceu, na verdade, mais por uma preocupação tecnológica minha. Eu sempre tive, como jornalista, desde o comecinho, uma angustia que me perseguia, que era a necessidade de nunca me deixar atrasar tecnologicamente. Eu sempre quis estar na tecnologia da frente. Eu me lembro que ficava angustiado porque nunca tinha feito televisão. Depois, fiquei angustiado porque não tinha feito internet. Então, quando procurei fazer o blog, eu tinha primeiro essa preocupação. Eu não pretendia fazer um blog necessariamente político, um blog necessariamente afiado. Foi um desafio para não ficar atrasado como jornalista. Eu sempre acreditei que ser jornalista é ser repórter. Ser jornalista é dar informações originais ou mostrar acontecimentos de um ângulo original. Sempre em busca de oferecer informação, porque numa sociedade democrática a informação é um bem precioso. Você permite que as pessoas com mais informação decidam melhor. Seja como eleitor, seja como pai, seja como membro de uma comunidade, seja como empreendedor, seja como consumidor, etc, etc. Eu me lembro de um documentário sobre Orson Welles no fim da carreira, feito pela última mulher dele, em que ele fazia um espetáculo como mágico de circo. E eu fiquei muito triste porque sou absolutamente apaixonado pelo Orson Welles. Acho que tenho todos os filmes dele. E que eu mais gosto dele é A Marca da Maldade, não é o Cidadão Kane. Eu vi ali o seguinte: o Orson Welles, como ficou proscrito em Hollywood, foi ficando atrasado tecnologicamente. Foi sendo discriminado, jogado para fora dos grandes estúdios de produção. Com isso ele foi perdendo todas as possibilidades de se atualizar como homem de cinema, como diretor de cinema. E acabou fazendo um espetáculo absolutamente pobre, tecnologicamente pobre. E essa imagem do Orson Welles, naquele palco mal iluminado, num palco horrível, fazendo umas graças que ninguém queria ver, me marcou muito, sem querer me comparar, evidentemente, a Orson Welles.
Classe: E como é a sua equipe de profissionais no blog?
PHA – Tenho uma equipe pequena. Eu tenho três editores, tenho uma produtora, tenho o staff de uma empresa que cuida da parte de colocar o blog no ar e administrar a publicidade. Como, quando e com que freqüência publicar os anúncios.
Classe: Você se preocupa em quantificar os acessos ao blog?
PHA – A gente quantifica. Normalmente o número de acessos é ascendente, mas tem picos. No ano passado, em outubro, mês da eleição, tivemos 12 milhões de acessos. Mas isso oscila. Tem período de férias, volta às aulas, oscila durante o dia, na hora do almoço, à noite, enfim, tem aquelas variações cíclicas, mas nós temos mantido uma audiência muito boa, o que nos permite comercializar também o site. Temos uma comercialização bastante estimulante, o site é lucrativo. Ele é dirigido pela minha mulher, a jornalista Geórgia Pinheiro, que cuida da parte comercial e administrativa.
Classe: Que balanço você faz do estágio atual da luta pela democratização das comunicações no Brasil?
PHA – O estágio atual é de desalento. De desalento e decepção. O presidente Lula governou debaixo de vara. A imprensa brasileira, que no meu site eu chamo de PIG, tratou o Lula de uma forma vergonhosamente parcial. E o Lula foi incapaz de tomar qualquer providência para criar os mecanismos institucionais que permitissem oferecer ao público uma visão alternativa do que estava acontecendo. Aos 44 do segundo tempo, Lula pediu ao Franklin para fazer um projeto de lei. Ele deu apoio à Confecom, a Confecom apresentou todas as ideias que seriam necessárias apresentar. O Franklin fez uma série de seminários e reuniões para buscar, inclusive, o testemunho e o reconhecimento de organizações internacionais que tratam da questão do marco regulatório. Isso foi consubstanciado num projeto de lei, numa série de propostas que o Franklin entregou educadamente ao seu sucessor, o Paulo Bernardo, o que acho que o Franklin fez muito bem. O Paulo Bernardo fez críticas deselegantes ao projeto, com palavras que a boa educação não recomendam.
Classe: A rigor, ele sentou em cima do projeto.
PHA – Ele sentou em cima e colocou debaixo dos projetos que o Sérgio Mota fez para o Fernando Henrique. O Sérgio Mota fez três projetos de marco regulatório da mídia, e o FHC jogou os três fora. Jogou fora não, botou na gaveta. E debaixo desses três do Sérgio Mota, o Paulo Bernardo botou o do Franklin. Eu acho que os primeiros sinais que a presidenta Dilma deu neste sentido foram decepcionantes. A primeira coisa que ela fez foi ir ao aniversário da Folha. A primeira coisa que o Lula fez em 2002 depois de eleito foi ser co-âncora do Jornal Nacional, em companhia do William Bonner e da Fátima Bernardes. Ali eu disse: bom, a vaca foi para o brejo. Porque o Jornal Nacional tratou o Lula de uma maneira parcial, sempre parcial e a primeira coisa que ele faz foi se sentir honrado em ancorar o Jornal Nacional ao lado dos algozes.
Classe: Isso se deve à crença de que é possível ter uma convivência pacífica com a mídia ou é medo mesmo?
PHA – Eu acho que é medo. O Lula e a Dilma têm medo da Globo. É só isso.
Classe: Têm mais medo da Globo do que da Folha, por exemplo?
PHA – Sim, Folha, Estadão e Veja são subadversários.
Classe: Medo exatamente de quê?
PHA – Têm medo de o Jornal Nacional derrubar o governo. Porque as denúncias da Folha, do Estadão e da Veja não têm a menor repercussão, a menor importância, se elas não tiverem a câmara de eco do Jornal Nacional. E a câmara de eco do Jornal Nacional reproduz, aumenta, amplifica e dá mais dimensão ao que acontece no Congresso. Nós temos o caso do ínclito e notável senador Álvaro Dias, que é um plagiador. Como se sabe, ele não tem nenhuma ideia original. Ele denuncia tudo que já foi denunciado.
Então, eu acho que o grave nessa posição não é que eles, Lula e Dilma, estejam apenas preservando o seu governo. O problema aí não é preservar o governo Lula e Dilma, o problema aí é criar os mecanismos institucionais para a democratização da mídia. O Boni disse na entrevista que ele deu ao Geneton, na Globo News, que nenhuma televisão no mundo tem o share de audiência que a Globo tem. Nenhuma. Em nenhuma nova democracia do mundo, e eu não falo de Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e França, estou falando de novas democracias como México, Portugal, Espanha, Argentina, Chile e Uruguai. Em nenhuma nova democracia no mundo existe o que existe aqui no Brasil com a Globo. E consolidada através de mecanismos, como, por exemplo, a propriedade cruzada.
Classe: Paulo Henrique, há não muitos anos as pessoas praticamente cruzavam os braços em relação ao poderio da mídia. Hoje muitas pessoas e entidades debatem o tema, o que culminou com a Confecom. Você acha que podemos projetar um futuro melhor ou lutamos contra forças tão poderosas que tudo isso pode não dar em coisa alguma?
PHA – Isso pode dar em alguma coisa. Hoje o constrangimento do governo é maior. Você vê, por exemplo, que o PT fez um seminário para estudar a questão da comunicação e o Paulo Bernardo fugiu.
Classe: Como fugiu do Encontro Internacional dos Blogueiros, em Foz do Iguaçu.
PHA – Como fugiu de Foz do Iguaçu. Paulo Bernardo não vai. Ou seja, o governo Dilma não tem condições de discutir com a sociedade a questão da Ley de Medios. O PT não pode discutir a Ley de Medios. O PT não tem que fazer seminário, o PT tem que governar. O PT é governo há oito anos, mais um, nove. O PT está no poder. Quem faz seminário é oposição. Já tem a Confecom, já tem o projeto do Franklin. O PT tem que governar.
Classe: Mas o presidente do PT, Rui Falcão, disse que o partido tem sua própria pauta, e que ela, em alguns momentos, é diferente da pauta do governo.
PHA – Trololó, trololó. O PT não tem pauta diferente nenhuma. O PT é governo. Quem tem outra pauta é o PSDB. Ou troca o Paulo Bernardo ou põe o Paulo Bernardo para botar uma Ley de Medios no Congresso.
Classe: Ele tem dito que vai colocar o projeto do Franklin para consulta pública na internet.
PHA - Ele está dizendo a mesma coisa desde que chegou. O fato é o seguinte: o Paulo Bernardo não pode ir a uma reunião do PT. Ele não tem autoridade moral e política para ir a uma reunião do PT. Isso é uma forma de constrangimento importante para o governo. Eu entrevistei o Inácio Arruda, senador do PCdoB. Ele fez um paralelo muito interessante. Quando o Adib Jatene quis aprovar, no governo FHC, a CPMF, ele bateu na porta de todas as lideranças do Congresso para pedir uma CPMF. E aprovou. E agora o governo tem que bater em todas as portas para aprovar uma Ley de Medios, Agora, diz o Franklin: o ponto de partida de qualquer Ley dos Medios é a Constituição brasileira de 1988.
Classe: Franklin tem dito: vamos trabalhar com livrinho na mão.
PHA: Isso. Vamos trabalhar com o livrinho na mão. O Inácio Arruda lembrou que todas as correntes de opinião brasileiras estão entre os 81 senadores e os 513 deputados federais. Vamos botar todo mundo numa mesa, como se faz num bom Congresso, e discutir. A bancada do coronelismo eletrônico tem uma posição, eu tenho outra, o PT tem outra, os tucanos têm outra, e vamos negociar. Agora, isso só chega se o governo tomar a iniciativa Qual é o medo de mandar uma Ley de Medios para o Congresso? Por que não mandar uma Ley de Medios para o Congresso? Sai da toca, vamos discutir no Congresso. Não tem problema, brande a Constituição. Nada será feito contra a Constituição. Ou seja, esse trololó que tem aí de que é censura, é papo furado. É como eu digo: em dúvida, copia a lei americana.
Classe: É como disse o Mino Carta recentemente: essa história de censura é justamente um artifício para se continuar censurando.
PHA – Exatamente. Repito: está em dúvida, copia a lei americana, que é onde se pratica o mais selvagem dos capitalismos.
Classe: Muita gente pergunta como um jornalista com as suas posições conviveu na Rede Globo. Você chegou a ser cerceado ou pressionado?
PHA – Bom, minha posição na Globo foi a seguinte: eu fui comentarista econômico durante algum tempo. Depois, na maior parte do meu tempo na Globo, eu fiquei em Nova York, onde a minha relação ou a minha contraface com as questões políticas nacionais era mais remota, era mais rara. Quando trabalhei na Globo, eu fui absolutamente leal à Globo, não tem conversa. Eu fui um funcionário exemplar. Durante o período em que fiquei em Nova York, para pedir aumento, eu fiz um cálculo da minutagem, a soma dos minutos que eu fiquei no ar. E conclui que fiquei no ar nos jornais da Globo mais do que qualquer outro repórter. Isso para conseguir o aumento que eu queria. E consegui. Evidentemente que na Globo havia uma restrição política muito severa. Durante um certo tempo, a gente não podia falar, na editoria de economia, que era o meu caso, não podia falar no nome do Maílson da Nóbrega, ministro da Fazenda, porque o Roberto Marinho tinha uma operação com exportação de casas pré-fabricadas que o Maílson vetou. Por causa disso o nome Maílson da Nóbrega não podia ser citado. A gente podia falar do governo, mas não podia falar em Ministério da Fazenda, nem em Maílson da Nóbrega. O que é uma coisa meio esquisita, mas, se você está trabalhando lá, das duas uma: ou cai fora ou obedece. Quando eu percebi que a Globo pretendia me dar uma rasteira, que foi quando eles me destituíram do cargo de chefe do escritório em Nova York, aí eu fui procurar emprego e saí da Globo para ganhar o dobro do que eu ganhava . Foi uma escolha profissional e também política. Porque, durante o tempo que trabalhei na Globo, eu discordava de muitas das posições da Globo. E trabalhava desconfortável e irritado, como, por exemplo, o dia em que o Jornal Nacional fez aquela famosa edição do debate. Eu conversei com os editores do debate, com o Ronald Carvalho, que chegou lá na ilha e disse o que era para ser feito para o editor Octávio Tostes. Aliás, o Octávio Tostes teve muita coragem, foi ao Sindicato dos Jornalistas e, diante do Osvaldo Maneschi, gravou um depoimento histórico em que relata esse episódio. Então, o editor Ronald Carvalho chegou à ilha e disse para o Octávio Tostes: “ponha a mão no nariz e meta a mão na merda: é tudo que tem de bom do Collor e tudo que tem de mau do Lula.” O Alberico Souza Cruz, que veio de São Paulo para o Rio, porque estava aqui em São Paulo a acompanhar o candidato Collor no debate, chegou depois do almoço à TV Globo, entrou na ilha 7 e perguntou ao Tostes como é que estava a coisa. O Tostes disse “olha, eu segui esta instrução do Ronald e assim será feita a edição.” Aí o Alberico disse: “além disso, eu quero que ponha também isso, isso e aquilo.” Depois que a matéria ficou pronta, saiu da ilha 7 e foi para a ilha 10, uma ilha mais complexa, com mais recursos de edição, fora do deadline de fechamento do Jornal Nacional, daí a grave importância que essa matéria tinha. Normalmente essa matéria seria derrubada fora do deadline, era o que acontecia, mas nesse caso não foi. Aí o Alberico reviu a matéria na ilha 10 e aprovou como foi para ar.
Classe: E o Armando Nogueira nisso?
PHA: O Armando Nogueira foi devidamente bypassado, foi devidamente ultrapassado pelos fatos. Nem ele próprio tomou a iniciativa de meter a mão na massa e se insubordinar contra isso.
Classe: E a edição do Jornal Hoje da parte da tarde foi feita por quem?
PHA – Foi feita pelo Vianey Pinheiro, o Pinheirinho. Foi uma edição profissional, jornalística, correta, que era a que deveria ter sido repetida, mas o pessoal do Collor visitou a Alice Maria depois da edição do Hoje e disse que aquela edição não lhes interessava. E foi o que foi feito. E o doutor Roberto Marinho deu ao Ronald essa informação. Essa informação que o Ronald passou ao Octávio Tostes foi a informação que o doutor Roberto deu ao Ronald: tudo de bom para o Collor e tudo de ruim para o Lula.
Classe: Então, foi essa a participação do Roberto Marinho?
- Doutor Roberto dava as ordens. Ele não ia para a ilha. O Alberico não sabia o que fazer numa ilha, não sabia dar um play numa ilha de edição, mas ele sabia dar ordens. Então, a minha insatisfação política na Globo sempre foi muito grande. Agora, como profissional, eu fui leal à Globo e me orgulho disso. Como fui leal à Bandeirantes e sou leal à Record. Agora, isso não impede que eu tenha as minhas posições políticas e quando me fazem essa pergunta eu costumo dar a seguinte resposta: a diferença entre o trabalho servil, o trabalho escravo, e o trabalho no regime capitalista, é que no trabalho servil o dono é dono do empregado. No regime capitalista, o dono contrata o empregado. O empregado dá a sua força de trabalho e recebe salário. O empregador recebe a força de trabalho e paga o salário. Se um dos dois está insatisfeito, rompe-se o contrato. Não existe a propriedade do empregado. Eu não estava satisfeito e fui me embora.
Classe: Em que circunstância surgiu a sacada genial de batizar o oligopólio da mídia de PIG (Partido da Imprensa Golpista)?
PHA – O Fernando Ferro, deputado federal pelo PT de Pernambuco, o Ferrinho, um bravo deputado, fez um discurso da tribuna da Câmara para denunciar um denúncia vazia do Ali Kamel, que atribuiu a uma determinada apostila do Ministério da Educação uma frase ou uma informação que não constava, ou seja, uma denúncia vazia, falsa. E o Fernando Ferro disse que o Ali Kamel era um membro do Partido da Imprensa Golpista. E aí eu achei aquilo genial e pá. Mas sempre digo que a ideia original é do Fernando Ferro.
Classe: Numa entrevista sua ao Pânico na TV, você explicou didaticamente por que a Miriam Leitão nada entende de economia. Como é isso?
PHA – A Miriam Leitão é um embutido da Sadia. Se você pegar as partes que compõem o embutido da Sadia, provavelmente você não consumirá. A Miriam Leitão não tem nenhuma ideia original. Ela nunca ofereceu uma ideia original. O que ela faz é embutir tudo na atividade dela na Globo. Agora, eu digo também o seguinte: a Miriam não tem nenhuma importância. Embora ela seja a mais mim importante pensadora neoliberal do Brasil, porque não há nenhum outro pensador neoliberal no Brasil que defenda o neoliberalismo tanto quanto ela, o que dá uma ideia do pensamento neoliberal no Brasil. O importante não é a Miriam Leitão, porque ela é um embutido da sadia. O importante é a Globo e o importante é a Globo poder fazer o que faz através da Miriam, que é catequizar, persuadir, doutrinar, convencer, invadir a sua privacidade utilizando um bem público que é a TV aberta. TV aberta, como diz a Beth Carvalho, é pública. É minha, sua, da torcida do Flamengo, é do Corinthians. Não é do Roberto Marinho, nem dos filhos do Roberto Marinho, que, aliás, não têm nome próprio. É nossa. O espectro eletromagnético é nosso. E a Globo usa o Ali Kamel e a Míriam Leitão para vender para nós ideias dela, da Globo. É isso que está errado. A Miriam é irrelevante, o Ali Kamel é irrelevante. O Ali Kamel é um antropólogo de quinta. Como eu digo, ele é o Gilberto Freyre com i. Você conhece a história do Gilberto Freyre com i?
Classe: Não conheço.
PHA – A dona Madalena, mulher do Gilberto Freyre, chegou lá em Apipucos, na casa em que eles moravam e disse: “Gilberto tem essa correspondência em cima da mesa dirigida a você há um mês e você não a abriu ainda. Aí ele falou: “ela é endereçada a Gilberto Freire com i, deve ser outra pessoa, não sou eu.” O Ali Kamel é o Gilberto Freire com i da antropologia brasileira.
Classe: Os processos que movem contra você interferem no seu cotidiano, na sua vida familiar? Como é lidar pessoalmente com isso. Eles te aborrecem muito?
PHA - Olha, já me aborreceu mais. Hoje eu olho para isso com mais distância. Hoje já vejo isso com certo humor. Mas a vingança será pesada. Eu pretendo depois transformar isso tudo em livro e defender a tese de que eu, como Azenha, como Rodrigo Viana, como Nassif, como Esmael do Paraná, e uma série de blogueiros do interior do Brasil, estamos sendo vítimas de um processo que nada mais é do que uma tentativa de nos calar pelo bolso. Essas ações todas, no meu caso são 41 ações, não resistem a uma análise superficial. O Daniel Dantas, por exemplo, move 13 ações contra mim, e ele perde.
Classe: Cíveis e criminais?
PHA – Não, ele não entrou no crime porque ele não é bobo. Ele é mais esperto que os outros. Ele sabe que no crime é mais difícil ganhar. O que ele faz? Ele não ganha no mérito, quando ele ganha é na chicana. Quando ele ganha é na regra do jogo. Entendeu? Aí você tem que ir numa outra instância para refazer a regra, a regra como ela efetivamente é. É assim que ele trabalha. O Dantas nunca ganha no mérito. Ele diz que as provas são falsas, no caso da Satiagraha; ele não deixa trazer para o Brasil as derrotas que ele sofreu na justiça britânica; ele mata a Chacal, devolveu a Operação Chacal para a primeira instância e logo, logo prescreve; não deixa abrir os discos dele, faz com que o Eros Grau sente em cima dos discos; ele não deixa julgar, se julgar, ele está ferrado. Se julgar, ele vai em cana, como fez o De Sanctis, que colocou ele duas vezes em cana. Mas eles me enobrecem. É aquele meu ditado “diz-me quem te processas e te direi quem és”. Eu sou processado pelo Daniel Dantas, Gilmar Mendes, Eduardo Cunha, Naji Nahas, Ali Kamel, pelo Heraldo Pereira…
Classe: Pelo jornalista Heraldo Pereira?
PHA – Sim, pelo jornalista Heraldo Pereira, que diz que seu sou racista. Continuando com os que me processam: o Carlos Jereissati, da Broi, o Sérgio Andrade. É esse elenco que me processa. E disse me orgulho. Quando o meu neto tiver um pouquinho mais de discernimento, eu vou dizer: “seu avô é um uma cara muito legal, olha quem processa ele.” Então, qual é o objetivo deles? É me calar pelo bolso, não é calar com uma condenação. Ah, o Heráclito Fortes me processa três vezes, o Heráclito Fortes, o Apolo da bancada Dantas, o homem que defendia o Dantas da tribuna do Senado e que dizia frases como “prefiro Dantas ao Delúbio”. Isso é um Varão de Plutarco. Cícero não foi tão brilhante. Muito bem, querem me calar pelo bolso, mas não vão calar.
Classe: Resumindo, você tem quantas ações tramitando, perdeu e ganhou quantas até agora?
PHA – Ah, isso aí é o seguinte: ganha e recorre, ganha e recorre. Isso aí vai durar muito tempo. Eu vou ter assunto para muito tempo. E eles acham que com isso vão me quebrar. Só que, lamentavelmente, eu como jornalista de televisão consegui fazer um pé de meia. E por mais que eles tentem vasculhar o meu imposto de renda, como eu suspeito que façam, porque você vai ali no Centro, na Praça da República, e compra o imposto de renda de qualquer um por 10 merreis, 10 paus. Compra o imposto de rendas do Naji Nahas, por exemplo. Eu não faço isso. Jamais faria uma coisa dessas. Mas quem quiser faz.
Classe: Falando um pouco de um pouco mais de política, você não acha que a Dilma caiu na armadilha montada pela mídia ao demitir essa sucessão de ministros, pautada por esta verdadeira máquina de moer ministros?
PHA – Acho que ela faz muito bem. Acho correta a tese dela, a política dela, localizou o malfeito, dança. Está certo. O meu problema com esta mídia que denuncia corrupção não é denunciar a corrupção. O problema é o caráter político dessa denúncia. Agora, nós estamos diante de um fato brutalmente suspeito; uma empresa chamada Controlar tinha o monopólio de fazer o controle da poluição por parte dos automóveis de São Paulo e descobriu-se que isso era uma patranha. Essa patranha levou à prisão de um cavaleiro de nome João Faustino, que era, ou é, suplente do senador Agripino Maia e durante anos a fio trabalhou no gabinete do chefe da Casa Civil do Serra, o senador Aloísio Nunes, exercendo a tarefa que não se sabe bem qual é. Muito bem, o João Faustino diz que tem uma relação antiga com o Serra e com o Fernando Henrique, isso da própria boca dele. E colocaram indisponíveis os bens do Kassab graças ao Serra. Ele foi vice do Serra. O João Faustino trabalhou com Serra.
Classe: Coordenou a campanha do Serra no Nordeste.
PHA – Isso, coordenou a campanha do Serra no Nordeste. Queria que o ínclito e brilhante senador Jarbas Vasconcelos fosse vice do Serra. Deu entrevista dizendo isso. E o Serra?
Classe: Não se manifesta, não é cobrado…
PHA – Não, ele agora dá conferência sobre juros e foge da imprensa pela porta dos fundos. O Serra foge da imprensa e o Paulo Bernardo do PT.
Classe: Como você vê esta obsessão do Serra de ainda sair candidato a presidente? Há uma especulação de que ele pode sair candidato pegando uma carona no PSD do Kassab, caso o Aécio seja o candidato pelo PSD?
PHA – É um patologia. O Mercadante tem uma teoria muito interessante que é a do mergulho para frente. Toda vez que o Serra se vê numa situação de ser julgado pelo que fez, ele dá um pulo para frente. Agora, por exemplo, em lugar de ser julgado pela campanha que ele fez em 2010, que segundo Ciro Gomes, foi uma campanha calhorda, a campanha da bolinha de papel, a campanha do aborto, a campanha do fundamentalismo, a campanha do bispo de Guarulhos, a campanha de entregar o pré-sal para a Chevron, a campanha de querer invadir a Bolívia, a campanha de acabar com o Mercosul. Em vez de discutir essa campanha, ele é candidato em 2014. Ele não tem alternativa. Mas o vesgo do pânico tem mais chance de ser presidente da República que o Serra.
Classe: Que nota você daria hoje, no conjunto, para o governo da Dilma?
PHA – Acho que ela está indo muito bem, muito bem. Eu lamento que ela tenha esta atitude em relação ao marco regulatório, que eu prefiro chamar de Ley de Medios, e faço isso propositadamente porque nós temos a pretensão de nos rivalizarmos com a Argentina, o que não é o meu caso que admiro muito a Argentina. É para deixar claro que a Argentina tem uma Ley de Medios muito boa, muito boa. E foi tirada na marra. As pessoas foram para a rua pedir a Ley de Medios. E Globo de lá, o Clarin, trabalhava com o mesmo Ibope daqui. E a Cristina meteu a mão na Globo e no Ibope.
Classe: E fez campanha de massa, no dia da entrega do projeto ao Congresso argentino, ela levou 50 mil pessoas com ela.
PHA – Exatamente. E não deu entrevista para a Globo. Se elegeu duas vezes sem dar entrevista para a Globo. E a Dilma se submete àquelas perguntas capciosas do William Bonner e da Fátima Bernardes.
Classe: Mas, fora a questão da comunicação, por que você acha que a Dilma vai muito bem? Seria por que ela dá continuidade à obra do Lula?
PHA – Ela continua a obra do Lula e está dando alguns saltos à frente, como esse programa de Brasil sem Miséria, esse programa de fortalecimentos das pequenas e médias empresas. Acho quer ela tem dado saltos importantes na política de saúde e na política de educação. Na condução da política econômica também, porque ela tirou o monopólio dos neoliberais do Banco Central. Os neoliberais comandavam o Banco Central desde o governo Sarney.
Classe: O Alexandre Tombini, atual presidente do Banco Central, não é um neoliberal?
PHA: O Tombini não é neoliberal e tem uma vantagem: ele não dá entrevista em off para a Míriam Leitão.
Classe: O que achou da eleição do Merval Pereira para a Academia Brasileira de Letras. Não acha que o grande Machado de Assis, fundador da ABL, deve estar se revirando no túmulo? O Merval, com um único livro publicado, uma coletânea de artigos, ganhou a eleição de um escritor lido em muitos países como o Antonio Torres.
PHA – Mas a academia não tem a menor importância. Não é a primeira vez que isso acontece. O Roberto Marinho foi imortal, o Marco Maciel é imortal e por aí vai.
Classe: Falando sobre a doença do ex-presidente Lula, comentários como o da Lúcia Hipólito, na rádio CBN, logo no dia da divulgação do problema de saúde, soltando foguete e colocando Lula fora do jogo político, não chega a ser indecente, uma falta de respeito ao drama alheio?
PHA: Eu não ouvi o comentário da Lúcia Hipólito. O que eu poso te dizer é o seguinte : O PIG foi fazer o enterro do Lula. O PIG convocou o enterro do Lula. Foi para capela do cemitério da Consolação para enterrar o Lula. O meu problema com a doença do Lula é com o hospital Sírio e Libanês. Por que saem notícias sigilosas e confidenciais sobre o estado de saúde dos pacientes do Sírio e Libanês na Folha e na TV Globo? Eu sou paciente do Sírio e Libanês. Fiz uma cirurgia lá. Tirei uma hérnia de disco lá. Eu quero saber e, aliás, mandei um e-mail agora para o Sírio e Libanês para saber se as informações sobre a minha cirurgia serão tão públicas como o tratamento do Lula. Se forem, eu quero tomar as medidas judiciais para processar o Sírio.
Classe: Mas não foi o próprio presidente Lula que pediu transparência máxima para a sua doença?
PHA – Não. O Lula quer o máximo de informação, mas através de notas oficiais. Notas do Sírio, mas não é o que acontece. É tudo em off. Hoje, por exemplo, tem uma notícia na Folha de São Paulo que diz: “médicos da equipe do Lula”. Mas são 18? São 49? Eu quero saber quem são.
Classe: Sempre em off?
PHA – Sim, claro. O império do jornalismo investigativo no Brasil é o off. A banda larga do jornalismo investigativo no Brasil é o off.
Classe: Para o jornalista Paulo Henrique Amorim, o que foi o mensalão?
PHA – O mensalão foi uma operação de caixa dois de campanha que é tão brasileira quanto goiabada com queijo. Caixa dois. Todo mundo sabe disso. Mensalão é senha para você entrar no site do impeachment do Lula.
Classe: A versão que passaram era a de que existia uma espécie de guichê no qual os parlamentares recebiam pelos serviços prestados ao governo nas votações do Congresso?
PHA – É, inclusive os que votavam com o governo. Era preciso comprar os parlamentares que votavam sistematicamente com o governo. É um negócio sensacional. É um negócio de português, desculpe. Eu, como neto de português, posso dizer isso com toda autoridade. É um mensalão português. Um mensalão patrício. Como diz o Mino Carta, o mensalão está por provar-se. Eu quero ver o Supremo provar o mensalão. E tem mais: eu quero ver provar a culpa do José Dirceu. É que no Brasil não se faz a seguinte pergunta: de onde vem o dinheiro do mensalão? Vêm do Dantas. De onde vem o dinheiro do Nem ? Todo mundo diz que o Nem é um grande traficante, tudo bem, mas o Nem vende. Se o Nem vende, alguém compra. Quem compra do Nem? E quem o Nem compra? Ele diz que metade da renda dele é para comprar policiais. Ninguém pergunta: quem botava dinheiro no duto do mensalão? Era o Dantas, isso está comprovado. Os documentos da Brasil Telecom encaminhados à CVM mostram o dinheiro que a Brasil Telecom, no tempo do Dantas, dava para o Marcos Valério. O Marcos Valério fazia um estudo sobre a imagem da Brasil Telecom e ganhava um trilhão de dólares para fazer isso. Alguém aqui é bobo?
Classe: Na sua opinião, então, se o Supremo julgar pela prova dos autos, absolve todo mundo?
PHA: Eu acho que absolve muita gente, inclusive o José Dirceu. Mas o problema é que o Supremo costuma votar com a faca no pescoço. É o único Supremo no mundo que vota com a faca no pescoço. Eu não conheço outro caso igual.
Classe: Dê alguns exemplos.
PHA – Ué, um ministro do Supremo disse que votou, no caso do mensalão, porque estava com a faca no pescoço. Quem empunhava a faca, a faca de Brutos? Era o Ali Kamel.
Classe: A que você atribui o bom trânsito que o Dantas tinha com os governos de FHC e manteve nas eras Lula e Dilma?
- É porque o Dantas corrompeu o Brasil. O Dantas comprou o Brasil. Executivo, Legislativo e Judiciário. E imprensa. Os quatro poderes. Comprou tudo. E, no caso da imprensa, ele teve um plano de negócio originalíssimo. Ela comprava dono e o jornalista, porque normalmente os corruptores da imprensa compram um ou outro. Ele comprava os dois.
Você acha que até o ministro da Justiça atual tem alguma ligação com ele?
- Sim, ele trabalhou para o Dantas. O José Eduardo Cardoso é assalariado do Dantas.
Classe: O advogado Greenhalg também?
PHA – Greenhalg também. O José Eduardo Cardoso, como deputado federal, representante do povo de São Paulo, foi à Itália defender os interesses do Dantas. E aqui no Brasil tentou ajudar o Dantas no Ministério Público Federal. Ele é funcionário do Dantas.
Classe: Existe por parte da mídia uma clara intenção de criminalizar os movimentos sociais. Na democracia que vai se consolidando no Brasil, qual deve ser o papel desses movimentos?
PHA – Acho que esses movimentos têm um papel muito importante. Mas eu vou te falar o seguinte: eu acho muito legal movimento social em defesa do meio ambiente, em defesa das mulheres, em defesa do casamento gay. Eu sou a favor disso tudo. Eu sou a favor do meio ambiente, tenho aqui na minha casa uma micro reprodução dos Jardins do Burle Max. Sou a favor do casamento gay. Acho o machismo um absurdo. Tudo isso está certo. Agora, a oposição no Brasil gastou muita munição com essas causas secundárias. Subalternas em relação ao problema da injustiça social.
Classe: A que oposição você se refere?
PHA – Eu quero dizer o seguinte: os que protestam, os inconformados, os indignados, os ativistas sociais defendem causas que são comoventes e enaltecedoras e espero que sejam bem-sucedidos. Não no caso de Belo Monte, que eu acho que é nada mais, nada menos que uma ponta de lança dos interesses americanos no Brasil. Ponto. Mas eu acho que mais importante do que tudo, na minha opinião, é a questão da injustiça social. Esta sociedade, apenar da inclusão de 40 milhões de pessoas na classe média, apesar da ascensão social do pobre, apesar dos programas Brasil sem Miséria, é uma sociedade injusta. É uma sociedade cruel, é uma sociedade que não tem democracia, é uma subdemocracia. Esse é o assunto que me interessa. Negócio de meio ambiente e tal, eu acho tudo muito bom, sou a favor do meio ambiente. Mas não gasto cinco minutos do meu tempo preocupado com isso. Não gasto. Eu acho que estas redes sociais são muito úteis, mas não vão mudar o mundo, não vão mudar o Brasil, enquanto não enfrentarem de frente o problema da desigualdade.
Classe: Qual o destino dos jornais impressos no Brasil? Na sua opinião, eles caminham para o fim?
PHA – Acho que caminham para uma espécie de fim. Ele vai ser um produto de menos importância. Um produto de nicho. Assim como as revistas hoje são revistas de nicho, os jornais serão jornais de nicho. Tem mais chance de sobreviverem jornais de comunidade. Os dedicados à economia, como o Valor, Financial Times, Wall Street Journal têm mais chances de sobreviverem do que a Folha. E o problema não é só de tecnologia. Não é só porque hoje existe uma tecnologia melhor do que a do jornal impresso. O problema é que os jornais brasileiros são muito ruins. Os jornais brasileiros são péssimos. Não dá para ler, são mal escritos, não têm imaginação, são medíocres, são incompletos. Além de parciais.
Classe: E em relação à revolução provocada pelas mídias sociais e pelo blogosfera?
PHA – Eu não usaria a palavra revolução. Eu acho palavra revolução um pouco retórica porque a blogosfera tem um poder limitado. Eu prefiro dizer que a blogosfera, sem os partidos políticos, sem a militância política, sem o povo na rua, sem o protesto, sem botar o pé na porta, sem botar, por exemplo, 100 mil pessoas na porta do Supremo Tribunal Federal, não vai muito longe. Isso eu gostaria de ver: 100 mil pessoas, não com o negócio de Belo Monte, mas na porta do Supremo, dizendo assim: “escuta, te manca Gilmar, te manca.” É o meu sonho de consumo.
Classe: Qual a sua opinião sobre a polêmica do diploma para jornalista?
PHA - Ah, eu sou contra. Sou inteiramente contra o diploma de jornalista. Isso é uma racionalização para um negócio de faculdades privadas. Não é preciso ter diploma para ser jornalista. Você pode ser jornalista com três meses de treinamento numa boa Pronatec. Com três meses na Pronatec, você faz um jornalista de boa qualidade. Agora, você precisa, de preferência, ter jornalistas com curso universitário. Pode estudar filosofia, matemática, física, biologia, literatura portuguesa. Isso tudo ajuda. Agora, o jornalista precisa respeitar os fatos. Como diz o Mino Carta, a verdade factual. Deve tentar também, o máximo possível ser objetivo, até onde é possível ter alguma objetividade, ou seja, tentar a imparcialidade. Mas, sobretudo, o jornalista deve fustigar os poderosos.
(*) Entrevista publicada originalmente na página da CUT-
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