quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

ENTREVISTA COM A CANDIDATA: Manuela D’Ávila



A deputada federal Manuela D’Ávila, do PCdoB, lidera todas as pesquisas de intenção de voto à prefeitura de Porto Alegre. Não é nenhuma novidade que ela esteja à frente. Desde que foi eleita vereadora da capital gaúcha, em 2004, D’Ávila se tornou uma especialista em angariar eleitores. Em 2006, ela foi a deputada federal mais bem votada do Rio Grande do Sul. Em 2010, repetiu o feito e quebrou seu próprio recorde ao obter 482 mil votos. A marca colocou-a entre as mulheres mais bem votadas do país. Manu, como é chamada pelos amigos mais próximos, passou a ser incensada como uma das mais influentes políticas da República. Na semana passada, seu nome figurava como destaque em uma reportagem sobre mulheres nas eleições municipais publicada no site do jornal americano The New York Times. D’Ávila é jovem – tem apenas 30 anos e a média etária da Câmara é de 47 anos. Ela também é bonita – a cada ano desponta em listas sobre as parlamentares mais esbeltas da Casa — e competente – conseguiu aprovar na Câmara seu relatório sobre o polêmico Estatuto da Juventude e emplacar a presidência da Comissão de Direitos Humanos. A série de predicados, contudo, também costumam ser apontados por seus rivais, muitas vezes em tom de deboche, como seus pontos fracos. “Em 2008, quando disputei as eleições municipais pela primeira vez, um líder partidário me aconselhou a sair da política: disse que teria mais sorte se disputasse concurso de miss”, diz a deputada. Filiada ao PCdoB, pode-se dizer que Manu é uma comunista light. Veste-se cuidadosamente, com elegância e possui no armário algumas bolsas de grife. Até na bandeira seu comunismo desbota: seus correligionários usam lilás. Formada em jornalismo, D’Ávila iniciou a carreira pública na política estudantil. Nesta entrevista, a deputada explicou porque quer ser prefeita de sua cidade natal e conversou sobre suas alianças com outros partidos e seus projetos para a cidade:

Em outras entrevistas você já disse que espera ser atacada por ser a única mulher disputando a prefeitura de Porto Alegre. Isso já ocorreu antes?

Já. Em 2008, quando disputei as eleições municipais pela primeira vez, um líder partidário me aconselhou a sair da política: disse que teria mais sorte se disputasse concurso de Miss. Nunca obtive nenhum tipo de vantagem por ser mulher. Nem quero isso. Mas nossa representação política ainda é bastante conservadora e está desacostumada com mulheres no poder. Mas quem vota é a população, que dá mostras de que enxerga nas mulheres capacidade suficiente para elegê-las, inclusive, à presidência da República. A Dilma terminou com esse discurso de que o povo não vota em mulher.

Por que abandonar a Câmara dos Deputados para concorrer à prefeitura de Porto Alegre?

Tenho refletido muito sobre isso – muito mais do que refleti da última vez, pelo menos. Na Câmara tive a oportunidade de ampliar minha visão do Brasil e participei ativamente da Comissão de Direitos Humanos. Já tenho uma boa experiência legislativa. Agora, quero botar a mão na massa. No poder executivo as coisas andam mais rápido. Os projetos são elaborados e executados, não ficam parados no plenário.

Seu partido contava com o apoio do PT e do governador petista Tarso Genro. O PT, no entanto, lançará um candidato próprio. Com quem o PCdoB se aliará?

Já estamos coligados ao PSB. Agora, estamos conversando com outros seis partidos: o PV, PR, PRB, PPR, PSD e PP. O PCdoB não é um partido grande e sabemos bem das necessidades dos menores. Não somos hegemonistas e podemos muito bem fazer coligações proporcionais. Mas queremos ouvir das outras siglas quais são seus projetos políticos. Por enquanto, não estou discutindo distribuição de cargos e participação na prefeitura em caso de vitória. Ainda é muito cedo para isso. Eleição é corrida de resistência.

O fato de ter que concorrer com o PT contra o atual prefeito, José Fortunatti (PDT), muda seu discurso?

Conversamos exaustivamente com o PT. Mas as coisas, infelizmente, não saíram conforme havíamos planejado nos anos anteriores. Somo aliados antigos. Mas é legítimo que eles tenham um candidato próprio. Não partirá de mim atacá-los por isso. Minha campanha não será baseada em desqualicar adversários, mas em apontar um novo projeto para a cidade. Porto Alegre sempre foi pioneira. Nos anos cinquenta, quando pouco se falava em acesso universal à educação pública, lançamos as bases para que isso se desse. Porto Alegre também foi a primeira capital a ter um plano diretor e a contar com a participação popular na gestão da cidade. Agora, estamos com uma administração atrasada e índices socioeconômicos abaixo do desejado. Não conseguimos financiamento para obras públicas porque atrasamos no envio de projetos…

E qual o seu projeto para a cidade?

Tenho 200 técnicos engajados em elaborar comigo um programa de governo. Eles são profissionais que não tem vínculo com o partido, mas conhecem muito bem cada um dos setores públicos e enxergam de dentro suas deficiências. Todas as segundas-feiras, a partir de 26 de janeiro, vou me reunir com eles e minha equipe para elaborar em conjunto um plano bem detalhado. Aos sábados, vou visitar comunidades e diferentes regiões da cidade para ouvir dos cidadãos suas demandas. Nossa ênfase é melhorar a gestão e o planejamento. As pessoas querem seguir adiante com suas vidas sem grande ingerência do poder público. Mas, para isso, dependem que setores como mobilidade urbana e educação, por exemplo, sejam bem administradas pela prefeitura.
Por Igor Paulin (Foto:Gustavo Lima/Banco de Imagens da Câmara dos Deputados)

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