terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ex-vice do BB tem sigilo quebrado


Governo quebra sigilo bancário de ex-vice do BB

Governo quebra sigilo bancário de ex-vice do BBFoto: Divulgação

A GUERRA PELO COMANDO DO BANCO DO BRASIL ACABA DE PRODUZIR UM CRIME: A DIVULGAÇÃO, NA FOLHA, DE INFORMAÇÕES FINANCEIRAS DE ALLAN TOLEDO, QUE ATÉ O FIM DO ANO PASSADO ERA O VICE-PRESIDENTE MAIS IMPORTANTE DO BANCO; NO ENTANTO, ASSIM COMO NO CASO DO CASEIRO FRANCENILDO, TOLEDO DISPÕE DE TODOS OS DOCUMENTOS QUE COMPROVAM A ORIGEM LÍCITA DOS RECURSOS E PRETENDE ACIONAR NA JUSTIÇA OS RESPONSÁVEIS PELO VAZAMENTO

28 de Fevereiro de 2012 às 06:36
Leonardo Attuch _247 – Há um novo Francenildo Costa na cena política brasileira. Mas, desta vez, ele não é um caseiro, mas sim um dos principais executivos do mercado financeiro no Brasil. Seu nome é Allan Toledo e até o fim do ano passado ele era vice-presidente de Pessoa Jurídica do Banco do Brasil. Ou seja, a pessoa responsável por avaliar os empréstimos do banco a grandes grupos empresariais. Na virada do ano, ele saiu do banco, após 30 anos de carreira, porque recebeu um convite profissional para comandar uma instituição financeira do setor privado – o que pretende fazer após cumprir sua quarentena. No entanto, Toledo amanhece hoje como assunto principal do jornal Folha de S. Paulo, na manchete “Depósito milionário para ex-vice do BB é investigado”. A reportagem, de Andreza Matais, insinua que uma transferência de R$ 953 mil poderia ter relação com favores do BB ao grupo Marfrig, um dos principais do País na área de alimentos. Mas o fato concreto é que Allan Toledo acaba de ser vítima de um crime: a quebra do seu sigilo bancário. E o mais grave é que esse crime pode ter ocorrido justamente na instituição à qual ele serviu, como um dos principais executivos, durante 30 anos.
Em 2006, quando Francenildo Costa teve seu sigilo bancário quebrado, na Caixa Econômica Federal, em função de uma movimentação atípica, ele rapidamente conseguiu comprovar a origem lícita dos recursos. Filho não assumido, ele recebera depósitos do pai biológico, que vivia no Piauí, e buscava uma conciliação. Ou seja: além de ter sido vítima do crime de quebra de sigilo, ele viu ser exposta, na mídia, uma situação da sua intimidade, que também deveria ser preservada. A situação de Allan Toledo é muito parecida com a de Francenildo. Órfão de mãe desde os oito anos, ele teve a ajuda, durante muito tempo, de uma madrinha, chamada Liu Mara Zerey, que não teve filhos e não tem herdeiros naturais. Em 2010, quando recebeu o diagnóstico de um câncer, ela redigiu, no leito de um hospital, uma procuração que nomeou Allan Toledo como seu herdeiro universal. Liu Mara também pediu a ele que vendesse um imóvel, na Vila Olímpia, em São Paulo, e administrasse os recursos para custear seu tratamento, pois até hoje ela se submete a sessões de quimioterapia. Este imóvel, por sua vez, foi vendido para um empresário chamado Wanderley Mantovani, que, sim, possui relações com o empresário Marcos Molina, do Marfrig. Só que não há absolutamente nada de errado na transação – e especialmente na movimentação realizada nas contas de Allan Toledo. Os depósitos, citados pela Folha, referem-se à venda de uma casa, legitimamente herdada pelo ex-vice-presidente do BB, e cujos recursos foram movimentados por ele para custear um tratamento de saúde, a pedido da paciente. “O que importa saber é como informações que deveriam ser protegidas por sigilo vazaram para a imprensa”, disse ao 247 o criminalista José Roberto Batochio.
Indignado, Toledo pretende acionar na Justiça os responsáveis pela quebra do seu sigilo bancário. Até porque, como típico bancário, ele sempre foi uma pessoa muito organizada. Em trinta anos, teve conta bancária apenas no Banco do Brasil. Quando recebeu os recursos da venda da casa de Liu Mara, ele comunicou a gerente da própria agência sobre a movimentação atípica que ocorreria, justificando a origem dos recursos. No início de 2012, ele recebeu outro depósito atípico, em valor aproximado de R$ 1 milhão, referente aos direitos trabalhistas após 30 anos no Banco do Brasil. E isso revela outra incoerência na reportagem desta terça-feira da Folha de S. Paulo. Ora, se Allan Toledo é alvo de uma sindicância do BB, por suposta lavagem de dinheiro, por que motivo teria recebido, de forma amigável, R$ 1 milhão da própria instituição financeira?
A crise tem nome e sobrenome: Ricardo Oliveira
O fato concreto é que a crise do Banco do Brasil, que já começa a se transformar em escândalo de governo, tem nome e sobrenome. E ela se chama Ricardo Oliveira (leia maisaqui). Vice-presidente da área de governo, ele é o presidente de fato do Banco do Brasil, mas se mantém à sombra. Amigo do ex-tesoureiro tucano Ricardo Sérgio de Oliveira, do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares, do ministro Gilberto Carvalho e de diversos deputados federais, a quem ajuda, valendo-se do cargo, na arrecadação de recursos de campanha, Ricardo Oliveira vive 24 horas por dia em torno dos jogos de poder do Banco do Brasil. Graças à sua força política, foi ele quem chancelou a indicação dos dois últimos presidentes do Banco do Brasil: Lima Neto e Aldemir Bendine. Mas o próprio Ricardo Oliveira raramente é visto em Brasília, porque não voa em aviões de carreira.
“Dono” do Banco do Brasil, Ricardo Oliveira tentou, na virada do governo Lula para o governo Dilma, estender seus tentáculos para a mineradora Vale. O plano consistia em fazer de Paulo Rogério Caffarelli presidente da Previ, que, ato contínuo, nomearia Aldemir Bendine presidente da Vale. O BB, por sua vez, ficaria com outro executivo indicado por Ricardo Oliveira – provavelmente Alexandre Abreu. Este plano não funcionou porque o ex-presidente Lula não chancelou a ida de Caffarelli para a Previ e escolheu Ricardo Flores, que, por sua vez, não bancou a nomeação de Bendine à presidência da Vale.
Deste então, Ricardo Oliveira tem alimentado na imprensa uma suposta guerra entre Aldemir Bendine e Ricardo Flores, onde, na verdade, ele próprio é o personagem principal, mas que se mantém oculto. Todas as movimentações recentes do Banco do Brasil, como a demissão de Allan Toledo e a mudança de 13 diretores, foram, na verdade, fruto da paranoia de Ricardo Oliveira, que enxergou ameaças a seu poder dentro da instituição e agiu antecipadamente, seguindo a teoria de guerra dos ataques preventivos.
Este mesmo executivo também tem contado com a assessoria da agência de comunicação Companhia de Notícias, do empresário João Rodarte, que tem tentado fazer sua aproximação com alguns jornalistas. Ocorre que o escândalo de hoje na Folha sobre a movimentação bancária de Allan Toledo foi um tiro pela culatra. A reportagem revela, apenas, e tão-somente, um crime que pode ter sido cometido dentro do próprio Banco do Brasil: a quebra de sigilo de seu ex-vice-presidente.
Detalhe: Ricardo Oliveira não esconde de nenhum interlocutor sua admiração pelos métodos da SS, a polícia secreta nazista.
Leia, abaixo, a manchete desta terça-feira da Folha de S. Paulo:
PF e Banco do Brasil examinam transferência de R$ 953 mil para Allan Toledo
Afastado em meio a crise na cúpula da instituição, ex-diretor afirma ter negociado imóvel com empresário
ANDREZA MATAIS, DE BRASÍLIA
O ex-vice-presidente do Banco do Brasil Allan Toledo, que até dezembro dirigia uma das áreas mais importantes da instituição, está sendo investigado por ter recebido quase R$ 1 milhão numa conta bancária em 2011.
Toledo foi exonerado do banco depois de ser identificado pelo governo como participante de um movimento cujo objetivo seria desestabilizar o presidente do banco, Aldemir Bendine, e ficar com seu cargo, como revelou a coluna "Painel" da Folha.
O BB abriu sindicância para apurar o caso por suspeita de lavagem de dinheiro, notificou a Polícia Federal e trocou informações sobre o caso com ela. Toledo era vice-presidente da área de Atacado, Negócios Internacionais e Private Banking do banco.
A investigação só teve início depois da demissão de Toledo pela instituição e teve como origem relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), do Ministério da Fazenda, sobre a movimentação bancária de Toledo no ano passado.
O executivo abriu uma conta no Banco do Brasil em janeiro de 2011 e recebeu cinco depósitos mensais no valor total de R$ 953 mil. O dinheiro foi transferido para a conta dele pela aposentada Liu Mara Fosca Zerey, de 70 anos.
Antes de fazer as transferências para a conta de Toledo, Zerey recebeu um depósito de R$ 1 milhão numa conta que até então havia movimentado apenas para receber o dinheiro da aposentadoria.
Quem depositou o dinheiro na conta da aposentada foi o empresário Wanderley Mantovani, que atua em vários segmentos e é sócio do dono do frigorífico Marfrig, Marcos Molina, numa usina de biodiesel, a Biocamp.
Mantovani afirma que comprou uma casa da aposentada, mas não existe registro oficial da transação em cartório. Toledo diz que atuou no negócio como procurador da aposentada e por isso movimentou o dinheiro em sua conta bancária pessoal.
O Marfrig recebeu nos últimos anos vários empréstimos do BB. O irmão do ex-vice-presidente do BB, Alex Toledo, é gerente de comunicação e marketing do Marfrig.
DISPUTA POLÍTICA
A exoneração de Toledo ocorreu em meio a uma disputa política que envolve a cúpula do BB e a Previ, o poderoso fundo de pensão dos funcionários da instituição.
Como a Folha informou na semana passada, o presidente do Banco do Brasil, Bendine, homem de confiança do ministro da Fazenda, Guido Mantega, acusa o presidente da Previ, Ricardo Flores, de conspirar para derrubá-lo.
O grupo de Flores diz que o presidente do BB quer um aliado na sua cadeira para ter influência no destino dos recursos do fundo de pensão.
Um dos indícios detectados pela cúpula do banco de que havia um movimento para derrubar Bendine no ano passado foi o vazamento para a imprensa de informações sobre a compra do Banco Postal pelo BB, um negócio bilionário concluído em 2011.
Uma reportagem da revista "Época" sugeriu que o negócio teria sido mal conduzido por Bendine e seus amigos enxergaram o dedo de Toledo no material publicado.
Poucos executivos do Banco do Brasil tinham informações sobre a transação. Toledo, que se aproximou de Flores nos últimos meses, era o vice-presidente mais bem informado sobre o assunto e por isso as suspeitas recaíram sobre ele. Toledo nega ter participado do vazamento.

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