quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O rei ficou nú

Às véspera de fim de ano a sociedade cearense foi pega de surpresa com o anúncio de que os policiais militares entrariam em greve. A uma categoria tão importante para segurança pública do Estado é vedado por norma constitucional o direito a greve. Pior do que o movimento paredista dos policiais militares cujo ápice foi atingido terça feira dia 3 de janeiro, quando uma onda de boatos montada nas redes sociais e espalhada de boca a boca por toda cidade de Fortaleza, região metropolitana e interior do Estado, fechando o comércio e causando pânico a população que apavorada recolheu-se no interior de suas casas, enquanto meliantes aproveitavam-se da situação de terror psicológico a que estava submetidos os cidadãos indefesos da capital e interior do Ceará, 

para saquear o comércio das cidades, praticarem assaltos a mão armada e os mais variados delitos, inclusive crimes de mortes, foi a atitude do governo do Estado que primeiro endureceu com os grevistas ameaçando-os com a expulsão e depois negando-se a sentar-se com a liderança do movimento e membros da sociedade civil, com o fito de que fosse encontrada uma saída negociada para pôr fim a mais grave crise institucional da história  do Estado do Ceará que já se encaminhava para o caos total com outras categorias de trabalhadores se solidarizando com os grevistas e sinalizando paralisar suas atividades sob o argumento de que sem segurança não tinham como desempenhar as funções profissionais que lhes são próprias.

A estes somavam-se guardas municipais, carteiros, vigilantes, agentes de trânsito, motoristas de transportes coletivos, taxistas e outros, a balbúrdia instalada logo ali se o bom senso não tivesse prevalecido e o governo recuado da intransigência do primeiro momento, evidentemente por má orientação de assessores incompetentes que colocaram o governador numa situação humilhante de falar grosso e depois ter de afinar o discurso e atender as reivindicações dos policiais militares grevistas em nome da pacificação da ordem pública, severamente ameaçada pelo pavor que tomou conta da população que ficou imobilizada pela sensação de insegurança que a deixou refém do medo, o grande aliado da bandidagem que já se preparava para invadir ruas e residências de bairros que iriam provocar reações inimagináveis de cidadãos desesperados que teriam de elaborar junto a vizinhos e amigos uma estratégia de defesa para protegerem seu patrimônio do saque, do assalto, da sanha de criminosos que agiam em grupo, como se fossem milicianos.

Onde estavam os serviços de inteligência do governo do Estado que não conseguiram prever com antecedência a insatisfação que tomava conta dos quartéis e informarem ao governador que uma grave e gigantesca crise institucional estaria prestes a eclodir no Ceará levando pavor e pânico a população que ficaria a mercê de uma horda de criminosos empedernidos que se aproveitariam da situação de greve dos policiais militares para saquear o comércio da capital e interior paralisando as atividades econômicas do Ceará?

Isto é o que acontece quando um governo não tem oposição na assembléia legislativa. Desde quando o Capitão Wagner assumiu o mandato da deputada Fernanda Pessoa, filha do prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, o maior desafeto político dos Ferreira Gomes no Ceará, ficou claro que o capitão seria uma pedra no sapato do governador e sua política de segurança vendida a sociedade por meio de um trabalho de marketing eficiente, como a melhor de todos os tempos, não tardaria a ser alvo dos mais ferrenhos ataques. O capitão repetidas vezes trouxe para o plenário 13 de maio inúmeras denúncias de assédio moral de comandantes militares no trato com subordinados, superfaturamento na compra de viaturas, denúncias sobre as precárias condições de trabalhos dos praças, enfim, desnudou a farsa que é a segurança pública do Estado maquiada pela construção de prédio e compra de viaturas caríssimas, tipo hilux para satisfazer o ego grandiloquente do governador.

Sempre na companhia de Heitor Férrer, Augustinho Moreira, Eliane Novaes, Roberto Marques e Fernando Hugo, o capitão Wagner jamais foi levado a sério pela liderança do governo e nem pelos deputados que compõem a base de sustentação a Cid Gomes. De fato, nos embates que teve com Carlomano Marques o capitão repetida vezes foi desqualificado e tratado como doido. Até o seu afastamento da polícia militar, resultando em aposentadoria, por problemas psicológicos, foi tratado com desdém pela liderança do governo capitaneada por Carlomano Marques. Eis aí o desastre de não ter levado a sério uma liderança que tem o respeito de seus iguais na polícia militar. 

O Capitão participou de todo movimento grevista do começo ao fim e foi uma das lideranças mais atuantes e consideradas pelos companheiros de farda vindo a compor a mesa de negociação que pôs fim a greve, inclusive assinando o documento em que as condições impostas pelos grevistas para acabar com o movimento paredista foram aceitas pelo governador Cid Gomes. 

O Capitão esteve todo tempo ali na assembléia vociferando contra a política de segurança do governo do Estado, sendo levado a chacota pelos "chaleiras" do governador que estão na assembléia para dizer amém as vontades do governador. Ele era o dique que conteria a enxurrada. O canal que poderia ter evitado a greve dos policiais, já que tem trânsito livre entre seus pares na polícia militar. Não obstante, foi insistentemente ignorado, levado ao ridículo até ser um dos artífice da maior crise institucional que o Estado do Ceará já presenciou. Que falta faz um Nelson Martins na liderança do governo, ou um Ivo Gomes na casal civil. 

Governador, retome os passos de seu primeiro governo quando o senhor sentava para negociar com as várias categorias de servidores públicos do Estado, inaugurando uma nova fase de relacionamento entre governo e sociedade que perpassou todo governo de Tasso que não ouvia ninguém e governava com o chicote na mão. Ao seu primeiro governo, o senhor deu ares de democracia, ouviu a sociedade era aberto e mais sereno. Desde que levou Nelson Martins para o secretariado e nomeou Arialdo como chefe da casa civil, seu governo desandou e tem se mostrado arrogante e prepotente.

Quem vai pagar o prejuízo que a sociedade cearense teve por causa dessa greve ilegal e irresponsavelmente ignorada pelas autoridades do Estado? Cabe ação na justiça pelos danos econômicos sofridos por lucros cessantes em face do fechamento do comércio.

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