O ENCONTRO, NO DIA 22 DE SETEMBRO DE 2010, SE dEU NO CALOR DA DISPUTA PRESIDENCIAL; MESES DEPOIS O PANAMERICANO FOI SALVO PELO FUNDO GARANTIDOR DE CRÉDITO; HOJE, ESSE CADÁVER ASSOMBRA BRASÍLIA E, ENQUANTO A PF ACOSSA EX-DIRIGENTES DO BANCO, O QUE PODE ESTAR EM JOGO É O FUTURO DO PRÓPRIO SBT
247 – Numa biografia autorizada, chamada “A incrível história de Silvio Santos”, o apresentador mais famoso do Brasil revela certa ojeriza por Brasília. No livro, ele diz ter visitado a capital federal apenas duas vezes na vida: uma na ditadura militar, quando obteve a concessão do Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT, e outra durante o governo de José Sarney, quando foi discutir a repartição de verbas publicitárias. Silvio Santos, portanto, sempre deixou claro que nunca foi a Brasília a passeio.
Sua terceira ida à capital federal foi bem mais recente. Ocorreu no dia 22 de setembro do ano passado, às vésperas da eleição presidencial. Oficialmente, Silvio Santos foi pedir a Lula apoio para as doações do projeto Teleton. Mas o teor daquela conversa, ainda nebuloso, talvez tenha passado longe da filantropia. De acordo com executivos que passaram pelo Panamericano, o apresentador já sabia que, naquele momento, o banco estava literalmente quebrado. Meses depois, apesar do rombo de R$ 4 bilhões da instituição, o banco foi resgatado pelo Fundo Garantidor de Crédito e entregue ao financista André Esteves, do BTG Pactual, sem que Silvio Santos, o responsável legal pela quebra, perdesse seu patrimônio.
Capítulo encerrado? Aparentemente, não. A grande novidade da história, e que tem tirado o sono de muita gente em Brasília, é o inquérito da Polícia Federal sobre a quebra do Panamericano – que vem sendo vazado a conta-gotas para a imprensa. Já se sabe que tanto o ex-presidente do banco, Rafael Palladino, como o ex-superintendente do SBT, Luiz Sandoval, serão indiciados pela PF por formação de quadrilha. E à medida que o inquérito avança, torna-se cada vez menos consistente a versão de que Silvio Santos, que tem vendido várias empresas nos últimos meses, era o único lá dentro que não sabia de nada do que se passava no Panamericano. Qual terá sido o acerto ocorrido entre o dono do SBT e os poderosos que lhe salvaram a pele? Será que a própria transferência de controle do SBT não fazia parte do pacote? Afinal, Silvio Santos tem 80 anos e não preparou uma sucessão natural num grupo de mídia que ainda é um dos mais poderosos do Brasil e que, portanto, tem forte influência política.
Tensão na Caixa
O caso Panamericano também tem provocado muita tensão na Caixa Econômica Federal. A ex-presidente Maria Fernanda Ramos Coelho foi contra a aquisição de uma participação de 49% no banco, por R$ 750 milhões, decidida no fim de 2009, e pediu uma auditoria interna sobre a operação. Quem validou a transação foi o executivo Marcio Percival, ex-vice-presidente de Finanças e um nome muito ligado ao ministro Guido Mantega. Nos e-mails apreendidos pela PF, começam a despontar relações perigosas entre executivos do banco, como Rafael Palladino, e cabeças coroadas do petismo, como Guido Mantega e Luiz Gushiken.
Entre os grupos de mídia, reina hoje uma grande dúvida: qual será o futuro do SBT? Para quem Silvio Santos, que já vendeu as Lojas do Baú e está vendendo a empresa de cosméticos Jequiti, passará o bastão? O fato é que o inquérito da PF, a cada dia que passa, se aproxima mais e mais do dono do SBT. E ele pode ser forçado a entregar a joia da coroa.
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