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OPOSIÇÃO E GOVERNO APRESENTARAM DIFERENTES DEPOIMENTOS DE UM MESMO DENUNCIANTE SOBRE SUAS RELAÇÕES COM O GOVERNADOR. VERSÕES VÃO DESDE PAGAMENTO DE PROPINA ATÉ DEVOLUÇÃO DE EMPRÉSTIMO
Noelle Oliveira_Brasília 247 – Um ex-funcionário da indústria farmacêutica União Química é o novo pivô das denúncias envolvendo o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. Em menos de 24 horas, Daniel Tavares apareceu dos dois lados da história – como acusador e como defensor do petista. Na tarde desta terça-feira (8), o deputado distrital Chico Vigilante (PT) apresentou na Câmara Legislativa um vídeo em que o suposto denunciante aparece dizendo ser amigo de Agnelo e negando que tenha pagado propina ao governador, como havia afirmado a deputada distrital Celina Leão (PSD) na segunda-feira (7).
"Várias pessoas de Brasília, de fora de Brasília, me ofereceram para falar contra o governador Agnelo, mas eu não fiz isso", afirmou Tavares no vídeo de 2 minutos e meio. Celina fez a denúncia baseada em depoimento que colhera do próprio denunciante em 23 de outubro e em um extrato bancário entregue por ele mostrando um depósito na conta do governador no valor de R$ 5 mil. Na época, início de 2008, Agnelo era diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Vigilante afirma que, para denunciar Agnelo, Daniel Tavares recebeu uma proposta da oposição: R$ 400 mil, mais salário de R$ 10 mil por um ano e aluguel no valor de R$ 4 mil. Celina Leão nega a oferta. Segundo a distrital Eliana Pedrosa (PSD), foi ela quem Tavares procurou primeiramente. "Ele disse que estava se sentindo ameaçado." Eliana diz que marcou, em sua casa no Lago Sul, o depoimento do denunciante para Celina Leão, presidente da Comissão de Defesa dos Direito Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Legislativa. No fim da conversa, ele teria pedido vantagens a Eliana para assinar a declaração, o que foi recusado.
A deputada Celina Leão nega que tenha visto Tavares pedindo dinheiro, mas confirma o restante da versão da colega. Ambas foram à Polícia Federal depois da sessão entregar as gravações. "Vou pedir que quebrem o sigilo telefônico do Daniel para ver com quem ele conversou ontem e que fez com que mudasse de opinião, assim, tão rápido", disse Celina. As duas deputadas também consultaram a Polícia Civil sobre os procedimentos a serem tomados diante das acusações de Tavares expostas no vídeo divulgado por Chico Vigilante.
O deputado Chico Vigilante, por sua vez, pediu investigações à Mesa Diretora da Câmara Legislativa. "A era dos dossiês e das armações acabou, quem produziu tudo isso terá de pagar." Tanto o vídeo de Tavares negando a propina quanto a degravação do depoimento do denunciante à Comissão de Ética foram entregues ao presidente da Casa, deputado Patrício (PT), que prometeu investigar o caso e condenou a reunião "secreta" da Comissão de Ética. Segundo ele, conforme o Regimento Interno da Casa, as reuniões externas das comissões permanentes só podem ser realizadas com antecedência de, no mínimo, 12 horas, com a convocação de todos os parlamentares que a integram. "Fica claro, portanto, que não houve nenhuma reunião da Comissão de Ética na casa da deputada Eliana Pedrosa", enfatizou. Celina Leão justificou-se dizendo que se tratou de oitiva.
O vaivém das denúncias fez com que, pela primeira vez, a Câmara Legislativa se movimentasse publicamente diante da crise política que atinge o governador e é negada pelo governo. A base aliada, no entanto, ainda se pronuncia de forma tímida. Além de Vigilante, líder do PT, apenas o deputado Wasny de Roure, líder do governo, defendeu Agnelo. Mais cedo, os presidentes dos partidos que compõem a aliança política que elegeu o governador assinaram nota em que reafirmam a confiança no governo e defendem a governabilidade. São 14 partidos.
Após as discussões na Câmara, Agnelo afirmou, também em nota, que está "diante da comprovação dos mecanismos criminosos de que o submundo da política se utiliza no Distrito Federal". Antes, em evento com a presidente Dilma Rousseff, o governador já tinha falado sobre a possibilidade de "montagem" das denúncias. "Estou confiante de que tudo será apurado e de que a verdade começa a ser, agora, restabelecida", disse.
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