Deputado Protógenes Queiroz (PCdoB) tenta criar CPI com foco nas privatizações. Cúpula do PT ainda analisa como se posicionar, mas, diante de 'fatos gravíssimos', líderes na Câmara e Senado mostram disposição para guerra com PSDB. Deputado-delegado tucano acha livro 'importante' mas, para líderes, denúncia é 'requentada'. Serrista, presidente do PPS exalta-se ao ser questionado.
André Barrocal
BRASÍLIA – A Privataria Tucana, livro recém lançado com denúncia de corrupção na venda de estatais de telefonia no governo Fernando Henrique e de lavagem de dinheiro pela família do ex-ministro José Serra, motivou um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados.
p>E, no Congresso, opôs os dois principais partidos envolvidos e interessados, PT e PSDB. Enquanto líderes petistas defenderam investigar o conteúdo do livro - embora com cautela, já que a cúpula do partido ainda busca uma forma de lidar com o assunto -, tucanos classificaram-no como “requentado” e de autor sem credibilidade.A abertura de uma CPI foi solicitada pelo deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), delegado da Polícia Federal (PF). Às 18 horas desta terça-feira (13), ele disse à reportagem que já havia coletado 27 assinaturas – precisa de ao menos 177. Por volta das 20h, em discurso na tribuna da Câmara, afirmou que já teria mais de 100.
"Qual o foco do requerimento da CPI, deputado?" “O foco são as privatizações. Elas prejudicaram o país e proporcionaram desvio de dinheiro público”, disse Protógenes.
Um dos signatários da CPI foi um deputado que também é delegado da PF como Protógenes, mas filiado ao PSDB. “É um livro tão importante quanto todos os outros, independentemente do partido, se é PSDB ou PT”, afirmou Fernando Francischini à Carta Maior
O tucano elegeu-se pelo Paraná, estado por meio do qual saíram para o exterior, de forma ilegal, bilhões em recursos que, segundo o livro, teriam origem ilícita na “privataria”. O duto era o banco do estado do Paraná, o Banestado. “Ali foi um descontrole total de um banco usado para roubar dinheiro público. Foi o maior roubo de dinheiro público que eu já vi”, afirmou Francischini que, como delegado da PF, acompanhou o caso.
O duto do Banestado foi objeto de uma CPI logo no início do governo Lula, em 2003. A comissão revelou-se uma das fontes de informação mais importantes para o autor do livro, o jornalista Amaury Ribeiro Jr.
Acusado no livro de ter participado de uma CPI de faz-de-conta, resultante de um “acordão” entre tucanos e petistas para aliviar nas investigações que afetariam os dois lados, o relator, deputado José Mentor (PT-SP), disse que assinaria o pedido de CPI da Privataria. “Não houve acordão. O que houve foi uma ação do PSDB para acabar logo com a CPI”, afirmou Mentor. “O relatório final fala no Ricardo Sérgio, inclusive.”
Ricardo Sérgio de Oliveira foi arrecadador de fundos para campanhas de FHC e José Serra e é um personagens mais importantes do livro.
PT versus PSDB
Nesta terça-feira (13), membros da executiva nacional do PT reuniram para discutir como o partido iria lidar com o caso, mas os líderes do partido na Câmara e no Senado mostraram-se dispostos para acuar o PSDB, ainda que com cautela.
Nesta terça-feira (13), membros da executiva nacional do PT reuniram para discutir como o partido iria lidar com o caso, mas os líderes do partido na Câmara e no Senado mostraram-se dispostos para acuar o PSDB, ainda que com cautela.
A reunião e a cautela se explicam porque há pelo menos duas indigestões para o partido no livro. O presidente do PT, Rui Falcão, processa Amaury Ribeiro Jr., por conta de revelações do jornalista sobre uma briga interna na campanha presidencial de Dilma Rousseff no ano passado. Outra é o “acordão” sobre a CPI do Banestado.
“É um livro muito interessante que recebeu um silêncio sepulcral da mídia”, disse o líder do PT no Senadio, Humberto Costa (PE). “São fatos gravíssimos, e já há um movimento no Ministério Público para reabrir investigações.”
E Há condições de o PT ajudar a criar clima para que as investigações sejam reabertas? “Há.”
O posicionamento do líder na Câmara, Paulo Teixeira (SP), foi parecido. “O livro traz informações consistentes sobre fatos gravíssimos, que exigem investigação das instituições, do parlamento, do Ministério Público.” Como o partido vai agir? “Vai analisar o livro para ver o que cabe. Mas o foco é a roubalheira nas privatizações.”
Aliado do governo e um dos vice-presidente do PDT, o deputado Brizola Neto (RJ) contou que iria procurar o PT para saber qual é o limite de atuação dos petistas. Ele defende a instalação da CPI. “A história começa lá atrás, mas a triangulação continua até hoje. É necessária uma CPI”, afirmou.
Adversário do governo, mas à esquerda, o PSOL acha que no mínimo o autor do livro, Amaury Ribeiro Jr., deveria ser chamado ao Congresso para falar sobre o assunto, até para ajudar a formar convicção em torno de uma CPI.
Em discurso na tribuna da Câmara, o líder do partido, Chico Alencar (RJ), disse que o Brasil precisa “analisar profundamente o passado”. “O livro comprova com farta documentação que [a privatização] foi um processo que escondeu enriquecimento ilícito e financiamento de campanhas milionárias”, disse.
Já os tucanos e seus aliados optaram por minimizar a denúncia e desqualificar o autor do livro.
“É café requentado da campanha”, disse o líder do bloco de oposição ao governo na Câmara, Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG).
“O autor do livro diz que os elementos que ele traz agora não eram conhecidos ainda, e há um pedido de CPI.”
“Nós apoiamos investigar tudo. O que não dá é para ficar nesse assunto depois de tantos escândalos no governo.”
Para o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), “o livro é material requentado de um indivíduo investigado por uma tramóia contra nosso candidato [na eleição de 2010]”.
“O ministro do Esporte caiu por uma acusação de uma pessoa que é ré num processo criminal.”
“Não, o ministro caiu por um conjunto de situações, a denúncia do policial foi só a gota d'água”, disse Nogueira.
Um dos aliados mais próximos de Serra, mesmo sem ser tucano, o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), cujo partido apoiou o tucano na eleição do ano passado, exaltou-se quando perguntado sobre o assunto.
“Deputado, qual a sua opinião sobre o livro A Privataria Tucana?” “Eu não gosto da literatura lulo-petista, particularmente do estilo dossiê.”
“Mas por que essa pergunta?”
“Porque é notícia, foi o livro mais vendido do fim de semana.”
“Que notícia! Isso é para desviar a atenção da corrupção do governo Dilma!”
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