Sem deixar a cúpula de comando da Cosa Nostra e sem tirar os pés da Sicília, — salvo para uma ráida operação de próstata na França –, o capo-mafioso Bernardo Provenzano ficou foragido da Justiça italiana durante 42 anos.
Com a prisão do sanguinário Totó Riina em janeiro de 1993, Provenzano, então segundo na hierarquia mafiosa, tornou-se o “capo dei capi” (chefe dos chefes).
Da rede proteção de Bernardo Provenzano fazia parte Stefano Lo Verso. E Lo Verso é o último da safra de ex-mafiosos aceito para colaborar com a Justiça: “pentito” (arrependido), para usar um termo que os mafiosos detestam por dar conotação de traidor.
Outro acusado de fazer parte dessa rede, — e está sendo processado por crime facilitação –, é o general carabineiro (corresponde à polícia militar ) Mario Mori, aposentado e ex-chefe do grupo especial de repressão à Máfia na Sicília (ROS). Segundo a peça inicial acusatória, Mori, em outubro de 1995, teria deixado de prender Provenzano em troca de informações sobre as ligações entre máfia e política italiana.
Ontem, Lo Verso, em juízo, mencionou conversas com Provenzano e outros membros de “famiglie mafiose” (clãs-mafiosos) como, por exemplo, Nicola Mandalà, capo-mafia da cidade de Villabate, vizinha a Palermo: Mandalà está preso e condenado a cumprir a pena máxima de prisão, ou seja, 30 anos.
Lo Verso “detonou” vários políticos. Começou com o ex-governador da Sicília e senador eleito Totò Cufaro.
Cufaro está preso em regime fechado. Ele cumpre pena de sete anos de prisão por associação externa à Máfia (associação sem ser membro da organização). Com a condenação em primeiro grau teve de renunciar ao governo da Sicília e, com a confirmação, foi para a cadeia e deixou a cadeira de senador.
Para Lo Verso, a Máfia controla 30% dos votos do colégio eleitoral siciliano.
O nome de Giulio Andreotti, sete vezes primeiro ministro e senador vitalício, veio a baila no relato judicial de Lo Verso. Para Lo Verso, Andreotti, hoje com 85 anos de idade, sabia de todo projeto mafioso que resultou nas eliminações dos juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino. Ambos foram dinamitados pela Máfia em maio e julho de 1992. A propósito, Andreotti foi definitivamente condenado por associação mafiosa e teve extinta a punibilidade pela prescrição.
Marcello Dell´Utri, senador siciliano e já condenado em primeiro e segundo graus por associação mafiosa (falta decisão da Corte de Cassação, que corresponde na organização Judiciária ao nosso Supremo Tribunal Federal), teve destaque especial no depoimento de Lo Verso. Dell´Utri cumpria o papel de interlocutor entre a cúpula de governo da Cosa Nostra siciliana e o seu partido político, que era a Democracia Cristã ( era o maior e já foi extinto em afce da Operação Mãos Limpas de 1992).
O grande impacto decorreu da acusação de Lo Verso contra Renato Schifani, atual presidente do Senado e sob investigação da magistratura do Ministério Público.
O presidente do senado italiano, Schifani, consoante relato de Lo Verso, tinha sido sócio, em 1979 e com 4% do capital, do supracitado Mandalà. Isto numa corretora de seguros de razão social Sicula Brokers.
O senador Schifani esclarece que, à época, tinha 29 anos e era advogado, enquanto Mandalà, também jovem, era apenas empresário. O seu ingresso na sociedade ocorreu no início de 1979 e a sua saída em fevereiro do mesmo ano, pois “optou pela advocacia e deixou todas as outras atividades profissionais”.
Schifani lembra ter sido o responsável por transformar o temporário sistema de cárcere duro para mafiosos (art.41,bis, do Código Penitenciário) em definitivo.
Pano Rápido. Das revelações de Lo Verso chamou-me a atenção uma passagem onde é lembrado de um velho ditado mafioso, que era sempre lembrado pelo capo-mafia Bernando Provenzado: - “é melhor ter um amigo policial do que um policial amigo”.
Esse ditado mafioso foi usado por Lo Verso ao falar do general Mario Mori, que teria favorecido Provenzano ao descumprir mandado judicial de prisão.
–Wálter Fanganiello Maierovitch–
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