quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Michel Teló, o pegador de 100 milhões



Michel Teló, o pegador de 100 milhõesFoto: JOSÉ PATRÍCIO/AGÊNCIA ESTADO

YOUTUBE REGISTRA CEM MILHÕES DE VISUALIZAÇÕES DO CLIPE "AI SE EU TE PEGO", UM RECORDE HISTÓRICO; ALÉM DO CARISMA DO CANTOR, SENSUALIDADE MAIS COMPORTADA DAS MULHERES EXPLICA SUCESSO DO VÍDEO; SEM O APELO ERÓTICO DE "CLÁSSICOS" RECENTES DA MÚSICA BRASILEIRA, FÃS DE TELÓ ESBANJAM CHARME

04 de Janeiro de 2012 às 16:00
Diego Iraheta _247 - O ano-novo de Michel Teló começou no embalo do sucesso. O clipe oficial de "Ai se eu te pego" bateu cem millhões de visualizações no site YouTube nesta quarta-feira, 4. Mas por que só agora, quatro anos depois de ser lançada pela cantora Sharon Acioly, a música emplacou no Brasil e no mundo? O refrão já foi entoado em funk e forró. Porém, virou hit mesmo na versão sertanejo universitário. Sem dúvida, o carisma de Teló conta para explicar a repercussão. O 247 avalia, no entanto, que um ingrediente fundamental para a viralidade global do clipe é a forma como se explora a sensualidade feminina. É um padrão de sensualidade mais inocente e comportado que descaminhos recentes da cultura brasileira.
No clipe, as câmeras destacam mulheres bonitas, comuns, altas, baixas, magras e cheinhas. Todas estão bastante animadas e se divertem em uma coreografia "light". São discretos e não menos sensuais os gestos no refrão da canção. A dança explora a forma como as jovens e senhoras também balançam o corpo, sem apelo a um parte específica da anatomia feminina. As cenas em nada lembram alguns dos maiores sucessos musicais da década de 90 e dos anos 2000.
Em 1996, o É o Tchan! colocou brasileiras de todas as faixas etárias para curtir a "Dança do Bumbum". A música e o clipe exaltam a bunda como um ser superior. A aBUNDÂncia (!) é o paraíso. Depois que "deu em cima, deu embaixo e, na garrafinha, deu uma raladinha", a sensual mulher brasileira explora todo o sex-appeal de seu... traseiro! A bunda parece virar maior que a mulher. Torna-se sex symbol do Brasil a loira do Tchan, Carla Perez, dona de 105 centímetros da mais pura abundância.
O funk carioca dos anos 2000 trocou as bandeiras sociais, empunhadas desde os anos 70, pela banalização do corpo feminino. As letras, que antes protestavam e registravam a violência nas favelas, passaram a rotular as mulheres que tinham vez no gosto masculino. Só as "cachorras", as "preparadas" e as "popuzudas". Para ser sexy, no meio do baile todo, a mulher tinha que ser selvagem na cama ou, novamente, ter uma bunda avantajada.
No clipe do Bonde do Tigrão, as cachorras, preparadas e popuzadas desfilam de biquini fio de dental de oncinha (ou tigresa?). O funkeiro dá um tapinha - não doía, né? - nas nádegas espetaculares de uma das mulheres. A nudez dá o tom da sensualidade máxima - modelo do comecinho do século 21 no País.
Essa sensualidade extremamente erotizada chegou ao auge em 2008, quando MC Créu lançou "A Dança do Créu", popularizada pela coreografia ou simulação de coito de Andressa Soares. Nascia assim a Mulher Melancia! Slept! A sensual mulher brasileira, que até aí era só um corpo, virava agora uma fruta! Melancia, melão, pêra, morango... Fêmea à venda na quitanda! Quem quer uma jaca?
Esse histórico de coisificação do corpo da mulher parece interrompido com a performance com menos apelo erótico - e ainda assim sensual - das fãs de Teló. Será que a devassidão, como a da primeira versão de "Ai se eu te pego", vai ficar para trás em um país bundocêntrico como o Brasil?

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