Desprezo da China pelos maiores cargueiros de minério mostra erro de U$ 2,3 bi da Vale: Carga
O Vale Brasil, maior navio de transporte de carga já construído, deveria carregar minério de ferro da América do Sul para a China. Depois de seis meses de operação, não fez isso uma única vez.
A negativa da China em aceitar o [navio] Brasil detonou a tentativa da Vale de controlar as entregas a seu maior comprador com a construção de uma frota de 35 navios, cada um deles tão grande quanto a torre do Bank of America em Nova York. Baseada no Rio de Janeiro, a Vale, maior do mundo na produção de minério de ferro, manda cerca de 45% de suas vemdas para a China, o maior consumidor de ingredientes para fabricar aço.
Os planos da Vale, que incluem a construção de 19 navios por U$ 2,3 bilhões, causaram oposição de armadores chineses, que dizem que sofreriam com excesso de capacidade, queda no preço dos fretes e perdas em toda a indústria. Fabricantes de aço chineses também são contra, já que a Vale teria maior controle sobre o preço e a entrega de minério, disse Chang Tao, um analista da China Merchants Securities Co.
“Ninguém na China quer que a frota da Vale venha”, ele dise. “Nem as empresas de transporte, nem os armadores, nem os fabricantes de aço”.
A empresa mineradora pode ter dificuldade de encontrar usos alternativos para todos os navios, já que outros mercados não são tão grandes [quanto os da China], ele disse. Tudo indica que a Vale não pode cancelar as encomendas ou romper os contratos de leasing sem pagar “penalidades muito pesadas”, disse Ralph Leszczynski, o chefe de pesquisas da empresa Banchero Costa & Co., baseado em Beijing.
“Estou certo de que a Vale já se deu conta de que cometeu um grande erro”, ele disse. “Eu acho realmente increditável que eles comprometeram tanto dinheiro no projeto sem primeiro conseguir garantias por escrito do lado chinês de que teriam permissão para usar os navios”.
O escritório de relações públicas da Vale no Rio de Janeiro se negou a comentar. A mineradora está comprando os navios da China Rongsheng Heavy Industries Group Holdings Ltd. e da Daewoo Shipbuilding & Marine Engineering Co. Também fez contratos de leasing para oito navios da STX Pan Ocean Co. como parte de um acordo de 25 anos, de U$ 5,8 bilhões, de acordo com dados de 2009 da empresa de transporte baseada em Seul.
O então presidente executivo da Vale, Roger Agnelli, fechou os acordos para os navios de 400 mil toneladas para reduzir a dependência de empresas de transporte e fugir do risco de aumento nos preços dos fretes. O Índice Baltic Dry, no qual se baseiam os fretes para o transporte de commodities, flutuaram mais de 40% em bases anuais todos os anos, com exceção de um, entre 2001 e 2010.
Os navios da Vale são duas vezes maiores que os geralmente usados para levar commodities do Brasil para a China. A mineradora planeja mandar cerca de 130 milhões de toneladas de minério de ferro na rota este ano e no próximo.
A companhia também está investindo U$ 1,37 bilhão para montar um centro de distribuição na Malásia que será capaz de lidar com grandes navios de transporte de minério. Transferir carregamentos lá para navios menores capazes de ancorar na China aumentaria os custos de frete, erodindo pelo menos parte dos ganhos obtidos com navios maiores por causa do tamanho e da eficiência no uso de combustível, disse o sr. Chang, da China Merchants.
A Vale teve conversações com empresas chinesas sobre a venda ou o leasing dos seus navios de 360 metros, Teddy Tang, o chefe financeiro das operações da empresa na China, disse em setembro. Nenhum acordo foi fechado.
A Associação dos Donos de Navios da China, cujos membros controlam cerca de 80% da capacidade naval do país, recomendaram às empresas que não assumissem os navios [da Vale], disse o vice-presidente executivo Zhang Shouguo.
“A coisa mais importante para a Vale é parar de construir”, disse Zhang, um ex-vice-diretor de transporte da divisão de transporte marítimo do ministério de transporte da China. “A capacidade adicional vai exacerbar um mercado ruim para os fretes”.
A Associação Chinesa de Ferro e Aço não assume posição sobre as operações de transporte de fornecedores desde que eles não manipulem os preços do minério, disse o secretário-geral Zhang Changfu.
O Brasil estava esta semana no mar da Arábia a caminho de Omã, de acordo com dados da Bloomberg. O navio foi entregue à Vale pela Daewoo Shipbuilding em maio. O construtor baseado em Seul também entregou outros dois navios do mesmo tamanho, enquanto trabalha em encomendas para outros sete por um valor total de U$ 748 milhões. Mais entregas devem acontecer no ano que vem e o trabalho está progredindo como planejado, disse a empresa por e-mail.
A Vale também encomendou 12 navios para minério de ferro da Rongsheng Heavypor U$ 1,6 bilhão em 2008. A empresa baseada em Shangai espera entregar o primeiro este mês, disse o presidente executivo Chen Qiang. A entrega está cerca de dois meses atrasada por causa de problemas de certificação, ele disse. A companhia já começou a construir os outros 11 navios encomendados, com a Vale pagando as prestações conforme o progresso, ele disse.
“Não estou preocupado com a possibilidade da Vale cancelar as encomendas”, disse Chen. “Eles precisam de navios para carregar o minério e os navios são mais ‘verdes’ e mais avançados”.
O presidente da Vale, Murilo Ferreira, que assumiu o cargo em maio, nesta semana nomeou um novo chefe de logística, Humberto Freitas, como parte de uma mudança gerencial. o ex-chefe do departamento de operações. Eduardo Bartolomeo, vai liderar a unidade de fertilizantes e carvão da companhia.
O regime de Ferreira também pode adotar mudanças na área de transportes, que pode ser anunciada num dia dos investidores na semana que vem, disse Rafael Weber, um analista da Geração Futuro Corretora, baseada em Porto Alegre.
“Eles não podem lutar contra seu maior cliente”, ele disse. “A companhia pode decidir cancelar seu projeto de forma a evitar disórdia com o governo chinês”.
O ministro dos Transportes da China, Li Shenglin, disse mais cedo este mês que seu governo vai fortalecer o controle sobre os navios de entrega e “guiar a chegada ordenada” de novos navios em meio à queda dos fretes e às perdas das empresas locais. A China Cosco Holdings Co., a maior empresa de transporte marítimo de cargas, perdeu 4,8 bilhões de yuan (U$ 755 milhões) nos primeiros nove meses de 2011.
O Vale Brasil foi desviado em sua viagem de batismo em julho de seu destino original em Dalian, na China, para a Itália, depois de um pedido de um cliente europeu e porque “serviços de descarga” no porto chinês não estavam prontos, disse Ferreira em julho. Os navios vão “sem dúvida” ir para a China quando necessário, ele disse.
Os portos de Dalian, Qingdao e Majishan, perto de Shangai, são capazes de lidar com navios do tamanho do Brasil, a Vale disse em junho. Qingdao, no noroeste da China, não abriu suas instalações por causa de “restrições”, disse o porta-voz do porto, Li Yuzhai, ontem.
Ligações para o porto de Majishan, ontem, ficaram sem resposta. O serviço de imprensa da Dalian Port PDA Co. encaminhou as perguntas para a unidade que lida com minério de ferro. Uma chamada para o ministério dos transportes [da China] ficou sem resposta.
A STX Pan Ocean começou a operar um dos navios da Vale. Ele está esperando para ser carregado no Brasil, disse a empresa ontem por e-mail. Nenhuma mudança no acordo com a Vale é esperada, informou. Os navios da empresa estão sendo construídos pela afiliada STX Offshore & Shipbuilding Co.
O grupo BW também vai operar quatro navios para a Vale, a mineradora informou em 2007. Um, o Berge Everest, deveria ter sido entregue em setembro pela Bohai Shipbuilding Heavy Industry Co., de acordo com uma declaração que está no site de uma afiliada da BW, Berge Bulk.
A Rongsheng Heavy também está construindo quatro navios para a Oman Shipping Co., que serão repassados em leasing à Vale para levar commodities ao sultanato. Os navios deverão ser entregues na segunda metade de 2012, a empresa disse ontem por e-mail.
Ainda assim, a Vale precisa usar os navios nas rotas para a China para utilizar plenamente a frota e a oposição do país aos navios não deve diminuir, disse Huang Wenlong, um analista baseado em Hong Kong da BOC International Holdings Ltd.
“Se a Vale transportar seu próprio minério, seu controle sobre o suprimento de minério de ferro vai se estender aos transporte marítimo, diminuindo ainda mais o poder de barganha dos fabricantes de aço chineses”, ele disse. “Esta é uma situação que a China não quer ver”.
–Jasmine Wang and Helen Yuan with assistance from Juan Pablo Spinetto in Rio De Janeiro, Kyunghee Park in Singapore, Michelle Wiese Bockmann in London and Tamara Walid in Dubai. Editors: Neil Denslow, Vipin V. Nair
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